A Verdadeira História do Lobisomem (Wolfman, EUA, 1979)

 


“Forças do Mal, poderes da escuridão, criaturas do outro lado, novamente pedimos a sua ajuda para fazermos a vossa vontade. Pedimos que doravante a maldição que paira sobre a família Glascow seja o fardo do filho mais velho.”

 

O lobisomem é um dos monstros tradicionais do horror, ao lado dos vampiros, demônios, múmias e zumbis, entre outros. A mitologia dos homens transformados em lobos nas noites de lua cheia e que matam violentamente à procura do sangue e carne de suas vítimas, sempre foi um tema bastante explorado no cinema. Através de uma infinidade de filmes de todos os tipos, desde produções bem cuidadas com orçamentos maiores e efeitos especiais caprichados, passando pelos preciosos clássicos antigos e as tranqueiras diversas, muitas delas divertidas justamente por suas características bagaceiras.

A Verdadeira História do Lobisomem” (Wolfman, EUA, 1979) é mais um filme dentro desse universo ficcional, com um título nacional exagerado e mal escolhido (bastava apenas nomear como “Lobisomem”, simples como o original), dirigido e escrito por Worth Keeter em seu trabalho de estreia.

 

Após a morte do pai, Edwin Glascow (Julian Morton), em circunstâncias misteriosas, Colin (Earl Owensby, que também foi o produtor), retorna para sua cidade natal e mansão da família para acompanhar o testamento e resolver questões burocráticas sobre o patrimônio herdado, a pedido do advogado da família, Ewan Rowe (Al Meyers). Depois de sair de casa há muitos anos e viajar pelo mundo, em seu retorno para o vilarejo ele não é bem recebido pelos aldeões e reencontra uma namorada do passado, Lynn Harris Randolph (Kristina Reynolds), com quem estabelece uma nova aproximação.

Reencontra também a avó (Helene Tryon), mantida isolada em seu quarto numa atitude suspeita de seus primos Clemente (Richard Dedmon) e Elizabeth (Magie Lauterer). E após descobrir irregularidades no testamento do pai falecido, Colin decide investigar por conta própria com a ajuda do médico Dr. George Tate (Sid Rancer), mas torna-se vítima de uma conspiração satânica organizada por seus parentes e liderada pelo obscuro reverendo satânico Leonard (Ed Grady), envolvendo uma antiga maldição familiar com licantropia.

Com a ocorrência de assassinatos sangrentos na região com a possível autoria de um grande animal selvagem e com a investigação policial do xerife local (Brownlee Davis), Colin torna-se suspeito e precisa lutar contra a maldição e proteger a antiga namorada.

 

“A Verdadeira História do Lobisomem” é uma produção de orçamento reduzido e história clichê de maldição familiar envolvendo o mito do lobisomem, daquelas já vistas tantas vezes que não é possível classificar o filme como algo fora da mesmice. Mas, tem alguns pontos positivos para os apreciadores do cinema de horror gótico, e que são sempre bem vindos como a ambientação sinistra de uma mansão tétrica e seu porão ameaçador na virada entre os séculos 19 e 20, o cemitério fantasmagórico com seus túmulos macabros, a carruagem como meio de transporte, a névoa espessa que sempre gera uma sensação de desconforto, a cerimônia satânica de evocação do demônio, a histórica maldição familiar e o lobisomem com seus efeitos práticos de maquiagem, toscos e sempre divertidos.

Por outro lado, tem também pontos desabonadores como o ritmo arrastado num convite ao sono em alguns momentos, os diálogos simplórios e previsíveis num trabalho sem inspiração do roteiro, as atuações ruins, a duração longa que poderia ser encurtada em pelo menos uns 20 minutos, os ataques da fera que poderiam ser mais violentos e sangrentos, entre outros.          

 

O filme foi lançado em DVD no Brasil por volta de 2010 na coleção “Lobisomens, Vampiros e Zumbis – Volume 2”, da revista digital “Showtime Clássicos”, no mesmo disco com “Os Ritos Satânicos de Drácula” (The Satanic Rites of Dracula, 1973) e “Convenção de Vampiros” (The Vampire Happening, 1971).

 

(RR – 31/12/21)





Convenção de Vampiros (The Vampire Happening, Alemanha / Inglaterra, 1971)

 


“Os vampiros se levantam de seus túmulos para chupar o sangue dos vivos. Isso dá ao vampiro a força para caminhar na Terra novamente. Contudo, o demônio deve retornar ao túmulo antes do nascer do sol. Um homem mordido se transforma num vampiro após a sua morte. Ele pode ser libertado da sua possessão enfiando uma estaca de madeira pontiaguda em seu coração.”

 

“Convenção de Vampiros” (The Vampire Happening, 1971) é mais um filme europeu bagaceiro de horror dos anos 70 do século passado, com co-produção entre Alemanha e Inglaterra, só que dessa vez com elementos de humor negro.

A direção é de Freddie Francis (1917 / 2007), profissional muito renomado como fotógrafo, mas também um cineasta reconhecido por sua aproximação com o gênero, sendo responsável por inúmeras preciosidades principalmente da “Hammer” e “Amicus”, além de outros estúdios, como “O Monstro de Frankenstein” (1964), “As Profecias do Dr. Terror” (1965), “A Maldição da Caveira” (1965), “Eles Vieram do Espaço Exterior” (1967), “As Torturas do Dr. Diabolo” (1967), “Drácula, o Perfil do Diabo” (1968), “Contos do Além” (1972), “Essência da Maldade” (1973), “Terror e Loucura” (1973), “A Lenda do Lobisomem” (1975), “O Carniçal” (1975), entre outros.

