"Vocês que me condenaram, eu conheço sua espécie. Seus
antepassados envenenaram Sócrates, queimaram Joana d'Arc, enforcaram,
torturaram todos aqueles cuja ofensa era trazer luz à escuridão. Para vocês que
me condenaram em meu trabalho, é um crime tão vergonhoso que o julgamento da
história será contra vocês por todos os anos que virão!”
O discurso acima com palavras indignadas contra um grupo de
jurados de um tribunal, é de autoria do “cientista louco” Dr. Henryk Savaard, o
“homem imortal” do título nacional ou “o homem que eles não conseguiram
enforcar” do original, confrontando os carrascos que o condenaram à morte, não
aceitando seu trabalho científico para o bem da humanidade, com experiências estranhas
envolvendo um dispositivo mecânico que simula o coração, e que terminou com a
morte de um jovem voluntário que aceitou a função de cobaia.
Lançado em 1939 com produção da “Columbia”, fotografia em preto e
branco e direção de Nick Grinde, “O
Homem Imortal” (The Man They Could
Not Hang) tem apenas 65 minutos de duração e está disponível no Youtube.
O lendário Boris Karloff (1887 / 1969) é o brilhante e visionário cientista
Dr. Henryk Savaard. Juntamente com o assistente Lang (Byron Foulger), eles
estão trabalhando em seu laboratório repleto de equipamentos bizarros
desenvolvendo uma máquina mecânica que poderia fazer a função do coração humano,
ajudando a tornar as cirurgias mais fáceis sem a pressão de controlar o tempo.
O jovem estudante de medicina Bob Roberts (Stanley Brown) aceita
ser cobaia, mas sua noiva Betty Crawford (Ann Doran), que é a enfermeira do
cientista, decide denunciar a experiência para a polícia, aos cuidados do Tenente
Shane (Don Beddoe), que interfere no processo causando a morte do rapaz.
O cientista é preso, julgado e condenado à morte. Após a execução
por enforcamento, seu corpo foi requisitado pelo assistente Lang e reanimado
pelo coração mecânico, retornando dos mortos com sede de vingança contra o juiz
Bowman (Charles Trowbridge) e os jurados que decidiram por sua condenação,
restando à filha do cientista Janet Savaard (Lorna Gray) tentar convencer seu
pai a interromper a loucura do plano de vingança, com a ajuda do jornalista
investigativo Foley (Robert Wilcox).
Boris Karloff, como sempre, tem grande atuação como o cientista
com boas intenções e mal compreendido, que se transforma em vilão assassino,
papel que repetiu muitas vezes na carreira. Sendo uma produção de baixo
orçamento e filmada em apenas 16 dias, com a boa receptividade do público pela
história bizarra de “cientista louco”, a produtora “Columbia” decidiu lançar
outros filmes com Boris Karloff no papel do homem da ciência inicialmente bem-intencionado,
e que após eventos trágicos torna-se criminoso com a mente distorcida pelo ódio
e sentimento de vingança. “O Mago da Morte” (Before I Hang, 1940), “A Ilha dos
Ressuscitados” (The Man With Nine Lives, 1940), “Os Mortos Falam” (The Devil
Commands, 1941) e “Um Cientista Distraído” (The Boogie Man Will Get You, 1942) são
alguns exemplos.
Entre as curiosidades, a história de “O Homem Imortal” teve
inspiração no caso real do bioquímico Dr. Robert Cornish, que na década de 1930
fez experiências com animais mortos e alegou ter conseguido trazer um cachorro
de volta à vida. A ideia básica no filme com a criação de um coração mecânico pelo
cientista Dr. Savaard, antecipou situações similares na vida real algumas
décadas depois, com vidas humanas sendo prolongadas com cirurgias de transplantes
de coração. O plano de vingança do ressentido “cientista louco”, enganando e aprisionando
os inimigos em sua casa para matá-los um a um com armadilhas, apresenta
similaridades com o livro “O Caso dos Dez Negrinhos” (And Then There Were None),
de Agatha Christie, lançado no mesmo ano de 1939.
(RR – 21/01/25)