Produzido especialmente para a televisão,
“Os Demônios dos Seis Séculos”
(Gargoyles) é um filme americano dirigido por Bill Norton (creditado como B. W.
L. Norton) que está disponível no “Youtube” com legendas em português e também com
a opção da dublagem clássica. É um daqueles filmes rápidos (só 74 minutos),
divertidos e nostálgicos que eram exibidos com regularidade na televisão e que
tive o privilégio de assistir entre o final dos anos 1970 e início da década de
80.
Por ser um filme para a TV, o horror é
moderado com ausência de sangue e violência e pode parecer simplório demais
para as audiências mais acostumadas com ação desenfreada, sustos fáceis e
sangue em excesso com efeitos de computação gráfica. Mas, o que mais importa no
filme é o resgate de um sentimento de nostalgia dos anos 70, com os demônios
toscos povoando os pesadelos e lembrando para a humanidade que estão apenas
ocultos, à espreita, na realidade e longe das lendas.
O Dr. Mercer Boley (Cornel Wilde), pesquisador
e especialista em demonologia, junto com sua filha fotógrafa Diana (Jennifer
Salt), está viajando para o sudoeste dos Estados Unidos, numa região inóspita
dominada pelo deserto do Arizona, para investigar a descoberta estranha do
velho Tio Willie (Woody Chambliss), que escreveu uma carta para Boley depois de
vê-lo num programa de TV. Depois de gravar o depoimento do velho em fita
cassete, referente um esqueleto de um demônio alado, ocorre um ataque
misterioso no rancho seguido de um incêndio.
Fugindo desesperados do local, o cientista
e sua filha são atacados também na estrada por uma criatura voadora com garras
afiadas que avaria severamente seu carro, obrigando-os a passar a noite numa
pequena cidade próxima, no motel da Sra. Parks (Grayson Hall), sempre com um
copo de bebida alcoólica numa das mãos.
Ao investigarem a situação bizarra, eles
descobrem uma comunidade de gárgulas vivendo oculta em cavernas nas montanhas,
uma raça mista de répteis e humanos, com um período de incubação de seus ovos a
cada 600 anos e com uma nova geração surgindo agora.
E depois que Diana é sequestrada pelo
líder dos demônios (interpretado por Bernie Casey, com a voz original de Vic
Perrin, não creditado), uma patrulha é formada para combatê-los e tentar o
resgate, formada pelo chefe de polícia (William Stevens), seu assistente Jesse
(John Gruber) e dois motoqueiros rebeldes, James Reeger (Scott Glenn) e Ray
(Tim Burns).
O título brasileiro “Os Demônios dos Seis
Séculos” é sonoro e chamativo, bem diferente do original que seria traduzido
apenas como “Gárgulas”, mas mesmo assim o nome escolhido é interessante e
pertinente com a história, uma vez que os demônios existiriam em paralelo com a
humanidade, apenas aguardando a oportunidade de supremacia no planeta,
renascendo a cada 600 anos para tentar tornar-se a espécie dominante.
Sendo uma produção de orçamento reduzido e
filmado em poucos dias, os destaques certamente são os monstros toscos, com os
atores simulando gárgulas vestindo roupas esverdeadas feitas de borracha. Esses
demônios são representados em estátuas de catedrais góticas e esculturas
egípcias, e o roteiro do filme procurou retratá-los como criaturas reais e
inimigas da humanidade, disputando espaço em nosso mundo.
Entre as várias curiosidades, as cenas dos
ataques e movimentos gerais das criaturas diabólicas foram filmadas em câmera
lenta. O demônio alado de “Olhos Famintos” (Jeepers Creepers, 2001) é muito
parecido com o líder dos gárgulas. Aliás, eles também lembram os “Sleestaks”,
criaturas verdes e escamosas com grandes olhos negros, da série de TV “O Elo
Perdido” (Land of the Lost, 1974 / 1977), apesar que nesse caso elas são mais
toscas e hilárias em comparação com as gárgulas.
Foi o primeiro trabalho (e já premiado
pelo “Emmy”) no currículo do famoso artista em maquiagem Stan Winston (1946 /
2008). Ele também é muito lembrado por sua insistência em ter o nome creditado
no filme e a contribuição para o reconhecimento dos artistas em maquiagem na
indústria cinematográfica. Foi também um dos primeiros trabalhos do ator Scott
Glenn, que teve um papel discreto como o líder dos motoqueiros rebeldes, e que conseguiu
uma carreira bem sucedida posteriormente.
(RR
– 05/09/22)