Filmes abordados:
Ao Cair da Noite (It Comes at Night, EUA, 2017)
Ataque do Tubarão de 5 Cabeças, O (5-Headed Shark Attack, EUA, 2017)
Condenadas, As (L´ultima Orgia Del III Reich / The Gestapo´s Last
Orgy, Itália, 1977)
El Caminante (The Traveller, Espanha, 1979)
Maciste no Inferno (Maciste all´inferno, Itália, 1962)
Mortos Falam, Os (The Devil Commands, EUA, 1941, PB)
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* Ao Cair da
Noite (2017)
O triunfo da Morte
O fã de cinema de horror que está
procurando diversão escapista, barulheira, correrias desenfreadas, tiroteios,
sustos fáceis, sangue em profusão, tripas expostas, monstros em CGI, não irá
encontrar no filme “Ao Cair da Noite” (It Comes at Night, 2017), que estreou em
circuito comercial restrito nos cinemas brasileiros em 22/06/17, com cópias
originais legendadas. Porém, quem aprecia e procura uma história tensa, com
constante atmosfera sombria e perturbadora, carregada de paranoia, mistério,
pessimismo, com narrativa mais cadenciada onde toda esperança está abandonada,
num ambiente de grande pressão psicológica, além de um final depressivo, então
esse é o filme indicado.
Com direção e roteiro de Trey Edward
Shults, temos uma família morando isolada numa casa no meio da floresta,
formada pelo pai protetor, Paul (o australiano Joel Edgerton), a esposa Sarah
(a inglesa Carmen Ejogo), e o filho adolescente de 17 anos, Travis (Kelvin
Harrison Jr.), que tem pesadelos terríveis frequentemente. O clima é de tensão
constante, numa luta pela sobrevivência contra uma contaminação misteriosa que
aparentemente mergulhou o mundo no caos. Eles precisam eliminar a ameaça que
tomou o corpo do avô, Bud (David Pendleton), enterrado com o cadáver cheio de
feridas pestilentas e carbonizado por segurança. Porém, as coisas se complicam
mais ainda após a chegada de outra família pedindo refúgio, formada pelo jovem
casal Will (Christopher Abbott) e Kim (Riley Keough), e o filho pequeno Andrew
(Griffin Robert Faulkner).
Distanciando-se da fantasia tradicional do
cinema, “Ao Cair da Noite” se aproxima mais de uma possível realidade com o
mundo mergulhando numa contaminação devastadora não explicada, onde os
sobreviventes precisam lutar ferozmente por suas vidas fragilizadas. Trazendo à
tona seus instintos mais selvagens de sobrevivência, utilizando-se de violência
e desconfiança para a autopreservação, eliminando gradativamente os sentimentos
e emoções que caracterizam a humanidade, dando lugar à frieza e
indiferença.
Indo na contra mão do cinema que prioriza o
entretenimento com pipoca e refrigerante, “Ao Cair da Noite” aposta no
mistério, na falta de informação sobre os trágicos acontecimentos externos, no
clima de tensão devido à luta selvagem pela sobrevivência, no desespero
crescente do fim aparentemente inevitável da humanidade, dizimada por uma
doença sem nome.
Após ver o filme e com o sentimento perturbador e
desconfortável que invade o espectador, temos a sensação de que seriam pessoas
de sorte todas aquelas que fossem carregadas pela Morte logo no início do
apocalipse, caso um dia uma pandemia devastasse a Terra.
(RR – 03/07/17)
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Ataque do Tubarão de 5 Cabeças, O (2017)
Fazendo parte da moda de filmes com tubarões mutantes patéticos, temos um
com tantas cabeças que nem cabem no corpo
A produtora americana “The Asylum” é
conhecida pelos seus filmes ruins. Porém, na maioria das vezes tão ruins que
não divertem, sempre com histórias rasas, elenco amador e efeitos toscos com
CGI vagabundo e inconvincente. Eles sempre estão contribuindo com a moda de
filmes ridículos com tubarões assassinos, intensificada principalmente após o
sucesso popular da franquia “Sharknado”, iniciada em 2013. São tantos filmes
absurdos com essa temática que nem vale a pena um esforço para catalogação de
tanta tranqueira lançada sem o mínimo de controle de qualidade. Em 30/07/2017,
em parceria com o canal de TV a cabo “SyFy”, foi lançada mais uma bagaceira: “O
Ataque do Tubarão de 5 Cabeças” (5-Headed Shark Attack), com direção do
estreante Nico De Leon..
