Filmes abordados:
Beijo do Vampiro, O (The Kiss of the Vampire, Inglaterra, 1963)
Chupacabra (Chupacabra vs. The Alamo, Canadá, 2013)
Cyborg – O Dragão do Futuro (Cyborg, EUA, 1989)
Deusa da Cidade Perdida, A (She, Inglaterra, 1965)
Fim do Amanhã, O / No Limite da Salvação
(Age of Tomorrow, EUA, 2014)
Górgona, A (The Gorgon, Inglaterra, 1964)
Independence Daysaster (Canadá, 2013)
Mil Séculos Antes de Cristo (One Million Years B.C., Inglaterra, 1966)
Usina de Monstros (Quatermass 2 / Enemy From Space, Inglaterra, 1957,
PB)
* O Beijo do Vampiro (1963)
– A produtora inglesa “Hammer” tem em seu vasto catálogo vários filmes de
vampirismo, muitos deles com a dupla Christopher Lee e Peter Cushing liderando
os elencos. Mas, também tem filmes sem a presença desses astros, como “O Beijo
do Vampiro”, que traz Clifford Evans no papel do caçador de vampiros e Noel
Willman no papel do líder de uma seita vampírica. A direção é do australiano
Don Sharp, de “Rasputin – O Monge Louco” (66), e o roteiro é de autoria do
produtor Anthony Hinds, utilizando o pseudônimo John Elder. A história é
ambientada no início do século XX, onde um casal em lua de mel, Gerald Harcourt
(Edward de Souza) e Marianne (Jennifer Daniel), está viajando de carro por estradas
remotas da Alemanha quando a falta de gasolina os obriga a se hospedar num
decadente hotel pouco frequentado. Os proprietários são um casal de idosos
formado por Bruno (Peter Madden) e Anna (Vera Cook), que dizem que não recebem
hóspedes há muito tempo e apenas um dos quartos está ocupado. O outro hóspede é
o Prof. Zimmer (Clifford Evans), um homem rude e alcoólatra, estudioso de
ocultismo e que está na região com objetivos misteriosos investigando as
atividades de uma família que vive num imenso castelo vizinho. O sinistro e
refinado cientista Dr. Ravna (Noel Willman) é o dono do imponente mausoléu de
pedra, onde vive com um casal de filhos, Carl (Barry Warren) e Sabena (Jacquie
Vallis). Os jovens viajantes são então convidados para uma festa no castelo e
não imaginariam que no local existe um culto vampírico liderado pelo Dr. Ravna,
exilado de sua cidade natal devido uma falha num de seus experimentos
científicos, e que ficou encantado com a beleza de Marianne, desejando o seu
ingresso na sociedade secreta de sugadores de sangue. Mesmo sem os tradicionais
“Drácula” e “Prof. Van Helsing”, “O Beijo do Vampiro” é mais uma preciosidade
da “Hammer” dentro da temática dos vampiros humanos, seres bestiais que se
alimentam do sangue de outros humanos. A narrativa é lenta, com uma atmosfera
gótica e de horror sutil, sem violência e com pouca exposição de sangue, mas
com as tradicionais características do estilo tão cultuado pelos fãs do
estúdio, com um castelo tétrico, um baile com máscaras sinistras e bizarras de
gelar a espinha, aldeões vivendo em constante medo, lindas vampiras sedutoras e
um culto vampírico secreto. Tem até um ataque de dezenas de morcegos (de
borracha e manipulados por barbantes) invocados num ritual de magia negra pelo
Prof. Zimmer, contra os discípulos da seita do Dr. Ravna, numa similaridade com
o ataque dos pássaros no filme de Alfred Hitchcock lançado no mesmo ano de
1963. Com direito a toques de erotismo de belas mulheres vampiras sendo sugadas
pelos morcegos. Curiosamente, o filme teve uma versão americana estendida,
produzida para a televisão, com o acréscimo de mais personagens e que recebeu o
título de “Kiss of Evil”. “O Beijo do Vampiro” é o terceiro filme de vampirismo
da “Hammer” em ordem cronológica, sucedendo “O Vampiro da Noite” (58), com a
dupla Lee e Cushing, e “As Noivas do Vampiro” (60), com Cushing sozinho. (RR – 06/06/15)
* Chupacabra (2013) – O
canal de TV a cabo “SyFy” é voltado para filmes de ficção científica e horror.
