I Bury the Living (EUA, 1958, PB)

 


"A ciência aprendeu que o Homem possui poderes que vão além dos limites do natural. Esta é a história de alguém confrontado por forças tão estranhas dentro de si.”

 

I Bury the Living” é um filme americano de horror lançado em 1958 com fotografia original em preto e branco e com uma versão colorizada por computador. Está disponível no “Youtube” com opção de legendas em português. A direção é do francês Albert Band (1924 / 2002), nome conhecido no gênero fantástico e pai de Charles Band, também diretor de dezenas e produtor de centenas de filmes, e do compositor Richard Band, autor de mais de cem trilhas sonoras de cinema.

O elenco é liderado por Richard Boone (1917 / 1981), ator conhecido como o pistoleiro nos 225 episódios da série de TV de western “Paladino do Oeste” (Have Gun Will Trave, 1957 / 1963).

 

Um empresário de uma loja de departamentos, Robert Kraft (Richard Boone), é eleito por uma tradição familiar o diretor de um grande cemitério chamado “Colinas Imortais”. Uma de suas primeiras decisões foi sugerir a aposentadoria do zelador Andrew McKee (Theodore Bikel), que esteve durante muitos anos cuidando do local. No escritório, o controle dos jazigos e respectivos nomes de seus proprietários era feito através de um grande mapa do cemitério, pendurado numa parede.

Os problemas começaram a surgir quando misteriosamente pessoas morriam logo após o novo administrador apenas trocar os tipos de alfinetes fixados no mapa, referentes aos seus respectivos jazigos. Os alfinetes com cabeças brancas representavam pessoas vivas e os pretos eram os mortos. Robert Kraft, sem intenção, parecia ter um poder inexplicável (conforme o texto apresentado logo no início do filme e reproduzido acima), de determinar a morte de alguém apenas pela manipulação da cor do alfinete no mapa das sepulturas.

Conforme mais mortes estranhas ocorriam, mais paranoico e estressado ele se tornava com a bizarrice da situação, imaginando estar sendo controlado pelo mapa, despertando a preocupação da noiva, Ann Craig (Peggy Maurer) e do amigo jornalista Jess Jessup (Herbert Anderson), além de enfrentar uma investigação policial do Tenente Clayborne (Robert Osterloh), que tenta esclarecer a possível relação entre as mortes e as identificações dos alfinetes no mapa.   

 

Filme curto com apenas 77 minutos e com roteiro bem simples de autoria de Louis Garfinkle, mas interessante e eficaz na construção de um mistério envolvendo mortes e as sinalizações no mapa de um cemitério. Com especulações sobre loucura e eventuais poderes sobrenaturais, lembrando aquelas velhas histórias curtas e divertidas de séries de TV dos anos 1960 como “Além da Imaginação” ou “Quinta Dimensão”. A atuação de Richard Boone como o atormentado novo administrador do cemitério contribui para o clima de desconforto com a ocorrência das mortes improváveis.

Sem sangue e violência, nem monstros disformes ou mortos-vivos putrefatos saindo de seus túmulos, o horror sutil está na atmosfera de um suposto mistério sobrenatural com grande nível de tensão para o protagonista questionando sua sanidade e a possibilidade de ser o responsável por “enterrar os vivos” (do título original). 

 

RR – 28/02/24)






Serpent Island (EUA, 1954)


 

O cultuado diretor Bert I. Gordon (1922 / 2023) é muito lembrado pelos apreciadores do cinema bagaceiro de horror e ficção científica por seus incontáveis e divertidos filmes de pequenos orçamentos explorando monstros e criaturas bizarras gigantes, como “A Fúria das Feras Atômicas” (1976) e “O Império das Formigas” (1977), entre vários outros mais antigos. Tanto que ele ganhou o apelido de “Mr. B.I.G.”, uma brincadeira com as iniciais de seu nome e a tradução para “GRANDE” do inglês.

Seu primeiro filme na direção foi “King Dinosaur” em 1955, mas um ano antes ele estreava na indústria do cinema como produtor, editor e diretor de fotografia na tranqueira “Serpent Island”, uma aventura com elementos sutis de horror e fotografia colorida, dirigida e escrita por Tom Gries (igualmente estreando a carreira), e que está disponível no “Youtube” com opção de legendas em português.

 

Ricky André (Mary Munday, que acabou se casando com o diretor Tom Gries em 1955), é bisneta de um aventureiro explorador que supostamente escondeu uma fortuna em ouro numa ilha da América Central, próxima ao Haiti. Ela decide então organizar uma pequena expedição de caça ao tesouro, recrutando a ajuda de um experiente marinheiro, Peter Mason (Sonny Tufts). Juntos, eles saem da costa da Califórnia à bordo do barco “Constelação”, do Capitão Kirk Ellis (Tom Monroe).

Os dois homens logo desenvolvem problemas de relacionamento, com constantes brigas durante o longo trajeto pelo mar até chegar ao destino, uma ilha com nativos praticantes de um culto vodu liderado pela sacerdotisa Ann Christoff (Rosalind Hayes). E para encontrar o tesouro, eles terão que enfrentar, além das próprias tensões internas no grupo, também o grandalhão capanga da seita, Jacques (Don Blackman) e uma enorme jiboia que protege o ouro de intrusos forasteiros.     

 

“Serpent Island” infelizmente é um daqueles filmes bagaceiros ruins que não conseguem divertir e talvez a única explicação para que não fique completamente esquecido no limbo, seja por causa da curiosidade de ser o primeiro trabalho de Bert I. Gordon no cinema. Ele que conseguiu notoriedade na carreira posterior como diretor de várias bagaceiras com criaturas de dimensões colossais. Exceto por esse detalhe, o filme provavelmente ficaria perdido no meio de uma infinidade de outros irrelevantes que igualmente não acrescentaram nada para o cinema fantástico bagaceiro.

