“Ela era uma
estranha entre os vivos”
Os filmes que exploram
fantasmas com um horror mais sutil e psicológico normalmente despertam grande
interesse. “O Parque Macabro”
(Carnival of Souls, 1962), de Herk Harvey, com roteiro de John Clifford, fotografia
em preto e branco e produção de baixo orçamento, é um exemplo bem sucedido
dentro dessa ideia. Com uma história sobrenatural no estilo típico da
nostálgica série de TV “Além da Imaginação” (1959 / 1964), um pouco mais
esticada para se enquadrar como um filme de longa- metragem.
A organista profissional
Mary Henry (Candace Hilligoss) sofre um acidente traumático de carro numa
ponte, com o veículo mergulhando nas águas escuras de um rio. Ela sobrevive misteriosamente,
aparecendo desorientada nas margens. Ao receber o convite de um padre (Art
Ellison) para tocar órgão numa igreja em outra cidade, ela viaja até o local. No
caminho, visualiza perto da estrada um pavilhão abandonado, que no passado foi
um movimentado balneário turístico e parque de diversões. De aspecto macabro e
sombrio, o parque falido desperta na jovem um estranho fascínio, principalmente
depois que ela é atormentada regularmente por alucinações e visões de um fantasma
(o próprio diretor Herk Harvey, maquiado como um zumbi e não creditado), que
parece querer se comunicar com ela e resolver alguma pendência entre o mundo
dos vivos e mortos.
Mary é antissocial e
reclusa, e se hospeda numa pensão de propriedade da Sra. Thomas (Frances
Feist), onde conhece o jovem galanteador John Linden (Sidney Berger), que tenta
conquistá-la sem muito sucesso. Ela recebe também conselhos de um médico, Dr.
Samuels (Stan Levitt), sobre sua constante confusão mental talvez relacionada
com o stress causado pelo acidente de carro. Mas, a mulher perturbada por
fantasmas e obcecada pelo pavilhão abandonado precisa entender as visões
sinistras que a assombram, e tenta de forma obstinada descobrir a relação entre
o “parque macabro” e seus próprios demônios internos.
“O Parque Macabro” é aquele
tipo de filme de horror sugerido, sem violência ou sangue, e apenas com visões
oníricas sombrias e alucinações perturbadoras de fantasmas de pessoas que não
fazem mais parte desse mundo. Com maquiagem simples, mas eficiente, todas as
cenas com os zumbis perseguindo Mary são antológicas e carregadas de horror
psicológico.
O filme é indicado para os
apreciadores do cinema de horror com atmosfera desconfortável e sobrenatural,
sem as barulheiras e correrias de histórias com fluxo narrativo acelerado e que
cansam o espectador justamente por esses excessos.
O diretor Herk Harvey (1924
/ 1996) tem um currículo extenso, mas ficou mesmo conhecido através da grande
repercussão ao explorar a temática do horror psicológico em “O Parque Macabro”.
Ele revelou que, apesar de satisfeito com o sucesso desse filme, acharia mais
justo ser reconhecido pelo conjunto de sua obra fora da temática, com muita
experiência em centenas de filmes na área educacional, industrial e
documentários.
Curiosamente, o filme ganhou
dois títulos no Brasil, o oportunista “O Parque Macabro”, com a utilização de
um adjetivo com forte ligação com o horror, e depois o correto “Carnaval de
Almas”, uma tradução literal do original. Tem também uma versão disponível
colorizada por computador e ganhou uma refilmagem lançada em 1998, dirigida por
Adam Grossman.
Foi lançado em DVD por aqui
com o nome “Carnaval de Almas”, pela “Versátil Home Video”, na Coleção
“Obras-Primas do Terror – Volume 3”.
(Juvenatrix – 27/05/20)