“Não
tem pulso. Existem duas explicações possíveis para isto; eu estou bêbado ou
você está morto.” – Dr. Meinard para o "Estranho de Vênus"
Nos anos 1950 foram lançados
muitos filmes com elementos de horror e ficção científica abordando a temática
de invasão alienígena, na maioria das vezes com intenções hostis e de
conquista. Mas também tivemos alguns casos de seres do espaço visitando nosso
planeta com objetivos pacíficos, alertando a humanidade dos perigos do uso
indevido da energia nuclear para a criação de bombas e armas de destruição em
massa, tema que preocupava o mundo após o fim da Segunda Guerra Mundial e
início da guerra fria com a corrida armamentista entre Estados Unidos e a
antiga União Soviética.
Um exemplo desses filmes com
alienígenas pacifistas é “O Monstro da Era Atômica” (The Cosmic Man, 1959), com
John Carradine, mas o principal representante é o clássico “O Dia Em Que a
Terra Parou” (The Day the Earth Stood Still, 1951), de Robert Wise e com
Michael Rennie e Patricia Neal, além do robô Gort, figura emblemática na
história do cinema de ficção científica.
Em 1954 foi lançado “Stranger From Venus”, dirigido por Burt
Balaban, uma co-produção entre EUA e Inglaterra na mesma ideia e curiosamente
também com a atriz Patricia Neal, que tem o nome estampado em destaque no
cartaz de divulgação. Também conhecido como “The Venusian” e “Immediate
Disaster”, felizmente para os apreciadores das divertidas bagaceiras antigas, o
filme está disponível no “Youtube” com a opção de legendas em português, e
tanto na versão original em preto e branco quanto na colorizada por computador.
Um humanoide do planeta Vênus
(o austríaco Helmut Dantine), o “estranho” do título original, aterrissa no
interior da Inglaterra e salva a vida de Susan North (Patricia Neal), vítima de
um acidente de carro causado justamente pela interferência luminosa da nave
extraterrestre. Ele pede hospedagem no pequeno hotel de Tom (Willoughby Gray) e
sua filha Gretchen (Marigold Russell). Extremamente misterioso, ele tem a
capacidade de ler mentes, curar doenças, falar vários idiomas, afirma não ter
um nome nem dinheiro, além da ausência de sinais digitais nos dedos das mãos e ao
ser examinado por outro hóspede, o médico Dr. Meinard (Cyril Luckham), acabou gerando
a inusitada declaração do início desse texto. Depois de mais ambientado, o
venusiano revela que sua missão é de paz e solicita uma reunião com os líderes
políticos mundiais para alertar sobre os perigos da fissão nuclear e bombas
atômicas.
Um político funcionário do
governo inglês, Arthur Walker (Derek Bond), noivo de Susan, é o encarregado de convocar
essa reunião. Mas o alienígena é traído pelas autoridades inglesas, numa
comissão formada entre outros, pelo militar General (Stanley Van Beers), o
jornalista Charles Dixon (Kenneth Edwards) e o cientista (Arthur Young). Eles querem
primeiramente se beneficiar com a obtenção de conhecimentos tecnológicos
avançados como o sistema de navegação da nave por energia magnética.
“Stranger
From Venus” é curto com apenas uma hora e quinze minutos, e a história
concentra-se na ideia de um alerta alienígena sobre a energia nuclear para fins
bélicos, colocando em risco a estabilidade da Terra, a continuidade de nossa
espécie e a segurança do sistema solar, incluindo Vênus. Sem monstros de olhos
esbugalhados e naves espaciais imponentes e conquistadoras, temos apenas uma
cena rápida e mais próxima do final com um tradicional disco voador tosco obtido
com efeitos práticos divertidos.
Monstros e naves bagaceiras são sempre muito
bem-vindos, mas é compreensível que pela escassez de recursos de uma produção
de orçamento reduzido, a opção dos realizadores foi priorizar a história de
invasão alienígena pacifista, com uma narrativa mais lenta e muitos diálogos. A
mensagem do venusiano é totalmente pertinente, avisando dos riscos e
consequências perigosas de uma área da ciência ainda desconhecida, num momento
conturbado de hostilidade entre nações rivais.
(RR
– 15/08/23)