Seu slogan é “SyFy – Imagine Mais”. Mas, o ideal seria algo como “Imagine
filmes ruins e no SyFy eles são piores ainda”. É o cinema fantástico bagaceiro
do século XXI, com histórias fracas, elenco inexpressivo, CGI vagabundo,
produção tosca, e tudo com uma roupagem moderna. Se essas tranqueiras serão cultuadas
no futuro, somente o tempo dirá, mas o que certamente podemos dizer agora, é
que são filmes péssimos e o espectador precisará ser muito paciente e pouco
exigente para tentar conseguir alguma diversão, mesmo que em pequenas e logo
esquecíveis doses. Dirigido por Terry Ingram, “Chupacabra” tem a curiosidade da
presença na liderança do elenco do veterano Erik Estrada, o policial rodoviário
Frank Poncherello da série de TV “CHiPs” (1977 / 1983), que foi exibida à
exaustão na televisão brasileira. O ator faz o papel do policial da divisão de
narcóticos, agente Carlos Seguin, na pequena cidade americana de San Antonio,
no Estado do Texas, divisa com o México. Inclusive, provavelmente servindo de
homenagem ao ator e à série de TV, temos várias cenas gratuitas com ele
dirigindo uma bela e imponente moto, com direito até a uma acrobacia saltando
sobre um canteiro de obras. Junto com a nova parceira, Tracy Taylor (Julian
Benson), ele recebe a missão de investigar as mortes misteriosas e de forma
sangrenta de um grupo de traficantes de drogas. Descobrindo mais tarde que a
responsabilidade dos assassinatos é de um bando imenso de “chupacabras”, uma
lenda urbana que virou realidade, animais mutantes e nômades, misto de
cachorros e coiotes, que invadem a cidade à procura de comida, encontrando nos
seres humanos a carne e o sangue para saciarem sua fome. A dupla de policiais
forma uma improvável aliança com um grupo de arruaceiros rebeldes, e fortemente
armados, partem para o combate contra a invasão da horda de “chupacabras” que
já fizeram dezenas de vítimas. Culminando num confronto decisivo dentro do
histórico Forte Álamo (daí o título original), que no passado teve importância
relevante na guerra entre Estados Unidos e México pela posse do Texas. A
invasão de uma pequena cidade por animais enfurecidos ou criaturas
sobrenaturais é a já conhecida e largamente explorada premissa básica do filme.
Dentro desse clichê, ainda temos um elenco patético, com exceção talvez para a
nostalgia da presença de Erik Estrada, somado com uma história despreocupada
com lógica ou coerência, e efeitos tão vagabundos de computação gráfica que
obviamente não convencem. São “chupacabras” aparecendo por todos os lados,
sendo abatidos por tiros, e atacando os humanos como cachorros raivosos. É
verdade que tem bastante sangue, com mortes violentas, mas com uma
artificialidade que não funciona. Ainda tem os comentários patéticos no meio do
caos e o desfecho previsível onde facilmente sabemos quem serão os
sobreviventes e os vitoriosos da batalha. Mais um filme descartável exibido
pelo canal “SyFy”, que deveria “imaginar” que seus espectadores gostariam de
ver filmes melhores. (RR – 05/07/15)
* Cyborg – O Dragão do
Futuro (1989) – Com produção da saudosa “Cannon”, de Menahem Golan e Yoram
Globus, direção de Albert Pyun e com o ator belga Jean-Claude Van Damme,
especialista em artes marciais, “Cyborg – O Dragão do Futuro” é um filme de
ação e porradaria com elementos de ficção científica, na ambientação de um
mundo pós-apocalíptico, devastado por uma peste. Além da presença de uma
cyborg, numa mistura de mulher e máquina, carregando uma informação vital para
a cura da doença que assola a civilização em decadência. Van Damme
é Gibson Rickenbacker, um homem que vaga pela cidade destruída de New York, num
mundo selvagem em ruínas à procura de vingança pessoal contra um pirata chamado
Fender Tremolo (o neo-zelândes Vincent Klyn), que lidera uma gangue que espalha
terror e violência para os poucos sobreviventes do caos, e que tentam
sobreviver num mundo desolado. Ele encontra em seu caminho uma moça guerreira,
Nady Simmons (Deborah Richter), e juntos partem em busca dos piratas, que
sequestraram uma mulher cyborg, Pearl Prophet (a canadense Dayle Haddon), que
possui uma informação essencial que pode curar a praga que assola a humanidade.