Para a sorte do espectador que está disposto a conhecer também as porcarias que não divertem, “Serpent Island” tem apenas 62 minutos de duração. A história é banal, uma aventura rasa de caça ao tesouro numa ilha isolada na região do Caribe, e com propaganda enganosa dos realizadores com alguns supostos elementos de horror através do ataque de uma cobra nos momentos finais. O réptil seria uma espécie de guardião de uma estátua de ouro, para tentar justificar o título original do filme. Aliás, um dos cartazes de divulgação é tão exagerado em enfatizar a ideia inexistente de horror representado pela tal serpente que acaba tornando-se patético.

Indicado apenas para quem tem interesse em conhecer o primeiro trabalho de Bert I. Gordon no cinema, mesmo que não seja do mesmo estilo que ele desenvolveu depois numa infinidade de filmes divertidos.

 

RR – 20/02/24)





 

O Homem Gorila (The Ape Man, EUA, 1943, PB)

 


O ator húngaro Bela Lugosi (1882 / 1956) ficou eternizado na história do cinema de horror pelo papel do popular vampiro criado por Bram Stoker no clássico “Drácula” da produtora “Universal” em 1931. Ele, ao lado de Boris Karloff (o monstro de “Frankenstein”), faz parte de um grupo seleto e lendário de atores representando os anos 1930 a 1950 que tem seus nomes associados ao gênero. Assim como Christopher Lee, Peter Cushing e Vincent Price numa geração seguinte principalmente nas décadas de 60 e 70. Quando o assunto é horror no cinema, esses são os cinco grandes ícones que são lembrados num primeiro momento, entre vários outros também cultuados, mas de forma secundária.   

 Lugosi também foi especialista em interpretar os chamados “cientistas loucos” em muitos filmes explorando a temática de “homens transformados em monstros”, como por exemplo “O Homem Gorila” (The Ape Man, 1943), uma produção em preto e branco de Sam Katzman para a “Monogram” e dirigida por William Beaudine, que está disponível no “Youtube” com opção de versão colorizada por computador e legendas em português.

 

Em apenas 64 minutos de duração, o roteiro de Karl Brown e Barney A. Sarecky utiliza ideias recicladas já exploradas em filmes anteriores com macacos ameaçadores. O cientista Dr. James Brewster (Bela Lugosi), envolvido em experiências com um gorila que mantém preso em cativeiro (interpretado por Emil Van Horn usando uma fantasia tosca), acidentalmente se transforma numa criatura mista de homem e gorila. Tendo o rosto com feições assustadoras, ele fica escondido das pessoas por seu colega de ofício, o físico e cirurgião Dr. George Randall (Henry Hall), que uma vez defendendo a ética de seu trabalho, se recusa a ajudar o amargurado “homem gorila” do título, que precisa sacrificar inocentes para tentar reverter desesperadamente o processo, utilizando o fluído espinal das vítimas em suas experiências bizarras.

Quando surge a irmã do cientista, Agatha Brewster (Minerva Urecal), uma escritora veterana e famosa especialista em casos de assombração, despertando a atenção para entrevistas pelo repórter de jornal Jefferson Barney Carter (Wallace Ford) e a fotógrafa Billie Mason (Louise Currie), a revelação do cientista deformado fica ameaçada. E com a ocorrência de assassinatos misteriosos na região, tem início uma investigação da polícia através do Capitão O´Brien (J. Farrell MacDonald).

 

“O Homem Gorila” é indicado apenas para quem aprecia o cinema antigo de horror com suas narrativas arrastadas, atuações teatrais e roteiros ingênuos em comparação com os filmes mais modernos, mas que funcionavam para as plateias da época. O filme tem aquela mesma história clichê com “cientista louco” e suas experiências catastróficas, valendo conhecer quase que exclusivamente por causa de Bela Lugosi, cuja presença sempre ilustre já qualifica o suficiente para o filme não ficar perdido no limbo dos esquecidos. Porém, falha também por não explorar melhor as experiências que transformaram o cientista obcecado em um monstro.

É verdade que felizmente temos o tradicional laboratório no porão de uma mansão fantasmagórica, com seus aparelhos bizarros e líquidos em ebulição, porém, pouco explorado e esquecido numa história que prefere priorizar as ações do casal de jornalistas em tentar desvendar o mistério por trás do cientista disforme. O próprio filme não se leva muito a sério ao reconhecer a “ideia maluca” da história com um personagem que aparece aleatoriamente algumas vezes em cena e encerra a película com um alívio cômico e as tradicionais palavras “The End” (O Fim).    

Curiosamente, o sucesso comercial do filme motivou os produtores para outro similar, que não é uma sequência direta, mas foi lançado como uma conexão por questões de marketing. “A Volta do Homem Gorila” (Return of the Ape Man, 1944) tem novamente Bela Lugosi, só que em outro papel de “cientista louco”, tendo ao seu lado agora outros ícones secundários do Horror, John Carradine, interpretando seu colega de profissão, e George Zucco, no papel do homem macaco, apesar de pouco tempo em cena, dividindo a função com Frank Moran.

Outra curiosidade é que alguns anos antes, em 1940, foi lançado “O Gorila Matador” (The Ape), também da “Monogram”, já apresentando ideias similares com a presença ameaçadora de um gorila e tema de “cientista louco” com experiências bizarras para o bem da humanidade. O papel do obcecado homem da ciência ficou com Boris Karloff.

 

(RR – 02/02/24)