Quando nos deparamos com um
filme com o título nacional “Sexta-Feira 13”, logo vem à cabeça a popular
franquia “slasher” com o psicopata mascarado Jason Voorhees, um ícone da
cultura pop, com seu primeiro filme lançado em 1979 (Friday the 13th). Porém,
existe outro filme com o mesmo nome nacional e título original “Black Friday”, com fotografia em preto
e branco, produção de baixo orçamento do longínquo ano de 1940, e com dois dos
maiores astros do cinema de horror de todos os tempos, o inglês Boris Karloff
(famoso principalmente pelo papel do “monstro de Frankenstein”) e o húngaro
Bela Lugosi (eternizado como o vampiro “Drácula” nos filmes da “Universal”). “Sexta-Feira 13” tem direção de Arthur
Lubin e roteiro de Eric Taylor e do alemão Curt Siodmak, autor conhecido pelas
histórias de diversos outros filmes como “O Lobisomem” (1941).
O cientista Dr. Ernest Sovac (Boris
Karloff) está envolvido num trabalho de pesquisa de transplante de cérebros.
Depois que seu grande amigo, o professor de literatura inglesa George Kingsley
(Stanley Ridges) sofre um acidente terrível, sendo atropelado por um carro em
fuga de uma perseguição com tiroteios, o cientista encontra uma oportunidade de
fazer uma experiência para tentar salvar a vida do amigo gravemente ferido com
uma lesão cerebral irreversível. O carro acidentado era dirigido pelo gangster
Red Cannon (também Ridges), que fugia dos antigos parceiros de crime, após um
roubo milionário. Fraturando a coluna no acidente, o criminoso teve partes de seu
cérebro transplantadas para o cérebro do professor, numa experiência ilegal em
seres humanos, e que o cientista só tinha realizado em animais.
O grupo de gangsters rivais, liderados
por Eic Marnay (Bela Lugosi), ainda era formado por Frank Miller (Edmund
MacDonald), William Kane (Paul Fix) e Louis Devore (Raymond Bailey). Numa
conspiração com a namorada de Red Cannon, Sunny Rogers (Anne Nagel), eles
tentam localizar e recuperar o dinheiro roubado. Em paralelo, a personalidade
pacífica do Prof. Kingsley oscila drasticamente com a influência da mente do
criminoso, que ao assumir o controle transforma-se num assassino, matando
violentamente seus rivais e policiais que cruzam seu caminho.
Enquanto a filha do cientista, Jean
Sovac (Anne Gwynne), junto com a esposa do professor, Margaret Kingsley
(Virginia Brissac), tentam entender e ajudar no conflito de personalidades, o
Dr. Sovac se interessa também pela fortuna em dinheiro, que financiaria seus
trabalhos de pesquisas, com sua ganância tumultuando ainda mais a confusão
gerada pela dupla personalidade do Prof. Kingsley.
“Sexta-Feira 13” tem apenas 70 minutos
de duração e é uma mistura de filme policial com elementos de horror e ficção
científica como pano de fundo, na ideia do tradicional “cientista louco” com suas
experiências para o bem da humanidade, e que tem consequências desastrosas.
Nesse caso, o transplante de partes de cérebros foi o responsável pela dupla
personalidade do Prof. Kingsley com o gangster Red Cannon, alternando entre um
homem pacato e um criminoso assassino, no estilo da clássica e popular história
do Dr, Jekyll e Sr. Hyde, “o médico e o monstro” de Robert Louis Stevenson.
O simples fato da presença de Boris
Karloff e Bela Lugosi, dois expoentes máximos do cinema de Horror e Ficção
Científica, já traz grande crédito para o filme, agregando valor com seus nomes
reconhecidos e requisitados na época. Mas, curiosamente eles não contracenam
juntos em nenhuma cena no filme, e Lugosi tem apenas um papel menor e
secundário, aparecendo pouco como um dos gangsters, enquanto Karloff é o
cientista responsável pelo elemento fantástico que gera o conflito na trama. E
certamente um destaque é a atuação de Stanley Ridges na interpretação dupla do
calmo professor e do inescrupuloso criminoso, simulando personalidades muito
distintas de forma convincente.
Informações de bastidores reveladas pelo
roteirista Curt Siodmak dizem que Karloff inicialmente ficaria com o papel do
Prof. Kingsley e o cientista Dr. Sovac seria interpretado por Lugosi, mas que
depois o famoso ator da “criatura de Frankenstein” desistiu da complexidade
exigida na atuação de um papel duplo e tomou o lugar de Lugosi como o
cientista. O ator de “Drácula” ficou então apenas com uma participação menor
como o líder dos criminosos que estão atrás do dinheiro roubado.
Outra curiosidade é que Curt Siodmak é também
o autor do conto “O Cérebro de Donovan” (1942), que recebeu algumas versões
para o cinema como “A Dama e o Monstro” (1944) e “Experiência Diabólica / O
Cérebro Maligno” (1953), cuja história é sobre um cérebro de um homem
inescrupuloso morto, mas que é mantido vivo fora do corpo e ainda consegue
manipular a mente das pessoas por telepatia.
(RR – 14/09/20)