Eles estão levando-a para a cidade de Atlanta, onde estão os últimos médicos e
cientistas que podem evitar a extinção da humanidade. A intenção do maníaco
Fender é tornar-se um ditador sanguinário com o poder da cura da peste nas
mãos, e até chegarem ao destino final, o caminho de sua gangue e do lutador
Gibson se cruzará muitas vezes em confrontos violentos. A história futurista é
bem simples, com poucos diálogos (o personagem de Van Damme quase não fala, só
distribui porradas), muitas lutas, tiroteios, perseguições e selvageria num
mundo pós-apocalíptico. E nem precisa de explicações e conversas fúteis, pois o
mundo está em colapso, destruído pela anarquia, genocídios e fome, e uma praga
está dizimando o que restou da civilização humana, o que pode ser resumido num
breve diálogo entre o monossilábico Gibson e a guerreira Nady:
- Já está acostumado? – pergunta a moça.
- Com o quê?
- A matança.
- Eu não fiz o mundo – responde o áspero Gibson.
- Não. Apenas vive nele.
O filme é até divertido dentro de sua proposta simples de mostrar
pancadaria desenfreada e muita gritaria num ambiente futurista de desolação.
Van Damme é um daqueles atores com imagem totalmente associada aos filmes de
lutas, e que mesmo tentando fazer papéis um pouco diferentes, sempre será
lembrado pelas produções de ação e porradas. Em “Cyborg”, sua escolha para o
papel principal veio depois de atuar em outros dois filmes similares
anteriores, “Retroceder Nunca, Render-se Jamais” (No Retreat, No Surrender, 1986)
e “O Grande Dragão Branco” (Bloodsport, 1988), que lhe trouxeram notoriedade
dentro do estilo que já tinha atores mais conhecidos como Chuck Norris, sem
contar astros mais famosos como Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger.
Curiosamente, vieram em seguida outros três filmes dentro desse universo
ficcional: “Cyborg 2: Glass Shadow” (1993), “Cyborg 3: The Recycler” (1994) e
“Cyborg Nemesis” (2014). O roteiro de “Cyborg – O Dragão do Futuro” também é do
diretor Albert Pyun, usando o pseudônimo Kitty Chalmers, e foi criado a partir
do cancelamento da produção de “Masters of the Universe 2 – The Cyborg”,
utilizando os vestuários e cenários idealizados para a sequência inexistente de
“Mestres do Universo” (1987), com Dolph Lundgreen. (RR – 05/06/15)
* A Deusa da Cidade Perdida
(1965) – A produtora inglesa “Hammer” é normalmente lembrada por seus
filmes de horror gótico, mas também fazem parte de seu catálogo histórias de
aventura com elementos de fantasia, como “A Deusa da Cidade Perdida” (1965),
com direção de Robert Day e roteiro de David T. Chantler, baseado em livro de
H. Rider Haggard. E no elenco ainda temos a dupla Peter Cushing e Christopher
Lee, e eles atuam ao lado da estonteante atriz suiça Ursula Andress, a “deusa”
do título nacional. Na Palestina de 1918, um arqueólogo a
serviço do exército inglês, Major Horace L. Holly (Peter Cushing), juntamente
com seu fiel mordomo Job (Bernard Cribbins) e o jovem amigo aventureiro Leo
Vincey (John Richardson), tentam descansar num bar dançante, bebendo, conversando
e se divertindo com as belas mulheres locais. Porém, a incrível semelhança
física de Leo com uma imagem num medalhão antigo, desperta uma atenção especial
e ele recebe um anel precioso e um mapa para localizar a misteriosa cidade
faraônica de Kuma, perdida no vasto deserto em direção à África. Os três amigos
montam uma pequena expedição com a esperança de encontrar a cidade e possíveis
tesouros. Kuma é governada com tirania por uma linda e sobrenatural mulher
chamada Ayesha (Ursula Andress), que tem o poder de imortalidade, e que conta
com o apoio do sumo sacerdote Billali (Christopher Lee) para manter a ordem e
