Filmes abordados:
Dracano (Dracano / Dragon Apocalypse, EUA / Canadá, 2013)
Incrível Homem Que Encolheu, O (The Incredible Shrinking Man, EUA, 1957, PB)
Monstro de Mil Olhos, O (Return of the Fly, EUA, 1959, PB)
Mosca da Cabeça Branca, A (The Fly, EUA, 1958)
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* Dracano
(2013)
“Dracano” ou “Dragon Apocalypse” é mais um
daqueles típicos filmes ruins exibidos no canal de TV a cabo “SyFy”, com um
roteiro péssimo, elenco inexpressivo e efeitos especiais em CGI vagabundo, que
são as características principais do que costumo chamar de “cinema fantástico
bagaceiro do século XXI”.
Na história, um casal de cientistas, Simon
Lowell (Corin Nemec) e a namorada Carla Simms (Victoria Pratt), trabalham
juntos numa faculdade com um projeto intitulado “Kronos”, estudando as
atividades de vulcões com uma tecnologia experimental instalada no Monte Baker,
no Estado americano de Washington. Entre os objetivos estão a detecção prévia
de erupções, minimizando a ação de desastres, e a conversão da lava vulcânica
em energia limpa. Ainda tem a adolescente Heather Lowell (Mia Faith), filha do cientista,
que está sempre acompanhando o trabalho do pai. Porém, um acidente faz com que
a faculdade cancele o apoio e os cientistas tornam-se alvos de perseguição,
tentando provar que o projeto não tem responsabilidade numa erupção que dizimou
muitas pessoas. Em paralelo, ficamos sabendo que os vulcões escondem por
séculos casulos em seu interior que abrigam criaturas aladas carnívoras, um
fato que já é de conhecimento do governo americano há muito tempo e que tem
sido mantido oculto da população, numa típica conspiração, por não saberem como
combater a ameaça. Depois que uma infestação de dragões invade os céus em busca
de alimento, com os humanos no cardápio, o exército, com as ações lideradas
pelo austero General Hodges (Troy Evans), auxiliado pelo Coronel Maxwell
(Robert Newman), localiza o cientista Lowell para tentarem utilizar seus
conhecimentos como especialista em vulcanologia e o projeto “Kronos” e impedir
o apocalipse dos dragões.
O
mais importante em qualquer filme é contar uma boa história. Se o roteiro for
interessante, a diversão já é garantida, e o restante, como efeitos especiais e
a produção em geral, tornam-se apenas complementos de importância menor. Mas,
se a história é ruim, cheia de clichês e absurdos, é muito difícil criar uma
empatia, por menor que seja, com o filme.
Em “Dracano”, dirigido por Kevin O´Neill
(cujo currículo é maior na área de efeitos especiais), a história é patética,
com personagens fúteis, piadas ridículas, monstros artificiais em péssima
computação gráfica que não convence, e um desfecho previsível e extremamente
banal. Tem o cientista injustiçado que salva o mundo, a adolescente acéfala que
torcemos inutilmente para virar comida dos monstros, e os militares calculistas
metidos a heróis e que acham que a solução é destruir o inimigo com violência
não se importando em explodir a ameaça com uma bomba nuclear.
A única pergunta que fica é como os
produtores e toda a equipe envolvida, de técnicos aos atores, conseguem
encontrar um mínimo de motivação para fazerem um filme tão descartável e que
cujo lugar é o inevitável limbo eterno das produções esquecidas.
(RR –
15/03/16)
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* Incrível
Homem Que Encolheu, O (1957)
Produção da “Universal” de 1957 com
fotografia em preto e branco, “O Incrível Homem Que Encolheu” tem direção de
Jack Arnold e história de Richard Matheson, dois especialistas no gênero
fantástico. Arnold (1916 / 1992) tem no currículo preciosidades como “Veio do
Espaço” (1953), “O Monstro da Lagoa Negra” (1954), “A Revanche do Monstro”
(1955), “Tarântula!” (1955), “Mensagem do Planeta Desconhecido” (1958) e “O
Monstro Sanguinário” (1958). E o escritor Matheson (1926 / 2013) escreveu
vários episódios da série de TV “Além da Imaginação” e roteiros de filmes
produzidos por Roger Corman e inspirados em Edgar Allan Poe
como “O Solar Maldito” (1960), “O Poço e o Pêndulo” (1961), “Muralhas do Pavor”
(1962) e “O Corvo” (1963). Também escreveu os roteiros de “Farsa Trágica”
(1964), “As Bodas de Satã” (1968), da “Hammer” e “Encurralado” (1971), de
Steven Spielberg, e parte de seus livros foram adaptados para o cinema em
filmes como “Mortos Que Matam” (1964) e “A Casa da Noite Eterna” (1973).
