“O sangue é a
fonte da vida: Só o sangue pode reviver os mortos! E nós beberemos de sua
fonte!!”
O cinema de horror tem vários estilos
definidos e temáticas variadas. Temos uma infinidade de sub-gêneros com
histórias de zumbis, vampiros, lobisomens, fantasmas atormentados, mansões
assombradas, monstros gigantes, assassinos psicopatas mascarados, possessão
demoníaca, cientistas loucos, homens transformados em monstros, alienígenas,
etc. E temos os filmes mais explícitos com violência gráfica e exagerados na
profusão de sangue, e aqueles de horror mais sugerido, sutil e psicológico.
O horror gótico é um dos temas mais
fascinantes do cinema de gênero, e especialmente o italiano. “Dança Macabra” (Danza Macabra, 1964),
também conhecido pelo título inglês “Castle of Blood”, é uma produção em preto
e branco dirigida por Antonio Margheriti (sob o pseudônimo Anthony Dawson) e um
dos melhores filmes do ciclo italiano de horror gótico dos anos 60 e 70 do
século passado, com a musa Barbara Steele liderando o elenco e roteiro baseado
em história de Edgar Allan Poe. E para a sorte dos apreciadores do estilo, tem
uma versão disponível no “Youtube” com áudio original italiano e legendas em
português.
Na Inglaterra do século 19, o jornalista
Alan Foster (Georges Rivière) encontra-se com o próprio escritor americano
Edgar Allan Poe (Silvano Tranqulli, creditado como Montgomery Glenn) numa
taverna para tentar uma entrevista. Uma vez cético em relação ao conteúdo
sobrenatural das histórias de Poe, o jornalista é desafiado numa aposta para
passar uma noite no castelo supostamente assombrado de propriedade do Lord
Thomas Blackwood (Umberto Raho, creditado como Raul H. Newman). O jornalista
aceita o desafio num momento único e especial do ano, a “Noite dos Mortos” em
02 de Novembro.
Ao chegar no tétrico e decadente castelo
isolado, Alan Foster explora seu interior macabro acreditando estar sozinho no
local, até que surge a bela Elisabeth Lockwood (Barbara Steele), irmã de Lord
Thomas, que relata a trágica história de maldição, traição e assassinatos na
sua família, inserindo o jornalista num mergulho para um pesadelo que mistura a
realidade do mundo dos vivos com o universo paralelo dos mortos. Incluindo a
igualmente bela e misteriosa Lady Julia Alert (Margret Robsahm), o marido de
Elisabeth, William (Benito Stefanelli, creditado como Ben Steffen), e seu amante
troglodita Herbert (Giovanni Cianfriglia, creditado como Phil Karson), além do
investigador de medicina Dr. Carmus (Arturo Dominici, creditado como Henry
Kruger), entre outros personagens bizarros.
Resta agora ao jornalista, inevitavelmente
apaixonado pelo fantasma de Elisabeth, lutar para manter a sanidade, rever seus
conceitos sobre assombrações e fantasmas vingativos e tentar se manter vivo até
o final da noite no tenebroso castelo, impedindo que seu sangue sirva de
energia para os mortos.
“Dança
Macabra” é uma obra prima do horror gótico. O diretor italiano Antonio Margheriti
(1930 / 2002) tem um currículo repleto de bagaceiras divertidas como “Destino:
Espaço Sideral” (1960) e “O Planeta dos Desaparecidos” (1961). Ele teve uma carreira extensa por quase quatro décadas,
dividida entre a direção, roteiro e produção, sendo que na maioria de seus
filmes ele utilizou o pseudônimo Anthony Dawson.
A atriz Barbara Steele nasceu em 1937 na Inglaterra
e tem seu nome eternamente associado ao cinema de horror. Alguns de seus filmes
marcantes são “A Máscara de Satã” (1960), “A Mansão do Terror” (1961), “A
Máscara do Demônio” (1964), “Amor de Vampiros” (1965), “A Maldição do Altar
Escarlate” (1968), “Calafrios” (1975), entre outros.
O filme tem todos os elementos
característicos do estilo, um castelo fantasmagórico com portas imensas
rangendo, teias de aranha para todos os lados, morcegos habitando os cantos
sombrios, mobílias bizarras, armaduras, grandes espelhos, quadros com pinturas
sinistras, iluminação com velas em candelabros, porão com sepulturas, além de
ser rodeado por um cemitério particular com túmulos e lápides de pedra, envolto
em névoa espessa. Além da ambientação gótica de puro horror, ainda temos uma
trilha sonora de gelar a alma dos vivos que completa a atmosfera de um mundo habitado
pelos mortos perturbados.
O Dr. Carmus, sinistro até a medula,
tenta orientar Alan Foster sobre os eventos trágicos que se passam ao seu redor
envolvendo a bela Elisabeth, informando sobre as três formas de vida: a do
corpo, mais debilitada; a do espírito, que é indestrutível; e a dos sentidos,
que mesmo não sendo eterna, pode continuar por muito tempo depois da morte,
pois não se morre completamente quando ainda não se está preparado.
Entre as curiosidades, o diretor Ruggero
Deodato, de “Cannibal Holocaust” (1980), foi assistente direção em “Dança
Macabra”, e além de Antonio Margheriti, o filme teve também a direção não
creditada de Sergio Corbucci no início das filmagens.
O filme foi lançado em DVD no Brasil em
2019 pela “Versátil” na coleção “Obras-Primas do Terror – Gótico Italiano”. E
teve uma refilmagem pelo mesmo diretor Margueriti e com Klaus Kinski, lançado
em 1971 com o título original italiano “Nella stretta morsa del ragno” e o
inglês “Web of the Spider”.
“Seu sangue será
nossa vida!” – Lady Julia
(RR
– 16/08/22)