Filmes abordados:
Alienator – A Exterminadora
Indestrutível (Alienator, EUA, 1990)
Sete Mortes Nos Olhos de Um Gato (La Morte Negli Occhi del Gatto, Itália / França /
Alemanha Ocidental, 1973)
Uma Noite de Horror / A Matilha da
Maldição (Monster Dog, EUA / Espanha
/ Porto Rico, 1984)
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* Alienator
– A Exterminadora Indestrutível (1990)
Mais uma bagaceira de FC do especialista em
tranqueiras Fred Olen Ray
“Em um canto longínquo da galáxia, um
batalhão rebelde bem armado monta uma emboscada para os exércitos do Grande
Tirano, Baal. Um massacre se segue. Milhares de inocentes morrem, e o líder da
revolução Kol é capturado e sentenciado à morte. Hoje num escuro planeta prisão
de onde ninguém jamais escapou, o Comandante Executor se prepara para mandar
seu prisioneiro direto para o inferno.” – Introdução.
Com um título nacional sonoro e sensacionalista (e
talvez até com um “spoiler” na palavra “indestrutível”), “Alienator – A Exterminadora Indestrutível” (1990) é outro exemplo
do cinema fantástico bagaceiro do diretor veterano Fred Olen Ray, o mesmo
responsável por diversas tranqueiras, citando apenas algumas dos anos 80 do
século passado como “Vale da Morte” (1985), “Confusão nas Estrelas” (1986), “A
Maldição da Tumba” (1986), “Cyclone – A Máquina Fantástica” (1987), “Hollywood
Chainsaw Hookers” (1988), “Alien – O Terror do Espaço” (1988), “Guardiões do
Futuro” (1988) e “A Maldição dos Espíritos” (1990).
Kol (Ross Hagen), o líder dos rebeldes conforme
descrito na introdução, encontra-se preso e no corredor da morte. A
penitenciária é controlada com rigor pelo Comandante Executor (Jan-Michael
Vincent), que tem seus momentos galanteadores com a secretária Tara (P. J.
Soles). Depois que a prisão recebe uma visita de inspeção do General Delegado
Lund (Robert Clarke), que tem ideias pacifistas, Kol aproveita uma oportunidade
e consegue escapar numa pequena nave, indo em direção à Terra.
Lá, numa estrada no meio da floresta de uma
cidadezinha do interior americano, ele encontra um grupo de adolescentes
acéfalos formado por dois casais de namorados, Rick (Richard Wiley) e Caroline
(Dawn Wildsmith), e Benny (Jesse Dabson) e Orrie (Dyana Ortelli). Os jovens
pedem ajuda para um policial florestal, Ward Armstrong (John Phillip Law), e
todos juntos precisam enfrentar o ataque de uma androide alienígena
exterminadora “indestrutível” conhecida como “Alienator” (interpretada por
Teagan Clive), que foi enviada para eliminar o prisioneiro fugitivo Kol. Para
auxiliá-los no confronto com a máquina de guerra de outro mundo, eles se unem
ao veterano Coronel Coburn (Leo Gordon), um ex-militar com experiência em
batalhas e que vive numa cabana na floresta.
“Aqui é a privada do sistema penal
interplanetário e nosso trabalho é dar a descarga.” – Comandante Executor
O filme é uma bagaceira proposital, com diálogos e
situações hilárias, cujo roteiro simples é um imenso clichê, mostrando a
manjada história de uma criatura cibernética exterminadora vinda do espaço para
rastrear um prisioneiro que se escondia em nosso planeta. A sala de comando da
prisão espacial está repleta de painéis imensos, com botões e interruptores, e
os demais ambientes simulam celas com corredores e salas típicas de uma fábrica
com escadas, válvulas e tubulações externas para todos os lados. A nave
espacial é uma maquete tosca e a exterminadora do título tem uma aparência
exagerada, com pouca roupa, sangue amarelo, portando armas futuristas de raio
laser e evidenciando o corpo musculoso de Teagan Clive, que também é
fisiculturista. Aliás, ela só aparece em cena após quase quarenta minutos de
filme, então é fácil deduzir que o diretor Fred Olen Ray procurou enrolar
bastante a história com futilidades.
Curiosamente, temos no elenco a presença de vários
veteranos cujos rostos são reconhecidos, como Leo Gordon (1992 / 2000), Robert
Clarke (1920 / 2005) e Robert Quarry (1925 / 2009).