“Minha prisão. Uma área perigosa e
solitária no espaço e no tempo. Pensei que assim como o homem tinha dominado o
seu mundo, eu dominaria o meu.” – Scott Carey, analisando o porão de sua casa.
Scott Carey (Grant Williams) está passeando
com sua esposa Louise (Randy Stuart) num barco no mar, descansando e tomando um
banho de sol. Porém, uma misteriosa nuvem radioativa surge no caminho e apenas
ele entra em contato com a estranha neblina. Passados alguns meses e depois que
ele também entra em contato aleatório com uma névoa de inseticida, percebe que
suas roupas estão ficando folgadas no corpo. Analisando melhor o mistério,
descobre que está incrivelmente encolhendo e exames médicos indicaram uma
reorganização da estrutura molecular das células de seu corpo, provocada pela
exposição à radiação misturada com o inseticida. Com o encolhimento crescente e
desenfreado de seus órgãos, Scott Carey tornou-se vítima da imprensa
sensacionalista e se isolou do convívio social. Diminuiu tanto de tamanho que
passou a morar numa casa de bonecas, lutando por sua vida contra a ameaça de
seu gato de estimação. Com o encolhimento progressivo e depois de um acidente
num confronto com o imenso gato, ele cai no porão e mora numa caixa de
fósforos. Na nova condição repleta de perigos e dificuldades para a
sobrevivência, ele terá que lutar o tempo todo por sua vida, encolhendo sem
parar, enfrentando desde uma inundação com um vazamento de água de um cano até
a batalha mortal com uma aranha enorme que vive no porão e quer manter seu
domínio no local.
“Meu inimigo parecia imortal. Mais que uma
aranha, ele representava todos os medos desconhecidos do mundo. Todos eles,
juntos num medonho horror negro.” – Scott Carey, sobre a guerra contra a aranha
colossal.
“O Incrível Homem Que Encolheu” é uma
pérola do cinema fantástico dos anos 50 do século passado, geralmente
considerado pelos apreciadores do gênero como um dos mais importantes filmes de
todos os tempos. Ambientado numa época onde a guerra fria entre os Estados
Unidos e a antiga União Soviética pela supremacia do mundo, gerava um clima
desconfortável de constante instabilidade e medo de um apocalipse nuclear, com
a especulação dos efeitos destrutivos do uso indevido da radiação. A
espetacular história mantém o interesse contínuo fazendo o espectador torcer
pelo sucesso do protagonista, entendendo seu drama incomum e criando uma
empatia por sua grave situação de homem encolhido que luta pela vida num
ambiente onde tudo se transforma em perigoso e potencialmente mortal. Sem
contar o imenso esforço psicológico para suportar a nova condição e não
enlouquecer ou entrar num estado de depressão sem volta, perante o completo
cenário pessimista ao seu redor. É difícil até imaginar como seriam nossas
ações se tivéssemos que enfrentar uma situação similar, num mundo novo de
desafios e perigos, onde o ápice do caos está no confronto com uma aranha que
se transformou num monstro gigante pela perspectiva do homem encolhido.
Apesar de uma produção de baixo orçamento,
os efeitos especiais são excelentes, principalmente pela época e pelos recursos
disponíveis, num período sem a facilidade e artificialidade da computação
gráfica, utilizando a construção de mobílias e objetos gigantes para simular a
condição diminutiva do personagem. Além de efeitos eficientes de trucagem em
cenas como a perseguição do gato de estimação, que de dócil tornou-se um
monstro carnívoro ameaçador.
O desfecho, carregado de comentários
filosóficos do protagonista, refletindo sobre questões existenciais, é
memorável e se destaca na história do cinema de Ficção Científica, ao lado de
outros marcantes como “O Homem dos Olhos de Raio-X” (1963) e “O Planeta dos
Macacos” (1968).
“Mas, de repente entendi que eram dois
extremos de um mesmo conceito. O incrivelmente pequeno e o vasto acabaram se
encontrando, como se um grande círculo se fechasse. Olhei para o céu como se de
algum modo pudesse compreender, o céu, o universo, os mundos infinitos, a
tapeçaria prateada de Deus que cobre a noite. Eu ainda existo.” – Scott Carey,
refletindo sobre sua nova condição como “o incrível homem que encolheu”, e que
continua encolhendo de forma infinitesimal.
