The 8th Plague (EUA, 2006)


“Não importa se você acredita no inferno... Porque o inferno acredita em você”

Logo após assistir “The 8th Plague” (2006), a sensação imediata que se tem é a de um filme de baixo orçamento, produzido por uma equipe e elenco desconhecidos. A direção é de Franklin Guerrero Jr. e roteiro é de Eric Williford. A história é superficial ao extremo e dá a nítida impressão de ser apenas um pretexto para a exposição de uma overdose de cenas sangrentas. Porém, o filme é honesto e despretensioso, ou seja, a idéia é manchar a tela de vermelho, e nesse caso é apenas isso que interessa e importa.

Launa (Leslie Ann Valenza) é uma mulher que mora com sua irmã Nikki (Laura Chaves). Quando Nikki não retorna de um acampamento nas montanhas da pequena cidade de “Halcyon Springs”, principalmente no dia do aniversário do funeral de seus pais, quando costumam visitar o cemitério, Launa fica preocupada e juntamente com o casal de amigos Crystal (Hollis Zemany) e Gavin (Jonathan Rockett), decidem viajar para procurá-la. Encontram sua barraca vazia no meio da floresta e pedem ajuda ao debochado xerife local, Jack Stiver (Paul Bugelski), que não dá a atenção necessária para o caso e pede para seu assistente Buck (Terry Jernigan) que procure a moça numa penitenciária abandonada próxima ao local do acampamento. A prisão tem um passado sinistro, pois ocorreu um motim sangrento e de origem misteriosa. Para ajudá-los na investigação do desaparecimento de Nikki, eles recorrem a um antigo guarda da penitenciária, Mason (Dj Perry), que ainda mora nas proximidades. Lá chegando, eles são obrigados a lutar por suas vidas ao encontrarem um local amaldiçoado por um antigo demônio que quer se apossar de suas almas através dos olhos, ao visualizarem um perigoso sinal cabalístico pichado de sangue nas paredes.

“The 8th Plague” tem relações com a lenda religiosa sobre as pragas lançadas contra um rei egípcio num passado longínquo. Agora um poderoso demônio da escuridão até então oculto foi despertado e quer dominar a humanidade. A história não é banal, mas é simples demais. Não há maiores detalhes, revelações ou informações quaisquer, e parece mesmo que o objetivo é apenas criar uma premissa básica para um massacre sangrento. Existem várias falhas no roteiro com situações criadas tipicamente para facilitar o trabalho de quem escreveu a história. Temos as inevitáveis frases imbecis e óbvias como “temos que sair daqui, pois alguma coisa está errada”, de autoria de Launa, logo após ela ter sido brutalmente atacada por um amigo desfigurado e possuído pelo demônio. A penitenciária poderia ter um aspecto bem mais sombrio, onde faltou um trabalho melhor de qualidade da equipe de produção responsável em torná-la abandonada e como um local maldito e depressivo. Os poucos personagens são completamente superficiais, o roteiro não tem a menor intenção em apresentá-los ao espectador. A única função deles é morrer de forma violenta.
Em compensação (sendo a real proposta do filme), após os momentos iniciais mais lentos, com ênfase num clima de horror psicológico, com a chegada do grupo na penitenciária abandonada para investigar o sumiço de Nikki, o roteiro passa a explorar a possessão demoníaca dos invasores da prisão, com um derramamento de sangue de grandes proporções. De violentos golpes de machado, passando por decapitação, desmembramento, cabeça esmagada com pedra, cérebro, tripas e vísceras expostas, até olhos arrancados das órbitas, corpo perfurado por broca, mutilações e todo tipo de atrocidades. Para completar a sangueira, e fechando em grande estilo, ainda temos um final depressivo e pessimista. A capa do DVD também é um destaque, mostrando uma moça no meio de uma floresta, com um olhar sinistro e segurando um machado ensangüentado. “The 8th Plague” é altamente recomendável para quem não se importa com uma história simples demais e quer ver sangue e violência em excesso.
Obs.: O diretor Franklin Guerrero Jr. parece que tem a intenção de se especializar em filmes violentos, pois em 2008 ele lançou outra produção sangrenta ao extremo, com o título de “Carver”.