 

Uma atriz americana, Betty Williams (a belíssima sueca Pia Degermark, que teve uma carreira muito curta), viaja para o leste europeu para conhecer um antigo castelo que herdou na Transilvânia. Chegando ao sinistro castelo, ela é recepcionada pelo serviçal atrapalhado Josef (Yvor Murillo), que a confunde com uma ancestral da família, Clarimonde Catani, sua bisavó de origem italiana e que era uma bruxa e vampira.

Depois de conhecer o castelo gótico, com sua assustadora câmara de torturas repleta de instrumentos medievais e o porão com túmulos ocupados por seus antigos parentes, Betty Williams conhece o professor de um internato para moças, o Sr. Jens Larsen (Thomas Hunter), por quem se apaixona.

Mas, devido sua semelhança física com a bisavó vampira, que se levantou novamente da sepultura em busca de sangue, a atriz americana se envolve em várias aventuras e confusões, principalmente com um padre seminarista tagarela que foi vampirizado, Martin (Joachim Kemmer), e ao se misturar numa festa anual exótica realizada em outro castelo, organizada pelo anfitrião Conde Bernhard Ochsenstein (Raoul Retzer), uma espécie de “convenção de vampiros” do título, onde o convidado especial é o Príncipe Christopher Drácula (Ferdy Mayne), com o primeiro nome sendo uma homenagem ao lendário ator Christopher Lee, que encarnou o vampiro Drácula em muitos filmes.      

 

O filme é considerado uma comédia de horror, num estilo semelhante ao anterior “A Dança dos Vampiros” (Dance of the Vampires, 1967), de Roman Polanski, onde inclusive o ator alemão Ferdy Mayne (1916 / 1998) também faz o papel de um nobre vampiro, Conde von Krolock. Aliás, o veterano ator tem uma cara de vampiro impressionante, facilitando muito seu trabalho em desenvolver o personagem.

Particularmente, não sou fã de comédias, mesmo aquelas com elementos fantásticos e roteiros flertando com horror e/ou ficção científica. Consequentemente, apesar de alguns bons momentos de humor negro principalmente nas cenas com o Drácula de Ferdy Mayne, eu prefiro enaltecer unicamente os elementos de horror gótico (motivo que justifica conhecer o filme), como o castelo sinistro (utilizando locações reais na Áustria), a câmera de torturas, os túmulos macabros, e todas as características tradicionais do mito do vampirismo (parte delas descritas na introdução desse texto, reproduzidas da leitura de um livro da biblioteca do castelo).

“Convenção dos Vampiros” é arrastado e poderia ter uma duração menor, algo em torno dos 80 minutos em vez de uma hora e quarenta e dois. Também é um filme de exploração sexual com muitas mulheres desfilando seminuas, belas vampiras à procura dos pescoços de suas vítimas, com um destaque especial para o presente recebido por Drácula.   

 

Curiosamente, existe uma referência envolvendo o clássico “O Bebê de Rosemary”, de Roman Polanski, lançado apenas dois anos antes e que não imaginariam a importância que o filme receberia depois, fazendo parte da cultura popular, numa cena com Drácula, que aliás, chega na convenção em alto estilo, utilizando um helicóptero com um enorme morcego pintado na fuselagem.

O filme foi lançado em DVD no Brasil por volta de 2010 na coleção “Lobisomens, Vampiros e Zumbis – Volume 2”, da revista digital “Showtime Clássicos”, no mesmo disco com outros dois filmes igualmente bagaceiros: “Os Ritos Satânicos de Drácula” (The Satanic Rites of Dracula, 1973), produção da “Hammer” com Christopher Lee e Peter Cushing, e “A Verdadeira História do Lobisomem” (Wolfman, 1979).

 

(RR – 12/12/21)





A Noite de Walpurgis (The Werewolf vs. the Vampire Woman, Espanha / Alemanha, 1971)

 


“Ninguém deve perturbar seu descanso até o dia do julgamento final. O sopro que a trará de volta à vida é vermelho”

 

O ator espanhol Paul Naschy (1934 / 2009), pseudônimo de Jacinto Molina, é um nome eternamente associado ao cinema europeu de horror bagaceiro, com uma infinidade de filmes na carreira, além de trabalhos como diretor e roteirista. Também é muito conhecido pela interpretação do lobisomem Waldemar Daninsky, que apareceu em muitos filmes. “A Noite de Walpurgis” (The Werewolf vs. The Vampire Woman, Espanha / Alemanha, 1971) é o quarto filme dessa longa série, dirigido pelo argentino Léon Klimovsky e com roteiro do próprio Paul Naschy.   

 

A escritora Elvira (Gaby Fuchs) está pesquisando materiais para seu livro de magia negra, e acompanhada da amiga Genevieve Bennett (Barbara Capell), vai para o interior da França procurar a tumba perdida da Condessa Wandesa Dárvula de Nadasdy (Patty Shepard), húngara do século XI que era conhecida como uma vampira que bebia o sangue de jovens mulheres e realizava rituais satânicos.

Elas chegam num vilarejo e ainda mais afastado da civilização encontram a moradia de Waldemar Daninsky (Paul Naschy), um homem atormentado pela maldição de se transformar em lobisomem nas noites de lua cheia, e agir violentamente assassinando de forma sangrenta os aldeões que cruzarem seu caminho. Ele vive isolado com sua irmã Elizabeth (Yelena Samarina), que tem problemas mentais.

Enquanto o policial Inspetor Marcel (Andrés Resino), amigo de Elvira, está à sua procura, ela aceita o convite para passar a noite na sinistra casa de Daninsky, que por sua vez também decide ajudar a escritora em suas pesquisas, localizando o túmulo da antiga vampira que estava adormecida. Uma vez não respeitando as palavras reproduzidas no início desse texto, a vampira desperta novamente após um acidente com sangue, gerando o inevitável confronto do título original, numa luta final violenta entre o lobisomem e a vampira num ritual de evocação do demônio.

