No cinema fantástico
bagaceiro temos uma infinidade de filmes extremamente ruins e mal feitos de
forma não proposital, ou seja, o baixo orçamento e os recursos mínimos de
produção resultaram em porcarias colossais que divertem (a maioria delas)
justamente por esses motivos, com histórias óbvias e banais, elenco amador e
patético, e efeitos tão toscos e paupérrimos que tornam-se hilários. E por isso
essas tranqueiras têm uma legião de fãs e apreciadores do estilo. Uma dessas
tralhas inacreditáveis é o filme americano “The Creeping Terror” (1964), com fotografia em preto e branco,
dirigido, produzido e editado por A. J. Nelson, que também atuou com o
pseudônimo Vic Savage.
Ele é o jovem xerife Martin
Gordon, casado com Brett (Shannon O´Neil), responsável pela manutenção da lei e
ordem numa pequena cidade americana, junto com o assistente Barney (Norman
Boone). A calmaria do lugar muda drasticamente depois que um objeto voador não
identificado cai numa floresta próxima, despertando a atenção do exército, sob
o comando do Coronel James Caldwell (John Caresio).
Após descobrirem que se
trata do pouso de uma nave espacial (usando a imagem real de um foguete
decolando, mas num efeito reverso), é convocado o cientista Dr. Bradford
(William Thourlby) para assumir o comando da investigação, ocultando as
informações secretas do público após encontrarem uma criatura alienígenas
monstruosa dentro da nave, presa nas ferragens. O objetivo do cientista é
estudar o foguete extraterrestre, sua desconhecida liga metálica e tecnologia
avançada, além de tentar comunicação com seus ocupantes.
Porém, outro alienígena, um
monstro grotesco rastejante parecendo uma lesma gigante, conseguiu sair da nave
logo após a aterrissagem, espalhando o horror na floresta e cidadezinha,
devorando as pessoas em seu caminho, obrigando o cientista a unir forças com o
xerife local e o exército para tentar deter a ameaça da criatura espacial.
“The Creeping Terror”
certamente faz parte da galeria dos piores filmes de horror e ficção científica
da história do cinema bagaceiro. Porém, é divertido se desconsiderarmos a
história clichê e descartável resumida numa nave espacial que chega à Terra com
criaturas monstruosas que engolem gente, para absorver as características dos
humanos e enviar as informações para seu planeta preparar uma eventual invasão.
E se também esquecermos a produção paupérrima e elenco péssimo de atores
incapazes de interpretar os personagens rasos do roteiro. A diversão é
garantida exclusivamente pela presença do monstro rastejante do título, que
felizmente aparece em várias cenas com seus movimentos lentos à procura da
carne de suas vítimas.
O ideal seria que o filme
tivesse uma metragem menor (apesar de já ser curto, com apenas 77 minutos),
retirando um monte de cenas desnecessárias, como o relacionamento de casal
entre o xerife e sua jovem esposa, as reuniões descartáveis entre a polícia, o
exército e o cientista (todos completamente incompetentes para lidar com a
situação), e o excesso de tempo perdido num baile com as pessoas dançando (e
prestes a virar comida de lesma), deixando apenas os momentos com a criatura,
numa compilação dos ataques do monstro engolindo as pessoas.
Aliás, o bicho do espaço
está entre os mais toscos e hilários já vistos nos filmes bagaceiros, filmado
de longe para esconder os defeitos, parecendo um fantoche gigante de dragão
chinês ou uma alegoria pobre de carnaval, feita com retalhos de panos e tapetes
rastejando pelo chão, com pedaços de mangueiras na cabeça e várias pessoas
escondidas por baixo da fantasia para realizar seus pesados movimentos.
Totalmente bizarro e divertido.
As cenas de ataques do
monstro são hilárias, e merecem registro o momento onde um homem se defende da
criatura com golpes de violão, e a carnificina no salão de festas, com a lesma
espacial se rastejando de forma extremamente lenta e ainda assim conseguindo
devorar várias pessoas incompetentes para fugir.
A nave espacial pousada na
floresta nunca é mostrada por inteiro, devido às dificuldades de orçamento da
produção, com seu interior repleto de painéis com interruptores e mostradores
analógicos, simulando uma tecnologia “avançada” de outro mundo, um clichê
sempre explorado nesses filmes bagaceiros de invasão alienígena.
Sem contar que o filme tem
uma narração maçante (de Larry Burrell, não creditado) que fica explicando as
ações dos personagens durante a maior parte do tempo, num recurso irritante
para driblar a falta de dinheiro para a captação do som.
Em 2014 foi lançado um
documentário chamado “The Creeping Behind the Camera”, escrito e dirigido por
Pete Schuermann, com os bastidores do filme e biografia do polêmico diretor A.
J. Nelson (ou Vic Savage), conhecido por condutas condenáveis.
(Juvenatrix – 24/05/20)