Jesse James Contra a Filha de Frankenstein (Jesse James Meets the Frankenstein´s Daughter, EUA, 1966)

 


“Você não é mais Hank Tracy. Você é Igor. Você entendeu? Igor! Assim você será conhecido. Eu sou Maria Frankenstein. Como eu penso, você vai pensar. Nós somos um. Eu vou comandar. Você vai obedecer. Você viverá tanto quanto eu desejar. Você morrerá quando eu ordenar. Lembre-se, você estará sempre sob o meu controle.” – Dra. Maria Frankenstein para a criatura Igor

 

O cinema bagaceiro de ficção científica e horror tem como características, além dos efeitos práticos precários devido aos orçamentos reduzidos e falta de recursos, os roteiros exagerados no escapismo, repletos de situações improváveis e inverossímeis. Então imaginem uma mistura desses gêneros do cinema fantástico com o “western”, naquilo que podemos chamar de “crossover”, e ainda juntando numa mesma história monstros clássicos do horror e vilões históricos do velho oeste americano. O resultado pode ser conferido na tranqueira com título sonoro “Jesse James Contra a Filha de Frankenstein” (Jesse James Meets the Frankenstein´s Daughter, EUA, 1966), de William Beaudine, disponível no “Youtube” com a opção de legendas em português.

 

A Dra. Maria Frankenstein (a estoniana Narda Onyx), envolvida em experiências sinistras com cobaias humanas, é obrigada a fugir das autoridades de seu país natal, Áustria, juntamente com o irmão bem mais velho Dr. Rudolph (Steven Geray), chegando aos Estados Unidos e se estabelecendo na fronteira com o México numa mansão macabra. A intenção da “cientista louca” é continuar as pesquisas obscuras de sua família, encontrando nas terras isoladas a tranquilidade necessária para seu trabalho científico utilizando os camponeses locais para os testes e a energia elétrica para seus aparelhos com as fortes tempestades que ocorrem regularmente na região.

Sua presença assusta os moradores mexicanos de uma vila próxima, que decidem abandonar o local, mas a bela camponesa Juanita Lopez (a cubana Estelita Rodriguez, em seu último filme, falecendo ainda em 1966) decide ficar para vingar a morte do irmão adolescente, e a cientista ainda precisa lidar com a desaprovação do irmão na continuidade das experiências com a morte recorrente das cobaias.

Em paralelo, o famoso ladrão Jesse James (John Lupton), juntamente com o forte e fiel parceiro Hank Tracy (Cal Bolder), surge na cidade para um roubo de carregamento de dinheiro, e eles são perseguidos pelo xerife McPhee (Jim Davis). Uma vez ferido, o grandalhão Hank é socorrido pela cientista, que aproveita a oportunidade para utilizá-lo em suas experiências com transplante de cérebro, transformando-o em Igor, conforme sua empolgada dissertação reproduzida no início desse texto.

Com a ocorrência de um estranho triângulo amoroso entre Juanita, Jesse James e a Dra. Frankenstein, a ideia é tentar impedir o sucesso das experiências da cientista e evitar mais assassinatos praticados pelo zumbificado Igor.  

  

“Jesse James Contra a Filha de Frankenstein” explora o velho e desgastado clichê sobre “cientistas loucos”, sendo que no caso é uma mulher da ciência, a neta de Frankenstein (evidenciando um erro no título do filme), pegando inspiração no famoso nome e nas experiências macabras com seres humanos, misturando com elementos de western, na ambientação do velho oeste selvagem americano e utilizando um vilão tradicional do gênero, o ladrão Jesse James. O resultado dessa salada toda é mais uma tranqueira que até garante alguma diversão rápida justamente pelos absurdos do roteiro e efeitos práticos toscos.

Tem alguns momentos de horror gótico com a mansão (com o plano geral sendo retratado por uma pintura) e laboratório bizarro (curiosamente são os mesmos instrumentos elétricos dos filmes de Frankenstein da “Universal”, que agora podem ser vistos em cores), além do capacete colorido com eletrodos e a própria “criatura de Frankenstein”, com a cabeça costurada abrigando um cérebro artificial. E tem também a história clichê do velho oeste com a mocinha se apaixonando pelo vilão que é perseguido pelo xerife, num ambiente selvagem onde tudo se resolve com o saque de revólveres.  

O diretor William Beaudine (1892 / 1970), que teve uma carreira imensa com centenas de créditos, também é o responsável por outro filme similar misturando horror com western e personagens clássicos, “Billy the Kid versus Dracula” (1966), com o lendário ator John Carradine no papel do vampiro.

 

(RR – 22/08/23)