 

“A Noite de Walpurgis” é mais uma produção de baixo orçamento da extensa filmografia de horror bagaceiro de Paul Naschy, e nesse caso, dentro do universo ficcional do lobisomem Waldemar Daninsky. O roteiro é bem simples, com a ideia básica explorando um confronto entre um lobisomem atormentado pela maldição de ser uma fera assassina e uma adoradora do diabo e vampira ancestral.

O que realmente interessa para os apreciadores de cinema bagaceiro de horror, a despeito da narrativa lenta em vários momentos, o excesso de clichês, as fracas interpretações e a história óbvia, são os sempre bem vindos elementos de atmosfera gótica, com as ruínas sinistras de pedra, o cemitério com seus túmulos envoltos em névoa, o zumbi esquelético em trajes de monge templário (que deve ter inspirado o diretor Amando de Ossorio a fazer sua tetralogia dos mortos cegos), as maquiagens toscas, as cenas em câmera lenta dos ataques das vampiras, as mortes violentas (para a época), e tudo que envolve as lendas de vampirismo e licantropia.    

 

O filme recebeu outros nomes internacionais alternativos como o espanhol “La Noche de Walpurgis”, o alemão “Nacht der Vampire” e o americano “Werewolf Shadow”. Teve uma refilmagem em 1981, “A Noite do Lobisomem” (Night of the Werewolf), dirigida pelo próprio Paul Naschy.

Foi lançado em DVD no Brasil por volta de 2010 na coleção “Lobisomens, Vampiros e Zumbis – Volume 1”, da revista digital “Showtime Clássicos”, no mesmo disco com outros três filmes igualmente tranqueiras e divertidos: “Teenage Zombies” (1959), “A Noite do Lobo” (Moon of the Wolf, 1972) e “A Revolta dos Zumbis” (Revolt of the Zombies, 1936).

 

(RR – 05/12/21)





O Massacre dos Barbys (Killer Barbys, Espanha, 1996)

 


“O segredo da juventude eterna é beber o sangue quente das pessoas jovens. Eu abri a porta, aquela em direção ao êxtase da eternidade”

– Condessa Von Fledermaus

 

O Massacre dos Barbys” (Killer Barbys, 1996) é mais um filme bagaceiro de horror do extenso currículo do lendário cineasta espanhol Jesús Franco (nesse caso creditado como Jess Franco). Foi distribuído no Brasil em DVD pela “Vinny Filmes” em Dezembro de 2011, na coleção “Clássicos do Terror”, sem material extra. E também foi lançado pela “Continental”.   

 

A banda de punk rock “Killer Barbies” está viajando numa van em turnê pelo interior da Espanha. Formada por cinco jovens, sendo dois casais, Billy (Billy King) e Sharon (Angie Barea), e Rafa (Carlos Subterfuge) e Flavia (Silvia Superstar), além de Mario (Charlie S. Chaplin). Após uma apresentação, eles pegam uma estrada deserta rumo ao próximo local de show, mas o carro cai num buraco e quebra o amortecedor. Sem ter como consertar e perdidos no meio do nada, eles são surpreendidos por um homem sinistro, o mordomo Arkan (Aldo Sambrell), que convida o grupo para passar a noite num castelo próximo, de propriedade da misteriosa Condessa Von Fledermaus (a italiana Mariangela Giordano, de “A Noite do Terror”, 1981).

Uma vez hospedados no antigo castelo e enquanto tentam se ambientar com a atmosfera sombria do lugar, os jovens são perseguidos por um assassino maluco, Baltasar (Santiago Segura), cujo objetivo é capturar o sangue das vítimas e utilizá-lo para manter a beleza e juventude da centenária Condessa.

 

Esse é mais um filme “exploitation” de baixo orçamento do diretor Jesús Franco, com as mesmas características bagaceiras já conhecidas de sua longa filmografia, com um roteiro, também de sua autoria, superficial e cheio de furos e os mesmos velhos clichês. As cenas com a banda tocando são bem patéticas, assim como as ações dos jovens acéfalos, que merecem morrer de forma dolorosa.  

É um filme de 1996, mas parece a mesma coisa que Franco fazia na década de 70. Então, o que desperta o interesse dos apreciadores de filmes toscos de horror são os elementos sempre bem vindos de atmosfera gótica, com o castelo macabro envolto em névoa espessa, o mordomo sinistro, as perseguições numa floresta fantasmagórica, as mortes sangrentas com direito a corpos mutilados pendurados invertidos para sangrar feito porcos abatidos em matadouros, e a condessa que guarda um segredo diabólico sobre sua juventude eterna. E vale destacar, entre as divertidas tosquices, a cena de morte por esmagamento por um rolo compressor, produzida com efeitos práticos e longe da artificialidade da computação gráfica.

 

O filme teve uma continuação em 2002, “Killer Barbys vs. Dracula”, também dirigida por Jesús Franco, dessa vez com a companhia de sua musa Lina Romay no roteiro e elenco.

Curiosamente, a banda espanhola “Killer Barbies” existe na realidade e foi criada pela vocalista e guitarrista Silvia Superstar e o baterista Billy King, sendo convidada para participar dos dois filmes de Franco. Mas, para evitar problemas com os direitos da marca da boneca Barbie, a banda teve o nome levemente alterado nos filmes para “Killer Barbys”.