“The 8th Plague” (The 8th Plague, Estados Unidos, 2006) # 432 – data: 15/04/07 – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 17/04/07)

Criatura Sangrenta (Terror is a Man, EUA / Filipinas, 1959)



O escritor inglês Herbert George Wells foi o autor de inúmeros livros de Ficção Científica e Horror que serviram de inspiração para o cinema fantástico. Histórias como “O Homem Invisível”, “A Guerra dos Mundos”, “O Alimento dos Deuses”, “Daqui a Cem Anos”, “Os Primeiros Homens na Lua”, “A Máquina do Tempo”, transformaram-se em muitos filmes e várias versões. No caso de “A Ilha do Dr. Moreau” (1896), o livro foi filmado em três produções mais conhecidas, em 1933 (com Charles Laughton e Bela Lugosi), 1977 (com Burt Lancaster, Michael York e Richard Basehart), e 1996 (com Marlon Brando e Val Kilmer).
Porém, em 1959 foi lançada uma bagaceira chamada “Criatura Sangrenta” (Blood Creature / Terror is a Man), dirigida pelo filipino Gerry de Leon, cujo roteiro de Harry Paul Harber também é baseado na famosa obra literária de Wells, porém de forma não creditada. E surpreendentemente, o filme teve distribuição em DVD por aqui, para a satisfação dos colecionadores ávidos por filmes bizarros, exóticos, desconhecidos e principalmente ruins de forma não proposital.

O único sobrevivente do naufrágio de um navio de carga, o engenheiro de petróleo William Fitzgerald (Richard Derr), chega inconsciente num bote até o litoral de uma ilha isolada na costa do Oceano Pacífico. Lá, ele é resgatado pelo Dr. Charles Girard (o tcheco Francis Lederer), um médico exilado de New York, que procurou privacidade na ilha para se dedicar às pesquisas e experiências genéticas com animais e homens, dando origem a um grotesco ser mutante. Inevitavelmente, o novo hóspede acaba tendo um romance com a carente esposa solitária e insatisfeita do cientista, Frances (a dinamarquesa Greta Thyssen), cujo marido cirurgião está mais preocupado com seu trabalho, no desenvolvimento de uma raça de homens perfeitos, gerados a partir de uma pantera negra e através da descoberta de um composto químico capaz de controlar o tamanho do cérebro, transformando a matéria viva.
Porém, a “criatura sangrenta” consegue fugir do laboratório, entre uma cirurgia e outra, fazendo vítimas fatais em quem atravessasse seu caminho, como o ajudante do cientista, Walter Perrera (Oscar Keesee Jr.), e uma criada, Selene (Lilio Duran), que vive na casa com seu irmão pequeno Tiago (Peyton Keesee). E, após seqüestrar Frances se refugiando na floresta, o Dr. Girard e o visitante náufrago partem em seu encalço para salvar a mulher das garras da besta assassina.

O filme, com fotografia em preto e branco e apenas 82 minutos de duração, é uma produção das Filipinas, e foi realizado com um orçamento minúsculo. No roteiro, temos o “cientista louco” obcecado em contribuir para o bem da humanidade, e seu assistente que mais tarde não concorda com os resultados das experiências, além do mocinho (alguém que surge para tentar se opor às barbaridades científicas do vilão), e da mocinha (uma mulher infeliz com o casamento e à espera de alguém para salvá-la). Não poderia faltar também o monstro (interpretado por Flory Carlos), que no caso é uma fera gerada através de inúmeros procedimentos cirúrgicos, e que obviamente escapa e volta-se contra o criador em busca de vingança.
A história original de H. G. Wells é famosa e cultuada, explorando um argumento bem interessante, principalmente para a época em que foi escrita, há mais de um século atrás, apresentando um cientista na criação de uma raça mutante, transformando animais em homens. E diante de todas as limitações impostas pela produção barata, o que mais importa é que “Criatura Sangrenta” até consegue atingir seu objetivo de entreter os apreciadores de filmes bagaceiros, ou seja, todos aqueles que sabem antecipadamente o que irão encontrar num filme com essas características: vários defeitos facilmente notáveis, com imagens muito escuras em algumas cenas noturnas, maquiagem tosca do monstro, edição ineficiente e cheia de cortes bruscos, elenco inexpressivo, diálogos banais, desfecho previsível e roteiro superficial.

“Criatura Sangrenta” foi lançado em DVD no Brasil pela “Fantasy Music” em Setembro de 2006, na coleção “Sessão da Meia-Noite”, trazendo no mesmo DVD a tranqueira “O Lobisomem no Quarto das Garotas” (Lycanthropus / Werewolf in a Girl´s Dormitory, 1962), de Richard Benson (pseudônimo do diretor italiano Paolo Heusch). Infelizmente, a qualidade das imagens apresentadas no DVD é ruim, com algumas manchas, riscos e imperfeições que parecem causados por deterioração e má conservação dos originais.