Curiosamente, o escritor Richard Matheson
criou uma história para possível sequência onde Louise Carey, a esposa do homem
encolhido, também teria que enfrentar o mesmo drama, porém o projeto foi
cancelado pelos produtores. E um erro atribuído ao filme é que a aranha
utilizada é uma tarântula, porém esses aracnídeos não vivem em teias como
mostrado, e sim em tocas e buracos.
(RR – 19/02/16)
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* Monstro
de Mil Olhos, O (1959)
O sucesso de “A Mosca da Cabeça Branca” (The
Fly, 1958) inevitavelmente despertou a atenção dos produtores para o lançamento
de uma continuação. Então, no ano seguinte, só que com fotografia em preto e
branco para reduzir os custos, foi lançado “O Monstro de Mil Olhos”, escrito e
dirigido por Edward L. Bernds (1905 / 2000), um cineasta mais conhecido por
seus filmes de comédia, mas que dirigiu algumas preciosidades do cinema
fantástico bagaceiro como “Vinte Milhões de Léguas a Marte” (1956), “Rebelião
dos Planetas” (1958) e “Valley of the Dragons” (1961).
Após quinze anos da experiência com
teletransporte do “cientista louco” do filme original, cujos resultados
catastróficos transformaram-no num monstro misto de homem e mosca, seu filho
Philippe Delambre (Brett Halsey) tenta seguir os passos do pai., depois da
morte da mãe, deprimida com a tragédia do passado. Ele convence com muito custo
o tio François (Vincent Price) para patrocinar a aquisição de novos
equipamentos para montar um novo laboratório e retomar o projeto de
desintegração e reintegração de matéria, transmitindo estruturas moleculares e
explorando terras selvagens do conhecimento científico. Ele tem um parceiro,
Alan Hinds (David Frankham), que possui interesses obscuros ao fazer parte do
projeto, roubando as ideias com o intuito de vendê-las para magnatas da
indústria eletrônica. Ele é aliado de Max Barthold (Dan Seymour), um criminoso
interceptador de objetos roubados. Num confronto entre eles, o jovem cientista
Philippe torna-se vítima do mesmo acidente que ocorreu com seu pai. Virando um
monstro com cabeça, braço esquerdo e perna direita de mosca, fugindo
desorientado do laboratório e despertando a atenção da polícia, através das
investigações do Inspetor Beecham (John Sutton), que já tinha enfrentado
situação similar ao auxiliar o Inspetor Charas no filme anterior.
Essa continuação é uma produção com
orçamento bem modesto e duração curta, com apenas 77 minutos. Foi claramente
lançada numa jogada oportunista dos produtores para tentar lucrar com a boa
receptividade do filme original. Tanto que a história é muito similar, contando
apenas com o acréscimo de outros personagens coadjuvantes e o fato do “homem
transformado em monstro” sair do laboratório e percorrer as ruas em busca de
vingança, com algumas mortes dos oponentes que causaram sua tragédia. Os
efeitos são extremamente bagaceiros, principalmente a representação de um
porquinho da índia com mãos humanas, depois que o bicho se misturou com um
policial que investigava os crimes de Alan Hinds, e foi colocado na máquina de
teletransporte, se transformando numa criatura bizarra com as patas do animal.
Mas em compensação, o cientista com uma cabeça enorme de mosca ficou mais
interessante que no filme original, onde a cabeça de mosca do cientista
transformado era bem menor e menos assustadora. Outro detalhe desabonador é o
desfecho comum e previsível, com resultados improváveis.
A questão é que “O Monstro de Mil Olhos” é
na verdade apenas mais um filme bagaceiro de horror com elementos de ficção
científica, igual a centenas de outros com características parecidas. E o
diferencial que o tornou mais conhecido é apenas o fato de ser uma continuação
do clássico “A Mosca da Cabeça Branca”, além também por ter o privilégio da
presença de Vincent Price no elenco. Se não fosse por isso, provavelmente o
filme se perderia na imensidão de produções similares.
“O Monstro de Mil Olhos” foi seguido por “A Maldição
da Mosca” (1965), que concluiu a trilogia. Depois, em 1986, a história de George
Langelaan foi novamente adaptada para o cinema em “A Mosca”, de David
Cronenberg, apostando em cenas sangrentas, que por sua vez inspirou a sequência
“A Mosca II” (1989), de Chris Wallas.