 

(RR – 28/11/21)




Pesadelos Noturnos (Nightmares Come at Night, Liechtenstein, 1970)

 


“Choro pelas cinzas daqueles que foram queimados vivos. Choro pelo grito do morto que se perde no espaço infinito. Choro pelo sangue que derramei...”

 

O cinema fantástico europeu de baixo orçamento tem no cineasta espanhol Jesús Franco um de seus maiores representantes. “Pesadelos Noturnos” (1970), conhecido pelo título internacional “Nightmares Come At Night”, é mais um filme de seu extenso currículo que passa das duas centenas de produções, aqui com uma história com alguns poucos elementos sutis de horror e muita exploração de nudez de belas mulheres.

 

Anna de Istria (Diana Lorys, de “O Terrível Dr. Orloff”) é dançarina num show de strip-tease numa boate e sua vida muda depois de receber o convite de outra mulher, a rica Cynthia Robins (Colette Giacobine, creditada como Colette Jack), para morar com ela em sua casa enorme. Porém, enquanto tenta se adaptar numa rotina mais luxuosa e numa relação mais íntima com sua anfitriã, Anna começa a sofrer com perturbadores “pesadelos noturnos”. Nesses momentos oníricos, ela comete assassinatos, confundindo sua mente entre realidade e fantasia e questionando se alguma doença poderia estar alterando sua sanidade.

Um amigo de Cynthia, o médico psiquiatra Dr. Paul Lucas (o ótimo ator suiço Paul Muller, de “A Virgem e os Mortos”), é chamado para tentar ajudar e orientar a atormentada Anna, com seus sonhos tornando-se cada vez mais confusos. E um estranho casal de vizinhos, Soledad Miranda (creditada como Susan Korda) e seu namorado (André Montchall), está sempre observando os movimentos na casa ao lado, interessados em algo misterioso. Enquanto Anna luta para não sucumbir à loucura pelos terríveis pesadelos, uma trama sinistra de conspiração, com mortes e roubo de joias, parece tomar conta do lugar.           

 

Este é mais um filme “exploitation” de Jesús Franco (aqui creditado como Jess Franco), com história confusa e arrastada que parece não ter muita importância, para dar lugar às cenas eróticas das belas atrizes nuas, especialmente Diana Lorys, pois sua personagem Anna passa a maior parte do tempo sem roupas. Os elementos de horror são bem discretos, com apenas alguns assassinatos sem sangue e violência, além de um elogiável desfecho pessimista.

Um dos cartazes estampa a atriz espanhola Soledad Miranda, numa ação oportunista de marketing, pois ela teve uma participação muito pequena e de forma isolada. Conhecida por outros filmes do diretor Franco como “Conde Drácula” (1970), com Christopher Lee, Herbert Lom e Klaus Kinski, e “Vampiras Lésbicas” (1971), ela morreu precocemente num acidente de carro, tornando-se uma atriz cultuada. Curiosamente, enquanto aguardam a oportunidade de tornarem-se ricos, a personagem de Soledad Miranda fala para seu namorado que gostaria de ter sua vida de luxos fugindo para o Brasil.  

 

“Pesadelos Noturnos” foi considerado um filme perdido por muitos anos e redescoberto em 2004 num lançamento internacional em DVD. Existem fontes que informam que as sequências isoladas da personagem de Soledad Miranda e seu namorado eram apenas testes de cena filmados antes e que explicam a falta de uma conexão mais convincente com a história de pesadelos de Anna.

Foi distribuído no Brasil em DVD pela “Vinny Filmes” em Janeiro de 2012, na coleção “Clássicos do Terror”, sem material extra, e também pela “Continental”.   

O país de produção é o minúsculo Liechtenstein, localizado no centro da Europa, próximo da Alemanha, Áustria e Suiça, e o título original é “Les cauchemars naissent la nuit”.  

 

(RR – 21/11/21)




Crimson - A Cor do Terror (Crimson - The Color of Terror, Espanha / França, 1973)

 


O ator espanhol Paul Naschy, pseudônimo de Jacinto Molina (1934 / 2009), também conhecido como cineasta e roteirista, é um nome lendário no cinema de horror europeu de baixo orçamento. Entre as dezenas de filmes bagaceiros de seu currículo, temos “Crimson – A Cor do Terror” (Crimson – The Color of Terror, Espanha / França, 1973), dirigido pelo espanhol Juan Fortuny e produzido pela “Eurociné”.   

 

Um grupo de ladrões liderado por Jack Surnett (Paul Naschy) e seus capangas Henry (Olivier Mathot, de “O Exorcista Diabólico”, 1975), Karl (Victor Israel) e Paul (Yul Sanders), é perseguido pela polícia após uma tentativa fracassada de roubo de um cofre com joias. Na fuga, Surnett é alvejado com um tiro na cabeça. Para tentar evitar sua morte certa, seus comparsas de crime o levam até o médico bêbado Dr. Ritter (Carlos Otero), que deve favores para a gangue. Uma vez incapaz de ajudá-lo pela gravidade do ferimento, ele recorre a um amigo cientista, o Prof. Teets (Richard Palmer), que está trabalhando numa pesquisa científica de transplante de cérebros, com o auxílio de sua esposa Ana (a bela atriz francesa Sylvia Solar, de “O Beijo do Diabo”, 1976).

Para a realização da bizarra cirurgia de transplante, os criminosos, com a ajuda da namorada de Surnett, Ingrid (Gilda Anderson), decidem ir atrás de um inimigo rival conhecido como “O Sádico” (Roberto Mauri), para eliminá-lo e utilizar seu cérebro. Porém, eles terão que enfrentar a fúria vingativa da quadrilha rival formada, entre outros, pelo segundo em comando Willy (Richard Kolin) e a namorada do Sádico, Barbara (Evelyne Scott). Além disso, o já temível assaltante Surnett, após o transplante com o cérebro do inimigo, passa a sentir efeitos colaterais com instabilidade mental, tornando-se agora ainda mais violento, perigoso e imprevisível.

