"Estejam
avisados, senão acontecerá novamente. Em outra época, quando o mundo era jovem,
um fato curioso e vil aconteceu. Erno Sordi, um pintor, foi queimado na
fogueira por lançar um feitiço em sua amada, a bela Melizza. Abaixo de sua
morada, enterraram suas cinzas. O tempo passou e tudo foi esquecido. Então a
cidade foi sitiada por um vampiro cujas façanhas desagradáveis enchiam o povo
de medo e repulsa. Era o mesmo Sordi, retornando dos mortos, querendo vingança.
Todas as noites, durante muitas semanas, ele banqueteou-se com o sangue de uma
empregada, mas ainda assim o artista vivia na criatura. Quando ele tinha sangue
suficiente para se satisfazer, então ele levava as formas insensatas de suas
vítimas para o campanário da casa onde ele habitava, e lá ele as pintava na
agonia final da morte. Mas, veio uma noite quando a lua estava cheia e os
homens da cidade encontraram a trilha do vampiro seguindo-o até seu covil, no
alto da torre. Lá, com grande pressa, eles o derrubaram, conduzindo uma estaca
ao seu coração. Após isso, ele faleceu e desfez-se em pó.”
Essa é a descrição de uma antiga lenda
sobre um pintor atormentado pela maldição do vampirismo. “O Rastro do Vampiro”
(Blood Bath, 1966) tem fotografia em preto e branco e produção executiva não
creditada do mestre dos filmes de orçamentos reduzidos Roger Corman. A direção
e roteiro são de autoria da dupla formada por Jack Hill e Stephanie Rothman.
Antonio Sordi (William Campbell) é um
pintor misterioso cujos quadros são gravuras sangrentas perturbadoras
retratando mulheres nuas mortas. Atormentado por uma maldição familiar, ele
acredita ser um vampiro que mata mulheres e as utiliza como modelos para suas
obras de arte grotescas, mergulhando seus corpos num tanque com cera quente
criando bonecos disformes.
Ele coleciona vítimas como a jovem
estudante de arte e modelo Daisy Allen (Marissa Mathes), cujo desaparecimento
obriga sua irmã Donna (Sandra Knight) a procurá-la e iniciar uma investigação
por conta própria sobre as ações suspeitas do sinistro pintor, mesmo sem
conseguir a ajuda de outro pintor amigo de Daisy, o beatnik Max (Carl
Schanzer), rival de Sordi.
Depois que a colega de quarto de Daisy, a
jovem bailarina Dorean (Lori Saunders), se apaixona por Sordi, deixando-o
confuso com sua paranoia de vampiro assassino de mulheres, ela deverá enfrentar
a verdade sobre o namorado para não se tornar mais uma vítima.
“O Rastro do Vampiro” é meio confuso,
pois Roger Corman decidiu editá-lo a partir de outro filme iugoslavo, um
thriller de espionagem com elementos de investigação policial chamado
“Operation Titian” (1963). E também ele acabou servindo de base para outros
dois filmes: a versão para a televisão “Track of the Vampire” (de onde saiu o
título nacional), com o acréscimo de cenas e personagens novos, para aumentar a
curta duração original de apenas 62 minutos, e “Portrait in Terror” (1968). Ou
seja, existem quatro versões no mesmo universo ficcional, algo que Roger Corman
gostava de fazer para aproveitar materiais e recursos, e gerando com isso
confusão para os fãs e dificuldades para um trabalho de pesquisa e catalogação.
A história se perde em momentos tediosos
com um grupo de artistas beatnik (Jonathan Haze, Sid Haig e Fred Thompson), que
ficam discutindo ideias extravagantes sobre pintura e que não agregam para a
esperada atmosfera de horror bagaceiro. Os destaques acabam sendo apenas os momentos
com os ataques do vampiro, como na sequência inicial numa perseguição por becos
escuros, ou na piscina durante uma festa, ou ainda num carrossel, todas
culminando com assassinatos de mulheres. Ainda tem as cenas no estúdio
decrépito do pintor assassino, repleto de quadros repulsivos e figuras de cera
bizarras, além do desfecho previsível, mas com um esperado clima mórbido.
Como uma marca registrada nos filmes com
envolvimento de Roger Corman, o cartaz é bem expressivo e exagerado nas cores e
taglines para chamar a atenção do público e despertar curiosidade em conhecer o
filme.
(RR
– 15/04/22)