No final dos anos 1950, a produtora
inglesa “Hammer” surgiu com a proposta de explorar novamente os tradicionais
monstros do cinema de Horror como o vampiro “Drácula”, “Criatura de
Frankenstein”, “Múmia”, “Fantasma da Ópera”, “Lobisomem”, entre outros.
Apostando na fotografia colorida e no vermelho do sangue, tivemos muitos filmes
que ficaram eternizados, agregando muito valor às carreiras de atores como
Christopher Lee e Peter Cushing, que se transformaram em ícones do gênero.
Mas, não é só de filmes de horror com
monstros que a “Hammer” é lembrada, pois o estúdio também tem em seu extenso
catálogo filmes com histórias de ficção científica. No caso de “Os Malditos” (These Are the Damned,
1963), o tema é a paranoia atômica que foi criada nas décadas de 50 e 60 do
século passado, com o medo do fim do mundo numa destruição com bombas
nucleares, durante a guerra fria entre Estados Unidos e a antiga União
Soviética, pelo domínio do planeta após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Com direção de Joseph Losey, fotografia
em preto e branco e história baseada no livro “The Children of Light”, de H. L.
Lawrence, o filme foi lançado em DVD no Brasil em 2015 pela “Versátil”, na
coleção “Clássicos Sci-Fi – Volume 1”, e também recebeu anteriormente os
títulos “O Mundo os Condenou” e apenas “Malditos”.
Um turista americano, Simon Wells
(Macdonald Carey), está na Inglaterra em férias quando conhece a jovem Joan
(Shirley Anne Field), irmã de King (Oliver Reed), o líder de uma gangue de
motoqueiros arruaceiros que roubam turistas com o uso de violência. Simon e
Joan acabam saindo juntos num passeio de barco, sendo perseguidos pelo irmão
ciumento da garota.
Eles passam a noite numa casa isolada
localizada perto de uma estação militar secreta e entram em contato com um
grupo misterioso de crianças que vivem em instalações subterrâneas da base do
exército. Inocentes, elas recebem bem os estranhos, ajudando-os a se esconderem
tanto do violento King quanto dos militares. Geladas e radioativas, as crianças
fazem parte de um sinistro experimento científico confidencial, liderado pelo
cientista Bernard (Alexander Knox), que esconde seu trabalho obscuro da amante
Freya Neilson (Viveca Lindfors), uma artista que faz esculturas bizarras.
“Os Malditos” é um filme diferente da
“Hammer”, bem longe dos monstros e horror gótico que normalmente caracteriza o
estilo da produtora. Com a fotografia em preto e branco, a história pessimista
explora o medo e tensão constantes gerados pela paranoia de uma catástrofe
nuclear, com um projeto científico sombrio envolvendo as crianças “malditas”. A
primeira metade é um pouco arrastada e a gangue de motoqueiros ladrões de turistas
não desperta muito interesse. Mas, as coisas melhoram bastante quando
efetivamente surgem as crianças sinistras, vítimas de uma conspiração militar
com objetivos sombrios. Carregado de mistério, o grupo não tem contato com o
mundo exterior, as crianças só conhecem as coisas no interior do subterrâneo e
nem imaginam quem são seus pais, não fazendo a menor ideia do propósito do
projeto científico em que fazem parte.
Entre as curiosidades, vale citar que o
filme é um dos primeiros trabalhos do ator Oliver Reed, com uma carreira bem
sucedida, e que esteve antes em “A Maldição do Lobisomem” (1962), também da
“Hammer”, no papel do homem transformado em lobo. Também é curioso o fato de
que as crianças misteriosas formavam um grupo de nove e todas tinham nomes de
reis ou rainhas da história da Inglaterra, como Henry e Victoria, as principais
crianças do grupo.
(RR – 16/02/21)