O americano Richard E. Cunha
(1922 / 2005) teve uma carreira curta como cineasta, mas deixou registrada a
sua marca e contribuição para o cinema fantástico bagaceiro com quatro
tranqueiras de horror e ficção científica lançadas em 1958: “Mulheres Demônio”
(She Demons), “A Filha de Frankenstein” (Frankenstein´s Daughter), “Míssil Para
a Lua” (Missile to the Moon), também conhecido no Brasil como “Terríveis
Monstros da Lua”, e “O Gigante do Outro Mundo” (Giant From the Unknown),
assunto deste texto e que está disponível no Youtube na versão original com
fotografia em preto e branco e opção de legendas em português com tradução
simultânea.
No século XVI o cruel
conquistador espanhol Vargas (Buddy Baer), conhecido como “Diabo Gigante” e por
ser um terrível assassino de índios na América, desaparece com seus seguidores
numa expedição para encontrar ouro. Cerca de 500 anos depois, seu corpo
enterrado retorna do mundo dos mortos graças ao raio de uma tempestade elétrica,
revivendo de uma animação suspensa causada por alguma misteriosa substância
orgânica com ação conservante. O gigante do desconhecido (do título original)
ou do outro mundo (nome nacional) passa então a aterrorizar a pequena
comunidade rural de Pine Ridge, na Califórnia.
O arqueólogo Dr. Frederick Cleveland
(Morris Ankrum) e sua filha Janet (Sally Fraser) chegam ao local para procurar
artefatos, espadas e ossadas dos antigos conquistadores. Eles recebem a ajuda
do caçador de relíquias Wayne Brooks (Edward Kemmer), e juntos decidem explorar
a região, ignorando os avisos do xerife Parker (Bob Steele, mais conhecido por
dezenas de filmes de western), que alertou sobre os perigos e ameaças à
segurança por causa de misteriosos desaparecimentos de gado e mortes violentas
de pessoas pela ação de algum predador de grande porte.
Em apenas 77 minutos (metragem comum dos
filmes bagaceiros do período), “O Gigante do Outro Mundo” apresenta uma
história apenas rasa que aposta nos velhos clichês com monstros que surgem de
um evento misterioso, nesse caso um raio elétrico que desperta um enorme tirano
impiedoso em animação suspensa, e que toca o terror em todos que cruzam seu
caminho. Depois de algumas mortes violentas, um grupo de vigilantes tenta
combater a ameaça caçando a fera e culminando no tradicional confronto final e
previsível num moinho e em seguida numa ponte sobre uma cachoeira.
Para preencher o tempo sem a presença do
monstro, temos o casal trivial que se apaixona, Wayne e Janet, o arqueólogo que
representa a ciência, o xerife que lidera as investigações das mortes suspeitas,
e os coadjuvantes que existem para servir de vítimas, tudo com muita enrolação,
diálogos banais e óbvios, além de vários momentos cansativos. Infelizmente o
vilão demora demais para entrar em cena (somente a partir da metade do filme) e
ainda aparece pouco. Sem contar que seria mais interessante se fosse um monstro
bizarro, disforme, mutante, asqueroso, alienígena ou qualquer coisa similar, em
vez de um humano com apenas o diferencial da altura avantajada e crueldade
exagerada, apesar do bom trabalho de maquiagem de Jack P. Pierce, o mesmo
responsável por vários monstros clássicos da “Universal” nas décadas de 1930 e
40, como a criatura de Frankenstein.
A despeito de todos os problemas, defeitos
e furos no roteiro, como o sumiço de animais e mortes de pessoas informado logo
de início e o monstro sendo desenterrado de sua inatividade de séculos muito
tempo depois, ainda assim é mais um filme de horror bagaceiro que pode até
divertir um pouco sem exigência. Apesar também que ficaria melhor como um curta
metragem com apenas as cenas do “gigante do outro mundo” e eliminando boa parte
das futilidades do resto da história.
Curiosamente, tem um cartaz brasileiro
feito para o lançamento nos cinemas daqui, que exagera no sensacionalismo e
propaganda enganosa, acrescentando a frase “Ele tem 5 milhões de anos e 4,5
metros de altura”. Na verdade, o monstro furioso tem apenas cerca de 500 anos e
menos da metade da altura anunciada, sem contar o erro grotesco no nome da
atriz Sally Frazer, estampado como Grazaer. Aliás, essa bela atriz esteve em
várias outras tranqueiras divertidas do mesmo período como “Ameaça Espacial”
(It Conquered the World, 1956), “A Maldição da Aranha” (The Spider) e “War of
the Colossal Beast”, ambos de 1958.
(RR
– 03/01/25)