obediência com os escravos. Ela acha que Leo pode ser a reincarnação de seu
amado companheiro de séculos atrás, Callicrates, oferecendo-lhe a oportunidade
de vida eterna com poder e riquezas. O filme é uma típica aventura com
fantasia, daquelas que eram exibidas com frequência na saudosa “Sessão da
Tarde” da TV Globo. O tema de “cidade perdida” costuma despertar a curiosidade,
instigando a imaginação sobre as lendas de civilizações escondidas. Peter
Cushing, como sempre, lidera o elenco com seu talento característico, e
Christopher Lee aparece menos, ficando com um papel secundário, mas sua
presença sempre é motivo de interesse. E tem a beleza de Ursula Andress, no
auge da carreira na época, após atuar com Sean Connery no filme do agente
secreto 007 em “O Satânico Dr. No” (1962). O escritor Henry Rider Haggard é conhecido
por suas histórias de aventuras que inspiraram muitos filmes como “As Minas do
Rei Salomão” (1985) e “Allan Quatermain e a Cidade do Ouro Perdido” (1986),
ambos com Richard Chamberlain. Além de “She”, que recebeu inúmeras outras
versões no cinema. “A Deusa da Cidade Perdida” teve uma
sequência em 1968, “A Vingança da Deusa” (The Vengeance of She), também com
produção da “Hammer”. (RR – 20/06/15)
* O Fim do Amanhã (2014)
– A produtora americana “The Asylum” é conhecida por seus filmes tranqueiras de
ficção científica e horror, com roteiros ridículos, atores inexpressivos e
efeitos especiais vagabundos. São produções baratas feitas em pouco tempo sem
qualquer tipo de preocupação com lógica, verossimilhança ou qualidade. O
importante é produzir em quantidade e descarregar seus filmes em lançamentos em
DVD e exibições na televisão, como o canal a cabo “SyFy”, especializado no
gênero. Podemos considerar como o “cinema bagaceiro do século XXI”, que se hoje
é ruim demais e um exercício de coragem e excesso de tolerância para conseguir
assistir, pode ser que daqui meio século essas porcarias até sejam cultuadas,
justamente por suas características bagaceiras. Assim como atualmente temos uma
legião de apreciadores dos filmes tranqueiras com roteiros absurdos e efeitos
toscos produzidos em imensa quantidade a partir de meados do século passado.
“The Asylum” também é conhecida por descaradamente e assumidamente copiar o
nome, a ideia central e partes das histórias de filmes com orçamentos
milionários, aproveitando o sucesso comercial dos chamados “blockbusters”. Eles
lançam em pouco tempo as suas versões fuleiras desses filmes de grandes
bilheterias, que ganharam o nome pejorativo “mockbusters”. Dentro desse
princípio, a produtora oportunista fez “O Fim do Amanhã” (Age of Tomorrow),
dirigido por James Kondelik, e que também ganhou o título no Brasil de “No
Limite da Salvação”, quando exibido pelo canal de TV “SyFy” (algo típico em
nosso país, que costuma criar vários nomes para os filmes, confundindo e
dificultando um trabalho de pesquisa e catalogação). No caso, o plágio é para o
ótimo “No Limite do Amanhã” (Edge of Tomorrow), com o astro Tom Cruise. Na
cópia picareta, um grande asteróide está em rota de colisão com a Terra,
obrigando o exército, sob o comando do General Magowan (Robert Picardo), com o
auxílio do Coronel Mac (Mitchell Carpenter), a organizar uma equipe para uma
missão que viajaria até o asteróide a bordo de um foguete e tentaria explodir
partes dele, desviando sua rota. A equipe é liderada pelo Capitão James Wheeler
(Anthony Marks), que conta com a ajuda da cientista Dra. Gordon (Kelly Hu),
entre outros. Lá chegando, eles encontram uma caverna e em seu interior uma
sala de controle com um portal tecnológico de teleporte para outro planeta,
descobrindo que o asteróide é apenas uma ponte para uma invasão alienígena.
