Terror Tropical (Dragon Wasps, EUA, 2012)

 


Dirigido por Joe Knee, “Terror Tropical” é outra bagaceira moderna com elementos de horror e ficção científica que o canal de TV a cabo “SyFy” gosta de exibir em sua programação. Faz parte daquela manjada equação que pode ser representada como “roteiro desinteressante” + “elenco inexpressivo” + “CGI vagabundo” = tranqueira dispensável.

O cientista entomologista Dr. Humphries (David Stasko), especialista em engenharia biogenética, está trabalhando para uma empresa misteriosa chamada “Transgen Tech” e se perde numa floresta tropical na América Central. Sua filha Gina (a polonesa Dominika Juillet) e a amiga Rhonda Guiterrez (Nikolette Noel) partem em sua procura, unindo-se com um grupo do exército americano que patrulha a floresta combatendo terroristas e traficantes, liderado por John Hammond (Corin Nemec) e entre os soldados, Willy Meyers (Benjamin Easterday). Ao investigarem a mata fechada, são obrigados a enfrentar dois grandes problemas, sendo um deles um grupo de guerrilheiros fortemente armados e supersticiosos, sob o comando de Jaguar (Gildon Roland), um líder violento que acredita em magia e na proteção de espíritos da floresta. O outro, bem pior, é enfrentar um inesperado ataque de vespas gigantes mutantes que cospem fogo.

O desfile de clichês é enorme. Tem o imperialismo americano num país “que não consegue cuidar de suas fronteiras”, o militar metido a herói, as piadas banais, o “cientista louco” (que nesse caso não tem quase importância na história, deixando o protagonismo para sua filha), os tiroteios óbvios na floresta, e os ataques dos insetos modificados geneticamente. De um filme apresentando vespas dragões incendiárias (daí o título) logicamente já se espera um roteiro absurdo e carregado de clichês, perdido numa avalanche de produções com temática similar. Talvez um dia num futuro distante, essas porcarias até possam se tornar cultuadas dentro de um estilo de cinema fantástico bagaceiro produzido exaustivamente nesse início de século XXI, de forma parecida com o que aconteceu com os nostálgicos filmes dos anos 1950. Porém, pelo menos por enquanto, filmes como esse “Terror Tropical” ainda são extremamente ruins e difíceis de assistir, com uma história patética e insetos gigantes não convincentes, criados por efeitos artificiais de computação gráfica.

Curiosamente, as filmagens ocorreram em Belize, na América Central. E Corin Nemec, o ator que interpretou o soldado durão e herói, também foi um dos produtores do filme. Seu nome está envolvido em inúmeras outras tranqueiras como “Tubarões Assassinos” (Raging Sharks, 2005), “Mosquito Man” (2005), “Tubarões da Areia” (Sand Sharks, 2012), “Dracano” (2013), “Robocroc” (2013) e “Pânico no Lago: Projeto Anaconda” (Lake Placid vs. Anaconda, 2015).


(RR – 06/07/16)

Lavalantula (EUA, 2015)

 


A produção é da “Cinetel Films”, de bagaceiras como “A Queda da Terra”, a distribuição é do canal de TV a cabo “SyFy”, o apoiador oficial do cinema fantástico bagaceiro do século 21, e a direção é de Mike Mendez, de outras tranqueiras como “Maldita Aranha Gigante!” (2013). A história é sobre aranhas do tamanho de homens que cospem fogo pela boca, oriundas de uma erupção vulcânica em Los Angeles, nos Estados Unidos, e no elenco temos a liderança das ações por Steve Guttenberg, mais conhecido pela participação na popular e cultuada franquia de humor “Loucademia de Polícia”, dos anos 80 e 90 do século passado. O resultado disso tudo tem um nome: “Lavalantula”, a contração das palavras lava com tarântula.

Colton West (Steve Guttenberg) é um astro do cinema de ação dos anos 90, conhecido por atuar como o “Foguete Rubro”, um super-herói vestido numa armadura que voa. Casado com a bela Olivia (Nia Peeples), que luta kickbox, e pai do adolescente Wyatt (Noah Hunt), ele está no momento trabalhando num filme bagaceiro sobre baratas gigantes (num divertido exercício de metalinguagem, onde os realizadores estão brincando com os seus próprios clichês). Quando decide sair do set de filmagens para encontrar o filho, se depara com uma explosão nas montanhas de Santa Monica, causando terremotos e o pior de tudo, uma invasão de aranhas enormes incendiárias. Encarnando o verdadeiro herói americano, ele se junta com um fã patético, Chris (Patrick Renna), que encontra num ônibus de turismo, e parte para combater as aranhas, tentando encontrar a esposa e o filho no meio do desastre, ao mesmo tempo em que defende a cidade, procurando uma forma de deter as aranhas, principalmente uma imensa rainha.

Em “Lavalantula” tudo é exagerado, desde o roteiro carregado de forma proposital com elementos absurdos até os efeitos dos monstros aracnídeos em CGI vagabundo. Para não enrolar o espectador, já em menos de dez minutos de projeção, ocorre uma erupção vulcânica que liberta as enormes aranhas que cospem lava pela boca. Tem muitas homenagens e brincadeiras com o próprio cinema fantástico bagaceiro em que o filme se situa. Não falta nem o tradicional discurso padrão do herói convocando nesse caso os funcionários do estúdio de cinema para se motivarem na batalha contra as criaturas de oito patas. Dentro desse ponto de vista, podemos dizer que existe claramente uma intenção honesta dos realizadores em produzir e oferecer ao público uma porcaria colossal sem pretensão de mostrar uma história séria, e por isso mesmo, consegue o objetivo maior que é exclusivamente a diversão simples e sem compromisso com a lógica. O espectador não é enganado, pois sabe com antecedência que verá um filme ruim, que quer apenas divertir debochando dos próprios clichês e situações estrambólicas.    

