Contos do Além (Tales From the Crypt, Inglaterra, 1972)

 


"Baseado nas histórias escritas por Al Feldstein, Johnny Craig e Bill Gaines, originalmente publicadas nas revistas em quadrinhos Tales From the Crypt e The Vault of Horror, de Bill Gaines.”

 

Essa é a introdução de “Contos do Além” (Tales From the Crypt, 1972), antologia de contos inspirados nos quadrinhos americanos da “EC Comics” dos anos 1950. A direção é de Freddie Francis e a produção é do estúdio inglês “Amicus”, de Max Rosenberg e Milton Subotsky, considerado um rival qualificado da mais conhecida e badalada “Hammer” e seus filmes góticos.

São cinco histórias independentes de horror, conectadas pelos personagens principais, que estão todos presos numa cripta tentando entender a razão de estarem nesse misterioso local, que poderia ser literalmente a porta do inferno.

A “Amicus” foi uma produtora importante com uma infinidade de filmes divertidos e que ficaram registrados na história do cinema de gênero, principalmente pelas várias antologia de contos como “As Profecias do Dr. Terror” (1965), “As Torturas do Dr. Diabolo” (1967), “A Casa Que Pingava Sangue” (1971), “O Asilo do Terror / Asilo Sinistro” (1972), “A Cripta dos Sonhos” (The Vault of Horror, 1973, também inspirado nos quadrinhos), e “Vozes do Além” (1974).

 

Um grupo de pessoas faz um passeio orientado por um guia (Geoffrey Bayldon) através de um conjunto de catacumbas sinistras. Parte desse grupo, mais precisamente cinco pessoas, se perde nos corredores da cripta. Eles ficam presos numa câmara oculta junto com um misterioso guardião (Ralph Richardson), que faz com que cada um deles mergulhe mentalmente numa história macabra onde eles são os protagonistas.

O primeiro conto é “And All Through the House”. Joanne Clayton (Joan Collins) é uma mulher que mata violentamente seu marido (Martin Boddey) na noite de natal, planejando se apossar do dinheiro do seguro de vida. Porém, o sucesso do maquiavélico plano fica ameaçado quando um maníaco (Oliver MacGreevy) foge de um hospital psiquiátrico, veste-se com uma roupa roubada de Papai Noel, e ronda a sua casa.

Em seguida temos “Reflection of Death”, onde um pai de família, Carl Maitland (Ian Hendry), abandona a esposa (Susan Denny) e filhos pequenos, fugindo para uma nova vida com a amante Susan Blake (Angie Grant). Porém, eles sofrem um trágico acidente noturno de carro numa estrada e uma reviravolta sobrenatural poderá servir de punição.

A terceira história chama-se “Poetic Justice”, com um faxineiro idoso e bondoso, Arthur Edward Grimsdyke (Peter Cushing), que é viúvo, mora sozinho, gosta de fazer brinquedos para as crianças e cuidar de seus cachorros, mas que desperta uma raiva sem sentido no jovem vizinho James Elliot (Robin Phillips). Ele faz de tudo para que o Sr. Grimsdyke venda sua casa, utilizando-se de sabotagens e calúnias que instigaram o idoso ao suicídio. Porém, após um ano de sua morte, ele retorna putrefato da tumba para sua vingança. "Você era mal e cruel, em cada gesto ou ação. E você realmente não tinha... coração.”

O próximo segmento é “Wish You Were Here”. O rico e inescrupuloso empresário Ralf Jason (Richard Greene) perde sua fortuna num investimento mal sucedido. Ele reluta em vender seus bens, a única saída sugerida pelo advogado Charles Gregory (Roy Dotrice). Então, Ralph e a esposa Enid (Barbara Murray) decidem pedir três desejos para uma misteriosa estátua chinesa, não imaginando as consequências trágicas e irreversíveis que estariam por vir.

No último episódio, “Blind Alleys”, o austero Major William Rogers (Nigel Patrick) assume a direção de um asilo para cegos, sempre acompanhado de seu feroz cachorro pastor alemão Shane. Agindo de forma autoritária e tirana, ele reduz os custos essenciais causando grande desconforto para os internos, como corte do aquecimento noturno e redução de comida. Os pacientes cegos decidem reagir, e liderados por George Carter (Patrick Magee), eles planejam uma vingança sangrenta. “Em terra de cego, quem tem um olho é rei”.        

 

“Contos do Além” traz cinco histórias curtas e divertidas, com os elementos clássicos do horror, com roteiros simples e bizarros, típicos das histórias em quadrinhos. Todos mantém um bom nível de interesse, principalmente pela rapidez e dinâmica dos contos, assim como a história base que os une dentro do mesmo contexto, através do sinistro guardião da cripta.

Mas, existem os destaques, e na minha opinião a melhor história é aquela com o lendário Peter Cushing fazendo o papel do idoso deprimido suicida que retorna dos mortos para uma vingança sangrenta. Curiosamente, Cushing tinha ficado viúvo na vida real pouco tempo antes da produção do filme, numa coincidência com o personagem que também tem que lidar com a solidão e perda da esposa, e sua atuação é memorável como sempre.

O conto sobre os desejos solicitados para a enigmática estátua chinesa também é muito bom e reserva os momentos mais carregados de violência, com direito a esquartejamento com espada e vísceras expostas, além do desfecho perturbador.

A última história fecha com chave de ouro, também com um plano bem sucedido de vingança, numa atuação muito convincente de Patrick Magee como o paciente cego que lidera seus companheiros contra a tirania do novo diretor da casa de repouso.

Entre as várias derivações desse universo ficcional, teve uma série americana com muitas temporadas, que recebeu por aqui o nome “Contos da Cripta” (Tales From the Crypt, 1989 / 1996).

 

(RR – 18/04/22)