O Terror do Himalaia (The Snow Creature, EUA, 1954, PB)

 


O lendário “Yeti”, ou “homem das neves” é uma criatura primitiva enorme que poderia ser o elo evolutivo entre o macaco e o homem, também conhecido num equivalente paralelo nas florestas dos Estados Unidos como “Sasquatch” ou o mais popular e conhecido “Pé Grande”.

Em 1954 foi lançado “O Terror do Himalaia” (The Snow Creature), considerado um dos primeiros filmes abordando o tema do “Yeti”.  Produzido nos Estados Unidos com baixo orçamento com fotografia em preto e branco e metragem de pouco mais de uma hora (71 minutos). Disponível no “Youtube” com opção de legendas em português, tem direção de W. Lee Wilder e roteiro de seu filho Myles Wilder.

  

Uma expedição científica americana vai para as montanhas geladas do Himalaia para estudar as plantas. Formada pelo botânico Dr. Frank Parrish (Paul Langton) e o fotógrafo Peter Wells (Leslie Denison), que recrutam vários nativos locais liderados por Subra (Teru Shimada).

Porém, depois que a esposa de Subra é raptada por uma criatura imensa conhecida na região como “Yeti”, um gigante da neve, ocorre um motim dos carregadores e a expedição muda o foco trocando o estudo botânico por uma perseguição e tentativa de captura do monstro. E depois que ele é encurralado numa caverna onde ocorre um desmoronamento, é capturado e devidamente sedado para ser transportado aos Estados Unidos para estudos.

Uma vez confinado numa câmara refrigerada, o “abominável homem das neves” consegue escapar espalhando o horror na cidade, colecionando vítimas e se escondendo nos subterrâneos da rede de esgotos, com o Dr. Parrish e a polícia em seu encalço, através do comando do Tenente Dunbar (Bill Phipps).

 

“O Terror do Himalaia” pode ser dividido em dois segmentos distintos. O primeiro tem ambientação nas montanhas geladas do Oriente com tempestades de neve e ventos fortes constantes, onde a expedição inicialmente científica se transforma numa caça ao “Yeti”. O outro bloco tem ambientação urbana, com o monstro solto pelas ruas de Los Angeles, atacando as pessoas e sendo perseguido pela polícia. Ambas as partes são igualmente entediantes e arrastadas, onde nem o “Yeti” consegue salvar o filme do merecido limbo do esquecimento.   

O monstro, interpretado por Lock Martin, ator que foi o robô Gort em “O Dia Em Que A Terra Parou” (1951), aparece pouco e sempre em cenas repetidas e muito escuras onde apenas aparece sua silhueta. O que poderia ser a parte mais interessante do filme, infelizmente foi negligenciada pelos realizadores, pois as cenas com o “Yeti” são mal produzidas e os poucos ataques estão na direção contrária do entretenimento esperado pelos apreciadores do cinema de horror bagaceiro.  

Por outro lado, ainda bem que poucos anos depois, em 1957, tivemos uma versão inglesa muito melhor através da cultuada produtora “Hammer”, com direção de Val Guest e elenco liderado pelo ícone do horror Peter Cushing.

 

(RR – 27/06/23)





The Beach Girls and the Monster (EUA, 1965, PB)

 


The Beach Girls and the Monster” (1965) é uma tranqueira americana com elementos de horror e fotografia original em preto e branco, que está disponível no “Youtube” tanto na versão em P&B como colorizada por computador, com a opção de legendas em português.

 

Com direção de Jon Hall (que também é ator) e duração curta de apenas 66 minutos, a história é sobre jovens que frequentam as praias de Malibu, na Califórnia, para surfar nas ondas do mar e dançar em festas na areia com músicas e brincadeiras, e que são surpreendidos com ataques de um monstro marinho, que pode ser uma mutação assassina ou um humano fantasiado (informação que até pode ser considerada “spoiler” e está na sinopse oficial).

Entre os jovens festeiros temos Richard Lindsay (Arnold Lessing) e sua namorada Jane (Elaine DuPont). Ele mora numa bela casa na beira da praia e é filho do cientista oceanógrafo Dr. Otto Lindsay (Jon Hall), que por sua vez é casado com uma mulher bem mais jovem, Vicky (Sue Casey), que está descontente e entediada com o relacionamento. Junto com eles, mora também um amigo de Richard chamado Mark (Walker Edmiston), que é um artista escultor com deficiência em uma das pernas devido um grave acidente de carro.

Enquanto os jovens se divertem na praia com cantorias e danças, um monstro assassino aparece para fazer parte da festa deixando um rastro de vítimas, despertando a atenção da polícia com a investigação das mortes violentas pelo xerife Michaels (Red Morgan).       

 

Jovens, praia, surf e danças. O filme é apenas mais uma combinação descartável desses elementos associados com a inclusão de um monstro bagaceiro de olhos esbugalhados e estáticos (um ator vestindo uma roupa fuleira de borracha). Com uma história extremamente simples e previsível, sem suspense, sem mistérios, sem clima sinistro e quase nada de sangue, com uma narrativa cansativa e arrastada. Ainda bem que a metragem é curta. As únicas coisas que se salvam de um desperdício total de tempo são as cenas de ataques do monstro patético, mesmo sendo num ambiente desprovido de qualquer atmosfera sombria.  

