"Uma
noite, durante a última parte do século XX, em um pequeno planeta chamado
Terra, o terceiro depois do Sol, num sistema solar da Via Láctea, um fato
estranho ocorreu na ilha de Sardenha. Este evento alteraria a vida de todos os
seres vivos no planeta.”
Uma vantagem que o fã apreciador do
cinema antigo de horror e ficção científica certamente tem nesses tempos
modernos é a disponibilidade de assistir filmes menos conhecidos gratuitamente
na internet, através da plataforma de vídeos online “Youtube”. E ainda com a
vantagem adicional de muitos deles em versões originais com opções de legendas
em português.
Esse é o caso da FC bagaceira italiana “Os Monstros do Planeta Hidra” (2+5:
Missione Hydra, 1966), dirigida por Pietro Francisci e que também é conhecida
pelos títulos alternativos “Star Pilot” (Estados Unidos) e “Destination:
Planète Hydra” (França).
Antes da popularização da internet,
filmes como esse eram considerados raros e de difícil acesso, produzidos numa
época sem o auxílio da computação gráfica para criar os monstros, naves
espaciais e cenários futuristas, obrigando seus realizadores a driblar as
dificuldades orçamentárias e falta de recursos tecnológicos com efeitos
práticos bagaceiros e divertidos, com atores vestindo fantasias exageradas e o
uso de maquetes e miniaturas.
Alienígenas humanoides vindos da
constelação de Hydra pousam sua nave espacial na ilha de Sardenha, na Itália,
para investigar o perigo do uso de energia nuclear com bombas atômicas de grande
poder de destruição em massa na Terra. A missão dos extraterrestres é liderada
pela Capitã Kaena (Leonora Ruffo), auxiliada pelos tripulantes Belsy (Kirk
Morris) e Artie (Alfio Caltabiano).
Após a ocorrência de um terremoto no
local do pouso, o foguete de outro mundo é soterrado numa fenda e para ajudar
nos reparos necessários para a decolagem e saída do planeta, os alienígenas raptam
um grupo de humanos formado, entre outros, pelo renomado cientista Prof. Solmi
(Roland Lesaffre) e sua jovem filha Luisa (Leontine Snell), personagem de
exploração, sempre com maquiagem carregada e roupas curtas, além dos jovens
engenheiros Dr. Paolo Bardi (Anthony Freeman, pseudônimo de Mario Novelli) e
Dr. Morelli (Nando Angelini). Completam ainda o time uma dupla de espiões orientais,
interessados na tecnologia do foguete.
Após conseguirem sair da Terra eles
enfrentam uma série de problemas no espaço, precisando de novos reparos no meio
do cosmos. Além de riscos de acidente numa colisão com um planeta desconhecido,
eles ainda enfrentam um ataque de uma tribo de monstros selvagens parecidos com
símios e encontram uma nave fantasma terrestre perdida vagando sem rumo pelo
espaço. Para completar, se deparam com uma grande surpresa na chegada na
constelação de Hydra.
“Os Monstros do Planeta Hidra” é uma
diversão descompromissada no estilo daqueles filmes antigos de FC e aventura
espacial que eram exibidos na antiga “Sessão da Tarde” da TV Globo, uma época saudosa
da televisão aberta. Porém, não é indicado para quem procura efeitos especiais
bem produzidos, com auxílio de CGI, pois o entretenimento é garantido
justamente pelos efeitos práticos toscos, pelas maquetes estáticas do foguete e
as miniaturas da cidade alienígena, além dos atores fantasiados de monstros
parecidos com macacos e simulando robôs ridículos e que deveriam ser
ameaçadores em vez de risíveis.
A história é exagerada em situações
inverossímeis e escapistas, com pouca criatividade no trabalho de roteiro e para
não gerar muitas dificuldades para a equipe de produção.
Entre as diversas cenas de pura
tosquice, um destaque vai para o momento em que um reparo do foguete alienígena
com a troca de uma antena no meio do espaço, permite a revelação de um balão
inflável simulando a nave. E não faltam as tradicionais luzes piscando e
painéis cheios de manípulos e botões do interior do foguete, tudo devidamente
operado pelos personagens sérios e concentrados na tarefa de pilotagem.
Entre as curiosidades, o filme tem a
presença do ator americano Gordon Mitchell, de carreira extensa e participação
em muitos filmes italianos variados, sobretudo no gênero “western”, numa cena
rápida como Murdu, o líder dos alienígenas de Hydra, falando algumas palavras
desconexas que simulam um idioma extraterrestre, com um resultado final no
mínimo hilário.
Várias cenas nos interiores do foguete
foram aproveitadas de outro filme bagaceiro da mesma época, mas inacabado por
falta de recursos financeiros, “The Doomsday Machine”, e que só conseguiu ser
lançado em 1976.
Outra curiosidade é que percebemos uma
certa similaridade entre o pensamento tirano dos líderes do,Conselho de
Genética de Hydra, através da falta de liberdade imposta aos seus cidadãos quanto
à escolha dos pares para a reprodução da espécie, buscando obter a raça
perfeita, e o que se pretendia por exemplo, na Alemanha do período da Segunda
Guerra Mundial.
(RR
– 02/02/23)