"... O aviso do espaço sideral era válido.
Veio de uma inteligência superior. Uma inteligência capaz
de transformar energia em matéria, e vice-versa...
Estou acima do humano... Este satélite nunca mais voltará
à Terra. Sua desintegração ao entrar em contato com a
barreira de energia encerrará o Projeto Sigma e todos os
projetos semelhantes que virão. As criaturas do seu
planeta ainda não estão prontas para o espaço.”
– Dr. Pol Van Ponder (clone alienígena)
Roger Corman é o eterno mestre dos filmes
de horror e ficção científica de orçamentos minúsculos, efeitos práticos
precários, cenários reaproveitados e histórias escapistas sem preocupação com
lógica e conceitos científicos. E é exatamente por tudo isso que seus filmes
são divertidos e cultuados. “Guerra dos
Satélites” (War of the Satellites, 1958), dirigido e produzido por Corman,
com fotografia em preto e branco e duração curta de apenas 66 minutos, é um dos
primeiros de sua longa carreira e para a sorte dos apreciadores do cinema de
gênero antigo bagaceiro, está disponível no “Youtube” com a opção de legendas
em português.
O cientista Dr. Pol Van Ponder (Richard
Devon) é o líder do projeto espacial “Sigma”, que consiste em explorar o espaço
com satélites tripulados. Porém, um misterioso campo de força destrutivo está
impedindo a livre movimentação dos satélites, que explodem no espaço. Essa
barreira de energia é controlada por uma raça alienígena hostil que não deseja
a exploração espacial pela humanidade.
Com o fracasso do projeto e enfrentando
grande pressão de opositores devido aos gastos excessivos e mortes dos
exploradores voluntários, o cientista decide ele mesmo liderar uma missão, que
inclui seus amigos Dave Boyer (Dick Miller, que esteve em vários outros filmes
bagaceiros de Corman) e Sybill Carrington (Susan Cabot, de outras tranqueiras
preciosas como “A Mulher Vespa”).
Porém, o cientista é assassinado num
acidente de carro causado pelos extraterrestres, que criam um clone de seu
corpo para tentar sabotar a missão e impedir o sucesso do projeto, restando aos
outros tripulantes do satélite descobrir sua real identidade e intenções,
lutando por suas vidas, aumentando as fronteiras e eliminando os limites que
impediam a exploração do Universo pela raça humana.
Roger Corman utilizou suas habilidades de
cineasta e produtor oportunista e ágil para lançar “Guerra dos Satélites” em
apenas algumas semanas, aproveitando o momento favorável de marketing gratuito
na época com o lançamento em 1957 do satélite Sputnik para orbitar a Terra. Um
feito marcante para a humanidade, realizado pela antiga União Soviética durante
a corrida espacial na guerra fria com os Estados Unidos.
O roteiro simples não tem compromisso com
a ciência e é totalmente voltado para o entretenimento escapista. Os
“astronautas” viajam em confortáveis poltronas reclináveis como turistas do
espaço. Os efeitos práticos incluem miniaturas toscas de foguetes e satélites,
cenários futuristas dos interiores das naves e salas de controle com os
tradicionais e imensos painéis de comutação cheios de botões, interruptores,
medidores e alavancas.
A narrativa é ágil, não perdendo tempo com
futilidades, tanto que a metragem é bem curta com pouco mais de uma hora de
filme, que até poderia se confundir devido suas características similares, com
um episódio estendido de séries cultuadas de TV do mesmo período como “Além da
Imaginação” (The Twilight Zone) ou “Quinta Dimensão” (The Outer Limits).
Curiosamente, tem até a participação não
creditada do próprio Corman como um controlador de voo operando diretamente do
solo.
(RR
– 10/05/23)