Leo Gordon esteve em dezenas de filmes de western e “O
Castelo Assombrado” (1963). Robert Clarke esteve em “O Homem do Planeta X”
(1951) e “The Astounding She-Monster” (1957), filme que inspirou a história de
“Alienator”, além de “The Incredible Petrified World” (1959) e “Além da
Barreira do Tempo” (1960). Já Robert Quarry foi um vampiro em “Conde Yorga,
Vampiro” (1970) e a continuação “A Volta do Conde Yorga” (1971), e esteve em
outras pérolas como “A Câmara de Horrores do Abominável Dr. Phibes” (1972), “A Vingança
dos Mortos” (1974) e “A Casa do Terror” (1974). Em “Alienator”, ele fez o papel
de um médico alcoólatra, Dr. Burnside, numa participação rápida.
Vale também citar a presença da bela atriz alemã P. J.
Soles, que esteve em “Carrie: A Estranha” (1976) e no clássico de John
Carpenter, “Halloween: A Noite do Terror” (1978), o primeiro filme do psicopata
mascarado Michael Myers.
Após o término do filme tem uma citação dedicatória
para o ator Fox Harris (1936 / 1988), que fez o atrapalhado caçador Burt e que
faleceu logo após as filmagens.
(RR – 06/02/18)
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* Sete
Mortes Nos Olhos de Um Gato (1973)
Divertido filme europeu com assassinatos
misteriosos numa ambientação de horror gótico e maldição familiar
“Quando um MacGrieff é morto por alguém de seu próprio sangue, não
morre, mas torna-se vampiro, para vingar a própria morte.”
Numa co-produção de três países europeus, Itália,
França e Alemanha Ocidental (na época ainda não era unificada), e direção de
Antonio Margheriti (creditado como Anthony M. Dawson), “Sete Mortes Nos Olhos de Um Gato” (La Morte Negli Occhi del Gatto,
1973) é um daqueles divertidos filmes com mortes misteriosas e investigação policial numa ambientação típica
de horror gótico e maldição familiar.
Uma antiga e tradicional família do interior da
Escócia, os MacGrieff, cujo brasão mostra um temível vampiro, vive num imenso
castelo chamado “Dragonstone”, uma construção de pedras localizada no alto de
um penhasco, constantemente cortada por ventos uivantes. A proprietária Lady
Mary (a francesa Françoise Christophe) está falida e precisa de dinheiro para
manter o castelo, aconselhada a vender o imóvel pelo Dr. Franz (o alemão Anton
Diffring), médico da família. Ele está cuidando do jovem Lord James (o
americano Hiram Keller), filho de Lady Mary, recluso e considerado doente,
perturbado com o tratamento que recebe, e com um passado sinistro envolvendo a
morte suspeita de sua irmã quando criança.
No castelo ainda vive como hóspede a bela Suzanne (a
alemã Doris Kunstmann), contratada como professora de francês, mas que tem
atitudes suspeitas e objetivos obscuros. Além do serviçal Angus (o italiano
Luciano Pigozzi, creditado como Alan Collins), o mordomo Campbell (o alemão
Konrad Georg, creditado como George Korrade) e sua esposa Janet (a italiana
Bianca Doria). Outros convidados são Lady Alicia (a italiana Dana Ghia), a irmã
rica de Lady Mary, que costuma passar as férias no castelo, mas não quer
emprestar dinheiro para salvar a irmã falida, e o padre Reverendo Robertson (o
italiano Venantino Venantini), que costuma visitar o castelo representando a
igreja católica e para manter as relações políticas com o que restou da nobre
família MacGrieff.
Para aumentar a lista de hóspedes chega ao castelo
também a bela jovem Corringa (a inglesa Jane Birkin), uma estudante
recém-expulsa de um colégio de freiras, filha de Lady Alicia. Ela chega sem avisar
e surpreende todos. Porém, o ambiente torna-se conturbado quando começam a
ocorrer assassinatos misteriosos no interior do imenso castelo, repleto de
quartos escuros e passagens secretas, todos testemunhados pelos olhos de um
gato amarelo que pertence à família (daí o título do filme).
A série de mortes desperta a atenção da polícia local,
com a investigação do inspetor (o francês Serge Gainsbourg) e todos são
considerados suspeitos, especialmente os membros da família MacGrieff,
historicamente atormentados por uma lenda que diz que depois de assassinados,
eles transformam-se em vampiros, voltando do túmulo para vingar suas mortes.
“Sete Mortes
Nos Olhos de Um Gato” tem um título sonoro, ideia bastante utilizada no cinema
fantástico italiano da década de 1970. E temos uma mistura de história policial
envolvendo mortes misteriosas, com horror gótico no melhor estilo desse
fascinante sub-gênero, não faltando a tradicional maldição familiar com a
especulação constante de motivações sobrenaturais de lendas e folclores
obscuros para justificar os acontecimentos macabros.