Uma ilha em Porto Rico tem sua rotina
paradisíaca alterada após a ocorrência de várias mortes violentas no mar, que
são creditadas para um imenso tubarão mutante com cinco cabeças, uma anomalia
da natureza ávida pela carne humana. O dono inescrupuloso de um aquário,
Thaddeus Marshall (Jeffrey Holsman) decide pressionar a bióloga marinha Dra.
Angie Yost (Nikki Howard) junto com alguns jovens estagiários, para tentarem
capturar o tubarão vivo, com o objetivo de exposição ao público e com isso alavancar
os negócios com o aquário decadente, nem que signifique algumas perdas de vidas
na caçada. Eles contam com a ajuda de um caçador experiente e mercenário, Red
(Chris Bruno), e também com os esforços de salvamento da polícia local,
representada pelo Capitão Sterling (Nicholas Nene).
A história é superficial, com conversas
banais e tentativas mal sucedidas de piadas em meio às cenas de ataques do
tubarão. Tudo apenas para preencher o tempo e que não funcionam, contribuindo
ainda mais para nossa torcida pelo monstro. Os roteiristas não estão
interessados em gastar energia com qualquer tipo de criatividade, utilizando
clichês exaustivos de dezenas de filmes similares com tubarões comedores de
gente. Para se ter uma ideia da bizarrice desse filme e da total falta de
vontade dos realizadores em tentar inovar, nem que seja apenas um pouco, já
tivemos anteriormente outros filmes praticamente iguais, apresentando tubarões
de duas e três cabeças. São eles: “Ataque do Tubarão Mutante” (2-Headed Shark
Attack, 2012) e “O Ataque do Tubarão de 3 Cabeças” (3-Headed Shark Attack,
2015), este último contando no elenco com o cultuado e veterano ator
especialista em bagaceiras Danny Trejo, sendo ambos também produzidos pela “The
Asylum”. Como não existe espaço físico suficiente para a colocação de mais
cabeças no tubarão, talvez as 5 do monstro desse filme sejam o limite.
O filme é tão bagaceiro e seus
realizadores tão desinteressados com o espectador, que o tubarão mostrado em
boa parte do filme tem “apenas” 4 cabeças, provavelmente pela dificuldade de
espaço físico, e somente depois de muitos ataques e mortes, veio a revelação do
nascimento de uma quinta cabeça na cauda. A criatura mutante que estampa o
pôster de divulgação não existe.
Em minha resenha do filme do tubarão com 3
cabeças, publicada tanto no blog “Almanaque da Arte Fantástica Brasileira” http://almanaqueafb.blogspot.com.br/2015/08/o-ataque-do-tubarao-de-3-cabecas-3.html,
como no site “Boca do Inferno” http://bocadoinferno.com.br/criticas/2015/09/o-ataque-do-tubarao-de-3-cabecas-2015/),
conclui o texto de forma tolerante com os produtores, que estavam entregando
uma porcaria descompromissada com a coerência e talvez até certo ponto honesta
com o público, que sabia o que iria consumir. Mas, depois de lançarem um
tubarão com 5 cabeças, fica difícil manter qualquer tolerância. Existe uma
competição entre os roteiristas sobre a mais ridícula, bizarra e absurda
história de tubarão assassino, com os mesmos exageros de sempre e efeitos
falsos de computação gráfica nas cenas supostamente sangrentas. Esse tema já
está desgastante e cansativo.
Curiosamente, como homenagem ou simples
brincadeira, tem uma citação da bióloga Dra. Yost sobre a cultuada série de
filmes “Sharknado”, quando ela diz que os grandes tubarões brancos não atacam
pessoas em barcos e ironizando se eles voassem através de tornados.
