Filmes abordados:
Bonecas da Morte, As (The Psychopath, Inglaterra, 1966)
Criatura da Mão Azul, A (Creature With the Blue Hand / Die blaue Hand,
Alemanha Ocidental, 1967)
Cruz do Diabo, A (La Cruz
del Diablo / Cross of the Devil, Espanha, 1975)
Fantasma de
Frankenstein, O (The Ghost of Frankenstein, EUA, 1942, PB)
Fantasmas Que Ainda Vagam (Ghosts That Still Walk, EUA, 1977)
Latidos de Pánico (Panic Beats, Espanha, 1983)
Sol (São Paulo, Brasil, 2017, curta-metragem independente 14 min.)
Uivo da Bruxa, O (Cry of the Banshee, Inglaterra, 1970)
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* As Bonecas
da Morte (1966)
A produtora inglesa “Amicus” foi uma
valiosa rival da mais cultuada “Hammer”, e sua lista de filmes do gênero
fantástico têm quase três dezenas, presenteando os apreciadores do estilo com
preciosidades como “As Profecias do Dr. Terror” (1965), “A Maldição da Caveira”
(1965), “As Torturas do Dr. Diabolo” (1967), “A Casa Que Pingava Sangue”
(1971), “Contos do Além” (1972), “A Casa do Terror” (1974), entre vários
outros. E atores consagrados como Christopher Lee, Peter Cushing e Vincent
Price fizeram parte de vários filmes da “Amicus”.
“As Bonecas da Morte” (1966) tem direção
de Freddie Francis (1917 / 2007), um nome conhecido principalmente no cinema de
horror das décadas de 1960 e 70, e o roteiro é de autoria de Robert Bloch (1917
/ 1994), autor do livro que inspirou o clássico “Psicose” (1960), de Alfred
Hitchcock.
Um grupo de músicos ingleses enfrenta a
ira de um assassino brutal que tem a característica bizarra de deixar sempre
uma boneca com a aparência da vítima nas cenas dos crimes, intrigando a
polícia. Eles faziam parte de uma comissão aliada que julgava criminosos de
guerra alemães após a Segunda Guerra Mundial, e escondia um segredo misterioso
do passado.
O grupo era formado por Reinhardt Klermer
(John Harvey), pelo aposentado Frank Saville (Alexander Knox), pelo escultor
Victor Ledoux (Robert Crewdson) e pelo funcionário da embaixada holandesa
Martin Roth (Thorley Walters). As mortes eram investigadas pelo Detetive
Inspetor Holloway (Patrick Wymark), auxiliado pelo Sargento Morgan (Tim
Barrett). E as suspeitas recaíram para a idosa cadeirante Ilsa Von Sturm
(Margaret Johnston), colecionadora de bonecas, e seu filho Mark (John
Standing). Eles tinham fortes motivos para vingança por causa do suicídio do
patriarca da família, um industrial que foi preso por crimes de guerra julgados
pela comissão formada pelos músicos, que alegavam que ele utilizava trabalho
escravo em suas fábricas.
Outros suspeitos investigados pela polícia
eram o casal formado por Louise Saville (Judy Huxtable), desenhista de bonecas
e filha de um dos violinistas assassinados, e seu noivo Donald Loftis (Don
Borisenko), um estudante de medicina.
O filme é uma tradicional história de
detetive com elementos de horror em mortes “off screen”, com uma ideia central
sobre assassinatos misteriosos cometidos por um psicopata (do título original),
e uma árdua investigação policial analisando os suspeitos. Apesar da
previsibilidade dos eventos, dos inevitáveis clichês e da narrativa lenta em
alguns momentos, ainda temos uma atmosfera de mistério interessante com um
clima sinistro envolvendo os assassinatos, além de desfecho memorável e
perturbador. Indicado para os fãs dos antigos filmes ingleses da “Amicus” e
“Hammer”.
