"E
o Senhor disse: Destruirei da face da Terra o Homem que criei; tanto o homem
como o animal, e o réptil, e as aves do céu; pois me arrependo de tê-los feito.”
“Ilha do Pavor” (Attack of the Crab Monsters) é um divertido filme bagaceiro
de horror e ficção científica em preto e branco de 1957 com apenas 63 minutos
de duração. A direção e produção é do especialista Roger Corman, nome conhecido
pelos filmes de orçamentos minúsculos, e o roteiro é de seu parceiro de
tranqueiras Charles B. Griffith.
Faz parte do conjunto dos primeiros
filmes da carreira de Corman, o “Rei dos Filmes B”, todos preciosidades do
cinema fantástico bagaceiro, como “Day the World Ended” (1955), “O Conquistador
de Vênus” (1956), “O Emissário de Outro Mundo” (1957), “Os Reencarnados”
(1957), “Guerra dos Satélites” (1958), “A Mulher Vespa” (1959), entre outros.
Um grupo de cientistas e pesquisadores
vai até uma ilha no Oceano Pacífico estudar os efeitos de testes de bombas
atômicas, avaliando as consequências hostis da radiação nos animais e plantas,
tanto terrestres quanto marinhos.
O grupo é formado por oito pessoas.
Temos o casal de biólogos Martha Hunter (Pamela Duncan) e Dale Brewer (Richard
Garland), estudiosos de animais marinhos e terrestres, respectivamente, o
físico nuclear Dr. Karl Weigand (Leslie Bradley), que estuda a nocividade da
superdose de radiação na ilha, e o geólogo Dr. James Carlson (Richard Cutting),
cuja missão é analisar o solo contaminado. Completam ainda o time, o botânico
Jules Deveroux (Mel Welles), interessado no envenenamento das plantas locais, além
de Hank Chapman (Russell Johnson, de “Guerra Entre Planetas”) e dois
marinheiros de apoio, Ron Fellows (Beech Dickerson) e Jack Sommers (Tony
Miller).
Lá chegando eles se alojam numa casa
construída pelo exército americano e primeiramente já precisam administrar a
ocorrência de terremotos constantes e crescentes que parecem estar levando a
ilha ao colapso. Além de tentar descobrir as causas do desaparecimento
misterioso de membros de uma equipe anterior de cientistas e também do grupo
atual, lutando por suas vidas ao serem atacados por caranguejos monstruosos (do
título original). Os crustáceos foram transformados em criaturas bizarras imensas e com
couraça resistente devido à exposição radioativa gerada pelas explosões de bombas
nucleares. Ao se alimentarem dos cérebros das pessoas, adquiriram seus poderes
intelectuais e capacidade de falar e articular ações contra os invasores de seu
território.
O período que se seguiu após o fim da
Segunda Guerra Mundial foi palco para fervilhar de ideias as cabeças dos
roteiristas ao especular sobre as consequências nocivas da radiação de bombas
atômicas para as pessoas e animais, durante a guerra fria entre as duas
potências estabelecidas no planeta, os Estados Unidos e a antiga União
Soviética.
“Ilha do Pavor” é mais um filme
explorando este tema, dessa vez colocando os caranguejos como vilões, sendo seres
mutantes e inteligentes que se tornaram monstros gigantes e ameaçadores para a
humanidade. Com uma história exagerada no escapismo e longe de qualquer lógica,
elementos típicos do cinema de gênero dos anos 1950 que o tornam por isso mesmo
divertido, os destaques invariavelmente ficam por conta dos monstros do título,
criados com efeitos toscos, precários e baratos, garantindo o entretenimento em
seus ataques que certamente causaram impacto nas audiências da época, quando
não existia a artificialidade da computação gráfica.
Os efeitos práticos de orçamentos
reduzidos do crustáceo monstruoso podem parecer simplórios passados cerca de 65
anos, mas certamente foram interessantes na época da produção, com o monstro
sendo manipulado por Ed Nelson (carcaça) e Beech Dickerson (garras), que também
aparecem em pequenos papéis no filme, merecendo todo o respeito, admiração e valor
pelas dificuldades de execução e tentativa de tornar a criatura mutante o mais verossímil
possível na história.
Curiosamente, foi lançado nos
cinemas americanos num programa duplo com outra produção de Corman, “O
Emissário de Outro Mundo” (Not of This Earth), sobre um alienígena que está na
Terra para estudar o sangue humano como forma de tentar salvar sua raça doente
da extinção, após uma catástrofe nuclear.
(RR
– 01/03/22)