Os Monstros do Raio Gama (The Gamma People, EUA, 1956, PB)

 


Como apreciador do cinema antigo de horror e ficção científica com orçamentos pequenos, principalmente as tranqueiras dos anos 50 do século passado, fico caçando filmes no “Youtube” e para a minha satisfação e daqueles que compartilham o mesmo, encontrei mais um divertido filme bagaceiro com história de “cientista louco” explorando a turbulência mundial com a guerra fria que ameaçava a paz no planeta naquele período dividido em blocos liderados pelos Estados Unidos e a antiga União Soviética.

Trata-se de “Os Monstros do Raio Gama” (The Gamma People, 1956), filme inglês dirigido por John Gilling, com fotografia em preto e branco e com apenas 78 minutos de duração, disponível dublado em português com aquelas nostálgicas vozes que ficaram em nossa memória nos bons tempos de filmes e séries que eram exibidos na TV brasileira nos anos 70 e 80.

 

Dois jornalistas, o repórter americano, Mike Wilson (Paul Douglas) e o fotógrafo inglês Howard Meade (Leslie Phillips), estavam viajando de trem para a cidade austríaca de Salzburgo para cobrir um festival de música, quando o vagão onde se encontravam foi desconectado da locomotiva e desviado para outro caminho fora da rota, indo parar em Gudavia, um país fictício do leste europeu, atrás da “Cortina de Ferro”.

Lá eles foram recepcionados pelo policial Koerner (Philip Leaver) e acusados de espionagem do Ocidente, indo para a cadeia. Depois foram soltos pelo líder ditador do país, o “cientista louco” Boronski (Walter Rilla), que estava envolvido em experiências macabras num castelo, com a exposição de raio gama (daí o título) em homens e crianças, na tentativa de criar gênios como futuros líderes mundiais, como o adolescente arrogante Hugo Wendt (Michael Caridia), e autômatos obedientes como um exército de mutantes desprovidos de vontade própria.

Ao chegarem na conclusão que seria muito difícil sair do país, que praticamente não tem comunicação com outros, eles observaram as reais intenções do regime político autoritário com a falta de liberdade dos cidadãos num lugar onde expressar sentimentos é proibido. Depois que o cientista tirano sequestrou uma menina, a talentosa pianista Hedda Lochner (Pauline Drewett), para servir de cobaia nas experiências, a dupla de jornalistas decidiu intervir e ajudar a população oprimida de Gudavia, contando com o auxílio de Paula Wendt (Eva Bartok), a assistente de Boronski.       

 

“Os Monstros do Raio Gama” é um filme com título sonoro e chamativo, uma estratégia característica do antigo cinema fantástico bagaceiro, explorando a manjada e sempre bem-vinda temática de “cientista louco” e suas experiências bizarras com uma crítica social contra os governos totalitários e Estados opressores daquele período de instabilidade política após a Segunda Guerra Mundial. Sendo uma produção de orçamento bem reduzido, os poucos efeitos especiais práticos são toscos, mas divertidos, como sempre nesses casos, através dos aparelhos elétricos do laboratório do cientista num castelo no alto da colina, com cobaias humanas, especialmente crianças, sendo eletrocutadas com doses de raio gama, modificando suas mentes.

O roteiro, de autoria do próprio diretor John Gilling, ao lado de John W. Gossage e Louis Pollock, optou por inserir elementos de humor, principalmente com o fotógrafo mulherengo Howard Meade e com o líder da polícia, o bonachão Koerner, para servir de alívios cômicos na atmosfera mais sombria de opressão política e experiências científicas bizarras.     

 

(RR – 24/04/24)






Nevoeiro (Fog Island, EUA, 1945, PB)

 


"... Meu quarto é gelado e úmido. Apenas essa desagradável névoa parece existir lá fora.” – Gail Grainger

 

No cinema antigo de mistério e suspense, não é toda vez que temos reunidos no mesmo filme os atores George Zucco e Lionel Atwill, dois nomes associados ao horror de baixo orçamento, com inúmeras participações em filmes “B” como “Nevoeiro” (Fog Island, EUA, 1945).