(RR – 07/08/17)
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As Condenadas (1977)
Obscuro nazisploitation com sadismo, torturas e violência contra mulheres
prisioneiras de guerra
Lançado em fita VHS no Brasil pela
“Century Video”, “As Condenadas” é um filme italiano de 1977 que tem o sonoro
título internacional “The Gestapo´s Last Orgy”, tradução literal em inglês do
original “L´ultima Orgia Del III Reich”. É um obscuro “nazisploitation” repleto
de sadismo e violência contra mulheres judias num campo de concentração alemão
na Segunda Guerra Mundial, um local especial para receber as prisioneiras com o
intuito de entreter os oficiais e soldados nazistas.
Com direção de Cesare Canevari (1927 /
2012), a história apresenta uma bela e jovem mulher, Lisa Cohen (Daniela Poggi,
creditada como Daniela Levy), que se encontra com o antigo amante num campo de
concentração abandonado em ruínas, após o fim da Segunda Guerra Mundial. Ele
era o líder do presídio, Comandante Conrad von Starker (Adriano Micantroni,
creditado como Marc Loud), que dirigia o lugar com crueldade, sendo responsável
por torturá-la até que se tornasse sua amante.
Primeiramente, como ela sentia-se culpada
pela morte dos pais, perdeu o interesse pela vida e reagia com frieza e sem
emoções diante das torturas físicas e psicológicas. Depois, recuperou o desejo
de viver e cedeu às imposições do comandante alemão. Porém, depois de
engravidar e ver o destino terrível de seu filho com sangue judeu, Lisa espera
o fim da guerra para reencontrar seu algoz, reviver o passado tenebroso e
terminar o pesadelo.
“Vou
destruir seu corpo e sua mente. E o único modo, o único de temer a morte, é
ficando viva. E quando aquele momento, só quando aquele momento chegar, você
morrerá.” – Comandante Conrad von Starker
O filme fez parte da lista de “vídeos
nasty” por causa do conteúdo violento, sendo banido na Inglaterra, tanto que
essa informação está estampada num dos cartazes originais, como forma de chamar
a atenção do público. O fato pode ser explicado pelas inúmeras cenas
perturbadoras de horror bizarro e violência contras as mulheres prisioneiras.
Elas são espancadas e utilizadas como escravas sexuais para os soldados alemães
estressados com os conflitos nos campos de batalha, e para satisfazer os
sádicos oficiais que sentem prazer em infligir castigos dolorosos.
Entre as bizarrices incompatíveis com
qualquer senso de racionalidade, temos uma mulher oferecida viva como alimento
para cães raivosos, atos de coprofagia, estupros coletivos, execuções em câmera
de gás e reservatório de ácido, mulheres penduradas de cabeça para baixo
próximas de ratos famintos aguardando a refeição. Ou, podendo servir como um
ápice para esse conjunto de atrocidades, uma mulher é embriagada e depois
queimada no meio de um jantar de gala dos oficiais, onde o prato principal é
carne humana de judeus executados e bebês recém-nascidos.
A violência apresentada nem é tão gráfica,
existindo uma infinidade de outros filmes mais extremos e sangrentos. Porém, o
que o aproxima de ser considerado perturbador são as várias cenas de conteúdo
transgressor e que chocam pela crueldade.
Curiosamente, “As Condenadas” também
possui outro título original igualmente estranho e incomum, “Calígula
Reincarnated as Hitler”, numa referência ao cruel tirano e imperador romano
Calígula, retornando dos mortos e reencarnando no ditador alemão Adolf Hitler.
“Quando
o super-homem deseja se divertir, ele deve fazê-lo com o preço da vida dos
outros.” – introdução do filme – palavras de Friedrich Niezsche (1844 / 1900),
filósofo e poeta alemão conhecido pelos textos recheados de metáforas, ironias
e aforismo.
