“O que você está
prestes a ver pode nunca acontecer... mas para esta época ansiosa em que
vivemos, apresenta um temível aviso... Nossa história começa com... O FIM!”
O produtor e diretor americano Roger
Corman é uma lenda do cinema fantástico bagaceiro, mestre em fazer filmes de
horror e ficção científica com orçamentos minúsculos e resultados divertidos. “Day
the World Ended” (1955) é um de seus primeiros filmes, tanto na produção
quanto direção, com fotografia em preto e branco, curto (só 79 minutos), e com
aquela típica história já manjada pós-apocalíptica explorada à exaustão, sobre
o medo e a paranoia da guerra nuclear com o fim do mundo na conturbada década
de 50 do século passado, um período de grande tensão após a Segunda Guerra
Mundial, principalmente entre as maiores potências Estados Unidos e antiga
União Soviética, como evidencia o prólogo no início do filme e reproduzido
acima.
Após uma guerra nuclear que devastou o
mundo, um pequeno grupo de pessoas teve a sorte de sobreviver ao holocausto, pois
estavam numa região protegida por reservas de chumbo no solo. Eles se encontram
numa casa rural isolada, de propriedade de Jim Maddison (Paul Birch), um
militar que participou de exercícios com testes de bombas. Ainda fazem parte do
grupo, sua filha Louise (Lori Nelson) e seu par romântico, o geólogo Rick
(Richard Denning), um casal de namorados em constantes brigas, formado pelo inescrupuloso
playboy Tony Lamont (Touch Connors) e a dançarina de boate Ruby (Adele
Jergens), além de um velho minerador à procura de ouro, Pete (Raymond Hatton),
sempre na companhia de seu burro de estimação Diablo, e um homem doente
contaminado pela radiação, Radek (Paul Dubov), que foi resgatado da névoa
radioativa.
Enquanto estão presos na casa,
aguardando pela possibilidade de eventual fuga com segurança para o exterior,
eles especulam sobre os perigos do novo mundo atômico e tentam se situar diante
da gravidade que assolou o planeta após o “dia em que o mundo acabou”. Além também
de lidarem com a monotonia, falta de esperança, depressão e os inevitáveis conflitos
internos por interesses pessoais e instinto de sobrevivência, questões que
podem se tornar ainda mais desafiadoras do que a própria luta contra a morte
por radiação fora das paredes da casa.
Por outro lado, os efeitos destrutivos
da guerra com bombas atômicas podem ser responsáveis pelo surgimento de
criaturas mutantes assassinas, como o monstro de três olhos e chifres que está
circulando pelos arredores da casa à procura de vítimas.
“Day the World Ended” é um filme de
ficção científica bagaceira com elementos de horror, um exemplo típico do que
era produzido na década de 1950 com histórias explorando o medo do fim do mundo
pela guerra nuclear e seus efeitos catastróficos, como a criação de monstros
mutantes tão ameaçadores para a difícil continuidade da espécie humana quanto a
exposição à radiação.
Mesmo sendo um filme curto, comum na
época, a narrativa é arrastada em vários momentos, perdendo mais tempo ainda
com situações banais de conflitos entre os personagens, quando poderiam ser
mais exploradas as consequências devastadoras da guerra atômica. Apesar de ser
compreensível que devido ao orçamento extremamente reduzido, isso deve ter sido
deixado de lado, restando mesmo o consolo das poucas, mas divertidas e
memoráveis, cenas envolvendo o monstro mutante tosco.
Entre as várias curiosidades e
informações adicionais vale mencionar que Roger Corman só precisou de 10 dias
para as filmagens, uma característica que ficou associada ao seu trabalho com
orçamentos reduzidos, recebendo o título de “O Rei dos Filmes B”.
O ator Richard Denning (1914 / 1998)
esteve em vários filmes bagaceiros divertidos como “O Monstro da Lagoa Negra”
(1954), “O Cadáver Atômico” (1955), “O Escorpião Negro” (1957) e “Nos Domínios
do Terror” (1963).
O filme foi lançado nos cinemas
americanos junto com a tranqueira “The Phantom From 10.000 Leagues”, sobre uma
pequena cidade atacada por um monstro marinho mutante, alterado geneticamente
por radiação.
Teve uma refilmagem em 1969 com o
título “In the Year 2889”, de Larry Buchanan.
Como todo filme de monstro dos anos
1950 não faltou a sempre presente e esperada cena da criatura mutante tosca
carregando nos braços a mocinha desacordada. E como os efeitos práticos, principalmente
os mais antigos e com recursos escassos, por mais bagaceiros que sejam, são
muito mais divertidos que a computação gráfica, vale a pena registrar que o
monstro foi criado pelo técnico em efeitos especiais Paul Blaisdell, que também
estava dentro da roupa de espuma e borracha.
“E os elementos
devem derreter com calor ardente. O ozônio da Terra e as obras que estão aí
serão queimados. Este é o dia DT. Destruição Total por arma nuclear. E desta
hora em diante, o mundo como o conhecemos não existe mais. E sobre todas as
terras e caminhantes da Terra pende a névoa atômica da morte. O Homem tem feito
o seu melhor para destruir a si mesmo. Mas, há uma força mais poderosa que o
Homem e em sua infinita sabedoria poupou você.”
(RR
– 19/01/22)