Portão do Cemitério (Cemetery Gates, 2006)


O demônio da Tasmânia comerá qualquer carne, viva ou morta. Pode correr mais do que um ser humano. É uma das mais ferozes criaturas da Terra. Consegue matar 17 pessoas em 90 minutos. E só quer brincar... com seu cadáver.

Após descobrir que a equipe de produção de “Portão do Cemitério” (Cemetery Gates, 2006) é a mesma do péssimo “Hospital Maldito” (Boo), feito no ano anterior, imediatamente imaginei que se trataria de outro filme ruim. Depois de assistir, tive uma surpresa: o filme ainda é pior do que imaginava. E a decepção é ainda maior pois os produtores David E. Allen, Brian Patrick O’Toole e Harmon Kaslow têm em seus currículos o excelente e divertido “Cães de Caça” (Dog Soldiers, 2002).

Dois ativistas ecológicos invadem um laboratório que fazia experiências com animais e roubam uma caixa enorme com um bicho dentro, na intenção de libertá-lo numa floresta que fica próxima de um cemitério criado para as vítimas de um desastre que matou centenas de mineiros há muitos anos atrás. O animal é um demônio da Tasmânia que foi modificado geneticamente, aumentando de tamanho e ferocidade. Um acidente no transporte liberta a criatura que foge para a floresta e inicia sua coleção de vítimas, dilacerando violentamente a carne de quem cruza seu caminho.
Em seu encalço está o cientista responsável pelo desenvolvimento da fera, Dr. Kevin Belmont (Reggie Bannister), que juntamente com sua assistente Dra. Christine Kollar (Aime Wolf), tentam capturar o monstro antes da carnificina. O homem da ciência alegava que pelo fato do animal comer carne viva ou morta, havia desenvolvido um forte sistema imunológico, e que poderia descobrir estudando esse fato em experiências genéticas, uma provável cura para o câncer e a aids (todo “cientista louco” alega que suas pesquisas são para o bem da humanidade...).
E entre os candidatos para uma morte violenta nas garras do enorme bicho carnívoro, temos um grupo de jovens fúteis que vão até o cemitério para filmar um vídeo bagaceiro. São eles, Hunter Belmont (Peter Stickles), que é filho do cientista; sua namorada Kym (Nicole DuPort), além de outros quatro colegas de faculdade, a loira gostosa August (Kristin Novak), e os acéfalos Matt (Chris Finch), Tony (Ky Evans) e Enrique (John Thomas).

“Portão do Cemitério” foi lançado em DVD no Brasil pela “Europa” em Dezembro de 2006. Dirigido por Roy Knyrim a partir de roteiro de Brian Patrick O’Toole, inspirado em história de Pat Coburn e J. Victor Renaud, o filme consegue a façanha de apresentar um grupo de jovens tão banais que dificilmente serão superados em outros filmes. Entre eles, destaca-se no quesito “futilidade” a burrinha August, que adora exibir os peitos, mas que tem mesmo como único atributo favorável o belo corpo, pois de resto seu cérebro não deve ser maior que uma bola de gude, e quando ela fala consegue tornar-se mais insignificante que uma pedra abandonada no chão.
Os responsáveis pela história provavelmente fizeram o mesmo que os personagens que criaram: fumaram muita maconha enquanto escreviam, pois a maioria dos diálogos é ridícula ao extremo. Vou citar apenas uma frase da já citada “anta” August, logo depois que descobre que participará de um vídeo caseiro sobre zumbis, filmado pelos amigos, e que é mais ou menos assim: “Eu adoro filmes de zumbis. Só gostaria de saber quem vai me comer...”. E essa missão ficou para o marsupial deformado...
O roteiro faz questão de inserir vários personagens apenas para servirem de alimento para o demônio da Tasmânia mutante, pois são 17 vítimas dilaceradas pelo bicho, como revela a narração de um trailer de divulgação, e eu confirmei esses números fazendo uma contagem de todas as mortes. Não posso deixar de citar em especial os dois homens totalmente drogados que vão até a floresta tentar um contato “espiritual” com os animais. Eles são Doug e Michael, interpretados pelos conhecidos técnicos em maquiagem Howard Berger e Gregory Nicotero, respectivamente, e que parecem estar se divertindo muito fazendo o papel de idiotas chapados. Eles só não imaginavam que teriam seus corpos rasgados violentamente por uma fera que só está interessada em devorar suas carnes. Tem também um velho pescador, Ed (Aristide Sumatra), que está sempre com um sorriso idiota na boca, além dos dois filhos do coveiro bêbado John Martin (Bill Lloyd), os patéticos Earl (Karol Garrison) e Dale (Damian Lea), que provavelmente causariam indigestão na criatura (nem para isso eles serviriam...).
Por outro lado, para aqueles que esperam sangue e mutilações (mesmo através de efeitos toscos e bizarros), temos muitos litros de sangue jorrando para todos os lados, além de corpos brutalmente destroçados, desmembramentos, cabeças arrancadas e tripas espalhadas. Mas, esse excesso de violência já é algo tão comum no cinema de horror, que tem deixado de ser um fator diferencial, pois os fãs têm procurado justamente encontrar mais qualidade nos roteiros, algo que no caso de “Portão do Cemitério”, definitivamente foi deixado de lado.

“Portão do Cemitério” (Cemetery Gates, Estados Unidos, 2004) # 444 – data: 04/06/07
www.bocadoinferno.com / www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 05/06/07)