(RR – 16/01/17)
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* Criatura
da Mão Azul, A (1967)
“A
Criatura da Mão Azul” é mais um filme que surpreendentemente foi lançado no
mercado brasileiro de vídeo VHS, distribuído pela obscura “MBA Home Vídeo”. Trata-se
de uma produção da Alemanha Ocidental (na época conturbada dos anos 60 a Alemanha era dividida por
questões políticas e a unificação somente ocorreu em 1990), com uma típica
história de detetive com sutis elementos de horror nas ações de um assassino
misterioso usando uma luva de ferro com dedos pontudos em lâminas afiadas para
penetrar na carne de suas vítimas. Na Alemanha, esse sub-gênero de suspense
policial é conhecido como “krimi”, equivalente aos “giallos” italianos”.
Essa arma conhecida como “mão azul” (do
título), fazia parte de uma armadura medieval de guerra. Curiosamente, podemos considerar essa ideia
como precursora ou inspiração para a luva de facas do popular psicopata Freddy
Krueger, criado pelo cineasta Wes Craven para a cultuada franquia “A Hora do
Pesadelo”.
Com direção de Alfred Vohrer e Samuel M.
Sherman (este não creditado), o roteiro foi baseado em história do escritor
inglês Edgar Wallace (1875 / 1932), especialista em argumentos policiais e de
mistério, e conhecido pela ideia conceitual do popular “King Kong”, o macaco
gigantesco que apareceu em inúmeros filmes. Em “A Criatura da Mão Azul”,
ambientado em Londres, Inglaterra, temos um homem condenado à prisão por
assassinato, David Donald Emerson (Klaus Kinski), que alega inocência.
Misteriosamente, ele é ajudado a fugir do manicômio judiciário dirigido pelo
suspeito Dr. Albert Mangrove (Carl Lange), e retorna para a mansão sinistra de
sua família rica, que fica nas proximidades do presídio.
Lá chegando, ele encontra seu irmão gêmeo
Richard, que desaparece, assumindo seu lugar. Paralelamente, começa a ocorrer
mortes misteriosas no interior do imenso casarão com estilo gótico, que é
repleto de portas escondidas e passagens secretas para ambientes ocultos, com a
identidade do assassino escondida por debaixo de um manto preto e utilizando a
luva de pontas. Assustando seus moradores, como o aristocrático e igualmente
enigmático mordomo Anthony (Albert Bessler) e os membros da família como a
matriarca Lady Emerson (Ilse Steppat), e os irmãos do presidiário fugitivo,
Robert e Charles (Peter Parten e Thomas Danneberg, respectivamente), além da
jovem irmã Myrna (Diana Korner). As mortes em série despertam a atenção da
polícia, sob a liderança das investigações pelo Inspetor Craig (Harald Leipnitz),
da Scotland Yard, que recebe o auxílio esporádico de Sir John (Siegfried
Schurenberg).
O filme tem um ritmo bastante ágil, com
ações praticamente ininterruptas alternando momentos entre os ataques do
maníaco e os assassinatos, com a condução das investigações da polícia,
especulando a ideia de uma conspiração com vários suspeitos e a tentativa de
surpresa na revelação da identidade da “criatura da mão azul”. Mas, tem algumas
tentativas de humor que poderiam ser evitadas e a trilha sonora escolhida nas
cenas de perseguição é muita estranha, minimizando a atmosfera de tensão. O
grande nome do elenco, o polonês Klaus Kinski (1926 / 1991) poderia ser mais
aproveitado, com maior presença apenas na primeira metade do filme.
Curiosamente, recebeu outro nome
alternativo, “The Bloody Dead”, que é um título exagerado e que seria mais
apropriado para um filme de horror sangrento, que não é o caso aqui. Esse outro
nome foi escolhido para o mercado americano de vídeo, numa versão com
diferenças como cortes e também acréscimos de cenas adicionais, com redução na
metragem final passando de 87 para 74 minutos (P.S.: aliás, essa versão
reduzida é a que eu assisti).