Entre as várias curiosidades, temos a participação de quatro atores da franquia “Loucademia de Polícia”, pois além de Steve Guttenberg, ainda temos Michael Winslow, Marion Ramsey e Leslie Easterbrook no meio do ataque das tarântulas vulcânicas, numa interessante homenagem. O roteirista Leigh Whannell, criador da série de filmes “Sobrenatural”, aparece numa ponta logo no início, interpretando justamente um diretor de cinema. O ator Ian Ziering, principal nome na cultuada franquia “Sharknado”, aparece rapidamente no meio do caos com a invasão dos aracnídeos pré-históricos, encontrando Colton West no tumulto. Após cumprimentá-lo, ele diz para o colega de profissão que “adoraria ajudá-lo, mas estou com problemas com tubarões”, numa brincadeira muito divertida com a série de filmes de ataques de tubarões nas grandes cidades americanas, usando os tornados como meio de transporte. Na dublagem brasileira, o termo “lavalantula”, utilizado como título do filme e mencionado várias vezes na história, é pronunciado como “lavantula”, numa decisão acertada e mais apropriada. E por último, e especiamente para os brasileiros, em determinado momento, durante a confusão no ataque das aranhas, aparece um poste de identificação de uma praça na “Hollywood Boulevard” com a placa indicando “Carmen Miranda Square”, referindo-se à famosa cantora luso-brasileira.

Para concluir esse texto, vale registrar que antes mesmo dos produtores avaliarem o retorno do lançamento de “Lavalantula”, já foi anunciada uma sequência para 2016 com o nome “2 Lava 2 Lantula!”, cujo gancho enorme foi revelado no desfecho com a pergunta: “Esse é o fim das lavalantulas?”. Parece que não...   

 

(RR – 06/09/15)

 

Nota do Autor: No Brasil recebeu o nome “Lavalantula 2”, com direção de Nick Simon e novamente com Steve Guttenberg.

O Monstro de Mil Olhos (Return of the Fly, EUA, 1959, PB)

 


O sucesso de “A Mosca da Cabeça Branca” (The Fly, 1958) inevitavelmente despertou a atenção dos produtores para o lançamento de uma continuação. Então, no ano seguinte, só que com fotografia em preto e branco para reduzir os custos, foi lançado “O Monstro de Mil Olhos”, escrito e dirigido por Edward L. Bernds (1905 / 2000), um cineasta mais conhecido por seus filmes de comédia, mas que dirigiu algumas preciosidades do cinema fantástico bagaceiro como “Vinte Milhões de Léguas a Marte” (1956), “Rebelião dos Planetas” (1958) e “Valley of the Dragons” (1961).

Após quinze anos da experiência com teletransporte do “cientista louco” do filme original, cujos resultados catastróficos transformaram-no num monstro misto de homem e mosca, seu filho Philippe Delambre (Brett Halsey) tenta seguir os passos do pai., depois da morte da mãe, deprimida com a tragédia do passado. Ele convence com muito custo o tio François (Vincent Price) para patrocinar a aquisição de novos equipamentos para montar um novo laboratório e retomar o projeto de desintegração e reintegração de matéria, transmitindo estruturas moleculares e explorando terras selvagens do conhecimento científico. Ele tem um parceiro, Alan Hinds (David Frankham), que possui interesses obscuros ao fazer parte do projeto, roubando as ideias com o intuito de vendê-las para magnatas da indústria eletrônica. Ele é aliado de Max Barthold (Dan Seymour), um criminoso interceptador de objetos roubados. Num confronto entre eles, o jovem cientista Philippe torna-se vítima do mesmo acidente que ocorreu com seu pai. Virando um monstro com cabeça, braço esquerdo e perna direita de mosca, fugindo desorientado do laboratório e despertando a atenção da polícia, através das investigações do Inspetor Beecham (John Sutton), que já tinha enfrentado situação similar ao auxiliar o Inspetor Charas no filme anterior.  

Essa continuação é uma produção com orçamento bem modesto e duração curta, com apenas 77 minutos. Foi claramente lançada numa jogada oportunista dos produtores para tentar lucrar com a boa receptividade do filme original. Tanto que a história é muito similar, contando apenas com o acréscimo de outros personagens coadjuvantes e o fato do “homem transformado em monstro” sair do laboratório e percorrer as ruas em busca de vingança, com algumas mortes dos oponentes que causaram sua tragédia. Os efeitos são extremamente bagaceiros, principalmente a representação de um porquinho da índia com mãos humanas, depois que o bicho se misturou com um policial que investigava os crimes de Alan Hinds, e foi colocado na máquina de teletransporte, se transformando numa criatura bizarra com as patas do animal. Mas em compensação, o cientista com uma cabeça enorme de mosca ficou mais interessante que no filme original, onde a cabeça de mosca do cientista transformado era bem menor e menos assustadora. Outro detalhe desabonador é o desfecho comum e previsível, com resultados improváveis. 

A questão é que “O Monstro de Mil Olhos” é na verdade apenas mais um filme bagaceiro de horror com elementos de ficção científica, igual a centenas de outros com características parecidas. E o diferencial que o tornou mais conhecido é apenas o fato de ser uma continuação do clássico “A Mosca da Cabeça Branca”, além também por ter o privilégio da presença de Vincent Price no elenco. Se não fosse por isso, provavelmente o filme se perderia na imensidão de produções similares.  

“O Monstro de Mil Olhos” foi seguido por “A Maldição da Mosca” (1965), que concluiu a trilogia. Depois, em 1986, a história de George Langelaan foi novamente adaptada para o cinema em “A Mosca”, de David Cronenberg, apostando em cenas sangrentas, que por sua vez inspirou a sequência “A Mosca II” (1989), de Chris Wallas.

 

 (RR – 28/02/16)


A Mosca da Cabeça Branca (The Fly, EUA, 1958)


“A Mosca” é um conto de Ficção Científica com elementos de Horror escrito pelo francês George Langelaan e publicado na edição de Junho de 1957 da revista americana “Playboy”. No ano seguinte, a ótima história com grande potencial para o cinema, transformou-se no filme “A Mosca da Cabeça Branca” (The Fly), produzido e dirigido pelo alemão Kurt Neumann (1908 / 1958), de “Da Terra à Lua” (1950) e “Kronos, o Monstro do Espaço” (1957). No elenco, temos o ícone Vincent Price num papel coadjuvante, e David Hedison como o protagonista, ele que esteve em “O Mundo Perdido” (1960) e seu rosto é mais conhecido pelo papel do Capitão Lee Crane da série de TV “Viagem ao Fundo do Mar” (1964 / 1968).

 

“Quanto mais eu sei, mais eu tenho certeza que sei tão pouco. O eterno paradoxo.”