(RR – 28/02/16)
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* Mosca
da Cabeça Branca, A (1958)
“A Mosca” é um conto de Ficção Científica
com elementos de Horror escrito pelo francês George Langelaan e publicado na
edição de Junho de 1957 da revista americana “Playboy”. No ano seguinte, a
ótima história com grande potencial para o cinema, transformou-se no filme “A
Mosca da Cabeça Branca” (The Fly), produzido e dirigido pelo alemão Kurt
Neumann (1908 / 1958), de “Da Terra à Lua” (1950) e “Kronos, o Monstro do Espaço”
(1957). No elenco, temos o ícone Vincent Price num papel coadjuvante, e David
Hedison como o protagonista, ele que esteve em “O Mundo Perdido” (1960) e seu
rosto é mais conhecido pelo papel do Capitão Lee Crane da série de TV “Viagem
ao Fundo do Mar” (1964 / 1968).
“Quanto mais eu sei, mais eu tenho certeza
que sei tão pouco. O eterno paradoxo.” – frase do “cientista louco” Andre
Delambre num momento de reflexão sobre seus avanços científicos
A história é ambientada na cidade canadense de
Montreal, onde o cientista Andre Delambre (David Hedison) faz experiências com
teletransporte de matéria. Casado com a bela Helene (a canadense Patricia
Owens) e pai do pequeno Phillipe (Charles Herbert), ele também é sócio de seu
irmão François (Vincent Price) numa bem sucedida empresa de eletrônica.
Obcecado por seu trabalho na pesquisa científica para o bem da humanidade, ele
não mede esforços para conseguir seus objetivos. Fazendo testes de
desintegração de objetos e cobaias vivas (sua gata de estimação e um porquinho
da índia) numa cabine especial, com seus átomos viajando na velocidade da luz
pelo tempo e espaço até se reintegrarem novamente em outro local. Porém, após a
ocorrência de um acidente onde ele próprio decidiu ser a cobaia da experiência,
seu corpo misturou-se ao de uma mosca intrusa na câmara de teletransporte. Como
resultado desastroso, o cientista transformou-se num monstro onde sua cabeça e
braço esquerdo eram de uma mosca, e o inseto fugiu com cabeça e braço humanos.
Para tentar reverter o processo, ele pede para sua esposa e filho tentarem
capturar a “mosca da cabeça branca”, antes que ele pudesse perder a sanidade e
o resto de sua humanidade pela influência da mosca em seu corpo. Paralelamente,
a polícia, sob a liderança do Inspetor Charas (o inglês Herbert Marshall),
investiga os mistérios e eventos sinistros envolvendo o cientista e seu
trabalho pioneiro de teletransporte.
O filme é um clássico dos saudosos anos 50 do século
passado abordando as temáticas de “cientista louco” e “homem transformado em
monstro”. Faz parte de um período fértil com centenas de filmes divertidos do
cinema fantástico, muitos deles produzidos com orçamentos baixos e roteiros
exagerados na fantasia, com características bagaceiras que justamente despertam
o interesse dos apreciadores do estilo. O laboratório do “cientista louco”
possui todos aqueles aparelhos sofisticados da época, repletos de luzes
piscando, botões e mostradores analógicos, num período turbulento onde a
humanidade convivia com a paranoia nuclear da guerra fria, com a preocupação e
medo da destruição do planeta e das consequências de atos equivocados com o
avanço da tecnologia, dos aparelhos eletrônicos, foguetes, satélites espaciais
e vôos supersônicos.
Foi criada uma franquia dentro desse interessante
universo ficcional, inicialmente com uma trilogia composta pelo original de
1958 e outras duas sequências com fotografia em preto e branco, “O Monstro de
Mil Olhos” (Return of the Fly, 1959), e “A Maldição da Mosca” (Curse of the
Fly, 1965). Cerca de vinte anos depois, o cineasta David Cronenberg retomou o
assunto e lançou a refilmagem “A Mosca” (The Fly, 1986), com horror gráfico e
mortes sangrentas em ótimos efeitos especiais, e que foi seguido por “A Mosca
II” (The Fly II, 1989), de qualidade bem inferior. “A
Mosca da Cabeça Branca” foi lançado em DVD no Brasil pela “Fox”, com a opção de
exibição do filme com a dublagem em português da época em que foi exibido na
televisão. Na parte de materiais extras, temos apenas os trailers sem legendas
do próprio filme e também da refilmagem de 1986, sua continuação de 1989, e do
clássico de FC “Viagem Fantástica” (Fantastic Voyage, 1966).
(RR – 22/02/16)
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