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Vênus Invade a Terra (Target Earth, EUA, 1954, PB)

 


Os anos 50 do século passado foram muito intensos para a produção de filmes bagaceiros divertidos de Ficção Científica e Horror explorando, entre diversos temas, as invasões alienígenas hostis, aproveitando a tensão da guerra fria entre EUA e URSS com as frequentes ameaças de invasões e o medo dos efeitos destrutivos de uma eventual guerra nuclear.

Vênus Invade a Terra” (Target Earth, 1954), que também é conhecido por aqui como “Invasão do Mundo”, é uma produção de baixo orçamento de Herman Cohen, com fotografia em preto e branco, dirigida por Sherman A. Rose, a partir de um roteiro de Bill Raynor inspirado na história “Deadly City”, de Paul W. Fairman.

 

Uma grande cidade americana é evacuada pelo exército por causa da ameaça de uma invasão alienígena com robôs vindos de Vênus, um planeta capaz de abrigar vida inteligente, com nuvens grossas com oxigênio, hidrogênio e água abundante. Algumas poucas pessoas são deixadas acidentalmente para trás como Nora King (Kathleen Crowley), uma mulher atormentada pela morte do marido num acidente de carro, que percebe a cidade misteriosamente vazia após acordar de uma longa noite com a ingestão de overdose de soníferos. Ela começa a caminhar sem destino pelas ruas desertas tentando entender o que está acontecendo, e encontra um homem, Frank Brooks (Richard Denning). Ele também está desorientado, informando que tinha sido assaltado e acordou num beco, não entendendo o desaparecimento de todos na cidade.

Uma vez juntos agora, eles tentam encontrar um meio de sair da cidade ou descobrir alguma informação que possa explicar o mistério, onde os telefones, carros e rádios transmissores não funcionam. Porém, eles encontram outras pessoas no caminho, como o casal Vicki Harris (Virginia Grey) e Jim Wilson (Richard Reeves), que estavam embriagados se divertindo num bar, e também Charles Otis (Mort Marshall). O grupo de cinco pessoas decide se refugiar num hotel e são surpreendidos por outro homem, Davis (Robert Roark), que está armado com um revólver e revela-se um assassino sem escrúpulos que torna-se uma ameaça ainda pior que os robôs alienígenas.

Resta agora ao grupo de sobreviventes administrar os conflitos internos e lutar por suas vidas contra a invasão de Vênus, enquanto em paralelo, o cientista Tom (Whit Bissell), chefe do departamento de eletrônica de um laboratório de pesquisa do exército americano, com o apoio do General Wood (Arthur Space), tenta encontrar uma forma de desativar os robôs venusianos, que disparam raios mortais através de um dispositivo na cabeça.

 

Do elenco, vale citar a presença de Richard Denning, um ator conhecido nos filmes “B” daquela época como “O Monstro da Lagoa Negra” (1954), “Day the World Ended” (1955), “O Cadáver Atômico” (1955), “O Escorpião Negro” (1957) e “Nos Domínios do Terror” (1963). E também Whit Bissell, que esteve em vários filmes bagaceiros como “I Was a Teenage Werewolf” e “I Was a Teenage Frankenstein” (ambos de 1957 e também produzidos por Herman Cohen), sendo um rosto reconhecido pela participação no elenco fixo da série de TV “o Túnel do Tempo” (1966), como o General Heywood Kirk.

“Vênus Invade a Terra” tem apenas 1 hora e 16 minutos de duração e a história é centrada no grupo de sobreviventes da invasão, especulando sobre os motivos misteriosos da cidade deserta e tentando se defender do ataque de robôs alienígenas, investindo num clima desconfortável de estranheza de um lugar vazio e incerteza do futuro ameaçado por uma invasão de outro planeta.

Em paralelo, temos o exército, na verdade apenas alguns poucos militares numa sala de comando devido ao orçamento baixo da produção, tentando conter os invasores, ou seja, apenas um robô. Pois, apesar de se falar numa invasão em grande escala com uma legião de robôs de aço com flexibilidade nas articulações, simulando os movimentos humanos através de eletrônica, incapazes de sentir medo, dor ou compaixão, a produção de orçamento minúsculo só permitia utilizar um único robô nas filmagens.

Aliás, esse robô patético é extremamente divertido justamente por suas características bagaceiras, com um ator fantasiado simulando um autômato com uma roupagem cheia de cantos vivos e luzes piscando no local onde seria a cabeça e um visor que lança raios mortais. Andando extremamente devagar e pouco ameaçador, sendo ainda derrotado de forma simplória com ruídos eletrônicos criados pelo cientista interpretado por Whit Bissell num laboratório paupérrimo com os tradicionais equipamentos cheios de relógios e mostradores analógicos. Esse tipo de solução encontrada para combater os alienígenas superiores tecnologicamente já foi utilizada outras vezes como no posterior “A Invasão dos Discos Voadores” (1956).

Mas que mesmo com uma importância menor, está garantido na eterna galeria dos robôs do cinema fantástico ao lado de outros mais famosos como “Maria” (“Metrópolis”, 1926), “Gort” (“O Dia Em Que a Terra Parou”, 1951), “Robby” (“Planeta Proibido”, 1956), “B-9” (série de TV “Perdidos no Espaço”, 1965/68), além dos robôs de “Galactica – Astronave de Combate” e “Star Wars”, entre vários outros. E também ao lado de similares menos conhecidos como “Tobor” (“A Vingança do Monstro”, 1954), “Torg” (“Papai Noel Conquista os Marcianos”, 1964) e “Box” (“Fuga no Século 23”, 1976), só para citar alguns.

Curiosamente, como os produtores não tinham autorização para filmar na cidade, eles tiveram que realizar as filmagens aos domingos bem cedo, em Los Angeles, tudo muito rápido para aproveitar a ausência de pessoas nas ruas e as lojas fechadas.

Como já dito anteriormente, a história tem elementos associados à tensão da guerra fria, e em determinado momento, quando Nora e Frank ainda estão desorientados e tentando se situar num ambiente de solidão e ameaça de morte, a mulher cita que uma das prováveis causas do desaparecimento das pessoas nas ruas seria a temível bomba H, a bomba de hidrogênio com alto poder destrutivo.

 

(RR – 13/03/22)