(RR – 02/02/17)
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* Cruz
do Diabo, A (1975)
Lançado em VHS no Brasil pela “Omni
Vídeo”, “A Cruz do Diabo” (La Cruz del Diablo,
1975) é mais uma pérola do cinema bagaceiro espanhol da década de 70 do século
passado. Foi dirigido pelo inglês John Gilling (1912 / 1984), o último filme de
sua carreira significativa para o gênero, que inclui várias outras
preciosidades. Como algumas produções da “Hammer”, “A Sombra do Gato” (1961),
“A Serpente” (1966), “Epidemia de Zumbis” (1966) e “A Mortalha da Múmia”
(também conhecido por aqui como “O Sarcófago Maldito”, 1967), além de “O
Monstro do Raio Gama” (1956) e “A Carne e o Diabo” (ou “O Monstro da Morgue
Sinistra”, 1960), este com Peter Cushing e Donad Pleasence. Aliás, conforme
informado no site “IMDB” (Internet Movie Database), curiosamente John Gilling
não tinha a intenção de dirigir “A Cruz do Diabo”, e quando estava de férias na
Espanha foi convencido a assumir o projeto num convite do também cineasta Paul
Naschy, um dos grandes nomes do gênero e com vasta filmografia e contribuição
para a história do cinema de horror.
Um escritor e jornalista, Alfred Dawson
(Ramiro Oliveros), vive na Inglaterra com sua namorada Maria (Carmen Sevilla).
Fumante inveterado, viciado em ópio, ele tem pesadelos e alucinações constantes
onde vê uma mulher sendo torturada por antigos templários da Idade Média. Ele
viaja para Madri, Espanha, depois de receber uma carta de sua irmã Justine
Carrillo (Monica Randall), que vive naquele país, casada com o Sr. Enrique
(Eduardo Fajardo), um homem rico e bem mais velho que ela, pedindo a visita
urgente do irmão por estar se sentindo ameaçada após o aborto do filho. Lá
chegando, recepcionado pelo misterioso e suspeito Cesar del Rio (Adolfo Marsillach),
secretário do Sr. Enrique, o escritor encontra a irmã morta e é informado que
foi assassinada por um ladrão comum.
Porém, Alfred desconfia dos fatos e sente
uma estranha atmosfera sobrenatural envolvendo a morte da irmã, decidindo
investigar um lugar que abriga a “Cruz do Diabo” (do título do filme),
localizado no “Monte das Almas”, onde ainda existem ruínas de um mosteiro que
foi utilizado pelos templários. Segundo uma lenda a tal cruz foi forjada com o
ferro da armadura do próprio diabo. Um território sinistro, temido por todos, e
envolto em superstições que diziam que os cavaleiros medievais saíam de seus
túmulos para praticar rituais de magia negra no “Dia de Todos os Santos”, numa
vingança sangrenta contra quem invadia seus domínios.
“Os templários, membros de uma ordem
militar da Idade Média. A missão da ordem era proteger os peregrinos que iam
para a Terra Santa. Com o tempo, acumularam riquezas e poder, um poder maligno.
Renunciaram ao catolicismo e se dedicaram aos rituais sombrios. Adoravam um
ídolo chamado Baphomet. Espalharam-se pela Europa inteira e pela Espanha em particular. Porém ,
em 1312 a
Ordem foi aniquilada.” – trecho de um livro sobre a história sangrenta dos
templários.
Temos que agradecer o multifuncional espanhol Paul
Naschy (também conhecido como Jacinto Molina) por ter convencido John Gilling a
dirigir “A Cruz do Diabo”, tornando-se o último registro de sua carreira. Não
que seja uma obra prima, pois é apenas mais um filme com elementos góticos que
tem seu pequeno lugar na história do cinema de horror. Mas, porque foi uma
oportunidade de Gilling encerrar suas atividades com um filme trazendo aquelas
tradicionais características de horror sobrenatural onde não faltam ruínas
macabras, uma floresta sombria envolta em neblina, carruagens como meios de
transporte, candelabros e tochas para iluminação, mortos que deixam suas
sepulturas para aterrorizar os vivos, e cenas de pesadelos perturbadores.
É verdade que temos alguns momentos com uma narrativa
lenta que contribui para afastar o espectador da história. Mas, o desfecho com
a dúvida sobre as ações do protagonista Alfred na busca pela verdade sobre o
assassinato misterioso da irmã, numa confusão entre a realidade e as
alucinações causadas pelo consumo de ópio, e os elementos góticos com a
exploração do sempre macabro tema dos antigos cavaleiros templários em sua
vingança sangrenta, desperta aquele esperado interesse nos apreciadores do
estilo.