(RR – 03/08/17)
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El Caminante (1979)
Mais uma preciosidade do multifuncional Paul Naschy, que dirige, escreve e
atua num filme obscuro de horror com elementos de crítica social
O espanhol Paul Naschy (1934 / 2009) é um
dos grandes nomes do cinema de horror bagaceiro europeu, com uma carreira
imensa como ator, roteirista e diretor. “El Caminante” (1979, também conhecido
pelo título em inglês “The Traveller”) é mais uma pérola obscura de seu
produtivo currículo, dirigindo e escrevendo a história sob o pseudônimo Jacinto
Molina, além de atuar liderando o elenco repleto de belíssimas mulheres em
várias cenas de nudez.
Ele interpreta Leonardo, um viajante que
caminha sem destino, enfatizando um discurso que defende a ideia que a
humanidade é uma raça corrompida de natureza ruim e mesquinha. E que a
religião, os escrúpulos e a consciência são bobagens para fracassados. Segundo
ele, a vida apenas vale a pena com dinheiro e prazer, e que para obtê-los não
se deve medir esforços, sendo permitido matar se necessário, e até vender a
alma ao diabo.
O andarilho encontra em seu caminho e
resgata o jovem Tomás (David Rocha), que era um servo maltratado por seu
mestre, um velho cego. A partir daí, eles andam juntos e Leonardo decide
mostrar como eles poderiam melhorar de vida rapidamente enganando e roubando as
pessoas que cruzassem seu caminho. Para ele, soberba, malícia, ira, gula,
inveja e preguiça são características humanas que facilmente condenam uma alma
ao diabo. Debochando o tempo todo da honestidade e da religião, ele é o próprio
demônio caminhando na Terra, se divertindo com os homens fracos que matam,
roubam, fraudam, invejam e odeiam, terminando sempre nas mãos do diabo.
Entre as peripécias do obscuro caminhante,
com a eventual ajuda do jovem aprendiz, temos vários momentos onde enganam e
roubam tanto ricos como pobres, se escondem num convento, assumem identidades
falsas de religiosos, se aproveitam das freiras, e se envolvem com prostitutas
de um bordel. Entre as vítimas, uma mãe deprimida e com tendências suicidas
depois que é enganada pelo viajante na tentativa de salvar sua filha doente.
Porém, a ganância e falta de caráter os coloca inevitavelmente um contra o
outro, tornando-se inimigos, numa reviravolta que apenas valida a ideologia de
uma humanidade caracterizada essencialmente pela desonestidade.
“El Caminante” é um passeio do diabo na
forma humana pela Terra, com uma história interessante e divertida, focada na
crítica social denunciando a natureza pervertida da humanidade. Com elementos
de humor negro impagáveis como a freira obesa que está sempre dormindo e
soltando gases, ou as conversas hilárias entre Leonardo e Tomás sobre um
incidente no bordel onde o mais jovem foi vítima de uma conspiração do
experiente andarilho.
Curiosamente, Leonardo utiliza seu poder
sobrenatural com o intuito de mostrar para Tomás em imagens de pesadelos, o
futuro da humanidade numa sucessão de cenas perturbadoras e depressivas de
guerras, mortes em campos de concentração e destruição com bombas atômicas.
(RR – 26/08/17)
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* Maciste no
Inferno (1962)
Uma mistura de horror gótico com herói justiceiro, numa aventura
literalmente pelo inferno para salvar um vilarejo da maldição de uma bruxa
Maciste é um herói justiceiro similar ao
popular Hércules, que defende os pobres, fracos e oprimidos contra as forças do
mal. Extremamente forte e musculoso, ele é interpretado pelo ator italiano
Adriano Bellini (creditado com o manjado pseudônimo americano Kirk Morris) em
vários filmes com o mesmo personagem. Em “Maciste no Inferno” (Maciste
all´inferno), produção italiana de 1962, sua aventura para salvar os aldeões de
um pequeno vilarejo, livrando-os de uma maldição lançada por uma bruxa
executada na fogueira, o leva literalmente para um passeio no inferno.
Combatendo animais violentos como um leão, uma cobra enorme, uma águia
carniceira e uma manada de bois ferozes, além de um homem gigante, em efeitos
extremamente toscos e bizarros.