– frase do “cientista louco” Andre Delambre num momento de reflexão sobre seus avanços científicos

 

A história é ambientada na cidade canadense de Montreal, onde o cientista Andre Delambre (David Hedison) faz experiências com teletransporte de matéria. Casado com a bela Helene (a canadense Patricia Owens) e pai do pequeno Phillipe (Charles Herbert), ele também é sócio de seu irmão François (Vincent Price) numa bem sucedida empresa de eletrônica. Obcecado por seu trabalho na pesquisa científica para o bem da humanidade, ele não mede esforços para conseguir seus objetivos. Fazendo testes de desintegração de objetos e cobaias vivas (sua gata de estimação e um porquinho da índia) numa cabine especial, com seus átomos viajando na velocidade da luz pelo tempo e espaço até se reintegrarem novamente em outro local. Porém, após a ocorrência de um acidente onde ele próprio decidiu ser a cobaia da experiência, seu corpo misturou-se ao de uma mosca intrusa na câmara de teletransporte. Como resultado desastroso, o cientista transformou-se num monstro onde sua cabeça e braço esquerdo eram de uma mosca, e o inseto fugiu com cabeça e braço humanos. Para tentar reverter o processo, ele pede para sua esposa e filho tentarem capturar a “mosca da cabeça branca”, antes que ele pudesse perder a sanidade e o resto de sua humanidade pela influência da mosca em seu corpo. Paralelamente, a polícia, sob a liderança do Inspetor Charas (o inglês Herbert Marshall), investiga os mistérios e eventos sinistros envolvendo o cientista e seu trabalho pioneiro de teletransporte.

 

O filme é um clássico dos saudosos anos 50 do século passado abordando as temáticas de “cientista louco” e “homem transformado em monstro”. Faz parte de um período fértil com centenas de filmes divertidos do cinema fantástico, muitos deles produzidos com orçamentos baixos e roteiros exagerados na fantasia, com características bagaceiras que justamente despertam o interesse dos apreciadores do estilo. O laboratório do “cientista louco” possui todos aqueles aparelhos sofisticados da época, repletos de luzes piscando, botões e mostradores analógicos, num período turbulento onde a humanidade convivia com a paranoia nuclear da guerra fria, com a preocupação e medo da destruição do planeta e das consequências de atos equivocados com o avanço da tecnologia, dos aparelhos eletrônicos, foguetes, satélites espaciais e vôos supersônicos.

 

Foi criada uma franquia dentro desse interessante universo ficcional, inicialmente com uma trilogia composta pelo original de 1958 e outras duas sequências com fotografia em preto e branco, “O Monstro de Mil Olhos” (Return of the Fly, 1959), e “A Maldição da Mosca” (Curse of the Fly, 1965). Cerca de vinte anos depois, o cineasta David Cronenberg retomou o assunto e lançou a refilmagem “A Mosca” (The Fly, 1986), com horror gráfico e mortes sangrentas em ótimos efeitos especiais, e que foi seguido por “A Mosca II” (The Fly II, 1989), de qualidade bem inferior. “A Mosca da Cabeça Branca” foi lançado em DVD no Brasil pela “Fox”, com a opção de exibição do filme com a dublagem em português da época em que foi exibido na televisão. Na parte de materiais extras, temos apenas os trailers sem legendas do próprio filme e também da refilmagem de 1986, sua continuação de 1989, e do clássico de FC “Viagem Fantástica” (Fantastic Voyage, 1966).

 

(RR – 22/02/16) 


O Incrível Homem Que Encolheu (The Incredible Shrinking Man, EUA, 1957, PB)

 


Produção da “Universal” de 1957 com fotografia em preto e branco, “O Incrível Homem Que Encolheu” (The Incredible Shrinking Man) tem direção de Jack Arnold e história de Richard Matheson, dois especialistas no gênero fantástico. Arnold (1916 / 1992) tem no currículo preciosidades como “Veio do Espaço” (1953), “O Monstro da Lagoa Negra” (1954), “A Revanche do Monstro” (1955), “Tarântula!” (1955), “Mensagem do Planeta Desconhecido” (1958) e “O Monstro Sanguinário” (1958). E o escritor Matheson (1926 / 2013) escreveu vários episódios da série de TV “Além da Imaginação” e roteiros de filmes produzidos por Roger Corman e inspirados em Edgar Allan Poe como “O Solar Maldito” (1960), “O Poço e o Pêndulo” (1961), “Muralhas do Pavor” (1962) e “O Corvo” (1963). Também escreveu os roteiros de “Farsa Trágica” (1964), “As Bodas de Satã” (1968), da “Hammer” e “Encurralado” (1971), de Steven Spielberg, e parte de seus livros foram adaptados para o cinema em filmes como “Mortos Que Matam” (1964) e “A Casa da Noite Eterna” (1973).

 

“Minha prisão. Uma área perigosa e solitária no espaço e no tempo. Pensei que assim como o homem tinha dominado o seu mundo, eu dominaria o meu.” – Scott Carey, analisando o porão de sua casa.

 

Scott Carey (Grant Williams) está passeando com sua esposa Louise (Randy Stuart) num barco no mar, descansando e tomando um banho de sol. Porém, uma misteriosa nuvem radioativa surge no caminho e apenas ele entra em contato com a estranha neblina. Passados alguns meses e depois que ele também entra em contato aleatório com uma névoa de inseticida, percebe que suas roupas estão ficando folgadas no corpo. Analisando melhor o mistério, descobre que está incrivelmente encolhendo e exames médicos indicaram uma reorganização da estrutura molecular das células de seu corpo, provocada pela exposição à radiação misturada com o inseticida. Com o encolhimento crescente e desenfreado de seus órgãos, Scott Carey tornou-se vítima da imprensa sensacionalista e se isolou do convívio social. Diminuiu tanto de tamanho que passou a morar numa casa de bonecas, lutando por sua vida contra a ameaça de seu gato de estimação. Com o encolhimento progressivo e depois de um acidente num confronto com o imenso gato, ele cai no porão e mora numa caixa de fósforos. Na nova condição repleta de perigos e dificuldades para a sobrevivência, ele terá que lutar o tempo todo por sua vida, encolhendo sem parar, enfrentando desde uma inundação com um vazamento de água de um cano até a batalha mortal com uma aranha enorme que vive no porão e quer manter seu domínio no local.