Temos aquela divertida atmosfera gótica com seus
elementos tradicionais, mortes estranhas, os olhos de um gato como testemunha,
clima de conspiração entre os suspeitos variados, e até um gorila adquirido de
um circo, para servir de criatura oculta nas sombras aumentando a tensão no
interior do castelo.
O elenco é internacional, com representantes de vários
países. O cineasta italiano Antonio Margheriti (1930 / 2002) é conhecido pela
carreira repleta de divertidas bagaceiras do cinema fantástico, geralmente
utilizando o pseudônimo Anthony M. Dawson. De seus incontáveis filmes podemos
citar “Destino: Espaço Sideral” (1960), “O Planeta dos Desaparecidos” (1961),
“A Mansão do Homem Sem Alma” (1963), “Dança Macabra” (1964), “Carne Para
Frankenstein” (1973), “Cannibal Apocalypse” (1980), “Yor, o Caçador do Futuro”
(1983), e “Alien From the Deep” (1989), entre outros.
“Quando um gato segue o caixão, o falecido é um vampiro.”
(RR – 29/01/18)
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* Uma Noite
de Horror (1984)
Bagaceira oitentista de horror para promover
o cantor de rock Alice Cooper
(OBS.: Texto
datado e descompromissado, publicado originalmente dentro do editorial do
fanzine “Juvenatrix” # 53, de Agosto de 2001, e reproduzido sem atualização,
servindo como um registro de quase duas décadas atrás, e que pode até ser
considerado como uma breve resenha do filme.)
Vale registrar um comentário sobre um filme de horror
obscuro que assisti pela primeira vez em vídeo VHS em 1988 com o manjado nome
de “Uma Noite de Horror” (Monster Dog, 1984), e que não dei muita
importância na época. Depois e mais recentemente, vi novamente o filme no Cine Sinistro da TV Bandeirantes em
16/06/01 com um novo título nacional, igualmente ridículo, “A Matilha da Maldição” (sou da opinião
que certos títulos originais deveriam ser mantidos principalmente quando a
tradução literal soa estranho, e nesse caso poderia ficar simplesmente como
“Monster Dog”).
Esse filme não tem nada de diferente, muito pelo
contrário, é uma história óbvia no estilo “lobisomem”, repleta de clichês e
falhas no roteiro, com atores ruins e totalmente desconhecidos e com efeitos
especiais tão fracos que beiram à paródia. A direção e roteiro são do italiano
Claudio Fragasso, utilizando o pseudônimo Clyde Anderson. A única novidade é a
presença do cantor de rock Alice Cooper como o protagonista, interpretando um
personagem idêntico à sua vida real, um astro do rock que vai junto com sua
equipe de produção até a velha mansão abandonada e isolada de sua família numa
pequena cidade americana, gravar um vídeo clipe. A história do local é repleta
de lendas sobre lobisomens e com participação direta dos descendentes do
cantor. Fica fácil imaginar o destino fatal dos membros da equipe de produção e
do próprio astro de rock, amaldiçoado pelas lendas locais.
“Monster Dog” serve como um veículo de promoção do
cantor Alice Cooper, um filme de horror que mostra um astro do rock envolvido
com um lobisomem, numa clara
referência à proximidade entre o horror e o rock. É uma fita igual a dezenas de
outras convencionais produzidas no mesmo período como “Noite dos Arrepios”
(Night of the Creeps, 1986, sobre zumbis), “A Noite das Brincadeiras Mortais”
(April Fool’s Day, 1986, sobre psicopata), “Visão do Terror” (Terrorvision, 1986,
sobre alienígena), “A Noite do Medo” (The Being, 1983, sobre monstro de lixo
tóxico), “O Monstro Canibal” (Cellar Dweller, 1987, sobre criatura
sobrenatural), só para citar alguns poucos entre tantos.
Mas é curioso que na época em que foram produzidos,
estes filmes eram comuns e raramente despertavam algum interesse adicional,
porém agora já passados quase duas décadas, eles acabaram tornando-se uma
referência de um período que tem suas características próprias, e de certa
forma despertam um interesse, principalmente por ser uma fonte de comparação
com o cinema atual. E no caso de “Monster Dog”, com produção de baixo orçamento
e ruim de forma não proposital, que poderia ser classificada como “trash”,
acaba despertando um interesse mesmo que por curiosidade. Foi exatamente isso
que ocorreu quando vi esse filme pela segunda vez em junho de 2001. Talvez
também por isso, os filmes “ruins” exercem tanto fascínio no público.
Resumindo, todo e qualquer filme, seja um clássico, uma mega produção com
fantásticos efeitos especiais, ou mesmo uma produção paupérrima, todos tem seu
espaço e interesse, e principalmente sua parcela de participação na construção
da história do gênero fantástico.
(RR – Agosto 2001)