A maioria dos filmes bagaceiros com elementos de horror e ficção científica são divertidos justamente pelas características precárias de produção com efeitos práticos criativos e fuleiros. As histórias exageradas no escapismo, mesmo carregadas dos mesmos clichês também contribuem para o entretenimento. Mas, existem filmes ruins que fogem dessa regra e cansam bem mais do que supostamente divertiriam. “The Beach Girls and the Monster” é um deles, que faz apenas o espectador torcer em vão para o monstro de borracha eliminar todo o elenco ruim e se possível os realizadores também. Só vale conhecer por curiosidade e exclusivamente para os apreciadores do cinema fantástico bagaceiro.   

 

(RR – 21/06/23)






O Cérebro do Planeta Arous (The Brain From Planet Arous, EUA, 1957, PB)

 


“Sou imaterial e indestrutível. Gor, um dos maiores intelectos do reino da inteligência, te honra em utilizar seu corpo. Eu, Gor, em seu estúpido corpo, possuo o poder da vida e da morte sobre sua civilização. Através de mim, você obterá um poder desconhecido nunca visto antes em toda a história de seu planeta. O poder do intelecto puro.

– alienígena Gor, para o cientista Steve March

 

Após o fim da Segunda Guerra Mundial foi lançada uma infinidade de filmes bagaceiros de horror e ficção científica explorando a tensão da recém-criada guerra fria entre os mais poderosos do nosso planeta, Estados Unidos e União Soviética. A paranoia da era atômica, com crescentes testes com bombas nucleares e experiências sobre o poder da radioatividade como arma de destruição em massa impulsionou a produção de filmes divertidos de invasão alienígena hostil como a tranqueira com título sonoro e chamativo “O Cérebro do Planeta Arous” (The Brain From Planet Arous, EUA, 1957), dirigido por Nathan Hertz (pseudônimo de Nathan Juran) e com John Agar à frente do elenco.

 

O cientista nuclear Steve March (John Agar) e seu assistente Dan Murphy (Robert Fuller), estão trabalhando com experiências envolvendo a energia atômica. Eles decidem ir até uma região montanhosa numa época de calor intenso conhecida como Mount Mystery, no Estado americano de Washington, para investigar um sinal estranho de atividade radioativa. Chegando ao local, encontram uma caverna recém-aberta e em seu interior se deparam com uma criatura alienígena parecida com um cérebro gigante, chamada Gor (voz de Dale Tate), vinda do planeta Arous. O ser de outro mundo, tirano, arrogante e hostil, se apossa do corpo do cientista Steve para obter acesso e informações importantes para colocar em prática um plano de invasão e domínio, primeiramente da Terra e depois do Universo.

Ao retornar para casa, sob o controle da criatura alienígena, o cientista desperta a desconfiança de sua noiva Sally Fallon (Joyce Meadows) e do pai dela, John Fallon (Thomas Browne Henry), com atitudes hostis, conversas misteriosas sobre armas poderosas e ideias de enriquecimento e conquista, além de apresentar fortes dores na cabeça. Em paralelo, surge outro alienígena de cérebro imenso, Vol (também voz de Dale Tate), que se apresenta como pacífico e com a intenção de ajudar, informando que Gor é um criminoso de seu planeta e que deve ser impedido. Eles então unem esforços na tentativa de deter a tirania de Gor utilizando a favor talvez a única vulnerabilidade do alienígena, atacando uma fissura central no cérebro. Impedindo seu plano de dominação com o uso do poder mental através dos olhos deformados, como arma de destruição superior às bombas atômicas.

 

O filme é uma daquelas produções paupérrimas com efeitos práticos fuleiros. O cérebro gigante alienígena parece um balão tosco com olhos, pendurado por fios que não conseguem ser invisíveis, num resultado extremamente divertido justamente pela precariedade. O roteiro é raso, simples e distante de lógica, cheio daqueles clichês e situações previsíveis que garantem o entretenimento. O momento, por exemplo, em que Sally e seu pai encontram o cérebro “bonzinho” Vol, e não demonstram nenhuma reação de espanto ou incredulidade ao se depararem com uma criatura bizarra que parece um enorme balão inflável falante, demonstra que os realizadores não estavam muito interessados em estabelecer alguma credibilidade à história.  

Curiosamente, é um dos primeiros trabalhos de Robert Fuller, que seria um rosto reconhecido principalmente pela série de western “Laramie” (1959 / 1963). O diretor Nathan Juran tem várias tranqueiras divertidas em seu currículo como “O Castelo do Pavor” (1952), “Fúria de Uma Região Perdida” (1957), “A Vinte Milhões de Léguas da Terra” (1957), “A Mulher de 15 Metros” (1958) e “Os Primeiros Homens na Lua” (1964), entre outros. E o ator John Agar esteve em várias preciosidades do cinema bagaceiro de horror e FC como “A Revanche do Monstro” (1955), “Tarântula” (1955), “O Templo do Pavor” (1956), “Invasores Invisíveis” (1959), “O Monstro do Planeta Perdido” (1962) e “O Monstro de Vênus” (1967), entre outras pérolas.

