Produção da “Universal” de 1957 com fotografia em preto e
branco, “O Incrível Homem Que Encolheu”
(The Incredible Shrinking Man) tem direção de Jack Arnold e história de Richard
Matheson, dois especialistas no gênero fantástico. Arnold (1916 / 1992) tem no
currículo preciosidades como “Veio do Espaço” (1953), “O Monstro da Lagoa
Negra” (1954), “A Revanche do Monstro” (1955), “Tarântula!” (1955), “Mensagem
do Planeta Desconhecido” (1958) e “O Monstro Sanguinário” (1958). E o escritor
Matheson (1926 / 2013) escreveu vários episódios da série de TV “Além da
Imaginação” e roteiros de filmes produzidos por Roger Corman e inspirados
“Minha prisão.
Uma área perigosa e solitária no espaço e no tempo. Pensei que assim como o
homem tinha dominado o seu mundo, eu dominaria o meu.” – Scott Carey,
analisando o porão de sua casa.
Scott Carey (Grant Williams) está passeando com sua esposa
Louise (Randy Stuart) num barco no mar, descansando e tomando um banho de sol.
Porém, uma misteriosa nuvem radioativa surge no caminho e apenas ele entra em
contato com a estranha neblina. Passados alguns meses e depois que ele também
entra em contato aleatório com uma névoa de inseticida, percebe que suas roupas
estão ficando folgadas no corpo. Analisando melhor o mistério, descobre que
está incrivelmente encolhendo e exames médicos indicaram uma reorganização da
estrutura molecular das células de seu corpo, provocada pela exposição à
radiação misturada com o inseticida. Com o encolhimento crescente e desenfreado
de seus órgãos, Scott Carey tornou-se vítima da imprensa sensacionalista e se
isolou do convívio social. Diminuiu tanto de tamanho que passou a morar numa
casa de bonecas, lutando por sua vida contra a ameaça de seu gato de estimação.
Com o encolhimento progressivo e depois de um acidente num confronto com o
imenso gato, ele cai no porão e mora numa caixa de fósforos. Na nova condição
repleta de perigos e dificuldades para a sobrevivência, ele terá que lutar o
tempo todo por sua vida, encolhendo sem parar, enfrentando desde uma inundação
com um vazamento de água de um cano até a batalha mortal com uma aranha enorme
que vive no porão e quer manter seu domínio no local.
“Meu inimigo
parecia imortal. Mais que uma aranha, ele representava todos os medos
desconhecidos do mundo. Todos eles, juntos num medonho horror negro.” – Scott
Carey, sobre a guerra contra a aranha colossal.
“O Incrível Homem Que Encolheu” é uma pérola do cinema
fantástico dos anos 50 do século passado, geralmente considerado pelos
apreciadores do gênero como um dos mais importantes filmes de todos os tempos.
Ambientado numa época onde a guerra fria entre os Estados Unidos e a antiga
União Soviética pela supremacia do mundo, gerava um clima desconfortável de
constante instabilidade e medo de um apocalipse nuclear, com a especulação dos
efeitos destrutivos do uso indevido da radiação. A espetacular história mantém
o interesse contínuo fazendo o espectador torcer pelo sucesso do protagonista,
entendendo seu drama incomum e criando uma empatia por sua grave situação de
homem encolhido que luta pela vida num ambiente onde tudo se transforma em
perigoso e potencialmente mortal. Sem contar o imenso esforço psicológico para
suportar a nova condição e não enlouquecer ou entrar num estado de depressão
sem volta, perante o completo cenário pessimista ao seu redor. É difícil até
imaginar como seriam nossas ações se tivéssemos que enfrentar uma situação
similar, num mundo novo de desafios e perigos, onde o ápice do caos está no
confronto com uma aranha que se transformou num monstro gigante pela
perspectiva do homem encolhido.
Apesar de uma produção de baixo orçamento, os efeitos
especiais são excelentes, principalmente pela época e pelos recursos
disponíveis, num período sem a facilidade e artificialidade da computação
gráfica, utilizando a construção de mobílias e objetos gigantes para simular a
condição diminutiva do personagem. Além de efeitos eficientes de trucagem em
cenas como a perseguição do gato de estimação, que de dócil tornou-se um
monstro carnívoro ameaçador.
O desfecho, carregado de comentários filosóficos do
protagonista, refletindo sobre questões existenciais, é memorável e se destaca
na história do cinema de Ficção Científica, ao lado de outros marcantes como “O
Homem dos Olhos de Raio-X” (1963) e “O Planeta dos Macacos” (1968).
“Mas, de repente
entendi que eram dois extremos de um mesmo conceito. O incrivelmente pequeno e
o vasto acabaram se encontrando, como se um grande círculo se fechasse. Olhei
para o céu como se de algum modo pudesse compreender, o céu, o universo, os
mundos infinitos, a tapeçaria prateada de Deus que cobre a noite. Eu ainda
existo.” – Scott Carey, refletindo sobre sua nova condição como “o incrível
homem que encolheu”, e que continua encolhendo de forma infinitesimal.
Curiosamente, o escritor Richard Matheson criou uma
história para possível sequência onde Louise Carey, a esposa do homem
encolhido, também teria que enfrentar o mesmo drama, porém o projeto foi
cancelado pelos produtores. E um erro atribuído ao filme é que a aranha
utilizada é uma tarântula, porém esses aracnídeos não vivem em teias como
mostrado, e sim em tocas e buracos.