Enquanto isso, numa trama paralela, na Terra as pessoas estão sendo atacadas
por máquinas fortemente armadas e um bombeiro metido a herói (típico dos
americanos), Chris Meher (Lane Townsend), se junta ao militar Major Blake (Nick
Stellate) para combater a ameaça do espaço e tentar encontrar sua filha no meio
da confusão. Todos acabam se encontrando no planeta dos invasores e descobrem
que eles estão abduzindo os humanos, mantendo-os prisioneiros e fazendo
experiências. É inevitável um confronto mortal com eles com os heróis lutando
pela continuidade da civilização humana. O filme foi rodado em Los Angeles , na
California, em apenas quinze dias, o que dá para imaginar o resultado final,
com a história sendo contada muito rapidamente, sendo impossível estabelecer
qualquer tipo de empatia com os personagens, que são fúteis ao extremo. Tudo é
bagaceiro demais, desde o elenco patético ao CGI vagabundo. O bombeiro herói
usa um machado como arma, desferindo golpes para todos os lados, destruindo as
sondas robóticas que atacam a Terra e os alienígenas em seu planeta, e o
machado está sempre limpo e impecável. As decisões estratégicas para definir o
futuro da humanidade que está com risco de extinção por uma invasão alienígena,
são todas tomadas por um único militar, pois o filme não tem orçamento para
reunir uma conferência com representantes que definiriam melhor o destino de
nosso mundo. “O Fim do Amanhã” é um filme tão descartável que nem mereceria ter
tantas linhas nessa resenha. (RR – 07/06/15)
* A Górgona (1964) – A
dupla de atores ícones do gênero Horror, Peter Cushing e Christopher Lee,
estiveram juntos em vários filmes, agregando um valor inestimável ao gênero.
Alguns destes filmes foram produzidos pelo cultuado estúdio inglês “Hammer”, e
parte deles também teve a direção do especialista Terence Fisher, o principal
cineasta da produtora. “A Górgona” (1964) reúne os três numa história com
elementos góticos explorando um monstro da mitologia grega, com roteiro de John
Gilling, a partir de uma história original de J. Llewellyn Devine. “Sobre a
aldeia de Vandorf se ergue o Castelo Borski. Desde a virada do século, um
monstro de tempos remotos chegou para viver lá. Ninguém que tenha se deparado
com ele sobreviveu, e o espírito da morte ronda esperando sua próxima vítima.” Com essa
narração, o filme tem início com uma ambientação no início do século XX numa
pequena cidade alemã. O médico de um hospital psiquiátrico, Dr. Namaroff (Peter
Cushing), tenta guardar um segredo envolvendo a ocorrência de mortes
misteriosas na região durante a lua cheia, com os cadáveres literalmente
petrificados, registrando atestados de óbito falsos e encobrindo a verdade. Sua
assistente, a bela Carla Hoffman (Barbara Shelley), não se sente à vontade com
o excesso de super proteção do médico. A polícia, representada pelo Inspetor
Kanof (Patrick Troughton), está pressionada pelo contínuo insucesso na
investigação dos misteriosos assassinatos, num ambiente que evidencia uma
conspiração de silêncio e medo. Nesse cenário de mistério, as coisas complicam
mais ainda após a chegada no vilarejo de Paul Heitz (Richard Pasco), que vem
para investigar a morte de seu pai, o Prof. Jules Heitz (Michael Goodliffe),
estudioso de mitologia grega e que morreu em circunstâncias estranhas. O jovem
recém chegado se apaixona por Carla, que corresponde o seu interesse amoroso.
