Fahrenheit 451 (Inglaterra, 1966)

 


“Temos todos de ser semelhantes. A única maneira de sermos felizes é se todos formos iguais. Por isso que temos que queimar os livros.” – Capitão Beatty.


Ray Bradbury (1920 / 2012) é um cultuado escritor de Ficção Científica com várias de suas obras adaptadas para o cinema. Uma delas é “Fahrenheit 451”, livro distópico escrito em 1953 e transformado em filme em 1966 pelo diretor francês François Truffault, numa produção inglesa estrelada por Julie Christie e Oskar Werner.

Num futuro próximo, uma sociedade governada por um regime totalitário que não quer que os cidadãos tenham liberdade de pensamento, impõe leis rígidas contra a leitura de livros e revistas, que segundo eles, causam a infelicidade das pessoas. Então, nesse cenário opressivo, os bombeiros possuem uma função inversa, em vez de apagar incêndios, eles são treinados para localizar livros escondidos e queimá-los.

Guy Montag (Oskar Werner) é um bombeiro que fala pouco e executa sua função com disciplina, recebendo elogios do rígido Capitão Beatty (Cyril Cusack) para uma possível promoção, e despertando a ira do ciumento colega de trabalho Fabian (Anton Diffring). Montag é casado com Linda (Julie Christie, de cabelo comprido), e sua vida é uma rotina sem emoções, com sua esposa ingerindo drogas narcotizantes fornecidas pelo governo e sendo consumidora de programas estatais patéticos de televisão que mantém as pessoas pacatas e obedientes. 

Tudo começa a mudar depois que Montag conhece a professora de crianças Clarisse (também Julie Christie, de cabelo curto), que é sua vizinha e sempre se encontram no trem monotrilho a caminho de casa. Clarisse faz parte de um grupo secreto de pessoas que adoram livros e tentam se esquivar do controle opressivo do governo. O bombeiro passa então a questionar seu trabalho e se aproximar da leitura, tendo que decidir entre sua vida monótona de cidadão disciplinado e obediente, ou lutar pela liberdade se dedicando para que os livros continuem existindo.

“Fahrenheit 451” é uma crítica social sempre muito válida e atual, no sentido de evidenciar o quanto nocivo pode ser qualquer regime político que queira controlar a liberdade de pensamento das pessoas e suas relações sociais. É também uma declaração de apoio e admiração à literatura, aos livros e revistas que são indispensáveis no cotidiano da humanidade, registrando informações, ideias e histórias para divertir, emocionar e passar conhecimentos. 

Entre as curiosidades vale citar que os créditos de abertura são todos narrados, sem nada escrito na tela. O título do filme é uma referência à escala de temperatura Fahrenheit, com o número 451 sendo a quantidade de graus onde o papel dos livros incendeia (algo equivalente aos 233 graus Célsius, uma escala mais conhecida e utilizada). Na comunidade secreta das chamadas pessoas-livros, onde seus integrantes escolhem um livro para decorá-lo com o objetivo de voltar um dia a ser impresso num mundo mais livre, temos obras como “As Crônicas Marcianas”, do próprio Ray Bradbury, e “Histórias de Mistério e Imaginação”, do cultuado escritor de horror Edgar Allan Poe. 

Se eu fosse uma pessoa-livro, e pensando em nossa literatura fantástica nacional, escolheria para decorar o livro de lobisomens “Jarbas”, de André Bozzetto Junior, uma overdose de horror sangrento e tripas dilaceradas, e certamente quando fosse declamar o livro, teria que vomitar sangue.  

Entre os filmes baseados em histórias de Ray Bradbury podemos citar “Veio do Espaço” (1953), “O Monstro do Mar” (1953), “Uma Sombra Passou Por Aqui” (1969), “Um Grito de Mulher” (1972), “No Templo das Tentações” (1983), “A Ameaça Que Veio do Espaço” (1996) e “O Som do Trovão” (2005). 

“Fahrenheit 451” foi lançado no Brasil em DVD pela “Silver Screen”. E em 2018 foi lançada uma nova versão, dessa vez priorizando os elementos de ação, com direção de Ramin Bahrani e com Michael B. Jordan. 


(RR – 07/09/21)