Perdido no limbo do
esquecimento junto com uma infinidade de outros filmes de orçamentos reduzidos
desde seu lançamento em 1959, “Plano 9
do Espaço Sideral” (Plan 9 From Outer Space) foi descoberto em 1980 por um
crítico de cinema que o considerou como “o pior filme de todos os tempos”. Desde
então, esse título transformou o filme num objeto de interesse e culto para os
apreciadores do cinema fantástico bagaceiro.
Dirigido, escrito, editado e
produzido por Edward D. Wood Jr. (1924 / 1978), que também passou a ser
percebido dentro do gênero e lembrado eternamente por sua filmografia repleta
de produções paupérrimas e mal feitas, em minha opinião o título é injusto,
apesar de ter proporcionado um grande benefício de divulgação para o filme. Pois,
mesmo sendo extremamente ruim, desde o roteiro fuleiro, atuação amadora do
elenco, edição com enormes erros de continuidade e cenários toscos, posso afirmar
que já vi muita coisa bem pior, e que na verdade o filme é até divertido para
quem aprecia bagaceiras com elementos de horror e ficção científica.
Na história, um homem idoso
(Bela Lugosi) morre de tristeza logo após perder a esposa (Vampira, ou a atriz
finlandesa Maila Nurmi), e ambos são reanimados no cemitério, voltando de seus túmulos,
através de raios elétricos em suas glândulas pituitárias, ativados por
alienígenas que pretendem criar um exército de zumbis sob seu controle, para a
invasão do nosso planeta. O inspetor de polícia Clay (o grandalhão ator sueco Tor
Johnson) também é despertado depois de morto. Os extraterrestres alegam que
precisam invadir a Terra para impedir que a humanidade, sempre ávida por guerras
e armas de destruição, possa ameaçar o resto do Universo.
Um oficial do exército,
Coronel Edwards (Tom Keene), um piloto comercial, Jeff Trent (Gregory Walcott),
e o policial Tenente Harper (Duke Moore), entre outros, tentam combater a
invasão alienígena liderada pelo soldado espacial Eros (Dudley Manlove) e sua
assistente Tanna (Joanna Lee).
“Plano 9 do Espaço Sideral” é logicamente um
filme com muitos problemas. O roteiro tem falhas colossais, mesmo para um tema
escapista como invasão alienígena. Tem diálogos risíveis não intencionais, cenários
paupérrimos (cemitério, cabine do avião comercial, interior tanto da base
quanto da nave alienígena), e efeitos toscos (os discos voadores são tampas de
panela penduradas com fios). Mas, como filme bagaceiro que explora o horror e
ficção científica, consegue garantir entretenimento sem compromisso, basta
desligar o cérebro e relaxar.
As cenas com o Bela Lugosi,
mesmo poucas e sem uma única palavra, agregam grande valor ao filme, e todas as
sequências com a Vampira e Tor Johnson caminhando lentamente como zumbis
ameaçadores são impagáveis. E não poderia faltar a tradicional cena do monstro
(no caso, Tor Johnson morto-vivo) carregando nos braços a mocinha (no caso,
Paula, a esposa do piloto de avião Jeff, interpretada por Mona McKinnon).
Como o filme de Ed Wood
recebeu muita atenção por suas características de produção bagaceira não
proposital, surgiu uma infinidade de curiosidades em torno de sua produção e
bastidores. Seguem apenas algumas para registro.
O baixo orçamento foi
conseguido por Ed Wood através de um empresário membro da Igreja Batista, que
pediu depois para alterar o título original de “Grave Robbers From Outer Space”
(Ladrões de Túmulos do Espaço Sideral) para o oficial “Plan 9...”.
O ator húngaro Bela Lugosi,
eternamente conhecido como o Conde Drácula no filme americano de 1931 da
“Universal”, morreu em 1956 esquecido pela indústria de cinema, e foi Ed Wood
que o resgatou no final da carreira oferecendo papéis de “cientista louco” em
seus filmes “Glen ou Glenda?” (1953) e “A Noiva do Monstro” (1955). Como ele
tinha algumas cenas filmadas com Lugosi para um projeto que não se concretizou,
o diretor utilizou essas imagens de arquivo em “Plano 9...”, rodando o restante
das cenas com o personagem através de outro ator (mais alto) e sempre cobrindo
parcialmente o rosto com uma capa para disfarçar.
O vidente Criswell é o
narrador que abre e fecha o filme, alertando de forma sensacionalista a
humanidade sobre a possibilidade de invasão alienígena. Maila Nurmi criou a
personagem Vampira e foi apresentadora de programas de televisão nos anos 50
que exibiam filmes de horror bagaceiros.
O filme ainda teve uma
versão colorizada por computador, lançada em 2006.
Em 1994, o diretor Tim
Burton lançou o filme “Ed Wood”, homenageando o criador de “Plano 9...”,
mostrando como eram os bastidores de seus filmes toscos e a relação com os
envolvidos nos processos de produção. Ed Wood foi interpretado por Johnny Depp,
ator bem sucedido e muito requisitado, que apareceu com frequência em filmes de
Burton. E Bela Lugosi foi interpretado por Martin Landau (1928 / 2017), outro
veterano com carreira significativa.
(RR
– 20/04/20)