Ele também solicita a ajuda de seu amigo Prof. Karl Meister (Christopher Lee),
um conceituado acadêmico da Univedrsidade de Leipzig, para juntos tentarem
descobrir o mistério por trás das mortes cujas vítimas foram transformadas em
pedra. “Havia três horrendas irmãs monstruosas, as Górgonas. Seus nomes
eram Tisifona, Medusa e Megera. Tinham serpentes vivas nas cabeças e cada uma
delas era um tentáculo do cérebro diabólico que possuíam. Tão espantosas eram
as Górgonas que todo aquele que as viam se convertia em pedra.” – anotações do
Prof. Heitz, escritas momentos antes de morrer petrificado, revelando
informações sobre a lenda de dois mil anos de uma mulher com cobras na cabeça e
que poderia estar em atividade ao se apossar do corpo de outra mulher. Gosto
pessoal é algo totalmente subjetivo, e no caso específico de “A Górgona” posso
revelar que o filme está entre os meus preferidos da “Hammer”. Além da presença
da dupla Cushing e Lee e do cineasta Terence Fisher, a ambientação gótica é
bastante eficiente, com uma atmosfera sinistra constante, acentuada pelo
castelo abandonado há meio século, envolto em névoa e cercado por árvores
retorcidas e fantasmagóricas. E tem um monstro habitando suas ruínas
decrépitas, a última das górgonas, que transforma suas vítimas em pedra. Apesar da
concepção visual da górgona Megera (interpretada por Prudence Hyman) não ter
agradado ao produtor Anthony Nelson Keys, que juntamente com Christopher Lee,
revelou sua insatisfação com os efeitos toscos utilizados para simular as
serpentes, e também pelos clichês inevitáveis da história, o filme ainda assim
funciona muito bem como representante legítimo do estilo gótico e horror
sugestivo da “Hammer”. Curiosamente, o grande ator Christopher
Lee, que normalmente faz os papéis de vilão (com destaque para o eterno vampiro
“Drácula”), assume o posto contrário em “A Górgona”, interpretando um influente
professor que tenta desvendar os assassinatos misteriosos em Vandorf. E Peter
Cushing, que na maioria das vezes está do lado que combate o mal, é agora o
principal articulador de uma conspiração para abafar a real causa dos
assassinatos, apesar de sua motivação ser passional. (RR – 28/06/15)
* Independence Daysaster
(2013) – Típico exemplo do cinema bagaceiro do século XXI. Com produção
canadense e direção de W. D. Hogan, de “Behemoth” e “Earth´s Final Hours”
(ambos de 2011). Foi exibido pelo canal de TV a cabo “SyFy”, que ajudou na
distribuição mundial. O título picareta já diz tudo, com uma história de invasão
alienígena no comemorativo dia 04 de Julho nos Estados Unidos, data que lembra
a sua independência. Curiosamente, o filme nem é americano, com seus vizinhos
de cima demonstrando falta de imaginação, e optando por explorar um assunto que
já é um clichê exaustivo. E o nome, com uma junção oportunista das palavras em
inglês “Day” e “Disaster”, também nos remete ao anterior da década de 90 do
século passado, com Will Smith, Bill Pullman e Jeff Goldblum, mais conhecido e
produzido com muito mais dinheiro. Na história, uma pequena cidade do interior
dos Estados Unidos é destruída por imensas máquinas perfuradoras que saem
debaixo do solo, com o apoio aéreo de pequenas sondas esféricas voadoras,
equipadas com armas poderosas, e que estão em comunicação com uma imensa nave
mãe estacionada perto da lua. Logo é revelada uma invasão extraterrestre em
escala mundial, num ataque maciço com grande poder de destruição e caos global.
Para combater a ameaça mortal dos alienígenas é lógico que temos um improvável
time de heróis formado por cidadãos comuns que formarão a base da resistência.
O bombeiro Pete Garcette (Ryan Merriman), que é irmão do Presidente americano
Sam Garcette (Tom Everett Scott), encontra-se com Celia Lehman (Emily Holmes),
uma técnica do programa “S.E.T.I.” (Procura por Inteligência Extraterrestre).