 

“Crimson – A Cor do Terror” é um thriller policial com disputa entre gangues rivais de criminosos com uma ideia básica de horror e ficção científica bagaceira apenas como pano de fundo, através do elemento “cientista louco” e suas experiências de transplantes de cérebros para o suposto bem da humanidade.

Tem pouca violência e ausência de sangue (não justificando a escolha do título, que enfatiza a cor do sangue), com mortes ocorrendo quase apenas em tiroteios. A atmosfera de horror é discreta e limitada aos momentos no laboratório bizarro do cientista e a transformação de Surnett num assassino ainda mais cruel. Existe uma cena desnecessária, que não agrega à história, com um número de dança de uma mulher e dois homens numa boate, que mais parece apenas uma forma de completar a metragem do filme.

E é uma pena que Paul Naschy tenha pouca presença, aparecendo em cena apenas no início na tentativa mal sucedida de assalto, e depois da cirurgia cerebral, em alguns momentos com um comportamento psicopata causado pela influência do cérebro de seu inimigo.

 

Curiosamente, a história do filme é similar e certamente foi inspirada em “Sexta-Feira 13” (não o filme slasher de Jason Voorhees), mas “Black Friday” (1940), uma produção em preto e branco da “Universal”, com os ícones do horror Boris Karloff e Bela Lugosi.

Para a satisfação dos colecionadores e apreciadores do cinema fantástico bagaceiro europeu, foi lançado em DVD no Brasil pela “Vinny Filmes” em Novembro de 2011, na coleção “Clássicos do Terror”, sem material extra.

Entre os vários títulos alternativos, é conhecido na Espanha como “Las ratas no duermen de noche” e na França como “L'homme à la tête coupée”, além de “Crimson – The Color of Blood” e “The Man With the Severed Head”.

 

(RR – 16/11/21)






O Exorcista Diabólico (Exorcism, França, 1975)

 


“Aceitem o demônio em seus corações, mentes e corpos.”

 

Entre 2011 e 2012 foram lançados no Brasil vários filmes do cultuado cineasta espanhol Jesús Franco (1930 / 2013), distribuídos em DVD pela “Vinny Filmes” na coleção “Clássicos do Terror”.

São eles: “O Terrível Dr. Orloff” (1962), “O Sádico Barão Von Klaus” (1962), “As Amantes do Dr. Jekyll” (1964), “Pesadelos Noturnos” (1970), “A Maldição da Vampira” (1973), “A Virgem e os Mortos” (1973), “Oásis dos Zumbis” (1982), “A Queda da Casa de Usher” (1982), “O Massacre dos Barbys” (1996).

Além destes citados, tem também o bizarro “O Exorcista Diabólico” (Exorcism, 1975), com a musa do cineasta, Lina Romay (1954 / 2012), lançado por aqui em Novembro de 2011. É mais um “exploitation” da produtora europeia Eurociné, conhecida pelos filmes de baixo orçamento com elementos de horror e erotismo. Mais um filme bagaceiro de Jesús Franco, repleto de mulheres nuas, encenações de rituais satânicos e um ex-padre exorcista “serial killer”. Também é conhecido por outras versões e títulos alternativos como “Demoniac” e “El Sádico de Notre-Dame”.  

 

Na história, um ex-padre expulso da igreja por seu radicalismo, Mathis Vogel (interpretado pelo diretor Jesús Franco, que também atuava em vários de seus filmes), é um colaborador de uma revista de sadomasoquismo, editada por Raymond de Franval (Pierre Taylou), fornecendo textos com relatos sobre tortura e violência sexual.

Em paralelo com a edição da revista, Raymond organiza encenações teatrais de rituais satânicos seguidos de orgias, utilizando sua bela assistente Anna (Lina Romay) e a namorada dela, Rose (Nadine Pascal), que simulam sessões de tortura e flagelação realizadas numa antiga masmorra conhecida como “gruta dos templários”, no submundo de Paris.

Ao ficar sabendo das missas negras com participação de clientes ricos da sociedade francesa, o atormentado ex-padre inicia uma cruzada sangrenta perseguindo e matando seus frequentadores, principalmente as mulheres, com o propósito de purificar suas almas e libertá-las da influência do demônio. Os assassinatos são investigados pela polícia, na liderança do inspetor Tanner (Olivier Mathot) e seu ajudante novato Malou (Roger Germanes), que estão no rastro do fanático religioso, e com uma inusitada disputa entre eles para desvendar o caso, tendo a experiência do inspetor contra o policial recém formado na faculdade.            

 

“O Exorcista Diabólico” tem um roteiro bem simples, basicamente um ex-padre “exorcista diabólico” que mata mulheres achando que está expulsando o diabo que está possuindo seus corpos e mentes. É mais um filme de exploração do diretor Jesús Franco com muitas mulheres nuas, uma atmosfera sinistra de horror com falsos rituais demoníacos e missas negras com encenações de torturas sexuais, assassinatos em série e investigação policial.

Tem a presença sempre bem vinda de Lina Romay, mais por sua beleza do que talento como atriz. O elenco parece bem amador e o destaque fica sendo o próprio Jesús Franco interpretando o maníaco exorcista, principalmente como observador perturbado de mulheres nuas e um espectador oculto das supostas missas negras.

A trilha sonora repetitiva contribui para o tédio em alguns momentos. A dose de sangue derramado é discreta, exceto por uma cena de estripação mais explícita, e as mortes com golpes de adaga são falsas e não convincentes.