Dirigido por Terry O. Morse, com roteiro de Pierre Gendron, baseado na peça de teatro “Angel Island” escrita em 1937 por Bernadine Angus, o filme tem fotografia original em preto e branco e produção da “PRC” (Producers Releasing Corporation), e está disponível no “Youtube” com a opção de legendas em português.

 

Leo Grainger (George Zucco) era dono de um império financeiro, mas por causa de investimentos ruins decretou falência, traído por seus sócios e indo para a cadeia, onde ficou encarcerado por cinco anos. Depois do assassinato misterioso de sua esposa Carmen, ao sair da prisão ele retornou para a sua casa numa ilha sinistra sempre envolta em névoas (daí o título original), vivendo apenas com a jovem enteada Gail (Sharon Douglas) e o mordomo Allerton (George Lloyd).

Angustiado com a perda da esposa e com intenção de colocar em prática um plano de vingança, ele decidiu convidar seus ex-sócios para um encontro na ilha, com o pretexto de existir uma quantia em dinheiro escondida na casa, servindo como motivação de ganância para a presença no evento.

O grupo era formado por três homens, seu maior rival Alec Ritchfield (Lionel Atwill), John Kavanaugh (Jerome Cowan), e o filho de um sócio recém falecido, Jeff Kingsley (John Whitney), e também por duas mulheres, a astróloga Emilene Bronson (Jacqueline DeWit) e a secretária Sylvia Jordan (Veda Ann Borg). Juntou-se também ao grupo o companheiro de cela, Dr. Lake (Ian Keith), que ficou preso com ele e também estava interessado tanto na vingança quanto no suposto dinheiro escondido.

O objetivo do vingativo Leo Grainger era tentar descobrir quem matou sua esposa e punir seus traidores, utilizando-se de jogos com pistas da localização do dinheiro e armadilhas mortais em quartos ocultos com passagens secretas.

 

“Nevoeiro” tem apenas uma hora e doze minutos e sendo um filme dos anos 40 do século passado, a narrativa é mais arrastada com os elementos de horror sendo mais sutis e com violência discreta nas cenas de mortes. O grande destaque mesmo é a presença de George Zucco e Lionel Atwill interpretando rivais, e tem também a sempre bem-vinda atmosfera sinistra acentuada com o nevoeiro da ilha e os ambientes escuros e desconfortáveis da casa, num clima constante de desconfiança entre os convidados gananciosos interessados apenas em benefícios próprios, não hesitando em acordos desonestos ou traições. Exceto pelo jovem Jeff Kingsley, que parece mais desconectado com o grupo traiçoeiro e bem mais interessado em reativar um antigo caso amoroso com Gail, a bela enteada do anfitrião.   

 

(RR – 17/04/24)





This is Not a Test (EUA, 1962)

 


"... Estamos em estado de emergência. Este é um alerta amarelo... um aviso
 de ataque aéreo.”Xerife Dan Colter

 

Após o fim da Segunda Guerra Mundial teve início a guerra fria entre Estados Unidos e a antiga União Soviética, cujo ápice foi no início dos anos 60 do século passado, principalmente com a crise dos mísseis em Cuba, país socialista aliado da URSS e estrategicamente posicionado na América Central, próximo do sul dos EUA.

Um dos vários filmes dessa turbulenta época de paranoia nuclear, com o medo constante de uma guerra atômica com bombas de destruição em massa, é “This is Not a Test” (1962), dirigido por Fredric Gadette, uma produção de baixo orçamento que está disponível no “Youtube” com legendas em português.

 

“Atenção todos os pontos de controle, todos os militares, todas as unidades de defesa civil: a Operação Dispersão não deve desacelerar. As paralisações de trânsito nas rodovias fluviais devem ser eliminadas. Execute as medidas mais severas para controlar a histeria e manter o fluxo do tráfego. Lei Marcial, enfatizada a Lei Marcial!”

