“Quantas
vezes estive diante deste símbolo da grandeza da minha família? E agora este
brasão e eu estamos morrendo juntos. Em outra época e em outro lugar, eu
poderia ter trazido honra e glória à família Fallon, mas em vez disso deixarei
um legado de decadência e horror indescritível.”
– Aaron Fallon, diante do
brasão de sua família
O cinema de horror gótico, com
seus castelos, maldições, insanidade, pessoas atormentadas e atmosfera sombria,
é certamente um sub-gênero fascinante e com uma legião de apreciadores. E
principalmente nos anos 60 do século passado tivemos uma enxurrada de filmes abordando
essa temática. “The Dungeon of Harrow” (1962) foi escrito e dirigido por
Pat Boyette, com fotografia colorida numa época com muitas produções em preto e
branco para a redução de custos, sendo mais um filme divertido explorando esses
elementos e que está disponível no “Youtube” com opção de legendas em
português.
Com ambientação no século XIX,
mais precisamente em 1870, um navio afunda em alto mar por causa de uma
tempestade e dois náufragos conseguem escapar com vida, chegando numa ilha
remota. São eles o Capitão (Lee Morgan) e o aristocrata Aaron Fallon (Russ
Harvey). Tentando sobreviver ao explorar a ilha, eles encontram um castelo
sinistro e são recepcionados por Cassandra (Helen Hogan), uma antiga enfermeira
que agora serve o Conde Lorente de Sade (William McNulty), um nobre sádico e
insano, atormentado pelo “Espírito” (Joe Alston) que representa a sua maldade.
No castelo ainda vivem o servo
grandalhão e violento Mantis (Maurice Harris), escravo do Conde, e a jovem muda
Ann (Michele Buquor), que era refém de piratas e foi parar na ilha como
serviçal, sempre muito maltratada pelo Conde numa câmara de torturas. E nas
masmorras sinistras dos subterrâneos, encarcerada num sarcófago, ainda é
mantida viva a Condessa de Sade (Eunice Grey), consumida pela loucura e
sofrendo de lepra, vestida de noiva e relembrando sempre o dia de seu casamento.
Nesse cenário sombrio de
doença, loucura e violência, o náufrago Fallon acaba tendo um envolvimento
sentimental com Cassandra e juntos tentam escapar da ilha e seus horrores
indescritíveis, conforme suas palavras na introdução do filme e reproduzidas no
início desse texto.
“The Dungeon of Harrow” é uma
produção americana de pequeno orçamento, com um roteiro clichê explorando os
elementos tradicionais do horror gótico, mas que garante o entretenimento dos
fãs do estilo com ótimas cenas nos calabouços do castelo. E também dos
apreciadores de efeitos práticos toscos, com uma miniatura do navio lutando
contra a tempestade que o afundou no oceano, e as tentativas do “Espírito” em
atormentar ainda mais o insano Conde de Sade com o ataque de um morcego enorme
e uma aranha gigante, ambos bagaceiros ao extremo e patéticos de tão fuleiros.
Ainda tem uma masmorra
sinistra de gelar a espinha, com instrumentos de tortura medievais, e a
maquiagem divertida da Condessa terrivelmente doente de lepra e perturbada com
a loucura. A cena em que ela está saindo de sua prisão num sarcófago envolto em
névoa espessa, expondo feridas pútridas pelo corpo, é memorável e certamente um
dos destaques do filme, além do desfecho depressivo carregado de solidão,
amargura e desesperança.
Curiosamente, o diretor Pat
Boyette teve só três filmes em seu currículo e foi também o responsável pela
arte gráfica dos ótimos cartazes de divulgação, sempre chamativos para
despertar a atenção pelo filme. Posteriormente, ele trocou a carreira de fazer
filmes para ser um ilustrador de quadrinhos.
(RR
– 25/06/24)