Além da Barreira do Tempo (Beyond the Time Barrier, EUA, 1960, PB)

 


O diretor tcheco Edgar G. Ulmer (1904 / 1972) possui algumas tranqueiras divertidas do cinema de gênero em seu currículo como “O Homem do Planeta X” (1951) e “O Fantástico Homem Transparente” (1960). Ele também dirigiu “Além da Barreira do Tempo” (Beyond the Time Barrier, 1960), outra preciosidade de Ficção Científica com produção de orçamento reduzido, distribuído pela “American International”.  

 

Um piloto americano de testes militares, Major William Allison (Robert Clarke, que também foi produtor), foi designado para uma missão em 1960 com um avião experimental denominado X80, voando em altitudes extremamente elevadas e com a máxima velocidade possível, com o objetivo de preparar o próximo passo na exploração espacial com satélites tripulados. Porém, durante o teste uma combinação de fatores colocou o piloto numa dobra temporal, culminando com uma viagem “além da barreira do tempo”, indo parar num futuro longínquo (para a época da produção), em 2024.

Ao pousar novamente na base aérea, tudo está deserto, abandonado e parcialmente destruído misteriosamente, sendo resgatado por uma civilização estranha que vive num mundo subterrâneo, governado pelo Líder Supremo (Vladimir Sokoloff) e pelo austero chefe de segurança Capitão (Red Morgan), os únicos que possuem a capacidade de falar, com o restante das pessoas mudas.

O piloto é informado que uma praga resultante de bombardeio de radiação cósmica gerada pelos experimentos com bombas atômicas, exterminou boa parte da vida no planeta em 1971, depois da conquista da lua e de outros planetas mais próximos como Marte e Vênus. E alguns sobreviventes, mesmo afetados pela praga, viviam numa cidadela subterrânea, com comida, conforto, e energia captada do sol, sendo que outros, mutantes famintos, sofriam com misérias e doenças na superfície.

Nesse cenário clássico de diferença de classes e disputa por poder, típico da história da humanidade e tema muito explorado em filmes ambientados no futuro, o Major Allison conhece a bela jovem Princesa Trirene (Darlene Tompkins), neta do líder, que apesar de muda, tem o poder extra-sensorial de ler pensamentos, e que seria a última esperança de continuidade para o seu povo estéril. Ele conhece também um grupo de cientistas e militares prisioneiros, que também viajaram por uma dobra temporal, o General Karl Kruse (Stephen Bekassy), o Dr. Bourman (John van Dreelen) e a Capitã Markova (Arianne Ulmer, filha do diretor, e que foi creditada como Arianne Arden). E o grande desafio é tentar retornar ao seu tempo e impedir o apocalipse alertando os líderes mundiais sobre os perigos da energia nuclear.

 

Com fotografia em preto e branco e duração de apenas 74 minutos, “Além da Barreira do Tempo” está disponível no “Youtube” com legendas em português. Entre os destaques, vale citar a fantástica cidade futurista abaixo da superfície, com seus corredores formados por estruturas em forma de pirâmides invertidas, criando câmeras, túneis e labirintos. Tem também a utilização, comum na época, da técnica “matte painting”, com uma pintura representando a imponente cidade futurista.

Vários filmes de Ficção Científica do período mostravam histórias com civilizações vivendo em mundos subterrâneos, como por exemplo “Voando Para Marte” (1951), “Vinte Milhões de Léguas a Marte” (1956) e o clássico “A Máquina do Tempo” (1960). Aliás, esse filme foi lançado no mesmo ano e tem história baseada em livro de H. G. Wells, sendo uma produção a cores com efeitos especiais caprichados e roteiro igualmente sobre viagem no tempo.

Entre as curiosidades de “Além da Barreira do Tempo”, temos a participação na equipe técnica do famoso maquiador Jack P. Pierce, que foi o criador da concepção visual do “Monstro de Frankenstein” da produtora “Universal”. E o estilo dos créditos de abertura é o mesmo utilizado em “Star Wars” (1977), lançado muitos anos depois, e cujo formato ficou associado à famosa saga de George Lucas.

Vale citar também que no site “IMDB”, um imenso catálogo de dados sobre filmes, tem uma listagem grande evidenciando erros de conhecimento científico, detalhes certamente importantes que não foram considerados pelos realizadores, mas que não diminuem o entretenimento escapista, justamente por suas características bagaceiras de uma produção de baixo orçamento.   

 

(RR – 15/09/22)