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O Planeta dos Vampiros (Planet of the Vampires, Itália, 1965)



“Eles ousaram ir para além do espaço conhecido, e pelo terror desconhecido.”
‘O terror atormenta as galáxias! E o Universo estremece!”
“Um suspense arrebatador!”

A utilização de frases de efeito como essas acima, nitidamente exageradas, era uma estratégia comum de marketing para chamar a atenção do público nos antigos filmes de horror e ficção científica. Elas foram extraídas do trailer de “O Planeta dos Vampiros” (Terrore Nello Spazio / Planet of the Vampires), uma divertida bagaceira italiana de 1965.
A direção é do especialista e mestre do Horror gótico Mario Bava (1914 / 1980), cultuado pelo significativo legado no cinema fantástico, com preciosidades como “A Maldição do Demônio” (1960), “As Três Máscaras do Terror”, “O Chicote e o Corpo” (ambos de 1963) e “O Ciclo do Pavor” (1966), entre outros, e foi lançado em DVD no Brasil pela “Versátil”, na coleção “Clássicos Sci-Fi – Volume 1”. Antes, já havia sido lançado por aqui na época do VHS pela “LK-Tel Vídeo”.
Quando se pensa num filme de Ficção Científica com elementos de Horror, logo vem à mente “Alien – O Oitavo Passageiro” (1979), de Ridley Scott, que ficou eternizado na cultura pop, com toda uma franquia composta por vários filmes, quadrinhos, videogames e outros produtos, tornando-se referência para uma infinidade de filmes seguintes. Mas, um fato relevante que deve ser evidenciado é que muitos anos antes já havia sido lançado “O Planeta dos Vampiros”, um exemplo genuíno de FC com Horror e que certamente serviu de inspiração para “Alien”, devido aos elementos similares.
O filme é baseado na história “One Night of 21 Hours”, de Renato Pestriniero, publicada na revista “Interplanet” # 3. No roteiro de Ib Melchior temos duas naves espaciais, Argos e Galliot, em missão rumo ao nebuloso planeta Aura, para investigar misteriosos sinais eletrônicos que indicavam serem emitidos por alguma raça alienígena inteligente. Porém, chegando ao planeta, numa aterrissagem turbulenta, a tripulação da Argos sofre um ataque temporário de loucura e violência, com os astronautas tentando matar uns aos outros. Após recobrarem o controle de suas ações, eles tentam entender o mistério e descobrem que seus companheiros da Galliot também pousaram no planeta, mas estão mortos num ataque descontrolado de fúria entre eles.
O Capitão Mark Markary (o americano Barry Sullivan) e outros membros da tripulação como a oficial de comunicações Sanya (a brasileira Norma Bengell) e o engenheiro Wess Wescant (o espanhol Ángel Aranda), tentam consertar a nave para retornar ao espaço, mas enfrentam uma série de crises crescentes com os tripulantes mortos da Galliot saindo de seus túmulos e uma terrível ameaça invisível dos habitantes hostis do planeta.
“O Planeta dos Vampiros” é um daqueles divertidos filmes que representam muito bem o cinema antigo de ficção científica e horror com produção de baixo orçamento, desde a interessante história aos efeitos especiais datados, com a utilização de miniaturas e truques de perspectiva, numa época sem computação gráfica e com grande valor para a criatividade. O ambiente interno da nave é espaçoso, com grandes áreas livres e painéis repletos de interruptores, sinaleiros e botões com luzes coloridas, numa representação típica da época. E a estética externa da nave também é bem simples e rústica. Os uniformes dos astronautas são estilosos e exagerados no couro preto. A superfície do planeta Aura é fantasmagórica, envolta em névoa densa e rochas coloridas para todos os lados, evidenciando um sentimento perturbador de um ambiente alienígena, tudo encenado num estúdio vazio e preenchido com fumaça e luzes coloridas.
Em determinado momento, o Capitão Markary e sua colega Sanya encontram os destroços de uma nave colossal e os ossos enormes de seus tripulantes, sendo um dos destaques do filme quando eles investigam o interior dessa nave misteriosa.  
Antigamente não havia tanta preocupação com revelações e os chamados “spoilers” não tinham a importância de hoje, com a internet e as redes sociais proliferando informações. Esse fato é bem exemplificado no trailer, que traz um “spoiler” gigantesco sobre os alienígenas e suas intenções. Outra curiosidade interessante é que seria bem mais apropriado que o nome do filme fosse “O Planeta dos Zumbis”, pois os astronautas que abandonam suas covas estão mais para mortos vivos do que vampiros. O título foi escolhido para a versão americana da “American International”, produtora dos lendários Samuel Z. Arkoff e James H, Nicholson.
A narrativa é mais lenta, uma característica comum nos filmes mais antigos em oposição ao ritmo frenético, acelerado e barulhento das produções atuais carregadas de efeitos em CGI, e para os apreciadores do cinema fantástico bagaceiro do passado esse fluxo narrativo mais cadenciado é melhor e mais desejável.
“O Planeta dos Vampiros” é altamente recomendável, tem o mestre Mario Bava e um desfecho pessimista com final surpresa memorável.               

Diário de bordo do Capitão:
“Um capitão não deveria ter medo. E eu confesso agora, a quem estiver ouvindo, que hoje, agora mesmo, eu estou com medo. Minha tripulação não deve ficar sabendo. Devo mantê-la ocupada. Não devem saber que a situação é cada vez mais desesperadora à medida que passam os dias. Fala o Capitão Markary, da nave Argos, no planeta Aura, ano...

(Juvenatrix – 22/01/20)