 

O xerife Dan Colter (Seamon Glass) faz um bloqueio numa estrada no deserto da Califórnia, Estados Unidos, no meio da madrugada, onde vai parando vários grupos de pessoas. Como o fazendeiro idoso Jacob Elliot Saunders (Thayer Roberts) e sua neta, a jovem Juney (Aubrey Martin), que estavam transportando galinhas num pequeno caminhão, o casal em crise conjugal Sam Barnes (Norman Wiston) e a esposa Karen (Carole Kent), outro casal de jovens namorados interessados em baladas e festas, Cheryl Hudson (Mary Morlas) e Joe Baragi (Michael Greene), além do caminhoneiro Al Weston (Alan Austin), que estava transportando diversos itens diferentes no baú de seu caminhão, e que estava dando carona para o estranho Clint Delany (Ron Starr), que na verdade era um criminoso assassino fugitivo da polícia.

Durante o bloqueio rodoviário, ele consegue fugir enquanto o policial recebe uma dramática orientação pelo rádio sobre um alerta inicialmente amarelo seguido de vermelho e estado de emergência para um ataque aéreo com mísseis carregados com bombas atômicas. Para tentar se protegerem da onda de choque da explosão, o xerife decide que todos devem se abrigar dentro do baú do caminhão. Enquanto surge mais um homem aleatório na estrada em uma moto, Peter (Don Spruance), vários conflitos ocorrem entre as pessoas, dispersando os grupos com as bombas a caminho se aproximando do alvo.

 

“Você percebe o raio, a área de destruição da explosão de uma bomba de hidrogênio? É tarde demais para correr!” – Sam Barnes

 

O filme é curto, de baixo orçamento, com um roteiro simples e direto, sem efeitos especiais, barulheiras ou correrias, nem violência ou sangue, muito menos monstros ou bizarrices quaisquer. Ambientado apenas no meio de uma estrada deserta, explorando a paranoia nuclear, o medo da guerra atômica que apavorou o mundo naquele conturbado período de tensão mundial durante a crise dos mísseis de Cuba, os “13 dias que abalaram o mundo”, e que quase tornou real o fim dos tempos.

Expondo os inevitáveis conflitos entre as pessoas num ambiente de caos, desordem, desespero e destruição iminentes, com a luta selvagem pela sobrevivência num desfecho pessimista.

Sem especular sobre questões relativas ao início da guerra nuclear, a ideia do filme é mostrar como agiria um grupo de pessoas aleatórias surpreendida por um ataque aéreo numa situação desconfortável onde “Isto Não é Um Teste” (do título original), e sim um evento apocalíptico real.

 

RR – 15/04/24)




A Mansão Condenada (Mansion of the Doomed, EUA, 1976)

 


"... alguns tem que ser sacrificados para a humanidade.  Não os velhos e fracos, não os olhos que resistiram, que possuem dor e angústia. Mas sim olhos claros e atentos, intactos, novos e jovens...” – Dr. Leonard Chaney

 

Quando vemos o nome do produtor Charles Band em filmes com elementos de horror e ficção científica, já vem a associação para produções de baixo orçamento e geralmente divertidas. Seu currículo na indústria do cinema bagaceiro é imenso com centenas de filmes.

A Mansão Condenada” (Mansion of the Doomed, EUA, 1976), dirigido por Michael Pataki (mais conhecido como ator em quase 200 filmes), é um dos primeiros filmes produzidos por Charles Band e é mais uma tranqueira com alguma diversão que se situa nessa ideia. Para a nossa sorte foi lançado no mercado brasileiro de vídeo VHS pela “América Vídeo” e cuja cópia está disponível no “Youtube” com legendas em português.

 

Richard Basehart (rosto conhecido como o Almirante Nelson na série de TV dos anos 1960 “Viagem ao Fundo do Mar”) é o “cientista louco” Dr. Leonard Chaney, um oftalmologista famoso que, após o trágico acidente de carro que deixou cega sua filha Nancy (Trish Stewart), ficou obcecado em tentar recuperar a visão dela com transplantes de olhos em cirurgias criminosas. Uma vez ocorrendo rejeições constantes, o médico começa a perseguir suas vítimas aleatórias para extrair os olhos, mantendo-as depois aprisionadas numa cela macabra no porão de sua “mansão dos condenados” (daí o título original), como criaturas bizarras sem seus globos oculares.