Com direção de Riccardo Freda (com o
pseudônimo Robert Hampton), a história mistura elementos de horror gótico com
filmes épicos de fantasia. Um jovem casal formado por Charley Law (Angelo
Zanolli) e Martha Gaunt (Vira Silenti) muda-se para um castelo sinistro na
Escócia, e são mal recebidos pelos aldeões do vilarejo próximo, que decidem
hostilizá-la com tochas e ferramentas cortantes acusando-na de ser uma
descendente de uma bruxa queimada na fogueira da inquisição em 1515, e que
havia prometido vingança e maldição aos seus executores, sob o comando do juiz Edgar
Parris (Andrea Bosic).
Maciste aparece do nada e salva a mulher do
linchamento, mas não consegue impedir que ela seja julgada por um tribunal
inquisidor e condenada à morte na fogueira por suposta bruxaria. Para tentar
impedir a execução, Maciste vai para o inferno em busca da bruxa. No caminho,
enfrenta animais ferozes, encontra pessoas sofrendo torturas infindáveis de
monstros e demônios, remove pedras gigantescas com as mãos, nunca usa armas e
ao atravessar uma porta de fogo encontra uma bela e misteriosa mulher, Fania
(Hélène Chanel), que tenta ajudá-lo em sua missão.
O filme desperta algum interesse em seu primeiro ato,
ao explorar elementos sempre atraentes do horror gótico, com um castelo sombrio
repleto de morcegos, aldeões supersticiosos e uma bruxa queimada na fogueira,
amaldiçoando seus executores. Depois, quando surge o herói justiceiro sem
camisa, com suas boas intenções de mocinho, numa improvável viagem ao inferno,
a história mudou de rumo e inevitavelmente seguiu em direção ao tédio. Nem os
efeitos toscos de um filme bagaceiro, nas lutas com animais falsos (ou grandes
bichos de pelúcia), ou as pedras de isopor do inferno, conseguiram minimizar a
sensação de sonolência no espectador. Seguem as palavras do próprio Maciste,
que fala pouco e fica o tempo todo demonstrando ações de força bruta: “Meu
destino é ajudar as pessoas que sofrem pela opressão e crueldade ao redor do
mundo”. Dessa forma, os elementos de horror gótico do início do filme deram
lugar para uma aventura simples e patética de um herói fazedor de justiça.
Entre as curiosidades, vale citar:
* enquanto Maciste está no inferno, temos várias cenas
simulando imagens do passado, reproduzindo suas aventuras anteriores como uma
luta contra um ciclope e contra um exército tirano chinês.
* Nos Estados Unidos o filme recebeu o título “The
Witch´s Curse”.
* As cenas ambientadas no inferno foram filmadas numa
região de cavernas na cidade italiana de Bari, e são bem interessantes,
independente da história trivial do filme.
* Em 1961 teve outro filme italiano similar, “Hércules
no Centro da Terra” (Hercules in the Haunted World), dirigido por Mario Bava e
com Christopher Lee, sobre a aventura do fortão Hércules no submundo, um lugar
que podemos chamar de inferno.
* Outros filmes do ator Kirk Morris creditado como Maciste: “O Triunfo de Maciste” (1961), “Hercules in the Valley of Woe” (1961), “Colossus and the Headhunters” (1963), “Atlas Against the Czar” (1964) e “Hércules, o Invencível” (1964).
(RR – 23/07/17)
(RR – 23/07/17)
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* Os Mortos
Falam (1941)
Quando o diabo manda, Karloff obedece...!
O ícone do cinema de horror Boris Karloff
(1887 / 1969) ficou eternizado na história por seu papel do “monstro de
Frankenstein”. Mas, em sua carreira produtiva com mais de 200 créditos, também
se destacam suas performances como o tradicional “cientista louco” que trabalha
incansavelmente em descobertas científicas para o bem da humanidade, e que se
sente incompreendido pela sociedade com suas criações transformando-se em
tragédias. É o caso de “Os Mortos Falam”, filme do distante ano de 1941,
dirigido por Edward Dmytryk, produzida pela “Columbia” com fotografia em preto
e branco e duração curta de apenas 65 minutos. Uma das taglines promocionais do
filme (reproduzida acima) brinca com seu nome original “The Devil Commands” e o
apelo comercial do nome de Boris Karloff como astro do Horror, imortalizado
para sempre junto com Bela Lugosi, Vincent Price, Peter Cushing, Christopher
Lee e outros.