“Criatura Sangrenta” (Blood Creature / Terror is a Man, Estados Unidos / Filipinas, 1959) # 408 – data: 04/11/06 – avaliação: 5,5 (de 0 a 10) – site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 06/11/06)

O Cérebro Que Não Queria Morrer (The Brain That Wouldn´t Die, 1962)


"O cérebro dela foi mantido vivo por experimentos científicos! Por um homem com uma paixão anormal, inspirado em tentar o impossível!"– reprodução de trecho narrado no trailer

Com um título sonoro desses e vendo o pôster de divulgação, que traz a cabeça de uma mulher sobre uma bacia inundada com um líquido misterioso e cercada de aparelhos típicos de um laboratório de “cientista louco”, é muito difícil não despertar um interesse e principalmente curiosidade em assistir “O Cérebro Que Não Queria Morrer” (The Brain That Wouldn´t Die, 1962), bagaceira super divertida da “American International Pictures”, dirigida por Joseph Green a partir do roteiro de Rex Carlton, com fotografia em preto e branco e elenco principal formado por Jason Evers, Virginia Leith e Leslie Daniels.

Um jovem cirurgião, Dr. Bill Cortner (Jason Evers, creditado como Herb Evers), faz experiências secretas em seu laboratório numa casa de campo, com o objetivo de conseguir sucesso no transplante de membros humanos, utilizando um soro especialmente desenvolvido para evitar a rejeição. Quando ocorre um grave acidente de carro que vitimou sua noiva Jan Compton (Virginia Leith), ele consegue recuperar apenas sua cabeça dos escombros em chamas e decidiu mantê-la viva em seu laboratório, repousando-a numa bandeja com o soro. Agora, o desafio do cientista é encontrar um corpo de uma bela mulher, sem chamar a atenção da polícia, para tentar uma cirurgia de transplante na cabeça da noiva, que por sua vez não aceita a condição monstruosa em que se encontra, adquirindo poderes não previstos, distorcendo a mente, adquirindo raiva e conseguindo se comunicar e se aliar com uma aberração grotesca que está mantida presa no porão, fruto das experiências fracassadas do cirurgião.

O filme é curto, apenas 82 minutos, e apresenta uma história bastante ousada para a época de produção, há quase meio século atrás, tanto que ocorreram problemas com a censura devido às cenas fortes e bizarras de horror com direito a uma cabeça viva sem o corpo, um enorme monstro mutante formado por pedaços de cadáveres, um braço amputado de forma sangrenta e nacos de carne arrancados a violentas dentadas.
Em “O Cérebro Que Não Queria Morrer”, como já esperado nesse tipo de produção de baixo orçamento, encontramos os elementos típicos dos filmes de horror daquele período, não faltando o “cientista louco” de plantão, sendo nesse caso um jovem cirurgião que faz sucesso entre as mulheres, sempre que não está trabalhando em suas experiências com transplantes de partes danificadas do corpo humano. Nem falta também o tradicional ajudante e cúmplice de suas barbaridades científicas, sendo nesse caso o cirurgião Kurt (Leslie Daniels), que perdeu o braço direito num acidente e serviu de cobaia nas experiências do cientista, sempre apresentando rejeição com o membro transplantado, e acreditando que um dia deixaria de ser deformado. O laboratório do Dr. Cortner faz lembrar o do seu companheiro de ofício e loucuras (porém, bem mais famoso) Dr. Frankenstein, repleto de líquidos borbulhantes, aparelhos elétricos, tubos de ensaio e instrumentos de medição. Sem contar a similaridade também de sua ambição no transplante de pedaços de corpos humanos, criando um ser monstruoso.
É claro que se fizermos uma análise crítica mais apurada, encontraremos vários furos no roteiro e situações manipuladas apenas para favorecer o trabalho do roteirista, como por exemplo o simples fato de não ocorrer nenhuma investigação da polícia sobre o acidente de carro do Dr. Cortner e sua noiva, na estrada que leva ao laboratório, apesar que toda a ação ocorre rapidamente num final de semana.
Curiosamente, não posso deixar de citar uma frase da apaixonada Jan Compton para seu noivo Dr. Bill Cortner, antes de sofrer o acidente. Ela disse: “Sempre que toca em mim eu perco a cabeça”. Ela não imaginaria que pouco tempo depois perderia o corpo carbonizado e ficaria viva justamente apenas com sua cabeça. Seria irônico e hilário se não fosse trágico...
“O Cérebro Que Não Queria Morrer” foi lançado em DVD no Brasil pela “Fantasy Music” em Setembro de 2006, na coleção “Sessão da Meia-Noite”, trazendo no mesmo DVD o filme “A Besta da Caverna Assombrada” (Beast From Haunted Cave, 1959), produzido pelos irmãos Corman (Gene e Roger, esse último mais famoso e cultuado como o “Rei dos Filmes B”).

“O Cérebro Que Não Queria Morrer” (The Brain That Wouldn´t Die / The Head That Wouldn´t Die, Estados Unidos, 1962) # 405 – data: 28/10/06 – avaliação: 7,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 30/10/06)