 

“Meu inimigo parecia imortal. Mais que uma aranha, ele representava todos os medos desconhecidos do mundo. Todos eles, juntos num medonho horror negro.” – Scott Carey, sobre a guerra contra a aranha colossal.

 

“O Incrível Homem Que Encolheu” é uma pérola do cinema fantástico dos anos 50 do século passado, geralmente considerado pelos apreciadores do gênero como um dos mais importantes filmes de todos os tempos. Ambientado numa época onde a guerra fria entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética pela supremacia do mundo, gerava um clima desconfortável de constante instabilidade e medo de um apocalipse nuclear, com a especulação dos efeitos destrutivos do uso indevido da radiação. A espetacular história mantém o interesse contínuo fazendo o espectador torcer pelo sucesso do protagonista, entendendo seu drama incomum e criando uma empatia por sua grave situação de homem encolhido que luta pela vida num ambiente onde tudo se transforma em perigoso e potencialmente mortal. Sem contar o imenso esforço psicológico para suportar a nova condição e não enlouquecer ou entrar num estado de depressão sem volta, perante o completo cenário pessimista ao seu redor. É difícil até imaginar como seriam nossas ações se tivéssemos que enfrentar uma situação similar, num mundo novo de desafios e perigos, onde o ápice do caos está no confronto com uma aranha que se transformou num monstro gigante pela perspectiva do homem encolhido.

Apesar de uma produção de baixo orçamento, os efeitos especiais são excelentes, principalmente pela época e pelos recursos disponíveis, num período sem a facilidade e artificialidade da computação gráfica, utilizando a construção de mobílias e objetos gigantes para simular a condição diminutiva do personagem. Além de efeitos eficientes de trucagem em cenas como a perseguição do gato de estimação, que de dócil tornou-se um monstro carnívoro ameaçador.

O desfecho, carregado de comentários filosóficos do protagonista, refletindo sobre questões existenciais, é memorável e se destaca na história do cinema de Ficção Científica, ao lado de outros marcantes como “O Homem dos Olhos de Raio-X” (1963) e “O Planeta dos Macacos” (1968).

 

“Mas, de repente entendi que eram dois extremos de um mesmo conceito. O incrivelmente pequeno e o vasto acabaram se encontrando, como se um grande círculo se fechasse. Olhei para o céu como se de algum modo pudesse compreender, o céu, o universo, os mundos infinitos, a tapeçaria prateada de Deus que cobre a noite. Eu ainda existo.” – Scott Carey, refletindo sobre sua nova condição como “o incrível homem que encolheu”, e que continua encolhendo de forma infinitesimal.

 

Curiosamente, o escritor Richard Matheson criou uma história para possível sequência onde Louise Carey, a esposa do homem encolhido, também teria que enfrentar o mesmo drama, porém o projeto foi cancelado pelos produtores. E um erro atribuído ao filme é que a aranha utilizada é uma tarântula, porém esses aracnídeos não vivem em teias como mostrado, e sim em tocas e buracos.


(RR - 19/02/2016)

Vinte Milhões de Léguas a Marte (World Without End, EUA, 1956)

 


Vinte Milhões de Léguas a Marte” (World Without End, EUA, 1956) é uma ficção científica da saudosa década de 50 do século XX, época de inúmeras produções divertidas do cinema fantástico. A direção e roteiro é de Edward Bernds (1905 / 2000), o mesmo cineasta de “Rebelião dos Planetas” (1958), “O Monstro de Mil Olhos” (1959, segunda parte da série “A Mosca”), e “Valley of the Dragons” (1961), além de alguns filmes de comédia com “Os Três Patetas”.

 

A história mostra um grupo de aventureiros espaciais a bordo de um foguete orbitando o planeta Marte. Liderado pelo cientista Dr. Eldon Galbraithe (Nelson Leigh), a expedição ainda conta com o Herbert Ellis (Rod Taylor, de “A Máquina do Tempo”, 1960), John Borden (Hugh Marlowe, de “O Dia Em Que a Terra Parou”, 1951) e Henry Jaffe (Christopher Dark). Após observações ao planeta vermelho sem pousar em sua superfície, eles iniciam o retorno para casa.

Porém, a nave repentinamente entra numa torção de tempo, um deslocamento exponencial no espaço, atingindo uma velocidade absurdamente alta que impulsiona o foguete para um salto no futuro, indo parar na Terra de 2508. Após um pouso forçado numa região com neve, amortecendo o impacto, o grupo escapa ileso e inicia um reconhecimento do local. Entre os perigos que enfrentam, está o ataque de aranhas gigantes do tamanho de cachorros de grande porte, que cresceram de forma descomunal após contato com radiação. Além de um confronto violento com humanoides mutantes, parecidos com os primitivos homens da caverna do passado remoto da Terra.

Eles descobrem que o planeta sofreu uma guerra atômica e encontram uma civilização de remanescentes da catástrofe que vive escondida em câmaras subterrâneas, lideradas pelo Presidente do Conselho Timmek (Everett Glass). Dotados de inteligência, eles sobrevivem com segurança e conforto por séculos, produzindo o próprio alimento, mas com a população diminuindo drasticamente com o passar dos anos, com os homens não demonstrando coragem para saírem à procura de um mundo novo na superfície sem radiação da guerra, dissipada pelo tempo.

O recém chegado grupo de viajantes do espaço que veio do passado, tenta inspirar o povo subterrâneo a combater os mutantes da superfície e reconstruir sua civilização. Contando com o apoio das belas mulheres locais com vestidos curtos como as jovens Garnet (Nancy Gates), filha de Timmek, Elaine (Shawn Smith, de outras bagaceiras como “A Ameaça do Outro Mundo”, 1958), responsável pelos jardins hidropônicos que geram os alimentos, e a ajudante geral Deena (Lisa Montell). Mas, por outro lado, eles enfrentam a resistência e oposição política de Mories (Booth Colman, o orangotango Zaius da série de TV “Planeta dos Macacos”, 1974).