Ele é auxiliado nas cirurgias pela companheira Katherine (Gloria Grahame) e entre os diversos “condenados” escolhidos para doar os olhos contra sua vontade está o noivo de Nancy, Dr. Dan Bryan, interpretado por Lance Henriksen em início de carreira, e que possui um currículo colossal com incontáveis participações em filmes do gênero fantástico.

Enquanto coleciona vítimas com cavidades oculares vazias no porão, o Dr. Chaney vai perdendo a sanidade na tentativa desesperada de fazer sua filha voltar a enxergar, despertando a atenção da polícia através do Detetive Simon (Vic Tayback) e incitando a tentativa de fuga dos condenados sem olhos.      

 

Com referências à história similar do filme francês “Os Olhos Sem Rosto” (1960), “A Mansão Condenada” inegavelmente tem seus problemas como filme de orçamento reduzido e cheio de falhas. Existem momentos de ritmo arrastado e várias situações improváveis que desqualificam a história como a facilidade do cientista em capturar suas vítimas e retirar seus olhos cirurgicamente, com os desaparecimentos misteriosos de várias pessoas mantidas em cárcere improvisado não causando grandes consequências.

Mas os efeitos toscos com os condenados sem olhos certamente garantem boa parte da diversão, assim como a ideia básica da obsessão do “cientista louco” em salvar a visão de sua filha a qualquer custo, destruindo sem hesitação as vidas de vítimas indefesas.


RR – 10/04/24)







Maniac (EUA, 1934, PB)

 


Utilizando como referência o cinema fantástico antigo, se quiséssemos escolher como representante um filme entre a infinidade de similares com a temática de “cientista louco”, poderíamos tranquilamente citar “Maniac” (EUA, 1934), que se encaixaria muito bem. Com direção de Dwain Esper e fotografia original em preto e branco, tem apenas 51 minutos de duração e está disponível no “Youtube” com opção de legendas em português, tanto a versão original quanto uma colorizada por computador.

 

A ideia básica do roteiro de Hildegarde Stadie (esposa do diretor) é explorar as várias doenças mentais do ser humano numa história com referências à literatura de Edgar Allan Poe, mais especificamente o conto “O Gato Preto”.

O Dr. Meirschultz (Horace B. Carpenter) trabalha em seu laboratório repleto de equipamentos elétricos bizarros e líquidos químicos borbulhantes, com o objetivo de reviver pessoas mortas. Seu ajudante é Maxwell (Bill Woods), um fugitivo da polícia, e que se vê forçado a auxiliar o cientista em troca de proteção e abrigo.

Após encontrarem no necrotério uma cobaia para testar o soro de reanimação, uma jovem suicida por ingestão de gás carbônico, Maria Altura (atriz não creditada), Maxwell mata o cientista num momento de fúria e decide assumir o seu lugar, utilizando um disfarce. Outras pessoas aparecem no laboratório como a ex-esposa de Maxwell, Alice (Thea Ramsey) e a Sra. Buckley (Phyllis Diller), que pede ajuda para seu marido doente (Ted Edwards), que também recebeu a injeção do soro e ficou louco e agressivo.

Maxwell ainda emparedou o cientista assassinado junto com um gato preto que teve um olho arrancado e comido por seu agressor, até o desfecho com a chegada da polícia. 

 

“Maniac” (também conhecido pelo nome alternativo “Sex Maniac”) é um filme bem curto, mas ainda assim é um convite ao sono, com tanta confusão e incoerência em sua história que fica difícil manter algum interesse. É bastante estranho e bizarro, principalmente por se tratar de um filme dos anos 1930, com um público ainda se acostumando ao cinema com elementos de horror e ficção científica. Deve valer uma conferida apenas pela diversão com o exagero do “cientista louco” envolvido em experiências com reanimação de cadáveres. O “maníaco” do título original, como salientado no início desse texto, com uma atuação exagerada, risadas doentias e discursos inflamados de um homem da ciência obcecado por seu trabalho e mais especificamente para trazer os mortos de volta à vida.

 

RR – 02/04/24)