 

(RR – 07/11/21)






A Virgem e os Mortos (A Virgin Among the Living Dead, França, 1973)


“Gosto de noites escuras. Lembre-se, os abutres sobrevoam os locais de morte. Eu quase ouço o barulho de suas asas.”

 

O cineasta espanhol Jesús Franco (1930 / 2013) tem um currículo imenso como diretor e roteirista, principalmente de filmes bagaceiros de horror com qualidade questionável e orçamentos reduzidos. Vários deles em parceria com o ator suíço Howard Vernon, como “A Virgem e os Mortos” (A Virgin Among the Living Dead (França, 1973).

 

 A jovem Christina Benton (Christina von Blanc) recebe a notícia da morte misteriosa de seu pai, Ernesto (Paul Muller), que não conhecia pessoalmente, e vai para o sinistro e isolado castelo de sua família num local remoto para participar da leitura do testamento. Chegando lá, ela conhece seu tio Howard (Howard Vernon) e outros parentes como a tia (Rosa Palomar) e a bela Carmencé (a portuguesa Carmen Yazalde, creditada como Britt Nichols), além do tosco empregado Basilio (muito bem interpretado pelo diretor Jesús Franco), que fala com dificuldade e tem um comportamento estranho, e da jovem Linda, uma misteriosa garota cega (Linda Hastreiter). Christina sofre com pesadelos terríveis e mistura o tempo todo a realidade com devaneios onde mensagens de seu pai falecido, alertando-a dos perigos que rondam o castelo e a estranha família.

 

“A Virgem e os Mortos” é um título que já é “spoiler” ao revelar o drama da mocinha atormentada pelos mortos-vivos do castelo. É um daqueles filmes “exploitation” bagaceiros cujos cartazes promocionais chamativos despertam a curiosidade (é só ver a bela capa do DVD nacional), além de uma história com elementos interessantes envolvendo o mistério de uma família bizarra num castelo gótico com atmosfera onírica perturbadora. Só que o filme entrega um pouco menos do que se espera pelas boas premissas. O ritmo narrativo é algumas vezes excessivamente lento e a confusão constante entre realidade e pesadelo atrapalha o entendimento da história.

Por outro lado, temos uma boa dose de cenas de nudez das belas atrizes, especialmente Christina von Blanc, que é muito bonita, mas que teve uma carreira bem curta. E além do desfecho pessimista e carregado com uma atmosfera macabra, existe um desconfortável sentimento de morte e horror na maior parte do tempo, acentuado pelas boas atuações dos experientes atores Howard Vernon e Paul Muller, que interpretaram respectivamente o tio misterioso e o pai suicida da protagonista Christina.

Vale a pena registrar duas cenas em especial, que se destacam de forma convincente na construção de um clima de horror, ambas com o ator Paul Muller fazendo aparições fantasmagóricas ao se comunicar com a filha em suas visões. A primeira ocorre na floresta que cerca o castelo, onde ele com uma bizarra corda no pescoço se movimenta para trás como um cadáver flutuando em meio às árvores, e a outra cena é quando ele está sentado numa cadeira e é arrastado para a escuridão pela sinistra “Rainha da Noite” (Anne Libert), se ocultando no limbo das sombras.

 

O filme foi lançado em DVD no Brasil pela “Vinny Filmes” em Janeiro de 2012, na coleção “Clássicos do Terror”, sem material extra, numa versão reduzida com 75 minutos de duração. Existe outra versão com cenas adicionais dirigidas pelo francês Jean Rollin.

 

(RR – 03/11/21)



As Filhas de Drácula (Twins of Evil, Inglaterra, 1971)

 


Nós andamos na Terra, mas só existimos no inferno.” – Condessa Mircalla.


O livro “Carmilla”, do irlandês Sheridan Le Fanu (1814 / 1873), apresentando vampiras sensuais e sedutoras, serviu de inspiração para a “trilogia Karnstein”, produzida pelo estúdio inglês “Hammer” no início da década de 1970. A trinca de filmes é formada por “Camilla, a Vampira de Karnstein” (The Vampire Lovers), de Roy Ward Baker e com Peter Cushing e Ingrid Pitt, “Luxúria de Vampiros” (Lust For a Vampire), de Jimmy Sangster e com Yutte Stensgaard, e “As Filhas de Drácula” (Twins of Evil), de John Hough e com as gêmeas Madeleine e Mary Collinson, além de novamente Cushing, como um caçador de bruxas.


Num típico vilarejo europeu com aldeões supersticiosos existe um grupo de vigilantes liderados pelo fanático religioso Gustav Weil (Peter Cushing), que persegue jovens mulheres acusadas sem provas de bruxaria, e que são executadas queimadas vivas em fogueiras. Nesse cenário de medo e tensão, chegam as gêmeas órfãs Maria e Frieda Gellhorn (Mary e Madeleine Collinson), sobrinhas de Weil e que vão morar com ele e a tia Katy (Kathleen Byron).

Uma das gêmeas é mais ousada e determinada (Frieda), e se interessa pelo Conde Karnstein (Damien Thomas), adorador do diabo e que gosta de rituais satânicos em seu castelo. A outra é mais pacata e insegura (Mary), que tenta alertar a irmã dos perigos ao sair escondida à noite procurando aventuras com o sinistro conde, que por sua vez, se transforma em vampiro após invocar a Condessa Mircalla (Katya Wyeth) de seu túmulo através de um ritual sangrento com sacrifício humano.

Depois que ocorrem mortes misteriosas no vilarejo, com as vítimas sem sangue e com marcas de mordidas no pescoço, os justiceiros liderados por Weil e um jovem professor de música, Anton Hoffer (David Warbeck), mesmo em lados opostos, se unem para invadir o castelo e salvar a inocente Maria das garras do vampiro.   