 

“Vinte Milhões de Léguas a Marte” é curto, com apenas 80 minutos, e tem um título sonoro, exagerado e bem diferente do original, que traduzido literalmente seria “Mundo Sem Fim”. É uma produção com orçamento menor, como podemos perceber nos efeitos toscos e precários da maquete do foguete espacial enfrentando a turbulência na torção de tempo, balançando como um brinquedo descontrolado, ou na cena de aterrissagem forçada na neve, tão patética que diverte. Cenas da nave espacial foram aproveitadas do filme “Voando Para Marte” (1951). O ataque das aranhas gigantes numa caverna também comprova a precariedade da concepção dos efeitos, uma vez que não passam de bichos toscos de borracha e pelúcia, que apesar de motorizados, parecem estáticos, e que são arremessados contra suas vítimas.

Por outro lado, os cenários coloridos e em formatos geométricos que formam os cômodos da cidade subterrânea são bem interessantes e com aspectos futuristas. As portas deslizantes serviram de inspiração na nave “Enterprise” da série clássica de TV “Jornada nas Estrelas”. É fácil notar também várias similaridades com o posterior “A Máquina do Tempo”, que é um filme bem mais conhecido pela produção caprichada do especialista George Pal e história baseada em livro homônimo de H. G. Wells. Elementos como a viagem no tempo e o futuro apocalíptico da humanidade, com a divisão entre duas classes sociais distintas, uma vivendo na superfície e outra no subsolo do planeta.

O roteiro traz elementos sempre interessantes no cinema de ficção científica, principalmente naquele período dourado da década de 1950, com a abordagem de viagens espaciais, deslocamentos no tempo e cenários pós-apocalípticos, com a humanidade sabendo do perigo de uma destruição global numa catástrofe nuclear, mas não conseguindo exercer a sabedoria para evitá-la. Após o rompimento da barreira do som com jatos propulsores e a descoberta do poder do átomo em bombas, a humanidade em crescente evolução tecnológica, estava agora partindo para exploração do espaço e outros planetas. Mas, contrapondo às sempre bem vindas especulações científicas e a ambientação no século 26, temos no roteiro vários elementos que nos remetem para uma aventura banal de romance, com os homens do século XX despertando o interesse amoroso das mulheres do futuro, por sua beleza, coragem e características altruístas, diminuindo um pouco o interesse da história.


(RR – 15/08/15)

O Choque dos Planetas (I Diafanoidi Vengono da Marte / The War of the Planets, Itália, 1966)


"O Universo é infinito e eterno. Quem pode dizer quando tudo começou? Com o advento das viagens espaciais, a nossa pequena Terra conquistou uma dimensão maior, o Homem se expõe a novos elementos, totalmente dominado por uma inteligência alienígena. É véspera de ano novo. D.U.U. (Democracias Unidas do Universo) enviou diversas estações ao Cosmos. Porém, as estações Alfa 1, Alfa 2, Delta 2 e Gama 1 deparam-se repentinamente com o indefinível, ameaçadas por um poder imaterial, os Diafanoides.”

 

O cinema fantástico italiano, principalmente nos anos 60 do século passado, tem significativa importância no gênero, tanto o cultuado ciclo de horror gótico quanto os filmes bagaceiros de ficção científica com efeitos práticos e sem computação gráfica.

O diretor Antonio Margueriti (1930 / 2002), utilizando principalmente o pseudônimo Anthony Dawson, contribuiu com vários filmes nessas temáticas como “A Mansão do Homem Sem Alma” (1963) e “Dança Macabra” (1964) no horror gótico, e “Destino: Espaço Sideral” (1960) e “O Planetas dos Desaparecidos” (1961) na FC de baixo orçamento.

É dele também “O Choque dos Planetas” (The War of the Planets / I Diafanoidi Vengono da Marte, 1966), que faz parte de uma série de filmes com a estação espacial Gama 1, sendo o segundo de uma quadrilogia, seguindo “Esse Bravo, Selvagem e Violento Mundo” (“Wild, Wild Planet” AKA “I Criminali della Galassia”, 1966), com os mesmos personagens e elenco principal, e sendo seguido por “War Between the Planets” AKA “Il Pianeta Errante” (1966) e “Snow Devils” AKA “La Morte Viene dal Pianeta Aytin” (1967), com outros personagens e atores diferentes.

 

Com roteiro de Ivan Reiner e Renato Moretti, a história é ambientada no século 21, e conforme a introdução narrada e reproduzida no início desse texto, a humanidade domina as viagens espaciais e possui várias estações e postos avançados orbitando a Terra.

Porém, na véspera de passagem para um ano novo, todos foram surpreendidos em meio às festas e comemorações por um ataque de uma raça alienígena imaterial, os “diafanoides”. Eles se estabeleceram numa base em Marte (daí o título original italiano), e se manifestam na forma de luzes verdes brilhantes e nuvens de fumaças, se apossando dos corpos dos humanos nas diversas estações espaciais. Através de lavagem cerebral que os transforma em criaturas submissas e isentas de sentimentos e emoções para servir “o todo”, uma consciência coletiva única que descarta as pessoas consideradas fracas ou incapazes de agregar.

As ações são concentradas na estação “Gama 1”, liderada pelo Comandante Mike Halstead (Tony Russel), que tem uma equipe formada pela namorada, a bela Tenente Connie Gomez (Lisa Gastoni), além dos Tenentes Jake Jacowitz (Franco Nero) e Ken (Carlo Giustini). Eles, com a ajuda do General Maitland (Umberto Raho) e do General Halstead (Enzo Fiermonte), pai do Comandante da estação, tentam juntos combater os alienígenas, impedindo que os invasores cheguem à Terra.

 

“O Choque dos Planetas” tem uma história clichê de invasão alienígena com uma crítica social no estilo de “Invasores de Corpos” (1956), com as pessoas transformadas em zumbis eliminando as emoções. O que garante mesmo a diversão são todos os elementos característicos dos filmes de FC bagaceiros produzidos com orçamentos reduzidos. Pois a qualidade técnica é infinitamente inferior numa comparação por exemplo com “2001: Uma Odisseia no Espaço”, lançado apenas dois anos depois.

O entretenimento fica por conta dos efeitos e trucagens precários realizados com maquetes, miniaturas, carros, naves e foguetes espaciais toscos, além de cenários coloridos exagerados simulando ambientes futuristas, trajes espaciais prateados e salas de controle cheias de painéis enormes com botões e luzes piscando. Tudo bem longe do CGI de dezenas de anos mais tarde, cuja artificialidade muitas vezes elimina a magia dos efeitos práticos.

