"Aqueles
que caçam à noite dirão que o mais selvagem e cruel de todos os animais é o
pequeno musaranho. Ele se alimenta apenas no escuro da lua. Ele deve comer seu
próprio peso corporal a cada poucas horas - ou morrer de fome. E devora tudo:
ossos, carne, tutano... tudo. Em março, primeiro no Alasca, e depois invadindo
constantemente para o sul, houve relatos de uma nova espécie: o musaranho
gigante assassino.”
Dirigido por Ray Kellogg (mais conhecido
como técnico de efeitos visuais) e produzido por Ken Curtis (o atrapalhado ajudante
de xerife Festus da enorme série de TV de western “Gunsmoke”, 1959 / 1975), “O Ataque dos Roedores”, também
conhecido por aqui como “Os Roedores Assassinos” (The Killer Shrews, EUA,
1959), é mais uma divertida tranqueira com fotografia original em preto e
branco, do antigo cinema fantástico bagaceiro com criaturas mutantes atacando
as pessoas para se alimentar de suas carnes.
Um grupo de cientistas, o Dr. Marlowe
Craigis (Baruch Lumet), juntamente com sua bela filha, a zoóloga especializada
em genética Ann (a sueca Ingrid Goude, que ganhou vários concursos de beleza na
vida real) e o biólogo Dr. Radford Baines (Gordon McLendon, também o produtor
executivo não creditado), está desenvolvendo uma pesquisa científica numa ilha
isolada, utilizando como cobaias os carnívoros musaranhos (“shrews” do título
original), mamíferos parecidos com ratos que tem como característica a fome
voraz. Como todo “cientista louco” trabalhando para o suposto bem da humanidade,
o objetivo é encontrar uma solução para a fome mundial de um futuro sombrio com
superpopulação no planeta. Porém, as experiências saem do controle e os animais
roedores transformam-se em criaturas gigantes assassinas, com saliva venenosa,
que saem à noite em busca de alimento.
Em paralelo, o Capitão Thorne Sherman
(James Best) e seu ajudante Rook Griswold (Judge Henry Dupree) chegam de barco
à ilha trazendo suprimentos para a equipe de pesquisadores, mas são
impossibilitados de deixar a ilha devido uma forte tempestade, juntando-se ao
grupo, que ainda tem o empregado Mario (Alfredo de Soto) e o inescrupuloso e
bêbado Jerry Farrell (Ken Curtis).
Após descobrir o perigo e ameaça mortal
dos monstros mutantes ávidos por carne humana, Sherman precisa enfrentar os
conflitos internos no grupo e liderar um esforço de resistência e colocar em
prática um plano de fuga contra o “ataque dos roedores” do título
nacional.
Sendo uma produção de orçamento minúsculo
e duração curta (só 69 minutos), o elenco tem apenas sete atores, seis homens e
uma única mulher e com os dois produtores atuando, e boa parte deles ainda
serviu de alimento para os musaranhos gigantes famintos. A ideia básica do
roteiro de Jay Simms em colocar um grupo de pessoas isoladas numa casa (e nesse
caso específico, também numa ilha remota), sendo ameaçados por um ataque de
criaturas mutantes assassinas, lembra o mesmo conceito da história do clássico
de zumbis “A Noite dos Mortos-Vivos”, de George Romero, que foi filmado vários anos
depois em 1968.
Num interessante exercício de criatividade
para driblar a falta de recursos, e tentando encontrar uma solução para
apresentar os roedores mutantes assassinos, nas tomadas mais amplas foram
utilizados cachorros disfarçados de ratos gigantes, com cauda e presas enormes
e afiadas, que perseguem suas vítimas e ameaçam as pessoas dentro da casa
roendo as paredes. Sem efeitos modernos de CGI ou criaturas animatrônicas.
Apenas nas cenas mais de perto foram usados fantoches. O resultado,
inevitavelmente bizarro e até hilário, também ficou divertido dentro da
proposta de um filme bagaceiro de cinema de gênero com pequeno orçamento.
“O Ataque dos Roedores” está disponível no
“Youtube” tanto a versão original em PB quanto uma colorizada por computador lançada
em 2007, ambas com a opção de legendas em português. O filme também foi lançado
em DVD no Brasil pela “FlashStar” em 2012 em sua “Classic Collection”, com as
duas versões, sendo a original em PB apresentada como material extra. Essa
coleção de filmes bagaceiros antigos também lançou “O Gigante Monstro Gila”
(1959), que é da mesma equipe de direção e produção, com uma história
igualmente bizarra e dessa vez utilizando um
lagarto
real como um monstro gigante. O bicho foi filmado andando entre maquetes de
casas e carros numa perspectiva que simula um tamanho descomunal. É um efeito
prático curioso com resultados divertidos que também foi utilizado em outros
filmes cultuados e de maior visibilidade como “Viagem ao Centro da Terra” (1959)
e “O Mundo Perdido” (1960).
Teve uma sequência em 2012, “Return of the
Killer Shrews”, dirigido por Steve Latshaw e com roteiro de James Best (1926 /
2015), que também retornou no mesmo papel de Thorne Sherman do original.
(RR
– 28/06/22)