Eles se juntam com um grupo de adolescentes que incluem o filho do Presidente,
Andrew (Keenan Tracey) e sua namorada Eliza (Andrea Brooks), além de um casal
de nerds especialistas em informática e invasão de sistemas de comunicação. O
grupo descobre uma arma capaz de anular o funcionamento das sondas voadoras
alienígenas e tenta avisar o exército num plano de retaliação contra os
invasores. Patético do início ao fim, barulhento, sonolento, com elenco inexpressivo,
CGI vagabundo e história entediante de tão previsível, carregada de ufanismo
americano. Eles são os salvadores do mundo, nunca desistem, e nosso planeta sem
a sua proteção certamente seria um alvo fácil para qualquer invasão alienígena.
São tantos filmes medíocres que insistem nesse clichê que fica difícil criar
algum tipo de sintonia com a história. O resultado acaba surtindo um efeito
contrário, com o espectador impaciente obrigando-se a torcer pelo extermínio da
humanidade e pelo sucesso dos invasores vindos do espaço. (RR – 14/06/15)
* Mil Séculos Antes de
Cristo (1966) – Dentre as várias temáticas de filmes da produtora inglesa
“Hammer”, existem aquelas ambientadas na pré-história, ou seja, aventuras com
elementos de fantasia. “Mil Séculos Antes de Cristo” (1966) é um destes filmes,
e que traz como diferencial a presença da belíssima Rachel Welch liderando o
elenco ao lado de John Richardson (que esteve no anterior “A Deusa da Cidade
Perdida”, 1965), além dos divertidos efeitos de “stop motion” do mestre Ray
Harryhausen. A direção é de Don Chaffey (de “Criaturas Que o Mundo Esqueceu”,
1971, também da “Hammer”), e a história se passa num longínquo período no
passado, onde humanos primitivos e dinossauros conviviam no mesmo ambiente
hostil, num planeta Terra ainda em formação. E com muitos perigos que ameaçavam a
sobrevivência dos seres vivos, desde a natural e impiedosa cadeia alimentar até
a instabilidade do solo, com terremotos e erupções vulcânicas catastróficas.
Nesse cenário, um dos homens primitivos, Tumak (John Richardson), é banido de
seu grupo pelo próprio pai, o líder Akhoba (Robert Brown), sendo obrigado a
explorar as regiões externas, deixando para trás sua antiga tribo, que vivia em cavernas. Após
algumas aventuras perigosas e encontros com animais imensos interessados em sua
carne, ele é acolhido por outra tribo, formada por homens e mulheres loiros,
que também vivia em cavernas próximas ao mar, de onde tiravam parte de seu
sustento com a pesca de peixes, além de um cultivo com agricultura rudimentar.
Eles eram mais evoluídos, faziam pinturas nas paredes de pedra e fabricavam
lanças pontudas para servir de armas na defesa contra os dinossauros e para
facilitar a caça. Tumak desperta o interesse de uma bela moça, Loana (Rachel
Welch). Porém, depois de uma briga, o intruso também é expulso do novo grupo, e
Loana decide acompanhá-lo. Eles enfrentam juntos vários perigos e ameaças com
ataques de dinossauros diversos, até reencontrarem a antiga aldeia de Tumak,
gerando um confronto com o irmão rival Sakana (Percy Herbert), além de
enfrentarem a devastadora erupção de um vulcão. Com apenas algumas frases de um
narrador no início e grunhidos dos homens e mulheres pré-históricos no restante
do filme, é inevitável o surgimento de certo desinteresse pela história. E o
grande destaque despertando a atenção do espectador é o trabalho de “stop
motion” de Ray Harryhausen, nas inúmeras cenas com dinossauros e monstros
gigantes, tanto nos ataques aos humanos primitivos quanto nos confrontos entre
si. Temos tartarugas, aranhas e lagartos gigantescos, sendo que no caso desse
último, é um animal real filmado numa perspectiva que passa a sensação de
gigante, uma técnica já utilizada em vários filmes anteriores como “Viagem ao
Centro da Terra” (59), “O Gigante Monstro Gila” (59) e “O Mundo Perdido” (60).