(RR –
30/01/17)
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* O Fantasma
de Frankenstein (1942)
A produtora americana “Universal”, assim
como toda empresa que precisa lucrar para manter e continuar suas atividades, aproveitou
a boa receptividade do público com a história do monstro de Frankenstein
(criado pela escritora Mary Shelley em 1818) e explorou a ideia o máximo
possível. “O Fantasma de Frankenstein” (1942) é o quarto filme da série, após
“Frankenstein” (1931), “A Noiva de Frankenstein” (1935) e “O Filho de
Frankenstein” (1939), sendo que nestes três filmes a criatura foi interpretada
pelo lendário Boris Karloff (1887 / 1968), que não repetiu mais o papel. Em seu
lugar foi escalado então outro ícone do cinema de horror, Lon Chaney Jr. (1906
/ 1973), mais conhecido como o “lobisomem” no clássico de 1941.
Em “O Fantasma de Frankenstein”, dirigido
por Erle C. Keaton, a história segue a partir dos acontecimentos do filme
anterior, e o monstro estaria supostamente destruído, soterrado numa mina de
enxofre debaixo da torre do cientista Frankenstein, e o ajudante Ygor,
interpretado pelo húngaro Bela Lugosi (1886 / 1956), o eterno “Drácula” depois
de surgir no filme homônimo de 1931, havia sido cravejado de balas. Porém, os
aldeões do vilarejo estão descontentes com o declínio da região, alegando
influência da maldição de Frankenstein. Nada prospera no local e então eles
conseguem autorização das autoridades para explodir o castelo do “cientista
louco”. Para a surpresa geral, encontram o manco Ygor ainda vivo e ele, depois
da destruição do imenso casarão de pedras, localiza o monstro no subsolo,
preservado pelo enxofre.
Ygor consegue resgatar seu companheiro e
juntos fogem para a cidade de Visaria para procurar o outro filho de
Frankenstein, o médico Ludwig (Cedric Hardwicke), especialista em doenças
mentais. Após uma série de incidentes entre a criatura e os moradores da
cidade, envolvendo também o promotor Erick Ernst (Ralph Bellamy), namorado de
Elsa (Evelyn Ankers, filha de Ludwig Frankenstein), Ygor consegue convencer o
também cientista e seu assistente ressentido Dr. Theodore Bohmer (Lionel
Atwill), a realizarem novas experiências com o monstro, tentando trocar seu
cérebro maligno. O Dr. Ludwig recebe também a influência de uma aparição do
fantasma de seu pai, que aconselha não destruir a criatura feita de restos de
cadáveres humanos.
“No entanto, quase resolvi um problema que
tem confundido o ser humano desde tempos imemoriais: o segredo da vida criada
artificialmente” – fantasma do Barão Henry Frankenstein
Com fotografia em preto e branco e duração
de apenas 67 minutos (era comum naquela época os filmes serem curtos), “O
Fantasma de Frankenstein” desperta interesse quase que exclusivamente pela
atmosfera gótica e pelos atores (Lon Chaney Jr. e Bela Lugosi sempre tiveram
grande relação com o Horror). Enquanto Chaney continua fazendo do monstro de
Frankenstein uma aberração assustadora, numa decisão acertada em manter os
mesmos aspectos visuais da criatura dos filmes anteriores interpretada por
Karloff, o sinistro Ygor de Bela Lugosi também continua convincente e de
extrema importância para os rumos da história.
Por outro lado, o roteiro pouco contribuiu
para esse universo ficcional já bastante explorado, mesmo em 1942. A necessidade de
obtenção de lucros pelos realizadores pressionou os roteiristas, que por sua
vez enfrentaram uma escassez de criação. Eles reciclavam as mesmas ideias,
contando histórias similares com os descendentes do cientista, ressuscitando o
monstro e outros personagens, e utilizando as mesmas motivações e elementos que
caracterizaram os filmes anteriores. O ápice dessa falta de originalidade
resultou em vários filmes “crossover” produzidos em seguida, misturando os
monstros “Drácula”, “Lobisomem” e “Criatura de Frankenstein” numa mesma
história, abandonando ainda mais qualquer regra de coerência.
