“Vinte Milhões de
Léguas a Marte” (World Without End, EUA, 1956)
é uma ficção científica da saudosa década de 50 do século XX, época de inúmeras
produções divertidas do cinema fantástico. A direção e roteiro é de Edward
Bernds (1905 / 2000), o mesmo cineasta de “Rebelião dos Planetas” (1958), “O
Monstro de Mil Olhos” (1959, segunda parte da série “A Mosca”), e “Valley of
the Dragons” (1961), além de alguns filmes de comédia com “Os Três Patetas”.
A história mostra um grupo de aventureiros espaciais a
bordo de um foguete orbitando o planeta Marte. Liderado pelo cientista Dr. Eldon
Galbraithe (Nelson Leigh), a expedição ainda conta com o Herbert Ellis (Rod
Taylor, de “A Máquina do Tempo”, 1960), John Borden (Hugh Marlowe, de “O Dia Em
Que a Terra Parou”, 1951) e Henry Jaffe (Christopher Dark). Após observações ao
planeta vermelho sem pousar em sua superfície, eles iniciam o retorno para
casa.
Porém, a nave repentinamente entra numa torção de tempo, um
deslocamento exponencial no espaço, atingindo uma velocidade absurdamente alta
que impulsiona o foguete para um salto no futuro, indo parar na Terra de 2508.
Após um pouso forçado numa região com neve, amortecendo o impacto, o grupo
escapa ileso e inicia um reconhecimento do local. Entre os perigos que
enfrentam, está o ataque de aranhas gigantes do tamanho de cachorros de grande
porte, que cresceram de forma descomunal após contato com radiação. Além de um
confronto violento com humanoides mutantes, parecidos com os primitivos homens
da caverna do passado remoto da Terra.
Eles descobrem que o planeta sofreu uma guerra atômica e
encontram uma civilização de remanescentes da catástrofe que vive escondida em
câmaras subterrâneas, lideradas pelo Presidente do Conselho Timmek (Everett
Glass). Dotados de inteligência, eles sobrevivem com segurança e conforto por
séculos, produzindo o próprio alimento, mas com a população diminuindo
drasticamente com o passar dos anos, com os homens não demonstrando coragem
para saírem à procura de um mundo novo na superfície sem radiação da guerra,
dissipada pelo tempo.
O recém chegado grupo de viajantes do espaço que veio do
passado, tenta inspirar o povo subterrâneo a combater os mutantes da superfície
e reconstruir sua civilização. Contando com o apoio das belas mulheres locais
com vestidos curtos como as jovens Garnet (Nancy Gates), filha de Timmek, Elaine
(Shawn Smith, de outras bagaceiras como “A Ameaça do Outro Mundo”, 1958),
responsável pelos jardins hidropônicos que geram os alimentos, e a ajudante
geral Deena (Lisa Montell). Mas, por outro lado, eles enfrentam a resistência e
oposição política de Mories (Booth Colman, o orangotango Zaius da série de TV
“Planeta dos Macacos”, 1974).
“Vinte Milhões de Léguas a Marte” é curto, com apenas 80
minutos, e tem um título sonoro, exagerado e bem diferente do original, que
traduzido literalmente seria “Mundo Sem Fim”. É uma produção com orçamento
menor, como podemos perceber nos efeitos toscos e precários da maquete do
foguete espacial enfrentando a turbulência na torção de tempo, balançando como
um brinquedo descontrolado, ou na cena de aterrissagem forçada na neve, tão
patética que diverte. Cenas da nave espacial foram aproveitadas do filme
“Voando Para Marte” (1951). O ataque das aranhas gigantes numa caverna também
comprova a precariedade da concepção dos efeitos, uma vez que não passam de
bichos toscos de borracha e pelúcia, que apesar de motorizados, parecem
estáticos, e que são arremessados contra suas vítimas.
Por outro lado, os cenários coloridos e em formatos
geométricos que formam os cômodos da cidade subterrânea são bem interessantes e
com aspectos futuristas. As portas deslizantes serviram de inspiração na nave
“Enterprise” da série clássica de TV “Jornada nas Estrelas”. É fácil notar
também várias similaridades com o posterior “A Máquina do Tempo”, que é um
filme bem mais conhecido pela produção caprichada do especialista George Pal e
história baseada em livro homônimo de H. G. Wells. Elementos como a viagem no
tempo e o futuro apocalíptico da humanidade, com a divisão entre duas classes
sociais distintas, uma vivendo na superfície e outra no subsolo do planeta.
O roteiro traz elementos sempre interessantes no cinema de
ficção científica, principalmente naquele período dourado da década de 1950,
com a abordagem de viagens espaciais, deslocamentos no tempo e cenários
pós-apocalípticos, com a humanidade sabendo do perigo de uma destruição global
numa catástrofe nuclear, mas não conseguindo exercer a sabedoria para evitá-la.
Após o rompimento da barreira do som com jatos propulsores e a descoberta do
poder do átomo em bombas, a humanidade em crescente evolução tecnológica,
estava agora partindo para exploração do espaço e outros planetas. Mas,
contrapondo às sempre bem vindas especulações científicas e a ambientação no
século 26, temos no roteiro vários elementos que nos remetem para uma aventura
banal de romance, com os homens do século XX despertando o interesse amoroso
das mulheres do futuro, por sua beleza, coragem e características altruístas,
diminuindo um pouco o interesse da história.
(RR – 15/08/15)