O Poço e o Pêndulo / A Mansão do Terror (The Pit and the Pendulum, EUA, 1961)

 


“Está prestes a entrar no inferno. Inferno! O mundo das profundezas. A região infernal. A morada dos condenados. O local da tormenta. Pandemônio, Abbadon, Tophet, Gehenna, Naraka, o Poço! E o Pêndulo! A lâmina do limiar do destino.”


Nos anos 60 do século passado, o cultuado diretor e produtor Roger Corman, conhecido por sua habilidade em fazer ótimos filmes com orçamentos reduzidos, teve uma parceria produtiva com o ator Vincent Price, um dos grandes astros do cinema de Horror em todos os tempos, para a adaptação nas telas de alguns contos do escritor Edgar Allan Poe.

Dessa união de talentos saíram filmes divertidos e memoráveis como “O Solar Maldito” (1960), “O Poço e o Pêndulo” (The Pit and the Pendulum, 1961), que é o assunto dessa resenha, “Muralhas do Pavor” (1962), “O Castelo Assombrado” (1963), sendo este apenas levemente inspirado em Poe e com uma história de H. P. Lovecraft, “O Corvo” (1963), “A Orgia da Morte” (1964) e “Túmulo Sinistro” (1964). Alguns deles tiveram o roteiro assinado pelo especialista Richard Matheson, outro nome eternizado na história do cinema fantástico.

Para completar as várias atrações com nomes de personalidades associadas ao Horror, temos ainda a presença da “scream queen” Barbara Steele (“A Maldição do Demônio”, 1960) e produção executiva da “American International” de Samuel Z. Arkoff e James H. Nicholson.


A história de “O Poço e o Pêndulo” foi ambientada na Espanha do século XVI, na terrível época da Santa Inquisição, com o assassinato cruel e práticas de tortura em homens e principalmente mulheres acusadas falsamente de bruxaria, a favor de interesses dos poderes religiosos que dominavam a Europa.

Nesse cenário de devastação e prova da hipocrisia da raça humana, vivia Nicholas Medina (Vincent Price), filho do terrível inquisidor Sebastian Medina (também Price), num castelo imponente no alto de um morro rodeado pelas ondas furiosas do mar. Ele era atormentado pela herança maldita do pai assassino de inocentes, com uma câmara imensa no porão do castelo, repleta de instrumentos de tortura que só de olhar já sentimos dor.

Apesar do ambiente sinistro, ele era feliz com sua amada esposa Elizabeth Barnard Medina (Barbara Steele). Porém, após a morte misteriosa da bela mulher, chegou ao castelo o irmão Francis Barnard (John Kerr), vindo da Inglaterra para investigar e obter mais informações sobre a morte de Elizabeth.

O jovem inglês foi recebido por Catherine Medina (Luana Anders), irmã de Nicholas, que estava no castelo para cuidar do irmão triste e deprimido com a morte da esposa. Mesmo depois das explicações do médico da família Dr. Charles Leon (Antony Carbone) sobre a morte inesperada de Elizabeth num colapso nervoso ao visitar a câmara de torturas, o recém chegado visitante não se convenceu e se instaurou um clima de desconfiança no castelo, com consequências trágicas para todos.

 

“O Poço e o Pêndulo” também é conhecido no Brasil pelo título “A Mansão do Terror”. O filme tem todos os elementos normalmente encontrados no horror gótico, com um castelo tétrico cheio de aposentos imensos, móveis antigos, iluminação por velas e candelabros, ruídos constantes nos cantos escuros de gelar a espinha e o principal, uma câmara com instrumentos de tortura que foram responsáveis pelo sofrimento e morte dolorosa de muitas pessoas vítimas da Inquisição. Membros torcidos e quebrados, olhos arrancados das órbitas, carne sendo queimada até ficar preta. E um poço infernal com um pêndulo segurando uma lâmina imensa para dilacerar o abdômen das vítimas presas deitadas numa cama de pedra.

Alguns dos temas recorrentes na obra literária de Edgar Allan Por como maldição familiar, loucura, insanidade, conspiração, traição, vingança e a paranoia de ser enterrado ou emparedado vivo, estão presentes na atmosfera perturbadora do castelo, garantindo a diversão dos fãs do cinema de horror gótico e dos ícones do estilo como Roger Corman, Vincent Price e Richard Matheson.

Curiosamente, os cenários da câmara de tortura foram utilizados também em outro filme de Corman, “Sombras do Terror / Terror no Castelo” (The Terror, 1963), com Boris Karloff e Jack Nicholson. E um dos principais instrumentos de tortura é a “donzela de ferro” (“iron maiden”, que serviu de inspiração para o nome da famosa banda de Heavy Metal), um ataúde de ferro que mantinha uma pessoa presa em seu interior, com cravos que perfuravam o corpo da vítima, que agonizava lentamente ensanguentada.

Em 1991 a produtora “Empire Pictures” lançou outro filme inspirado nesse mesmo conto de Edgar Allan Poe, dirigido por Stuart Gordon e com Lance Henriksen e Jeffrey Combs.   


“... o tormento da minha alma foi extravasado em um alto, demorado, e final grito de desespero.” – Edgar Allan Poe


 (RR – 29/09/20)