"Desde
o começo dos tempos o Homem tem explorado a Terra, desafiando os elementos em
busca de aventura. Hoje temos uma nova espécie de aventureiros, os cientistas.
Estes exploram as regiões desconhecidas, não em busca de riquezas ou aventura.
Buscam respostas para problemas humanos como a contaminação e as enfermidades.
Uma destas pessoas, numa destas investigações, está no comando de uma expedição
ecológica numa primitiva comunidade pesqueira latino-americana. Onde
descobriram o horrível efeito da radioatividade, na forma de uma velha lenda,
incrivelmente aterrorizante, cuja trajetória foi escrita com sangue.”
Nada é mais divertido do que um filme
bagaceiro de horror e ficção científica antigo, com efeitos práticos e monstros
de borracha. “Octaman” (1971), dirigido
e escrito por Harry Essex, é outra pérola do cinema de gênero de produção
paupérrima e entretenimento garantido para os apreciadores de tranqueiras, com
história bizarra de revolta da natureza através da vingança de uma criatura
mutante gerada por poluição radioativa.
A história é tão simples que pode ser
resumida em poucas linhas. Uma expedição científica está no México, liderada
pelo Dr. Rick Torres (Kerwin Mathews) e sua namorada Susan Lowry (Pier Angeli).
Eles analisam os lagos da região e a relação com os efeitos da radioatividade
de testes atômicos, e depois de capturarem pequenos polvos de aparência
estranha, são atacados brutalmente e perseguidos por uma criatura mutante mista
de homem e polvo, que espalha o horror e deixa um rastro de sangue de suas
vítimas.
“Octaman”
é a típica combinação de bizarrice de uma história clichê exagerada no
escapismo com um monstro gerado por deformação da natureza com poluição
radioativa em efeitos toscos com um ator (Read Morgan) vestindo uma roupa verde
de borracha e cheia de tentáculos falsos perseguindo os invasores de seu
território. Aqui não temos nada de artificialidade de computação gráfica dos
filmes mais modernos, com monstros gerados em CGI. Nada supera um monstro
bagaceiro com efeitos práticos, sendo aqui o primeiro trabalho de Rick Baker, que
fez parte da equipe de técnicos que criaram a concepção da fera mutante. Ele que
seria mais tarde reconhecido como um dos grandes nomes dos efeitos especiais, responsável
entre outros, pelo literalmente “Incrível Homem Que Derreteu” (1977) e pela
transformação do lobisomem no clássico oitentista “Um Lobisomem Americano em
Londres” (1981), além dos símios em “Planeta dos Macacos” (2001), de Tim
Burton.
O monstro de “Octaman”, misto de homem e
polvo, tem semelhanças com o réptil humanoide de “O Monstro da Lagoa Negra”
(1954), clássico do cinema de gênero que também teve o roteiro assinado por
Harry Essex, além de várias outras similaridades entre ambos os filmes.
Mesmo sendo uma produção de baixo
orçamento, “Octaman” é basicamente todo centrado na figura da criatura mutante,
que aparece bastante em cena desde o início, tanto em momentos de ataques de
dia quanto de noite (e às vezes em ambos na mesma sequência de cenas, em erros
de gravação comuns nesses filmes tranqueiras).
Por ser um filme de monstro, ele rouba
todas as cenas e é mostrado claramente o máximo possível. Ao contrário da
maioria dos outros filmes de monstros toscos, que por dificuldades de seus
orçamentos reduzidos e falta de investimentos nos efeitos especiais, são pouco
mostrados e geralmente apenas no ato final, com muita enrolação na história
para cumprir a metragem mínima necessária.
Em “Octaman”, a criatura deformada pelo
lixo nuclear, que tem sempre a boca aberta estática e só os olhos se movem
discretamente, ataca suas vítimas tanto em terra quanto na água, e o ator
dentro da roupa de borracha tem seu trabalho bastante dificultado pela redução
de visão através do traje e falta de flexibilidade de movimentos.
O filme tem um roteiro simples com
cientistas estudando a poluição com radiação na natureza, enfrentando a ira de
um polvo mutante assassino. Divertido para os apreciadores de tranqueiras com
monstros e história bizarra, com o espectador desligando o cérebro para escapar
da realidade.
Vale registrar alguns momentos risíveis
com os efeitos toscos, como o filhote de polvo andando na terra, sendo um bicho
de borracha estático puxado por fios “invisíveis”, e também o polvo mutante arremessando
o corpo de uma vítima do alto de uma colina, sendo um boneco patético rolando
morro abaixo. Tem também a cena clássica do monstro aquático carregando a
mocinha em seus braços, um clichê quase que obrigatório nesses filmes
bagaceiros.
Curiosamente, a atriz italiana Pier
Angeli morreu prematuramente, apenas com 39 anos, logo após as filmagens de
“Octaman”, vítima de uma overdose de barbitúricos. O ator David Essex, com
apenas dois filmes na curta carreira, é filho do diretor e roteirista Harry
Essex, fazendo aqui o papel do índio mexicano Davido, integrante da expedição
científica. E alguns segundos de cenas de “Octaman” aparecem num programa de TV em “A Hora do
Espanto” (Fright Night, 1985), como se fosse um filme de alienígenas.
(RR
– 03/04/22)