Em meados dos saudosos anos 80
do século passado tivemos uma onda de filmes de horror que chegaram aqui no
Brasil nos cinemas ou diretamente no mercado de vídeo VHS, num movimento que
recebeu o nome de “Espantomania”. E que por decisões de marketing esses filmes
tiveram seus títulos precedidos por “A Hora de...”.
Alguns deles tive a sorte de ver em tela
grande. Vieram então “A Hora do Pesadelo” (A Nightmare on Elm Street, 1984), “A
Hora dos Mortos-Vivos” (Re-Animator, 1985), “A Hora das Criaturas” (Critters,
1986), “A Hora do Lobisomem” (Silver Bullet, 1985), “A Hora da Zona Morta”
(Dead Zone, 1983), “A Hora do Calafrio” (Savage Weekend, 1979), e
principalmente “A Hora do Espanto”
(Fright Night, 1985), de Tom Holland, o mesmo diretor de “Brinquedo Assassino”
(Child´s Play, 1988), do boneco maligno Chucky, que acabou fazendo parte da
cultura pop.
Na história, o jovem adolescente Charley
Brewster (William Ragsdale), fã de filmes de horror, observa a chegada de um
novo e misterioso vizinho, espionando no estilo “Janela Indiscreta”, de Alfred
Hitchcock. Ele é Jerry Dandrige (Chris Sarandon), que veio morar na casa ao
lado com um amigo igualmente estranho, Billy Cole (Jonathan Stark). Desconfiado
de uma relação entre o novo vizinho e o recente surgimento de mulheres
assassinadas na região, Charley acredita que o galante Jerry é um vampiro
ameaçador, denunciando-o sem sucesso para a polícia.
Depois de um conflito com a criatura das
trevas, Charley fica receoso pela segurança tanto da namorada Amy Peterson
(Amanda Bearse), que interessa ao vampiro pela semelhança física com alguém de
seu passado, quanto da sua mãe Judy Brewster (Dorothy Fielding) e ainda seu amigo
adolescente Edward (ou “Evil Ed”, Stephen Geoffreys). Ele decide então pedir
ajuda para um ator decadente de filmes de horror, Peter Vincent (Roddy McDowall,
que só aparece em cena depois de mais de 30 minutos de filme), que também
apresenta um programa de TV sobre filmes bagaceiros, interpretando um
personagem matador de vampiros. Juntos, eles enfrentam a criatura da noite
sedenta por sangue.
Tenho muita sorte, pois tive o privilégio
de ver “A Hora do Espanto” nos cinemas em 1986, e depois de mais de 35 anos,
rever num exercício de nostalgia e entretenimento garantido, na plataforma de
streaming “Netflix”, com a dublagem original. Foi uma experiência de viagem ao
passado numa “máquina do tempo”, aterrissando na década de 80, um período
fértil em produções divertidas do cinema de horror, com os seus efeitos
práticos de monstros sangrentos que superam a artificialidade das imagens
geradas por computação.
A primeira metade é mais cadenciada na
apresentação da história e construção dos personagens, e a partir daí o clima
de horror, tensão e violência torna-se cada vez mais crescente, amparado por um
trabalho eficiente de maquiagem e efeitos especiais, além do respeito do
roteiro aos elementos tradicionais da mitologia do vampirismo, com as criaturas
da noite tendo aversão ao crucifixo, sem reflexo no espelho, sendo queimadas
pelos raios do sol, ou entrando nos ambientes de suas vítimas somente se forem
convidados.
O ator inglês Roddy McDowall (1928 / 1998)
é muito lembrado por suas performances como o chimpanzé Cornelius e Caesar na
franquia clássica do cinema “O Planeta dos Macacos” (1968 / 1973), e como
“Galen” na série de TV (1974). Mesmo com o rosto coberto pela maquiagem de
macaco, suas expressões faciais e domínio do personagem são marcantes e uma
grande contribuição para o sucesso e legião de fãs do universo ficcional “ape”.
Ele também esteve em outros filmes importantes como “O Carrasco de Pedra”
(1967), “O Destino do Poseidon” (1972), “A Casa da Noite Eterna” (1973) e
“Shakma: A Fúria Assassina” (1990), além da série de TV “Viagem Fantástica”
(1977).
Entre as várias curiosidades, alguns
segundos de cenas de “Octaman” (1971), um filme bagaceiro de horror e ficção
científica com um monstro bizarro atacando as pessoas, aparecem no programa de
TV “Fright Night”, como se fosse um filme de alienígenas. O nome do personagem
Peter Vincent, é uma homenagem aos astros que marcaram seus nomes na história
do cinema fantástico, Peter Cushing e Vincent Price. Outro detalhe curioso é
uma declaração do matador de vampiros reclamando que os temíveis sugadores de
sangue estavam perdendo espaço para os psicopatas mascarados correndo atrás de
suas vítimas, numa referência aos filmes “slasher” que estavam proliferando na
época (“Sexta-Feira 13”, “A Hora do Pesadelo”, “Halloween”, etc).
“A Hora do Espanto” gerou uma franquia
formada por uma continuação em 1988, com o retorno de William Ragsdale e Roddy
McDowall, e uma refilmagem em 2011, com Colin Farrell e a participação de Chris
Sarandon como outro personagem, que por sua vez teve também uma sequência em
2013.
(RR
– 22/06/22)