“A terra irá
tremer... covas serão abertas... eles virão até os vivos como mensageiros da
morte e haverá as noites de terror...”
O cinema fantástico italiano
é muito divertido e sangrento. A lista de filmes é imensa, assim como os
diretores que associaram seus nomes e eternizaram suas obras na história do
horror bagaceiro. Em 1981, o cineasta Andrea Bianchi lançou uma pérola do
horror explorando o sub-gênero dos zumbis, “Le Notti Del Terrore”. O filme
recebeu vários títulos no Brasil, como sempre apenas para confundir e
atrapalhar um eventual trabalho de catalogação e organização dos colecionadores
e apreciadores.
“A Noite do Terror” foi o nome no lançamento em VHS pela “Century
Video” (com uma capa péssima, sem relação com o filme). “A Noite dos
Mortos-Vivos” no lançamento em VHS pela “Poderosa Filmes” (aliás, confundindo o
nome com o clássico de George Romero, de 1968). Completando a bagunça, também
recebeu o título “Noites de Terror” quando foi lançado em DVD pela “Versátil”,
no box “Zumbis no Cinema – Volume 2”. Para o mercado internacional recebeu
também os nomes “Nights of Terror” e “Burial Ground”, entre outros.
O filme tem apenas um fiapo
de história, “mortos-vivos despertados que atacam um grupo de pessoas presas
numa mansão isolada, com o único objetivo de rasgar seus corpos e devorar suas
carnes”. Mas, o que interessa mesmo e sendo o motivo da diversão, é
precariedade geral da produção, com a exagerada violência sangrenta dos ataques
(e se ainda impressiona atualmente, imagine no distante ano de 1981...), além
da maquiagem e efeitos toscos dos zumbis.
Um veterano pesquisador de
ciências ocultas (Renato Barbieri) descobre um segredo misterioso na inscrição
de uma pedra antiga retirada de uma escavação arqueológica, despertando
acidentalmente uma legião de ancestrais etruscos mortos-vivos, que o atacam
violentamente ao sair de seus túmulos frios de pedra e covas podres sob a
terra.
Os zumbis então vão até uma
mansão isolada próxima para atacar um grupo de pessoas convidadas pelo
professor historiador. No grupo, temos dois empregados da mansão, Nicholas
(Claudio Zucchett) e Kathryn (Anna Valente), e três casais, George (Roberto
Caporali), Evelyn (Maria Angela Giordan) e seu filho Michael (Peter Bark), além
de Janet (Karin Well) e Mark (Gian Luigi Chririzzi), e James (Simone Matiolli) e
Leslie (Antonietta Antinori).
Com o caos instaurado, resta
somente ao grupo sitiado no imenso casarão com estilo gótico, lutar
desesperadamente por suas vidas, se defendendo dos mortos-vivos asquerosos que
querem saciar a sede de sangue e fome de suas carnes.
“A Noite do Terror” é uma
preciosidade do cinema tranqueira de horror, extremamente divertido não pela
história simples, rasa e quase inexistente, com personagens acéfalos que estão
ali apenas para servir de vítimas dos zumbis e que merecem mortes dolorosas, mas
pelos excessos de violência, sangue e cenas gráficas de mortes. Seguindo a
escola tradicional dos zumbis lentos, eles comem a carne humana, são destruídos
apenas com ferimentos na cabeça e as vítimas retornam também como mortos-vivos.
Um diferencial é que os zumbis até evidenciam um certo grau de inteligência,
quando organizam ações em grupos e portam armas como machados e foices para
seus ataques.
O filme tem decapitação,
cabeças esmagadas, zumbis em chamas (nesse caso em cenas bem produzidas e
convincentes) e tripas dilaceradas num banquete de sangue. Um destaque
certamente é o trabalho tosco de maquiagem dos zumbis, com vermes saindo das
cavidades dos olhos, e os efeitos das mortes violentas, tudo sem a
artificialidade da computação gráfica, garantindo os momentos de
entretenimento.
Apesar de ter “noite” no
nome, a primeira parte dos ataques dos zumbis é toda realizada em plena luz do
dia. O ator Peter Bark, que interpreta o garoto Michael, tinha na verdade 26
anos na época, e realmente não parecia uma criança, mas como tem algumas cenas
bizarras no relacionamento dele com a mãe, é fácil entender porque escolheram
um adulto com estatura menor para esse papel. Como a quantidade de zumbis em
cena é grande, é até compreensível por questões de orçamento que parte deles
nem estejam maquiados adequadamente, pois em algumas cenas podemos ver os
rostos dos atores apenas pintados de verde, sem a maquiagem de mortos
putrefatos.
Curiosamente, a primeira vez
que vi o filme foi por volta de 1988, numa fita VHS com o nome “A Noite dos
Mortos-Vivos”, alugada de uma locadora de bairro. Até hoje, sempre que passo
perto do local onde ela ficava lembro-me desse filme e do aluguel da fita. É um
momento nostálgico que ficou eternamente gravado na memória.
(RR
– 05/10/20)