“As Filhas de Drácula” encerra a “trilogia Karnstein”, e assim como nos filmes anteriores, aposta na beleza e sensualidade de belíssimas mulheres jovens transformadas em vampiras sedentas de sangue. Contando com os tradicionais elementos dos filmes góticos de horror como o sinistro castelo, as execuções de mulheres inocentes na fogueira, os rituais satânicos, a atmosfera fantasmagórica das florestas envoltas em névoas, e o respeito com a mitologia tradicional dos vampiros: aversão aos crucifixos, inexistência de reflexo nos espelhos e morte apenas com estaca no coração ou decapitação.

As gêmeas Mary e Madeleine Collinson são mulheres lindas e fizeram um bom trabalho ao interpretarem irmãs com personalidades opostas. Elas tiveram carreiras muito curtas no cinema e foram escolhidas para a capa da revista “Playboy” em 1970. 

Peter Cushing sempre agrega muito valor aos filmes que participa, deixando de lado dessa vez o papel de cientista louco ou do incansável caçador de Drácula, para interpretar um religioso cego pelo fanatismo, que é o responsável pela morte violenta de mulheres inocentes acusadas de bruxaria.   

O título nacional foi mal escolhido, o que não é novidade, num tratamento oportunista citando Drácula, quando na verdade o filme é inspirado no vampirismo do universo ficcional de “Karnstein”.  

Curiosamente, o ator Dennis Price faz aqui o papel de Dietrich, um fornecedor de diversão para o Conde Karnstein, como trazer jovens camponesas para os rituais demoníacos no castelo. Um papel similar que ele fez também no anterior “O Horror de Frankenstein” (1970), onde foi um ladrão de cadáveres para as experiências macabras do cientista na criação de vida artificial.  


O filme foi lançado em DVD no Brasil pela “Works / Dark Side / London”, sem material extra, encartado na revista “Dark Side DVD” ano 2, número 11 (Agosto de 2005). A revista, com distribuição nas bancas, tem vários interessantes textos sobre o filme em questão, além da “Trilogia Karnstein”, um artigo caprichado sobre as belas atrizes de filmes de horror que posaram nuas para a revista “Playboy”, e um perfil do cineasta John Hough, que dirigiu também o cultuado filme de fantasmas “A Casa da Noite Eterna” (The Legend of Hell House, 1973).


(RR – 25/10/21)






O Circo dos Vampiros / O Vampiro e a Cigana (The Vampire Circus, Inglaterra, 1972)

 


“Os vampiros só existem nas lendas.” – Dr. Kersh.

 

No currículo da produtora inglesa “Hammer” existem muitos filmes explorando o tema do vampirismo, incluindo uma longa série com Drácula e a dupla Christopher Lee e Peter Cushing. Mas, o famoso estúdio, muito conhecido por suas histórias com ambientação gótica, também lançou outros filmes de vampiros sem esses atores ícones da história do cinema de Horror e sem o famoso personagem criado pelo escritor Bram Stoker. Um deles é “O Circo dos Vampiros” (The Vampire Circus, 1972), também conhecido como “O Vampiro e a Cigana”, dirigido por Robert Young em sua estreia como cineasta.

 

O vampiro Conde Mitterhaus (Robert Tayman) está aterrorizando um vilarejo sérvio no interior da Europa chamado Schtetell, no início do século XIX. Os aldeões supersticiosos e revoltados com o sumiço de suas crianças, decidem atacá-lo invadindo seu castelo e cravando uma estaca de madeira no peito. Mas, antes de morrer, o vampiro jura vingança contra seus algozes e pede para sua amante Ann Mueller (Domini Blythe), que é a esposa de um dos moradores, o Prof. Albert Mueller (Laurence Payne), para encontrar seu primo Emil (Anthony Corlan), que ajudaria a ressuscitar através do sangue de crianças, filhos de seus agressores.

Quinze anos depois, o vilarejo está tomado por uma doença contagiosa e enquanto o Dr. Kersh (Richard Owens) tenta encontrar uma cura com remédios, os demais aldeões, entre eles o burgomestre (Thorley Walters), Albert Hauser (Robin Hunter) e Schilt (John Bown), acreditam numa maldição sobrenatural.

Em paralelo, um circo bizarro itinerante chega ao vilarejo, comandado por uma misteriosa cigana (Adrienne Corri). Ela conta com um grupo de pessoas estranhas, om anão palhaço sinistro Michael (Skip Martin), um homem forte que não fala nada (interpretado por David Prowse, que ficou mais conhecido por vestir a armadura do vilão “Darth Vader” da primeira trilogia de “Star Wars”), um casal de gêmeos acrobatas, Helga (Lalla Ward) e Heinrich (Robin Sachs), e o enigmático Emil, que se transforma em pantera negra.

Enquanto o “Circo das Noites” está supostamente entretendo os moradores do vilarejo com suas atrações exóticas como os acrobatas que se transformam em morcegos e a misteriosa sala dos espelhos, pessoas e crianças estão desaparecendo, com mortes violentas na região. O jovem Anton Kersh (John Moulder-Brown), filho do médico da vila, tenta impedir o triunfo do “circo dos vampiros”, e defender sua namorada Dora Mueller (Lynne Frederick), filha do professor e alvo na conspiração para reviver o Conde Mitterhaus.       