Por curiosidade, o filme recebeu
primeiramente o título nacional “A Alma de Frankenstein” e depois também ganhou
o mais apropriado “O Fantasma de Frankenstein”. Foi lançado em DVD tanto pela
“Universal” quanto “Dark Side” num programa duplo com o filme anterior da
série, “O Filho de Frankenstein”. E também sozinho, pela “Continental”.
(RR –
05/02/17)
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* Fantasmas
Que Ainda Vagam (1977)
Curiosamente, o mercado brasileiro de
vídeo VHS, que iniciou seus lançamentos principalmente a partir de meados dos
anos 1980, distribuiu por aqui vários filmes obscuros que normalmente
apostaríamos que jamais fossem comercializados. É o caso da produção americana
“Fantasmas Que Ainda Vagam” (1977), lançado pela D.I.V (Distribuidora
Internacional de Vídeo), com direção e roteiro do desconhecido James T.
Flocker.
Um adolescente de quinze anos, Mark
Douglas (Matt Boston), está com fortes dores de cabeça e sua avó religiosa
Alice (Ann Nelson) está tentando ajudá-lo a descobrir as causas. Depois de
consultar um médico, ela é orientada a falar com a psiquiatra Dra. Sills (Rita
Crafts), que estuda o caso e descobre uma série de incidentes estranhos com a
família do garoto. Uma vez utilizando-se de hipnose descobre detalhes sobre um
misterioso acidente com Alice e o avô do jovem doente, Harold (Jerry Jensen),
que sofreu um ataque cardíaco depois de serem atacados por uma força
sobrenatural enquanto viajavam pelo deserto num motorhome.
A psiquiatra se interessa mais pelo caso e
descobre que a mãe do menino, Ruth (Caroline Howe), é uma escritora que estava
trabalhando num livro sobre a história de uma antiga tribo indígena de mais de
500 anos. E que depois de resgatar uma misteriosa múmia índia de uma caverna,
sofreu um colapso nervoso, intrigando a Dra. Sills e complicando
progressivamente a solução da crise do garoto, que está piorando e se
comportando estranhamente.
“Fantasmas Que Ainda Vagam” certamente é
um filme obscuro, pouco conhecido e que jamais imaginaríamos que fosse lançado
em VHS no Brasil. A história até possui algum interesse, mesmo sendo um clichê
já muito explorado, sobre um fantasma atormentado que aterroriza os vivos e
está em busca de sua paz espiritual. Porém, a narrativa é bem arrastada na
maior parte do tempo, num convite ao sono, apesar de algumas boas sequências de
tensão como a cena do motorhome desgovernado em alta velocidade pelo deserto,
controlado pelo fantasma. E o incrível ataque das pedras rolantes que se
locomovem de forma ameaçadora pelas areias em direção ao motorhome das vítimas,
numa longa sequência bem produzida, com efeitos convincentes numa época sem as
facilidades da computação gráfica. Vale conhecer apenas pela curiosidade de um
filme obscuro.
(RR – 22/01/17)
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* Latidos de
Pánico (1983)
“Latidos
de Pánico” (“latidos” em espanhol significa “batimentos cardíacos”) é um filme
de horror “exploitation” de 1983, também conhecido pelo título em inglês “Panic
Beats”. Foi dirigido e escrito pelo multifuncional Paul Naschy, que é o
pseudônimo de Jacinto Molina Álvarez (1934 / 2009). Ele também é o ator
principal e é considerado um nome cultuado no mundo do cinema de horror bagaceiro,
com grande quantidade de créditos em sua vasta carreira.
Continuação da tranqueira divertida “El
Espanto Surge de la Tumba ”
(1973), o roteiro volta a mencionar o temível Alaric de Marnac (Paul Naschy),
um cavaleiro medieval com armadura que matou violentamente sua esposa por
infidelidade (vista numa introdução de forte impacto de violência), além de ser
conhecido por vários crimes hediondos, prática de bruxaria e por beber sangue
humano. Segundo uma lenda, ele voltaria do mundo dos mortos a cada 100 anos
para se vingar das mulheres da família Marnac.