Além de primatas agressivos, criaturas voadoras e dinossauros de todos os tipos
e tamanhos, todos ávidos por supremacia territorial, conquista de liderança e
por saciar a fome com a carne dos rivais, incluindo no cardápio nossos
antepassados. “Mil Séculos Antes de Cristo” é uma refilmagem de “O Despertar do
Mundo”, filme americano de 1940 e com Victor Mature e Lon Chaney Jr, e que por
sua vez também foi refilmado pela mesma “Hammer” em 1970 com “Quando os Dinossauros
Dominavam a Terra” (When Dinosaurs Ruled the Earth), dirigido por Val Guest. (RR –
24/06/15)
* Usina de Monstros
(1957) – O estúdio inglês “Hammer” ficou famoso e cultuado por seus inúmeros
filmes coloridos de horror gótico. Porém, a produtora também tem em seu
catálogo uma série de filmes em preto e branco com temática principal de Ficção
Científica, lançados no final dos anos 50 do século passado, e que fazem parte
de um conjunto de preciosidades daquele período especial do cinema fantástico.
“Usina de Monstros” é um filme de invasão alienígena dirigido por Val Guest e
com o ator irlandês Brian Donlevy (de “A Maldição da Mosca”, 1965) repetindo
seu papel do cientista Quatermass, que também esteve em “Terror Que Mata” (The
Quatermass Xperiment, 1955). Na história, o Prof. Quatermass está tentando
obter recursos do governo para financiar seu projeto científico de uma complexa
base lunar. Porém, não conseguindo sucesso na liberação de verbas, sua atenção
é desviada para a misteriosa ocorrência da queda de inúmeros meteoritos. Indo
até a região das quedas para estudar o fenômeno, na pequena cidade de Winnerden
Flats, ele encontra uma fábrica imensa controlada por guardas fortemente
armados e hostis, que utiliza a população do vilarejo como mão de obra para
supostamente produzir comida sintética. Porém, depois que o cientista descobre
que os estranhos objetos caídos do espaço possuem formatos aerodinâmicos que
guardam em seu interior um gás venenoso composto de amônia, e mortal para os
humanos, ele decide investigar junto com o inspetor de polícia Lomax (John
Longden), o mistério por trás da usina. A qual curiosamente tem o formato
similar ao seu projeto de colonização lunar e que trabalha de forma
confidencial, parecendo esconder suas reais intenções. “Usina de Monstros” é
uma ficção científica com elementos de horror situada dentro do sub-gênero de
invasões alienígenas, ao apresentar uma conspiração secreta para a conquista de
nosso mundo por um gigantesco organismo amorfo formado por milhões de partículas
inteligentes com uma só consciência. Controlando os seres humanos para colocar
em prática seu plano de invasão, e infiltrando-se em importantes setores do
governo e das autoridades militares.
Entre as várias curiosidades interessantes, podemos citar:
* o filme também é conhecido pelo título original “Enemy From
Space” nos Estados Unidos;
* ele faz parte do universo ficcional criado pelo roteirista Nigel
Kneale, composto por vários filmes e séries de TV, porém da “Hammer” temos uma
trilogia formada por “Terror Que Mata”, “Usina de Monstros” e “Uma Sepultura na
Eternidade” (Quatermass and the Pit, 67), esse último com Andrew Keir no papel
do cientista;
* o ator Michael Ripper (1913 / 2000), eterno coadjuvante em
muitas produções da “Hammer”, dono de um currículo imenso com mais de duzentos
trabalhos, aparece em “Usina de Monstros” como um dos moradores do vilarejo que
se rebela contra os “inimigos do espaço”;
* nos créditos finais temos um agradecimento especial dos
produtores para a famosa empresa de combustíveis “Shell”, que cedeu uma
refinaria de sua propriedade para servir de locação para as cenas na “usina dos
monstros”, o projeto secreto dos alienígenas para tomar nosso mundo;
* a palavra “zumbi” é mencionada algumas vezes para se referir às
vítimas infectadas pelos alienígenas, transformando-as em criaturas desprovidas
de ações próprias, tendo suas mentes controladas. (RR – 05/06/15)