Karloff é o “cientista louco” Dr. Julian
Blair, que faz experiências com ondas cerebrais humanas, e acredita que mesmo
após a morte, elas continuam vivas e podem ter seus impulsos gravados numa
máquina especial criada por ele, estabelecendo dessa forma um tipo de
comunicação com os mortos (dessa ideia deve ter vindo a escolha do título
nacional). Ele é auxiliado pelo também cientista Dr. Richard Sayles (Richard
Fiske), e juntos trabalham num laboratório repleto de aparelhos elétricos
enormes, com botões medidores e alavancas de acionamento para todos os lados.
Porém, tudo começa a mudar para pior depois que a amável esposa do Dr. Blair,
Helen (Shirley Warde), é vítima fatal de um bizarro acidente de carro nas
proximidades do laboratório. Muito perturbado e desorientado por causa da morte
repentina da esposa, e com seu trabalho científico desacreditado pelos colegas,
o cientista decide se mudar para uma mansão isolada no alto de um penhasco na
costa da Nova Inglaterra.
Nesse local sinistro, em meio a
tempestades constantes, ele continua suas experiências macabras, influenciado
por uma vidente de caráter duvidoso, Sra. Blanche Walters (Anne Revere), que
tem interesses obscuros no sucesso dos testes com os cérebros humanos. Também
conta com os serviços braçais de Karl (o ator Cy Schindell, creditado como
Ralph Penney), um homem bruto e desajeitado que teve o cérebro torrado numa das
experiências mal sucedidas do cientista.
Uma vez preocupada com o bem estar e ações
misteriosas do pai, a jovem filha do cientista, Anne Blair (Amanda Duff), tenta
localizá-lo com a ajuda do Dr. Sayles, para persuadi-lo a interromper seu
trabalho suspeito. Enquanto paralelamente o xerife local, Ed Willis (Kenneth
MacDonald), está investigando o desaparecimento de cadáveres do cemitério
próximo ao laboratório do Dr. Blair, desconfiado de alguma conexão com as
bizarras experiências do cientista, cada vez mais temido e indesejável pelos
moradores do vilarejo vizinho da mansão.
“Este mago louco mata à vontade a serviço de Satã!” –
uma das taglines promocionais do filme
“Os Mortos Falam” é mais uma bagaceira
divertida que pertence ao sub-gênero “cientista louco”, com a participação do
lendário Boris Karloff, motivo mais que suficiente para o filme se destacar
entre a incontável quantidade de produções similares. Temos todos os principais
elementos característicos como o laboratório científico exagerado, muito
bizarro para a época (quase 80 anos atrás), a mansão no alto de um penhasco à
beira do mar, um ambiente extremamente sinistro e apropriado para uma história
de horror, e o cientista com boas intenções que foi vítima de uma tragédia
pessoal, sendo corrompido pela descrença e obcecado por um objetivo científico
com resultados catastróficos. Suas ações suspeitas, resultado da obsessão em se
comunicar com a esposa falecida, despertaram a desconfiança das autoridades e a
ira cega dos vizinhos, que por temerem o desconhecido, desejavam sua
destruição.
O maior destaque, além da atuação
convincente de Boris Karloff como o cientista de boas intenções distorcido para
“louco”, são as cenas das experiências com os mortos, vestindo armaduras de aço
parecidas com trajes espaciais toscos, com seus cérebros conectados uns aos
outros, simulando uma única grande rede de ondas cerebrais. Remetendo-nos
totalmente ao cinema fantástico bagaceiro, onde o horror e a ficção científica
caminham juntos para um resultado bizarro de puro entretenimento.
“Se a Ciência puder abrir a mente humana, poderá
descobrir os segredos de cada cérebro humano.” – Dr. Julian Blair
(RR –
26/06/17)