O elenco é muito grande, com um excesso de personagens sem importância, dificultando às vezes o reconhecimento e conexão com o espectador, que concentra a atenção na tripulação principal da estação Gama 1. O ator italiano Franco Nero é bastante reconhecido por seus filmes de western, especialmente como o personagem Django no filme homônimo de 1966.    

O filme está disponível no “Youtube” com uma versão dublada em português.

 

"Morte às emoções que geram o ódio, a agonia e a vingança, a luxúria que vicia o Homem. Que prevaleça a serenidade do pensamento, com a unidade espiritual que movimenta o Universo. Nós somos parte do mundo.” – Diafanoides

 

(RR – 16/11/22)




A Vingança de Lady Morgan (La Vendetta di Lady Morgan / The Vengeance of Lady Morgan, Itália, 1965, PB)

 


"Eu estou morta. Quando uma pessoa perde a vida devido a uma morte violenta, é destinada a vagar pelo lugar onde morreu.” – Lady Susan Morgan

 

Para quem aprecia os filmes antigos do gênero fantástico, o ciclo italiano de horror gótico certamente é indispensável, com suas histórias de fantasmas e castelos assombrados. São tantos filmes, principalmente dos anos 60 e 70 do século passado, que é árdua a tarefa de pesquisa desse fascinante subgênero do cinema de horror.

“A Vingança de Lady Morgan” (La Vendetta di Lady Morgan, 1965), também conhecido pelo título internacional “The Vengeance of Lady Morgan” é mais uma preciosidade que merece registro, com direção de Massimo Pupillo (creditado como Max Hunter) e fotografia em preto e branco.   

 

 Na Escócia de 1865, o Lord Harold Morgan (Paul Muller) está interessado num casamento com Lady Susan Blackhouse (Barbara Nelli), uma bela jovem de família rica e tradicional, sobrinha herdeira de Sir Neville Blackhouse (Carlo Kechler). Porém, ela é apaixonada pelo arquiteto Pierre Brissac (Michel Forain), que misteriosamente sofreu um suposto acidente à bordo de um barco em alto mar, escapando por pouco da morte, e ficando internado num hospital com perda de memória.

Com o caminho livre, o casamento acontece, e logo começa a surgir fatos estranhos no castelo da família, com a chegada de novos e suspeitos empregados ligados ao Lord Harold, como a serviçal Terry (Edith MacGoven), o violento mordomo Roger (Gordon Mitchell) e a bela e misteriosa governanta Miss Lillian (Erika Blanc). Com suas habilidades de hipnose ela consegue manipular a mente de Lady Morgan, que passa a ouvir vozes e ter alucinações, perdendo a sanidade e sendo induzida ao suicídio. Ela então retorna do mundo dos mortos como um fantasma vingativo à procura de justiça e para recuperar o amor de Pierre, que recobrou a memória e retornou ao castelo.    

 

A primeira metade de “A Vingança de Lady Morgan” tem uma narrativa um pouco mais arrastada, com uma história clichê sobre uma bela mulher sendo vítima do marido inescrupuloso interessado apenas em sua fortuna, armando um plano maquiavélico para eliminá-la. Porém, depois o roteiro investe nos aguardados elementos sobrenaturais do horror gótico, com aparições fantasmagóricas e exploração dos cantos sombrios do castelo, com seu cemitério sinistro no jardim envolto em névoa espessa e a mórbida masmorra no subsolo. Através da vingança sangrenta do espírito de Lady Morgan (daí o título), com mortes violentas num ambiente atmosférico.

A história bebeu na fonte do anterior “Dança Macabra” (Castle of Blood, 1964), de Antonio Margheriti, outra preciosidade italiana com Barbara Steele, ao explorar o mesmo tema dos fantasmas atormentados que morreram violentamente e ficaram presos no castelo onde viviam, necessitando desesperadamente do sangue dos vivos.   

 

O ator suiço Paul Muller (1923 / 2016) teve uma carreira longa, sendo um rosto conhecido em vários filmes de horror do cineasta espanhol Jesus Franco. E Gordon Mitchell pode ser reconhecido em diversos filmes italianos de western.

“A Vingança de Lady Morgan” foi lançado em DVD no Brasil pela “Versátil” na coleção “Obras Primas do Terror – Gótico Italiano” # 2, apresentado como material extra, ao lado de outros seis filmes similares que complementam o box. Está também disponível no “Youtube” com legendas em português.

 

"Não queremos matá-lo. Precisamos somente do seu sangue. Você será nossa fonte de vida. Não há saída. Seu destino está selado.” – dos fantasmas perturbados para Neville Blackhouse, acorrentado na masmorra do castelo

 

(RR – 09/11/22)





Tumba Maldita (The Curse of the Living Corpse, EUA, 1964, PB)

 


Tumba Maldita” (The Curse of the Living Corpse, EUA, 1964) é um filme de baixo orçamento com fotografia em preto e branco, direção de Del Tenney, e para a sorte dos apreciadores de filmes antigos bagaceiros de Horror, tem no “Youtube” uma versão original americana com legendas em português.

 

 A história é ambientada nos Estados Unidos do final do século XIX, em 1892 na região da Nova Inglaterra. O patriarca de uma família rica, Rufus Sinclair, que tinha fobia em ser enterrado vivo e sofria de uma doença que deixava os nervos enrijecidos, morreu em circunstâncias duvidosas e em seu funeral o caixão é colocado numa cripta do cemitério.

Considerado tirano por sua família, que também é composta por indivíduos sem escrúpulos, as atenções se voltam para a leitura de seu testamento, através do advogado James Benson (Hugh Franklin), com todos eles interesseiros e ávidos por receber suas respectivas heranças.

A família é composta pela esposa Abigail (Helen Waren), os dois filhos, o mulherengo Bruce (Robert Milli), que tem um caso amoroso com a empregada Letty Crews (Linda Donovan), e o alcoólatra Philip (Roy Scheider), casado com Vivian (Margot Hartman, esposa do diretor Del Tenney na vida real), além do sobrinho Robert Harrington (Dino Narizzano), cuja namorada é Deborah Benson (Candace Hilligoss). Entre os empregados, ainda tem o mordomo Seth Lucas (J. Frank Lucas) e a cozinheira medrosa (Jane Bruce).

