O Rei dos Zumbis (King of the Zombies, EUA, 1941, PB)

 


“A mágica vodu é mais real do que você pensa.

– Dr. Miklos Sangre

 

O cultuado clássico de George Romero “A Noite dos Mortos-Vivos” (Night of the Living Dead, 1968) introduziu os zumbis putrefatos devoradores de carne humana e serviu de influência e inspiração para uma infinidade de similares que vieram em seu rastro. Mas, essas criaturas tradicionais da cultura pop (ao lado dos vampiros, lobisomens, demônios, fantasmas, etc), que insistem em caminhar sobre a Terra mesmo depois de mortos, já existiam bem antes em filmes como “O Rei dos Zumbis” (King of the Zombies, 1941), produção americana da “Monogram”, misturando horror com elementos de comédia, fotografia em preto e branco, metragem curta com apenas 67 minutos e direção de Jean Yarbrough.

 

Um avião perdido numa tempestade em alguma região do Caribe faz um pouso forçado na selva de uma ilha. Seus ocupantes sobrevivem na queda, o piloto James McCarthy (Dick Purcell) e os passageiros Bill Summers (John Archer), um agente secreto do governo americano, e seu assistente Jefferson “Jeff” Jackson (Mantan Moreland). Eles são recepcionados na mansão do cientista Dr. Miklos Sangre (Henry Victor), um austríaco refugiado que vive na ilha com a esposa Alyce (Patricia Stacey), a sobrinha Barbara Winslow (Joan Woodbury) e seus servos nativos, realizando experiências com hipnose e magia vodu. Entre os zumbis sob seu comando está a própria esposa, que faz parte de um experimento com um ritual para trocar de alma com o Almirante Arthur Wainright (Guy Usher), outro náufrago na ilha, com objetivos obscuros de espionagem para os alemães na Segunda Guerra Mundial.  

 

O filme foi imaginado inicialmente apenas como um filme de horror, mas depois do sucesso comercial de “O Castelo Sinistro” (The Ghost Breakers, 1940), que combinou humor com horror, os produtores decidiram também acrescentar comédia, aproveitando a boa aceitação do público para essa mistura de gêneros (que para mim raramente funciona). Vários filmes utilizando esse conceito foram lançados na época como “O Castelo dos Mistérios” (1940), com Boris Karloff, Bela Lugosi e Peter Lorre, e “Um Cientista Distraído” (1942), novamente com Karloff.

E o maior problema com o filme é justamente a inclusão desses elementos de humor, com vários alívios cômicos entediantes e inconvenientes do tagarela Jeff, destruindo qualquer tentativa de se criar uma atmosfera mais sombria com uma história até interessante de “cientista louco” com seus zumbis hipnotizados e espionagem nazista em tempos de guerra. A insistência dos produtores com os elementos de humor em vários filmes contribuiu para minimizar o entretenimento daqueles que esperavam encontrar climas mais perturbadores nos roteiros.

Particularmente, não aprecio muito essa combinação, e algumas exceções ficam por conta de “Farsa Trágica” (The Comedy of Terrors, 1963), com um elenco de peso trazendo juntos Boris Karloff, Vincent Price, Peter Lorre e Basil Rathbone, e também a paródia “O Jovem Frankenstein” (Young Frankenstein, 1974), de Mel Brooks e com Gene Wilder no papel do cientista obcecado por criar vida num monstro feito de pedaços de cadáveres.   

“O Rei dos Zumbis” teve uma sequência lançada por aqui como “A Vingança dos Zumbis” (Revenge of the Zombies, 1943), dessa vez trazendo um ator que tem o nome vinculado ao cinema fantástico, John Carradine. Ele, que possui uma filmografia imensa de Horror e Ficção Científica, lidera o elenco fazendo o papel do “cientista louco”, ao lado de Mantan Moreland, que retorna com seu personagem cômico Jeff.

Para a satisfação dos apreciadores do cinema antigo, “O Rei dos Zumbis” pode ser conferido no “Youtube” em versão original com opção de legendas em português.

 

(RR – 07/06/23)