O Homem Gorila (The Ape Man, EUA, 1943, PB)

 


O ator húngaro Bela Lugosi (1882 / 1956) ficou eternizado na história do cinema de horror pelo papel do popular vampiro criado por Bram Stoker no clássico “Drácula” da produtora “Universal” em 1931. Ele, ao lado de Boris Karloff (o monstro de “Frankenstein”), faz parte de um grupo seleto e lendário de atores representando os anos 1930 a 1950 que tem seus nomes associados ao gênero. Assim como Christopher Lee, Peter Cushing e Vincent Price numa geração seguinte principalmente nas décadas de 60 e 70. Quando o assunto é horror no cinema, esses são os cinco grandes ícones que são lembrados num primeiro momento, entre vários outros também cultuados, mas de forma secundária.   

 Lugosi também foi especialista em interpretar os chamados “cientistas loucos” em muitos filmes explorando a temática de “homens transformados em monstros”, como por exemplo “O Homem Gorila” (The Ape Man, 1943), uma produção em preto e branco de Sam Katzman para a “Monogram” e dirigida por William Beaudine, que está disponível no “Youtube” com opção de versão colorizada por computador e legendas em português.

 

Em apenas 64 minutos de duração, o roteiro de Karl Brown e Barney A. Sarecky utiliza ideias recicladas já exploradas em filmes anteriores com macacos ameaçadores. O cientista Dr. James Brewster (Bela Lugosi), envolvido em experiências com um gorila que mantém preso em cativeiro (interpretado por Emil Van Horn usando uma fantasia tosca), acidentalmente se transforma numa criatura mista de homem e gorila. Tendo o rosto com feições assustadoras, ele fica escondido das pessoas por seu colega de ofício, o físico e cirurgião Dr. George Randall (Henry Hall), que uma vez defendendo a ética de seu trabalho, se recusa a ajudar o amargurado “homem gorila” do título, que precisa sacrificar inocentes para tentar reverter desesperadamente o processo, utilizando o fluído espinal das vítimas em suas experiências bizarras.

Quando surge a irmã do cientista, Agatha Brewster (Minerva Urecal), uma escritora veterana e famosa especialista em casos de assombração, despertando a atenção para entrevistas pelo repórter de jornal Jefferson Barney Carter (Wallace Ford) e a fotógrafa Billie Mason (Louise Currie), a revelação do cientista deformado fica ameaçada. E com a ocorrência de assassinatos misteriosos na região, tem início uma investigação da polícia através do Capitão O´Brien (J. Farrell MacDonald).

 

“O Homem Gorila” é indicado apenas para quem aprecia o cinema antigo de horror com suas narrativas arrastadas, atuações teatrais e roteiros ingênuos em comparação com os filmes mais modernos, mas que funcionavam para as plateias da época. O filme tem aquela mesma história clichê com “cientista louco” e suas experiências catastróficas, valendo conhecer quase que exclusivamente por causa de Bela Lugosi, cuja presença sempre ilustre já qualifica o suficiente para o filme não ficar perdido no limbo dos esquecidos. Porém, falha também por não explorar melhor as experiências que transformaram o cientista obcecado em um monstro.

É verdade que felizmente temos o tradicional laboratório no porão de uma mansão fantasmagórica, com seus aparelhos bizarros e líquidos em ebulição, porém, pouco explorado e esquecido numa história que prefere priorizar as ações do casal de jornalistas em tentar desvendar o mistério por trás do cientista disforme. O próprio filme não se leva muito a sério ao reconhecer a “ideia maluca” da história com um personagem que aparece aleatoriamente algumas vezes em cena e encerra a película com um alívio cômico e as tradicionais palavras “The End” (O Fim).    

Curiosamente, o sucesso comercial do filme motivou os produtores para outro similar, que não é uma sequência direta, mas foi lançado como uma conexão por questões de marketing. “A Volta do Homem Gorila” (Return of the Ape Man, 1944) tem novamente Bela Lugosi, só que em outro papel de “cientista louco”, tendo ao seu lado agora outros ícones secundários do Horror, John Carradine, interpretando seu colega de profissão, e George Zucco, no papel do homem macaco, apesar de pouco tempo em cena, dividindo a função com Frank Moran.

Outra curiosidade é que alguns anos antes, em 1940, foi lançado “O Gorila Matador” (The Ape), também da “Monogram”, já apresentando ideias similares com a presença ameaçadora de um gorila e tema de “cientista louco” com experiências bizarras para o bem da humanidade. O papel do obcecado homem da ciência ficou com Boris Karloff.

 

(RR – 02/02/24)