Os trabalhos de maquiagem são de Jack P. Pierce, o mesmo responsável por muitos filmes da produtora “Universal” e monstros sagrados do horror como “Drácula”, “A Criatura de Frankenstein”, “A Múmia”, “O Lobisomem” e “O Fantasma da Ópera”.

O cultuado “O Cérebro do Planeta Arous”, assim como uma infinidade de outros similares do cinema fantástico bagaceiro do passado, está disponível no “Youtube” em versão original em preto e branco e também colorizada por computador, com a opção de legendas em português, e imagens com ótima qualidade.

 

“... Amanhã haverá um novo mundo. Vocês têm mentes pequenas. Você é incapaz de compreender a importância dos eventos de hoje. Você está prestes a ter sucesso onde César, Napoleão e Hitler falharam. Através de mim, você terá governado o mundo. Mas eu vou governar o universo.”

 

(RR – 12/06/23)






O Rei dos Zumbis (King of the Zombies, EUA, 1941, PB)

 


“A mágica vodu é mais real do que você pensa.

– Dr. Miklos Sangre

 

O cultuado clássico de George Romero “A Noite dos Mortos-Vivos” (Night of the Living Dead, 1968) introduziu os zumbis putrefatos devoradores de carne humana e serviu de influência e inspiração para uma infinidade de similares que vieram em seu rastro. Mas, essas criaturas tradicionais da cultura pop (ao lado dos vampiros, lobisomens, demônios, fantasmas, etc), que insistem em caminhar sobre a Terra mesmo depois de mortos, já existiam bem antes em filmes como “O Rei dos Zumbis” (King of the Zombies, 1941), produção americana da “Monogram”, misturando horror com elementos de comédia, fotografia em preto e branco, metragem curta com apenas 67 minutos e direção de Jean Yarbrough.

 

Um avião perdido numa tempestade em alguma região do Caribe faz um pouso forçado na selva de uma ilha. Seus ocupantes sobrevivem na queda, o piloto James McCarthy (Dick Purcell) e os passageiros Bill Summers (John Archer), um agente secreto do governo americano, e seu assistente Jefferson “Jeff” Jackson (Mantan Moreland). Eles são recepcionados na mansão do cientista Dr. Miklos Sangre (Henry Victor), um austríaco refugiado que vive na ilha com a esposa Alyce (Patricia Stacey), a sobrinha Barbara Winslow (Joan Woodbury) e seus servos nativos, realizando experiências com hipnose e magia vodu. Entre os zumbis sob seu comando está a própria esposa, que faz parte de um experimento com um ritual para trocar de alma com o Almirante Arthur Wainright (Guy Usher), outro náufrago na ilha, com objetivos obscuros de espionagem para os alemães na Segunda Guerra Mundial.  

 

O filme foi imaginado inicialmente apenas como um filme de horror, mas depois do sucesso comercial de “O Castelo Sinistro” (The Ghost Breakers, 1940), que combinou humor com horror, os produtores decidiram também acrescentar comédia, aproveitando a boa aceitação do público para essa mistura de gêneros (que para mim raramente funciona). Vários filmes utilizando esse conceito foram lançados na época como “O Castelo dos Mistérios” (1940), com Boris Karloff, Bela Lugosi e Peter Lorre, e “Um Cientista Distraído” (1942), novamente com Karloff.

E o maior problema com o filme é justamente a inclusão desses elementos de humor, com vários alívios cômicos entediantes e inconvenientes do tagarela Jeff, destruindo qualquer tentativa de se criar uma atmosfera mais sombria com uma história até interessante de “cientista louco” com seus zumbis hipnotizados e espionagem nazista em tempos de guerra. A insistência dos produtores com os elementos de humor em vários filmes contribuiu para minimizar o entretenimento daqueles que esperavam encontrar climas mais perturbadores nos roteiros.

Particularmente, não aprecio muito essa combinação, e algumas exceções ficam por conta de “Farsa Trágica” (The Comedy of Terrors, 1963), com um elenco de peso trazendo juntos Boris Karloff, Vincent Price, Peter Lorre e Basil Rathbone, e também a paródia “O Jovem Frankenstein” (Young Frankenstein, 1974), de Mel Brooks e com Gene Wilder no papel do cientista obcecado por criar vida num monstro feito de pedaços de cadáveres.   

“O Rei dos Zumbis” teve uma sequência lançada por aqui como “A Vingança dos Zumbis” (Revenge of the Zombies, 1943), dessa vez trazendo um ator que tem o nome vinculado ao cinema fantástico, John Carradine. Ele, que possui uma filmografia imensa de Horror e Ficção Científica, lidera o elenco fazendo o papel do “cientista louco”, ao lado de Mantan Moreland, que retorna com seu personagem cômico Jeff.

Para a satisfação dos apreciadores do cinema antigo, “O Rei dos Zumbis” pode ser conferido no “Youtube” em versão original com opção de legendas em português.

 

(RR – 07/06/23)