Eu tive o privilégio de ser um
adolescente durante os saudosos anos 80 do século passado, uma época produtiva
e extremamente divertida para o cinema de horror e ficção científica. E o
privilégio foi ainda maior por ter visto nos cinemas em 1984 o filme holandês “O
Elevador Sem Destino” (The Lift, 1983), que depois foi lançado em vídeo VHS, exibido
na televisão e disponibilizado também em DVD bem depois em 2020, todos com
outro nome alternativo mais conhecido, “O
Elevador Assassino”. E para a sorte de quem acompanha o cinema fantástico
antigo, está disponível no “Youtube”, tanto uma versão dublada quanto também
outra original em inglês com legendas em português.
Com direção e roteiro de Dick Maas, a
história mostra um mecânico de elevadores, Felix Adelaar (Huub Stapel), que é
chamado para averiguar a falha do sistema de ar condicionado de um elevador num
prédio de escritórios, que também abriga um restaurante, depois que um grupo de
pessoas presas numa queda de energia quase morre por sufocamento. Não
encontrando problemas mecânicos inicialmente, as coisas complicam bastante após
a ocorrência em seguida de mortes misteriosas no elevador, despertando a
atenção da imprensa através da repórter Mieke de Beer (Willeke van Ammelrooy).
Ela então agrega esforços com o técnico de manutenção e juntos investigam o
caso na tentativa de encontrar explicações sobre o “elevador assassino” e a
relação com um projeto obscuro de tecnologia com microchips.
“O Elevador Assassino” é apenas mais um
filme simples com aquelas histórias escapistas exageradas na fantasia
explorando máquinas que ganham vida própria e espalham o horror com mortes
sangrentas. Nesse caso, o assassino da vez é um elevador cujos componentes
eletrônicos que controlam seus movimentos fazem parte de uma experiência com
resultados inesperados e consequências trágicas para as pessoas que circulam
num prédio de escritórios.
Porém, o filme tem toda aquela atmosfera
oitentista que sempre traz nostalgia e diversão sem compromisso, desde a música
datada, o visual dos atores e os efeitos práticos das mortes violentas, sem a
artificialidade da computação gráfica. Como uma produção com orçamento reduzido
(os recursos eram poucos, tanto que as filmagens duraram só 30 dias e a trilha sonora
foi feita pelo próprio diretor para reduzir gastos), os efeitos são bagaceiros
e por isso mesmo divertidos (tem até uma cena icônica com cabeça decepada).
E é verdade que a história de
investigação é um pouco arrastada e a duração poderia ser reduzida dos 93
minutos do corte final, e ficaria bem melhor com mais cadáveres na fila do
elevador. Mas, é curioso o fato de ser um filme holandês que conseguiu
encontrar seu lugar no meio de uma grande proliferação de filmes americanos do
mesmo período, sendo exibido em tela grande por aqui e com sucesso no
lançamento em VHS pela “Warner”, tendo atingido certa condição de culto. Eu
mesmo estou entre os que sempre guardam reservadas na memória algumas cenas de
mortes do filme.
E tem também uma cena muito bem produzida
envolvendo a garotinha interpretada por Isabelle Brok (que ilustra o cartaz do
filme) num jogo de suspense entre sua inocência infantil e o sombrio conjunto
de elevadores com vida própria.
O filme ganhou em 2001 uma refilmagem através do mesmo diretor Dick Maas e com Naomi Watts no elenco. Foi lançado por aqui com outro nome alternativo, “O Elevador da Morte” (Down / The Shaft), para complicar e confundir ainda mais os fãs que acompanham os filmes de horror que chegam ao Brasil. Em vez de se fazer uma simples pesquisa para manter uma coerência nos nomes adotados, os responsáveis por essa simples tarefa insistem em criar novos títulos.
(RR – 07/08/22)