A saudosa “Sessão da Tarde” da TV Globo
exibia nas décadas de 1970 e 1980, principalmente, uma enxurrada de filmes
antigos de ficção científica e horror com elementos de aventura, ou vice-versa,
que tinham histórias ingênuas e efeitos práticos que não devem funcionar para a
maioria das audiências do século XXI devido ao crescente nível de tecnologia
com CGI (Computed Generated Imagery) dos tempos modernos. Mas, que funcionavam
de forma eficaz e divertida para os apreciadores de cinema de gênero daquele
período. É uma lista com tantos filmes (e já escrevi sobre dezenas deles), que
ficaria inviável e repetitivo demais citá-los novamente aqui.
Porém, o assunto desse texto agora é
sobre outro filme divertido e com efeitos bagaceiros com dinossauros toscos em
miniatura e movimentos na técnica “stop motion”, que foi exibido à exaustão nas
tardes da televisão e que para a nossa sorte tem disponível no “Youtube” com a
dublagem clássica: “A Volta ao Mundo
Pré-Histórico” (Dinosaurus!, EUA, 1960), dirigido pelo alemão Irvin S.
Yeaworth Jr., cineasta de poucos filmes no currículo, mas que deixou um legado
com algumas preciosidades do gênero fantástico como “A Bolha” (1958) e “Quarta
Dimensão” (1959), em parceria com o produtor Jack H. Harris.
Bart Thompson (Ward Ramsey)
lidera uma equipe de construtores encarregados de transformar uma enseada de
uma ilha do Caribe num ponto favorável para receber mais barcos com turistas,
administrando explosões aquáticas no local. A equipe ainda conta com o segundo
em comando Chuck (Paul Lukather) e o engraçado Dumpy (Wayne Treadway). O que
eles não imaginavam é que acabaram descobrindo no fundo do mar dois dinossauros
congelados há um milhão de anos, um tiranossauro, carnívoro e perigoso, e um
brontossauro, herbívoro e imenso, além de um homem das cavernas (Gregg
Martell).
Uma vez resgatadas as criaturas
de “um mundo pré-histórico” (do título nacional), eles também nunca imaginariam
que um raio de uma tempestade iria trazê-los de volta à vida, causando um
alvoroço na ilha e obrigando a refugiar os habitantes nativos numa antiga
fortaleza de pedra em ruínas.
Ainda tem as belas mulheres
para fazer os pares românticos, com Betty Piper (Kristina Hanson) sendo a
namorada do chefe Bart e Chica (Luci Blain), que está interessada em Chuck. E
finalmente tem o menino órfão Julio (Alan Roberts), que faz amizade com o homem
das cavernas e o brontossauro.
Em paralelo, tem também uma
trama com o inescrupuloso administrador da ilha e vilão da história, Mike
Hacker (Fred Engelberg), que está interessado apenas nos lucros que poderá
receber com a exposição do homem de Neanderthal para o mundo, contando com a
ajuda de seus capangas atrapalhados Jasper (Jack Younger) e Mousey (Howard
Dayton).
A história certamente esbarra em
inúmeras situações absurdas para apenas facilitar o trabalho dos roteiristas, e
em filmes como “A Volta ao Mundo Pré-Histórico” temos que relevar os clichês e
desconsiderar a falta de coerência de uma ideia básica com dinossauros
congelados em perfeito estado de animação suspensa no fundo do oceano, próximo
de uma ilha paradisíaca, e que são descobertos e resgatados intactos após
explosões subterrâneas, e que ainda despertam retornando à vida com a descarga
elétrica de raios de uma tempestade (no estilo “Monstro de Frankenstein”). Uma
sugestão para uma experiência de entretenimento nostálgico é apenas “desligar o
cérebro” e entrar no clima de aventura com elementos do gênero fantástico.
O filme também tem intencionalmente
elementos de humor, principalmente em cenas com os personagens T. J. O´Leary (James
Logan), um bêbado que ficou de “babá” para os dinossauros adormecidos, além de
Dumpy, que também tem alguns momentos atrapalhados, e com o homem das cavernas,
totalmente desorientado ao acordar num mundo estranho, protagonizando várias
cenas cômicas na casa dos pais de Betty.
Entre os destaques, vale citar uma luta
violenta entre o tiranossauro e o brontossauro, com aqueles efeitos práticos
bagaceiros que tornam esses filmes as preciosidades que os apreciadores tanto
estimam, e o desfecho com um confronto entre o tiranossauro e o chefe Bart
pilotando uma escavadeira.
Curiosamente, tem uma cena hilária e
memorável do homem das cavernas junto com o menino Julio cavalgando o
brontossauro. Aliás, a relação de amizade deles deve ter inspirado o desenho
animado “Dino Boy e o Vale Perdido” (1966), produção da Hanna-Barbera.
E o produtor Steve H. Harris apareceu numa pequena ponta como um turista a bordo de um barco.
(RR - 05/06/22)