"Um
homem desfigurado pela bruxaria, por um punhado de pó e drogas obscuras. Minha
mente foi transtornada, meu rosto destruído. Fui assassinado e trazido
milagrosamente de volta à vida.”
– Edward Markham para o Dr. Neuhartt
O primeiro filme com a presença dos ícones
do cinema de horror Vincent Price e Christopher Lee foi “O Ataúde do Morto-Vivo” (The Oblong Box, Inglaterra, 1969), com
roteiro levemente inspirado numa história de Edgar Allan Poe. A direção é de
Gordon Hessler, que ainda fez outros dois filmes ingleses em 1970 também com
Vincent Price: “O Uivo da Bruxa” (1970) e “Grite, Grite Outra Vez!” (1970),
sendo este último novamente com Lee e ainda Peter Cushing, outro nome
consagrado, numa época onde existiam atores com nomes totalmente associados ao
Horror.
Julian Markham (Vincent Price)
é um rico aristocrata inglês que está noivo de Elizabeth (Hilary Heath) e que
possui grande quantidade de terras para plantações na África. Ele mantém
encarcerado no sótão de sua mansão o irmão Edward (Alister Williamson), depois
de um incidente trágico num ritual de bruxaria dos nativos africanos, que o
deixou com o rosto desfigurado e a mente distorcida.
Porém, Edward, injustiçado e atormentado
com a falta de liberdade, coloca em prática um plano de fuga com a ajuda do
inescrupuloso advogado da família, Samuel Trench (Peter Arne), juntamente com seu
assistente Mark Norton (Carl Rigg) e um feiticeiro africano N´Galo (Harry
Baird). Mas, ao ser traído por eles, o caixão onde estava enterrado é roubado
para o Dr. Neuhartt (Christopher Lee), um médico que utiliza ilegalmente
cadáveres em suas experiências. E assim, Edward ganha uma oportunidade para efetivar
um sangrento plano de vingança contra todos que o prejudicaram.
Em “O Ataúde do Morto-Vivo”, é pena que
Christopher Lee tenha apenas um papel secundário como um médico que faz
experiências com corpos roubados de cemitérios, e também é lamentável que ele e
Vincent Price quase não contracenaram juntos, estando apenas uma única vez na mesma
cena e muito rapidamente. Seria melhor se o personagem de Lee fosse mais
relevante na história e com muitas cenas com Price. Para os fãs fica inevitavelmente
um sentimento de frustração de uma oportunidade perdida.
Porém, ainda assim, o filme tem seus bons
momentos de horror gótico, com ambientação inglesa de 1865, algumas mortes evidenciando
pescoços cortados com navalhas ensanguentadas, uma história violenta de
vingança e uma crítica social ao colonialismo inglês na África, com a posse e
exploração de terras dos nativos.
Tem também o uso interessante de câmera subjetiva,
a partir do ponto de vista do perturbado Edward sedento por vingança, com seu
rosto desfigurado escondido por trás de um capuz vermelho, e só revelado
próximo ao final, instigando a curiosidade do espectador.
O filme foi lançado em DVD no Brasil pela
“Versátil” em 2020, na coleção “Edgar Allan Poe no Cinema – Volume 03”.
Curiosamente, era exibido com certa regularidade na televisão aberta, num tempo
nostálgico onde era comum a exibição de filmes antigos divertidos, ficando
agora apenas como lembranças boas do passado, em substituição pelas atuais
plataformas de streaming que não se interessam muito pelos velhos filmes de
horror. Por sorte, também é possível encontrar no “Youtube” com legendas em
português e uma versão sem cortes (96 minutos).
“Nas
profundezas do solo úmido, onde coisas vis rastejam entre o lodo, uma mão
pálida se contorce e um coração sem batimentos ainda anseia por vingança.”
(RR
– 23/05/22)