Depois que o “cadáver vivo” (do título original) do pai milionário desaparece misteriosamente da “tumba maldita”, assassinatos macabros começam a ocorrer entre os membros da família, despertando a atenção da polícia, sob a investigação do Chefe Barnes (Paul Haney) e seu ajudante atrapalhado e incompetente Winters (George Cotton), responsável pelos alívios cômicos.

Num aparente plano de vingança onde as mortes eram relacionadas aos principais medos de cada um, indo da fobia da mãe Abigail em ser queimada por fogo, passando pela aversão do vaidoso Bruce em ter o rosto desfigurado, o temor de Philip em ser estrangulado, e de sua esposa Vivian em morrer afogada.      

 

“Tumba Maldita” tem um roteiro apostando no mistério que envolve a leitura de um testamento e as mortes trágicas dos membros de uma família desunida, gananciosa e mergulhada na desconfiança mútua, com a tradicional investigação policial. Mas, sem os sempre esperados elementos sobrenaturais que certamente agregariam valor para a história e para o entretenimento. As mortes até podem ser consideradas violentas, principalmente para a época da produção, com cabeça decapitada, rosto mutilado, queimaduras e afogamentos, porém, a falta de mais elementos góticos e fantasmagorias prejudicam um pouco o resultado final.

 

Curiosamente, foi o filme de estreia do ator Roy Scheider (1932 / 2008), que teve uma carreira de sucesso, com créditos importantes como no clássico “Tubarão” (Jaws, 1975), de Steven Spielberg. O multifuncional Del Tenney (1930 / 2013), além de exercer a função de diretor, roteirista e produtor, também foi ator (não creditado), interpretando o “cadáver vivo”.

 

(RR – 04/11/22)






The Hyena of London (La Jena di Londra, Itália, 1964, PB)

 


La Jena di Londra” (Itália, 1964), também conhecido pelo título em inglês “The Hyena of London”), tem fotografia em preto e branco, roteiro e direção de Gino Mangini (sob o pseudônimo Henry Wilson), e está disponível no Youtube numa versão original italiana com legendas em português. É curo com apenas 75 minutos, e tem uma história clichê de investigação policial de misteriosos assassinatos num vilarejo inglês do final do século XIX, com alguns elementos sutis de horror e até ficção científica.

 

 O perigoso assassino em série Martin Bauer foi preso pela polícia e condenado à morte por enforcamento. Conhecido como “Hiena” (daí o título), ele foi executado numa sexta-feira, 19 de Dezembro de 1883. Porém, seu corpo desapareceu misteriosamente do cemitério, enquanto coincidentemente uma sucessão de mortes violentas teve início num vilarejo chamado Bradford, perto da capital inglesa Londres.

Os assassinatos brutais despertaram a atenção da polícia local, com o Inspetor Brett O´Connor (Gino Rosso, creditado como Thomas Walton) liderando as investigações, auxiliado pelo ajudante Brown (Attilio Dottesio, como William Burke) e Quayle (Gino Rumor, como Antony Wright), um representante da Scotland Yard.

Entre as pessoas de destaque no vilarejo temos o médico rico Dr. Edward Dalton (Giotto Tempestini, como Bernard Price), envolvido com experiências bizarras no estilo de “cientista louco” e auxiliado pelo inescrupuloso Dr. Antony Finney (Angelo Dessy, como James Harrison). E para completar o elenco tem o casal de namorados formado por Henry Duin (Tony Kendall) e Muriel (Diana Martin), filha do Dr. Dalton, e os vários empregados da mansão do médico, como o jardineiro Peter (Luciano Pigozzi, como Alan Collins), sua esposa infiel Margie (Ilona Drash, como Denise Clar) e o mordomo Chris (Giovanni Tomaino, como John Mathews).

 

A primeira metade do filme é bem arrastada e entediante, voltada claramente para o drama e com menos ênfase nos esperados elementos de horror gótico normalmente associados à ambientação da história. O roteiro perde tempo apenas apresentando vários personagens desinteressantes, com excesso de cenas envolvendo casais de namorados e triângulos amorosos.

Já a partir da metade para o final as ações melhoram um pouco com a ocorrência de assassinatos (todos “off screen”) num vilarejo, inclusive com a morte trágica de uma adolescente, num momento ousado dos realizadores, principalmente pela época, um fato que motivou os aldeões revoltados a se reunirem numa caçada de vingança ao assassino pela floresta.

Somente com as mortes misteriosas e a consequente investigação policial a narrativa ganhou um pouco mais de dinâmica e atmosfera sombria. Porém, ainda assim, nada muito significativo e memorável o suficiente que pudesse impedir de tornar o filme um exemplar apenas mediano e esquecido do horror gótico, principalmente quando comparado com inúmeras outras preciosidades italianas do mesmo período.

Curiosamente, o ator italiano Tony Kendall (1936 / 2009) esteve no horror gótico “O Chicote e o Corpo” (1963), ao lado de Christopher Lee, e em “O Retorno dos Mortos-Vivos” (1973), segundo filme da tetralogia espanhola dos mortos cegos de Amando de Ossorio.

 

(RR – 25/10/22)






The Seventh Grave (La Settima Tomba, Itália, 1965, PB)

 


" – De que tem medo?”

“ – De tudo. Esta atmosfera opressiva. Este castelo. Os túmulos no parque. E essa obsessão pelo mistério do túmulo vazio. Como se esperasse por um outro cadáver. Não aguento mais.”

 

Diálogo entre o tabelião William Elliot e a médium Katy

 

“La Settima Tomba” (também conhecido com o título internacional “The Seventh Grave”) é um filme italiano de 1965 dentro da temática do horror gótico com elementos de mistério e investigação policial de assassinatos. Com metragem de apenas 73 minutos e fotografia em preto e branco, a direção é de Garibaldi Serra Caracciolo (creditado como Finney Cliff), que também é co-autor do roteiro, em seu único filme na carreira.

Não é fácil obter informações sobre esse filme e para a sorte dos apreciadores do estilo temos disponível no “Youtube” uma cópia em versão original italiana com legendas em português, que apesar da pouca qualidade de imagem, é uma oportunidade preciosa de conhecer um filme mais obscuro e esquecido do ciclo italiano de horror gótico.  

 

Ambientado na Escócia do século XIX, a história básica é sobre um grupo de herdeiros que se reúnem num castelo para a leitura do testamento do proprietário falecido, Sir Reginald Thorne, um médico excêntrico conhecido por suas experiências bizarras na tentativa de cura da lepra.

