“Você sabe, a Ciência é uma amante
devoradora. Ela devora todos os que procuram sondar seus mistérios. E para cada
segredo que ela revela, ela exige um preço; um preço que um cientista deve
estar preparado para pagar. Mesmo ao custo de sua vida ou a vida de outros que
estão no caminho de sua busca”.
– Prof. King
Esse depoimento amargurado do
tradicional “cientista louco” dos filmes “B” de horror e ficção científica, nesse
caso o oceanógrafo Prof. King (Michael Whalen), representa bem sua abnegação
pela Ciência, pelo trabalho em prol do suposto bem da humanidade, agindo sem
escrúpulos se necessário, para alcançar os objetivos.
Com um título original sonoro, recurso
de marketing muito utilizado nos filmes bagaceiros do cinema de gênero dos anos
1950 para chamar a atenção do público, “The
Phantom From 10.000 Leagues” (1955) é outra tranqueira divertida de monstro
marinho mutante, alterado geneticamente pelo efeito nocivo de radiação atômica
no fundo do oceano. Aliás, extremamente fundo, segundo o título exagerado escolhido
apenas para promover o filme, utilizando uma unidade de medida antiga e
quantidade fantasiosa muito maior que o tamanho do próprio planeta. Tudo para
enfatizar que o fantasma vem das profundezas obscuras do oceano.
Com fotografia em preto e branco, a
direção foi de Dan Milner, que teve uma carreira mais voltada para os trabalhos
de edição, e que curiosamente também dirigiu outro filme de monstro no mesmo
período, “Veio do Inferno” (From Hell It Came, 1957).
Numa praia do Oceano Pacífico vários pequenos
barcos são afundados misteriosamente e pessoas são encontradas mortas com
queimaduras suspeitas de radiação, despertando a atenção do governo americano que
decide investigar através do agente federal Bill Grant (Rodney Bell). Ele une
seus esforços com o famoso oceanógrafo Dr. Ted Stevens (Kent Taylor), autor de
livros sobre os efeitos biológicos da radiação sobre a vida marinha, que também
foi enviado pelo governo numa investigação paralela de extrema importância para
a segurança nacional do país.
No mesmo local, o cientista Prof. King
está trabalhando numa pesquisa onde descobriu uma mina de urânio numa fenda no
fundo do mar, com um feixe radiativo de luz que parece ter contaminado os
animais ao redor. Em seu laboratório, repleto de equipamentos elétricos
bizarros, ele faz experiências secretas, proibidas até para sua preocupada
filha Lois (Cathy Downs) e a desconfiada secretária Ethel Hall (Vivi Janiss).
Seu trabalho científico também interessa
ao assistente George Thomas (Philip Pine), para repassar as informações para a
espiã internacional Wanda (Helene Stanton), que representa um país obscuro da
Europa que em plena época de grande tensão da guerra fria, está interessado nas
descobertas e experiências com energia atômica do cientista para utilizar como
arma de destruição em massa.
A história é repleta dos mesmos clichês
de sempre dos filmes que misturam os elementos “cientista louco”, monstro
mutante e paranoia dos perigos e ameaças da energia nuclear. Com um ritmo mais
arrastado na apresentação dos eventos, e nesse caso os 80 minutos de duração
poderiam tranquilamente serem reduzidos para cerca de 65 minutos, uma metragem
comum nos filmes similares do mesmo período e que traria um pouco mais de dinâmica
para a história. Tem também o mocinho que investiga as ações inescrupulosas do
cientista com seu trabalho secreto, e que faz o par romântico com a mocinha
inocente, a bela filha do cientista. Um roteiro brega e de pouco interesse.
Mas, o que importa de verdade e diverte
nesses filmes é o monstro tosco, mesmo que em poucos momentos em ação. Aqui, a
criatura mutante radioativa que mata suas vítimas com queimaduras, é
interpretada por uma mulher, Norma Hanson (não creditada), vestindo um traje de
borracha com olhos estáticos, em algumas cenas aquáticas com dificuldades de
movimentação e atuação, principalmente pelos poucos recursos da produção, e
numa época já bem distante na década de 50 do século passado, com os divertidos
efeitos práticos e sem computação gráfica.
(RR
– 10/07/22)