 

Mesmo sem a presença da dupla Lee & Cushing, e numa época de decadência da “Hammer” a partir do início da década de 1970, “O Circo dos Vampiros” ainda mantém o interesse através dos elementos característicos das produções góticas do estúdio, como um castelo macabro e um vilarejo assustado com lendas de vampiros. Geralmente sendo considerado subestimado e pouco lembrado quando em comparação com os filmes da série com Drácula, sua história é bem ousada acrescentando uma dose elevada de mortes sangrentas (principalmente para a época), crianças assassinadas, e explorando a sensualidade de belas mulheres, com destaque para a dança erótica de uma mulher-tigresa (Serena).   

 

“O Circo dos Vampiros” foi lançado em DVD no Brasil pela “Works / Dark Side / London”, sem material extra, encartado na revista “Dark Side DVD” ano 2 número 10 (Julho de 2005). A revista, com distribuição nas bancas, tem vários interessantes textos sobre o filme em questão, além de “Monstros” (Freaks, 1932), uma filmografia comentada dos filmes de vampiros da “Hammer”, e o perfil da atriz Adrienne Corri (que interpretou a cigana).

Anteriormente, na época das fitas de vídeo VHS, o filme foi lançado pela “FJ Lucas” com o título “O Vampiro e a Cigana”.

 

(RR – 18/10/21)






Horror de Frankenstein (Horror of Frankenstein, Inglaterra, 1970)

 


“O objetivo da Ciência é mergulhar no desconhecido.” – Victor Frankenstein.

 

A produtora inglesa “Hammer” fez sete filmes inspirados na história “Frankenstein”, de Mary Shelley. São eles: “A Maldição de Frankenstein” (1957), “A Vingança de Frankenstein” (1958), “O Monstro de Frankenstein” (1964), “Frankenstein Criou a Mulher” (1967), “Frankenstein Tem Que Ser Destruído” (1969), “Horror de Frankenstein” (Horror of Frankenstein, 1970) e “Frankenstein e o Monstro do Inferno” (1974).

O penúltimo filme da série foi dirigido por Jimmy Sangster, que é mais conhecido por seus trabalhos como roteirista em muitos filmes da própria “Hammer”. “Horror de Frankenstein” não tem dessa vez o cultuado ator Peter Cushing como o cientista (ele esteve em todos os outros filmes da série), deixando o papel agora para Ralph Bates. E o monstro foi interpretado por David Prowse, que tem seu nome sempre lembrado como o vilão Darth Vader na primeira trilogia de “Star Wars” (com a voz cavernosa de James Earl Jones).

 

Victor Frankenstein (Bates) é um jovem em crise com seu pai dominador (George Belbin). Depois de estudar medicina em Viena, ele retorna para o castelo da família e inicia um trabalho de pesquisa científica com experiências de reanimação de partes mortas de animais e pessoas, apesar de não obter a aprovação do ajudante e colega de faculdade, Wilhelm Kassner (Graham James).

Insistindo com suas experiências macabras, ele cria um monstro a partir de pedaços de cadáveres, e que devido ao cérebro danificado por um corte com estilhaço de vidro, torna-se violento e assassino, espalhando o horror no castelo e na floresta em volta.

 

Aqui o cientista dessa vez é um jovem psicopata, inescrupuloso, frio e calculista, não medindo esforços para atingir seus objetivos na criação de vida artificial. Eliminando todos em oposição aos seus planos maquiavélicos ou que pudessem atrapalhar seu trabalho científico, incluindo desde o pai, o colega de faculdade, a bela amante e governanta, Alys (Kate O´Mara) e o fornecedor de cadáveres frescos (um ladrão de túmulos interpretado por Dennis Price).

Mesmo recebendo uma atenção especial da bela Elizabeth Heiss, antiga colega de escola da época de adolescentes e filha do prestigiado, porém falido, Prof. Heiss (Bernard Archard), Victor Frankenstein continua só se importando com suas obscuras pesquisas científicas e com o monstro feito de cadáveres que desperta a atenção da polícia do vilarejo próximo do castelo, com a investigação do tenente Henry Becker (Jon Finch), depois que várias mortes misteriosas e violentas ocorrem na região.

Quanto ao monstro, ao contrário de vários outros filmes da série da “Hammer”, não tem as deformações, cicatrizes e bandagens típicas, com apenas a simulação não convincente de cortes em partes do corpo e algumas maquiagens na cabeça com placas e rebites discretos. Além dessa caracterização fraca, o ator David Prowse também não conseguiu transformar o monstro em algo necessariamente sinistro e ameaçador, com um resultado apenas mediano. Ele também interpretou o monstro no filme seguinte da série, “Frankenstein e o Monstro do Inferno”, porém com uma maquiagem mais carregada e interessante.

“Horror de Frankenstein” é divertido dentro dos moldes característicos da “Hammer”, com sua ambientação gótica, castelo imponente, laboratório bizarro de “cientista louco”, e a criatura artificial composta de pedaços de cadáveres espalhando o horror e deixando um rastro de morte. Mas, dentro do universo ficcional com vários outros filmes sobre o mesmo tema produzidos pelo cultuado estúdio inglês, é um filme menor e com menos atrativos que o habitual, além de perder bastante com a falta da presença do carismático Peter Cushing.         

 

Curiosamente, é considerado uma espécie de refilmagem de “A Maldição de Frankenstein”, o primeiro filme da série produzido em 1957, com a adição de algumas cenas de sexo e humor negro.  Foi lançado no Brasil em DVD em 2003 pela “Works / Dark Side / London”, trazendo materiais extras como biografias de Jimmy Sangster e Ralph Bates, sinopse, trailer, galeria de fotos e posters, além de um espaço especial dedicado à atriz Veronica Carlson, com fotos e galeria de arte com suas pinturas. Também foi lançado em DVD pela “Obras Primas”, na “Coleção Estúdio Hammer Volume 4”.

 

(RR – 12/10/21)