“O seguinte relatório à Royal Geological Society
pelo abaixo-assinado, Alexander Saxton, é um relato verdadeiro e fiel dos
eventos que aconteceram à expedição da Sociedade na Manchúria. Como líder da
expedição, devo aceitar a responsabilidade por seu término em desastre, mas
deixo ao critério dos honoráveis membros da Sociedade a decisão de onde
reside a culpa pela catástrofe.”
– Professor Alexander Saxton.
Essa é a introdução narrada de
“Expresso do Horror” (Horror Express, 1972), um clássico espanhol do cinema
fantástico bagaceiro, exibido à exaustão na televisão brasileira, geralmente
nas divertidas madrugadas com monstros toscos e roteiros exagerados na fantasia.
Foi dirigido por Eugenio Martin
e estrelado pela famosa dupla dinâmica do Horror, os ícones ingleses
Christopher Lee e Peter Cushing, além de uma pequena participação de Telly
Savalas (o detetive Kojak da série homônima da TV da década de 1970).
Ambientado em 1906, o arqueólogo
inglês Prof. Sir Alexander Saxton (Christopher Lee) é o líder de uma expedição
científica nas regiões geladas da China à procura de ossos e fósseis. Ele
descobre uma misteriosa criatura presa na geleira, um macaco pré-histórico de
dois milhões de anos. Com o objetivo de transportá-la para a Europa Ocidental,
ele utiliza um trem transiberiano que viaja por longas distâncias.
Uma vez a bordo do “expresso do
horror”, ele encontra o rival Dr. Wells (Peter Cushing), acompanhado pela
assistente veterana, a bacterióloga Srta. Jones (Alice Reinheart). Carismático
e curioso, o cientista não mede esforços para descobrir o que está dentro de uma
grande caixa de madeira lacrada com correntes.
Porém, depois que a criatura
(interpretada por Juan Olaguibel) desperta e escapa da caixa, vários
assassinatos violentos começam a ocorrer no trem, com as vítimas ficando cegas
e com suas memórias e conhecimentos drenados dos cérebros, chamando a atenção
para uma investigação policial liderada pelo Inspetor Mirov (Julio Peña).
Entre outros passageiros
ilustres ou misteriosos candidatos a vítimas fazendo parte do exército de
zumbis controlados pelo monstro devorador de mentes, estão o Conde polonês
Maryan Petrovski (George Rigaud) e sua esposa Condessa Irina (Silvia Tortosa),
o padre fanático e não confiável Pujardov (Alberto de Mendoza) e a espiã
internacional Natasha (Helga Line), além do tirano cossaco Capitão Kazan (Telly
Savalas), que interceptou o trem no caminho para tentar colocar ordem no pânico
entre os passageiros.
“Expresso do Horror”, como
todos os filmes do cinema bagaceiro de horror e ficção científica, tem alguns
momentos equivocados com situações pouco convincentes e eventuais furos no
roteiro, mas certamente o que garante a diversão são os ataques sangrentos do
monstro ancestral tosco que se alimenta das informações dos cérebros de suas
vítimas. E também a presença de Christopher Lee e Peter Cushing, que sempre
possuem uma química incrível em cena, nos diversos filmes que fizeram juntos
num período que vai principalmente do final da década de 1950 a meados dos anos
1970. Dessa vez trabalhando mais em cooperação contra uma ameaça comum, sendo
que na maioria de seus filmes eles estão em lados opostos. Tanto Lee (falecido
em 2015) quanto Cushing (morreu em 1994), ao lado de Vincent Price, Boris
Karloff e Bela Lugosi, entre outros, estão imortalizados na história do cinema
de horror, com seus nomes eternamente associados ao gênero.
O filme foi lançado no Brasil em VHS pela “Videocast” e em DVD pela “Dark Side”. É conhecido também pelo título original espanhol “Pánico en el Transiberiano”. Apesar de não creditado, é considerado o segundo filme adaptado da história de ficção científica “Who Goes There?”, de John W. Campbell Jr., sobre uma criatura alienígena congelada que desperta e sobrevive em hospedeiros, e que já tinha virado filme em 1951 com “O Monstro do Ártico” (The Thing From Another World), que recebeu outras duas versões, “O Enigma de Outro Mundo” (1982) e “A Coisa” (2011).
(RR – 22/09/21)