“A
morte pode ser derrotada? O segredo da vida eterna está logo ali? Hoje em dia a
ciência médica faz reparações de corpos mutilados, transplantando pele, olhos,
membros e até órgãos vitais. O próximo passo será o transplante de cérebro
humano? Muitos cientistas dizem que sim, mas fazem uma pausa e d/ao um aviso
sombrio. Pois as antigas lendas populares falam de vampiros sugadores de sangue
que saem de suas tumbas para se alimentarem dos corpos de suas vítimas
indefesas. Estará o Homem condenado a produzir uma raça de monstros imortais
pior do que os vampiros das lendas? Poderão homens e mulheres impiedosos de
grande riqueza e poder comprar ou roubar corpos vivos jovens e belos para que
seus cérebros possam viver para sempre? Estas questões podem parecer
extravagantes, mas neste extato momento os cientistas estão trabalhando para
realizar transplantes de cérebros. E eles utilizam corpos humanos.”
Com fotografia original em preto
e branco e disponível no “Youtube” com a opção de legendas em português e
também em versão colorizada por computador, “Monstrosity” (1963), dirigido por Joseph V. Mascelli e finalizado
pelo produtor Jack Polexfen (não creditado), é mais um filme picareta do cinema
fantástico bagaceiro do extremamente produtivo período entre os anos 50 e 60 do
século passado. Explorando os temas de “cientista louco” e “pessoas
transformadas em monstros”, o filme é curto com apenas 65 minutos num roteiro
absurdo com experiências envolvendo radiação, numa época conturbada com o medo
constante das consequências do uso indevido de energia atômica.
Uma idosa avarenta e rica, Sra.
Hetty March (Marjorie Eaton), interessada em vida eterna, está financiando as
experiências bizarras de um “cientista louco”, Dr. Otto Frank (Frank Gerstle),
que aceita os recursos para seus projetos científicos envolvendo reanimação de
cadáveres e transplantes de cérebros com o uso de radioatividade, alegando a
sempre boa intenção de fazer algo para o bem da humanidade como um
incompreendido homem da ciência (clichê da maioria dos “cientistas loucos” do
cinema bagaceiro). Inicialmente com transplantes de animais em pessoas, com
resultados fracassados criando “monstruosidades” como um homem com cérebro de
cachorro e uma mulher com cérebro de gato, além de outra bela mulher (Margie
Fisco) cujo cadáver foi roubado do cemitério e que se transformou em zumbi vagando
sem rumo pela casa e arredores.
A ideia era transplantar o
cérebro da tirana Sra. March num corpo mais jovem, através de uma cirurgia
pioneira do cientista e para a escolha do modelo adequado, foram recrutadas três
belas moças estrangeiras com a falsa promessa de trabalho na mansão, como a
mexicana Anita Gonzalez (Lisa Lang), a inglesa Beatrice Mullins (Judy Bamber) e
a austríaca Nina Rhodes (Erika Peters), com o serviço sujo sempre executado por
Victor (Frank Fowler), uma espécie de gigolô interessado apenas na fortuna da
velha.
“Ele
encontrou uma maneira para enganar a morte? Ou criou outra monstruosidade?
“Monstrosity”
é um filme ruim e é uma pena que diverte pouco, pois o apreciador do antigo
cinema fantástico bagaceiro terá que se contentar apenas com alguns elementos
sutis de horror gótico com os porões sombrios da mansão da idosa milionária,
que abriga o laboratório do “cientista louco” com seus aparelhos e máquinas
elétricas bizarras, incluindo um cíclotron, numa atmosfera levemente sinistra
nos corredores e salas onde a morte parece rondar à espreita. Os efeitos
práticos do laboratório são de Ken Strickfaden, o mesmo criador da parafernália
similar nos clássicos “Frankenstein” (1931) e “A Noiva de Frankenstein” (1935),
da produtora “Universal”.
Faltam
monstros toscos e os realizadores perderam uma grande oportunidade, mesmo com
um orçamento pequeno, de apresentar um desfile de atrocidades com criaturas
mutantes obtidas pelas experiências misturando animais domésticos e pessoas.
O filme foi feito em 1958, mas
somente foi lançado em 1963 depois de muitas dificuldades financeiras. Também é
conhecido pelo título original alternativo “The Atomic Brain”. Seguindo uma
prática vista em inúmeros filmes similares da época, tem um narrador não
creditado para tentar criar uma ideia sensacionalista, e parte de suas frases ilustram
esse texto. Ele é o ator Bradford Dillman (1930 / 2018), que esteve em vários
filmes divertidos do cinema de gênero como “Balada Para Satã” e “A Fuga do
Planeta dos Macacos” (ambos de 1971), além de outras tranqueiras como “Praga
Infernal” (1975) e “Piranha” (1978). Ele é irmão de um dos roteiristas, Dean
Dillman Jr..
“Tal
como acontece com os outros corpos roubados de cemitérios, as terminações
nervosas do cérebro estavam demasiado danificadas para receberem um transplante
adequado. O experimento não conseguiu produzir nada além de uma criatura
parecida com um zumbi que andava e respirava. Mas o médico permitiu que ela
andasse pelo laboratório - ela era inofensiva e às vezes até divertida.”
(RR
– 31/10/23)