Entre os herdeiros temos os americanos Sr. Jenkins (Antonio Casale, creditado como John Anderson), sua esposa Mary (Bruba Baini, creditada como Kateryn Schous) e o irmão mais novo Fred Jenkins (Gianni Dei, creditado como John Day). Outros visitantes do castelo são Sir Percival (Umberto Borsato, creditado como Gordon Mac Winter), sua filha sensitiva Katy (Stefania Nelli, creditada como Stephania Nelly), o pastor Crabbe (Ferruccio Viotti, creditado como Richard Gillies), o tabelião William Elliot (Nando Angelini, creditado como Fernand Angels), responsável pelo testamento, e a empregada Betty (Germana Dominici, creditada como Germayne Gesny).

Depois que o cadáver de Sir Reginald desaparece da sétima tumba (daí o nome do filme) na cripta onde repousava no porão do castelo, e ocorrem assassinatos misteriosos como o do guardião do castelo Patrik (Calogero Reale, creditado como Edward Barrett), surge o Inspetor da polícia Martin Wright (Armando Guarnieri, creditado como Armand Warner) para liderar as investigações.

 

“The Seventh Grave” é uma produção de baixo orçamento com muitos defeitos, história rasa, repleta de clichês, erros de continuidade e narrativa arrastada com baixa contagem de cadáveres. Porém, a despeito dos vários problemas, temos a esperada atmosfera sombria de horror gótico, garantida pelos personagens sinistros e principalmente pelo imponente castelo com seus cômodos imensos, escadarias intermináveis, passagens secretas, cemitério no jardim e a cripta dos mortos no porão.

As filmagens foram realizadas em locações no “Castello Piccolomini”, construído em 1460 na cidade italiana de Balsorano, e que serviu de palco macabro para muitos outros filmes similares como “O Túmulo do Horror” (1964), com Christopher Lee.

 

(RR – 17/10/22)




O Túmulo do Horror (Crypt of the Vampire, Itália / Espanha, 1964, PB)

 


“E pelas minhas mãos a linhagem dos Karnstein sumirá da face da Terra. E meu sangue derramado voltará às minhas veias. E os filhos dos traidores que me mataram serão destruídos. Para cada instante de sofrimento prometo-lhes séculos de vingança. Assim, eu prometo, Sheena Karnstein. Meu sinal é a estrela de cinco pontas.”

 

O escritor irlandês Sheridan Le Fanu (1814 / 1873) é o autor da conhecida história de vampirismo “Carmilla”, que foi adaptada algumas vezes no cinema como em “Rosas de Sangue” (1960) e “Atração Mortal” (1970, também conhecido como “Os Amantes Vampiros” e “Carmilla, a Vampira de Karnstein”, produção inglesa da “Hammer”.

O ciclo de horror gótico italiano dos anos 60 do século passado também tem um filme levemente inspirado nesse universo ficcional, “O Túmulo do Horror” (Crypt of the Vampire / Terror in the Crypt, 1964), que tem o título original italiano “La Cripta e L`incubo”, numa co-produção com a Espanha e com Christopher Lee liderando o elenco. Com fotografia em preto e branco, a direção é de Camillo Mastrocinque (sob o pseudônimo Thomas Miller). Foi lançado em DVD no Brasil pela “Versátil” na coleção “Obra Primas do Terror – Gótico Italiano” # 2, e está disponível no “Youtube” com áudio original italiano e legendas em português.

 

“Não há sequer um nome sobre a minha tumba. Somente uma pedra negra. Eu colocarei seus nomes sobre vossas lápides e vereis meu rosto sobre suas sepulturas. Eu serei ela e ela serei eu. E os séculos não contarão para mim.” – Sheena Karnstein

 

Preocupado com uma antiga maldição familiar, o Conde Ludwig Karnstein (Christopher Lee) pede ajuda para o restaurador de documentos históricos Friedrich Klauss (José Campos) para visitá-lo em seu castelo gótico no alto de um penhasco, com o objetivo de tentar descobrir entre os registros em sua biblioteca alguma informação reveladora de seus ancestrais e a possibilidade de relação com sua filha Laura (Adriana Ambesi, creditada como Audry Amber). Ela está sofrendo com pesadelos terríveis e segundo a governanta Rowena (Nela Conjiu), poderia estar possuída pelo espírito maligno e vingativo de Sheena Karnstein, condenada à morte por bruxaria e vampirismo, fato que poderia explicar as visões de Laura e a ocorrência sinistra de assassinatos de membros da família e empregados do castelo.

Entre os serviçais tem a jovem Annette (Vera Valmont), amante do Conde, e o mordomo Cedric (José Villasante). Paralelamente, um acidente com uma carruagem obriga a jovem Ljuba (Ursula Davis) a se hospedar no castelo. Ela torna-se rapidamente amiga íntima da solitária Laura, ajudando a afastá-la da depressão, e juntas tentam entender o mistério por trás de seus pesadelos, assombrações, mortes sangrentas e a atmosfera perturbadora do castelo.

 

"Raramente temos visitantes aqui. É como viver em uma tumba... ou em algum lugar no limite do mundo.” – Laura Karnstein

 

Todos os filmes do ciclo italiano de horror gótico são interessantes e com entretenimento garantido para os fãs do estilo, justamente pela exploração dos mesmos velhos clichês de castelos assombrados por maldições. “O Túmulo do Horror” é sinistro do começo ao fim, mesmo nos momentos de narrativa mais arrastada e está entre os memoráveis que sempre vale citar como “A Maldição do Demônio” (1960) e “Dança Macabra” (1964), entre outros.

Sua atmosfera sombria é de gelar a espinha até dos mortos, destacando as catacumbas do castelo, palco de rituais de magia negra e pousada eterna da morte para os ancestrais da família Karnstein, além da infinidade de passagens secretas, corredores e cantos obscuros ideais para fantasmagorias. Além do castelo macabro (locações no Castello Piccolomini, na Itália), temos também as ruínas de um vilarejo próximo onde uma torre decrépita ainda guarda um sino que toca sozinho pela ação dos ventos fortes, aumentando ainda mais a atmosfera sombria e desconfortável que ronda o lugar.     

 

“Eu adoro esses castelos antigos... eles têm um ar tão misterioso.” – Friedrich Klauss

 

(RR – 04/10/22)