Saltando no tempo para os dias atuais
(década de 80 do século passado pela produção do filme), num pequeno vilarejo
rural francês, próximo de Paris, somos apresentados para Paul Marnac (novamente
Paul Naschy), que se muda para o interior justamente para preservar a saúde
debilitada da bela e rica esposa Geneviéve (Julia Saly), que tem sérios
problemas cardíacos. Ao chegarem à casa de campo do casal, eles são recebidos
pela veterana governanta Mabile (Lola Gaos) e sua bela e jovem sobrinha Julie
(Pat Ondiviela). Porém, uma sucessão de eventos estranhos e misteriosos,
assassinatos violentos e traições constantes movimentam o ambiente instaurando
o horror e manchando a casa com o vermelho do sangue.
Assim como os europeus Jesus Franco (1930
/ 2013, também espanhol) e o francês Jean Rollin (1938 / 2010), realizadores
muito produtivos, entre outros, com uma infinidade de trabalhos de direção,
roteiro e atuação, é inegável também registrar a contribuição de Paul Naschy
para o cinema fantástico bagaceiro. E em “Latidos de Pánico” não faltam todas
aquelas características e clichês divertidos dos filmes de orçamentos reduzidos
e história bizarras. Temos belíssimas mulheres nuas (especialmente Silvia Miró,
que interpreta Mireille, uma amante de Paul Marnac), um assassino com luvas
pretas, o casarão com atmosfera gótica, várias cenas sangrentas com mortes
dolorosas em feridas gosmentas e tripas expostas, cadáveres putrefatos, e tudo
sem a artificialidade do CGI, apenas com os nostálgicos, trabalhosos e sempre
bem vindos efeitos de maquiagem.
É verdade também que o roteiro é
extremamente previsível, onde sabemos sem esforço e com antecedência a sucessão
dos eventos, porém a mistura de horror sangrento, com família amaldiçoada,
fantasma vingativo, ganância do ser humano e conspirações, sempre desperta o
interesse e garante a diversão.
Entre os destaques, temos o início
ambientado no passado, com o sanguinário cavaleiro perseguindo uma mulher nua
pela correndo pela floresta desesperada, as várias mortes sangrentas
(principalmente os ataques com a arma medieval mangual, que rasga a carne e
dilacera os ossos de suas vítimas), e o desfecho passado no interior de uma
igreja, também carregado de muita violência.
(RR – 21/12/16)
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*
Sol (2017)
O diretor e roteirista Carlos G. Gananian
já nos presenteou com excelentes e muito bem produzidos curtas de horror como
“Behemoth” (2003, sobre a evocação de uma entidade maligna), “Coagula” (2005,
sobre as ações de um psicopata mascarado), e “Akai” (2006, sobre o tormento
existencial de um vampiro), todos com produções caprichadas. Também faz parte
de sua filmografia o curta de ficção científica “AM / FM” (2014).
Agora é a vez de “Sol” (2017), uma
interessante história de possessão numa produção profissional, com grande
quantidade de pessoas envolvidas no projeto.
Uma senhora religiosa, Solange (Thaia
Perez), está sofrendo muito ao enfrentar uma situação bizarra que está
acontecendo com seu marido Aristides (Ivan Giaquinto), encarcerado num quarto,
ajoelhado num círculo desenhado no chão, as mãos amarradas, uma máscara
cobrindo o rosto, agitado e balbuciando palavras estranhas. Sem se alimentar e
com o corpo definhando perigosamente, ele é monitorado por dois padres. Um mais
jovem, Dario (Lui Seixas), que está filmando o exorcismo, e outro mais
experiente, Lucio (Plínio Soares), que tenta inutilmente expulsar o espírito
maligno de sua vítima. Enquanto isso, para piorar ainda mais o cenário
depressivo, vozes sinistras atormentam a Sra. Solange.
Em
apenas 14 minutos, Carlos G. Gananian e equipe conseguiram apresentar uma
história perturbadora de horror sugerido, com uma atmosfera sombria explorando
com maestria o velho clichê de possessão demoníaca. Sem gritarias, sangue em
profusão ou violência exagerada, e apenas com eficientes efeitos sonoros e
sugestões que evidenciam o poder avassalador do Mal. Altamente recomendável,
tanto pela qualidade da produção como pela sutileza do roteiro.
(RR – 20/01/17)
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* O Uivo da
Bruxa (1970)
“No ouvido sobressaltado da noite, como eles gritam
por seus temores! Aterrorizados demais para falar, a única coisa que podem
fazer é choramingar, choramingar, fora do tom...” – Edgar Allan Poe
Baseado numa lenda irlandesa, “banshee” (do título
original) é uma criatura sobrenatural invocada do inferno por magia negra, para
executar uma vingança. “O Uivo da Bruxa” é um filme de horror gótico inglês da
“American International Pictures” similar ao melhor estilo da produtora
“Hammer”. Foi dirigido por Gordon Hessler em 1970 e tem na liderança do elenco
o ícone eterno Vincent Price. Ele faz o papel do tirano inquisidor Lord Edward
Whitman, que governa uma aldeia através da manipulação do medo, combatendo a bruxaria
da época com julgamentos severos dos acusados e aplicação de penalidades
violentas e dolorosas.
Ele persegue os seguidores de uma seita pagã, que
realiza cultos na floresta e é liderada pela veterana Oona (a ucraniana
Elizabeth Bergner). Muitos dos membros foram assassinados e em represália a
bruxa convoca Satã para enviar um “banshee”, uma criatura sobrenatural que se
apossa do corpo de um jovem, Roderick (Patrick Mower). O ser mitológico maligno
então se vinga violentamente da família Whitman, formada ainda pela esposa
infeliz do inquisidor, Lady Patricia (Essy Persson), e seus filhos Maureen
(Hilary Heath), Harry (Carl Higg) e Sean (Stephan Chase).
Os moradores supersticiosos do vilarejo ouvem
constantemente o uivo de um cão selvagem que aterroriza a região e mata as
ovelhas, e sentem na pele as ações vingativas de um demônio invocado do
inferno.
Em “O Uivo da Bruxa” temos uma história gótica com o
tema de família amaldiçoada, enfrentando a fúria vingativa de uma criatura
inumana. O roteiro de Tim Kelly e Christopher Wicking procura explorar a tensão
constante do conturbado período de caça às bruxas na Europa do século XVI. Onde
torturas dolorosas eram as punições comuns para obter confissões e delações,
como podemos ver nas palavras de um inquisidor para uma mulher seguidora do
culto pagão da “antiga religião”: “Podemos matá-la um minuto por dia durante um
ano, ou tudo em um único minuto. Poupe-se da dor e diga-nos onde Oona está e
prometo-lhe, você morrerá em paz.”
Vincent Price (1911 / 1993), um dos maiores e
insuperáveis atores de horror de todos os tempos, repete o papel de um sádico
tirano da Inquisição, assim como no filme anterior “O Caçador de Bruxas”
(1968), Sua relação com o horror é tão sólida em incontáveis filmes preciosos
para a história do gênero, que sua participação é a garantia do entretenimento.
O diretor alemão Gordon Hessler (1925 / 2014) tem no
currículo filmes como “Embuste Diabólico” (1965), “O Ataúde do Morto Vivo”
(1969) e “Grite, Grite Outra Vez” (1970), sendo os dois últimos também com
Price.
Nos ataques do “banshee”, a criatura aparece pouco e
seu visual é visto sempre rapidamente, numa aposta maior para a sugestão. Mas,
ainda assim percebemos características que nos remetem para similaridades com
lobisomens, em efeitos extremamente toscos de uma produção de baixo orçamento,
garantindo a diversão dos apreciadores de cinema fantástico bagaceiro.
“Inglaterra no século XVI, uma época sombria e
violenta. Bruxaria e os fantasmas da antiga religião ainda mantém o controle
nas mentes das pessoas, preocupando tanto a Lei como a Igreja. Então quem pode
ter certeza que isto é somente superstição primitiva e medo infantil?”
(RR – 17/12/16)
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