Noite do Terror (See No Evil, 2006)




Noite do Terror” (See No Evil, 2006) é mais um filme de horror “slasher” com um psicopata assassino caçando um grupo de jovens fúteis e dispensáveis. Com direção de Gregory Dark (cineasta de filmes pornôs) e roteiro do desconhecido Dan Madigan, o filme tenta ser um veículo promocional para o lutador grandalhão Glen Jacobs, creditado como “Kane” e que faz o papel do maníaco Jacob Goodnight, um homem traumatizado, maltratado e perturbado na infância pela severa mãe, uma fanática religiosa que o atormentava com discursos sobre os pecados da humanidade e que dizia que “os olhos são a janela da alma”.

No prólogo, um policial, Frank Williams (Steven Vidler), ao fazer uma investigação numa casa suspeita de abrigar um assassino, é ferido brutalmente e tem um braço amputado. Quatro anos depois, ele é um agente penitenciário encarregado de liderar um grupo de jovens deliquentes que são designados para fazer parte de um trabalho comunitário para a redução de suas penas. O objetivo é limpar um hotel abandonado há muitos anos para possibilitar que se transforme num abrigo. O policial tem a parceria da agente Hannah Anders (Tiffany Lamb) e eles são recebidos no hotel sujo por Margaret Gayne (Cecily Polson), uma senhora responsável pela restauração de marcos históricos. O grupo de jovens presidiários é formado por Michael Montross (Luke Pegler), Russell Wolf (Mikhael Wilder), Richie Bernson (Craig Horner) e Tyson Simms (Michael J. Pagan), e mais quatro mulheres, Christine Zarate (Christina Vidal), Kira Vanning (Samantha Noble), Zoe Warner (Rachael Taylor) e Melissa Beudroux (Penny McNamee). Ao chegarem no hotel abandonado, os jovens são perseguidos por um enorme psicopata que utiliza um machado e um gancho em seus ataques, e que tem o hábito de arrancar e colecionar os olhos de suas vítimas.

O “slasher” é um subgênero do cinema de horror que já está saturado há muito tempo. Mas mesmo assim continuam sendo produzidos uma infinidade de filmes com todos aqueles clichês cansativos e todos aqueles furos em histórias superficiais de roteiristas preguiçosos. Tudo é tão previsível e óbvio que a única coisa que pode despertar algum interesse é a violência e as mortes sangrentas. “Noite do Terror” não é diferente da maioria dos filmes similares. Tem até alguns pontos positivos, como a ambientação excessivamente suja do hotel, numa sensação desconfortável de um local apodrecido pelo tempo, e algumas cenas de mortes (especialmente envolvendo cachorros famintos e um inoportuno telefone celular). Mas tem também vários outros detalhes que depreciam o resultado final, tornando-o apenas mais um exemplo de “slasher” que se esquece rapidamente. Os personagens são incrivelmente desinteressantes, criados apenas e exclusivamente para serem retalhados pelo psicopata. Aliás, nesse caso especificamente, eles são jovens que nem parecem presidiários. O assassino também não desperta muito interesse, sendo um homem enorme e mentalmente perturbado por um trauma de infância, que tem a particularidade de extrair os olhos de suas vítimas. O roteiro ainda inseriu uma situação forçada demais com a procura de um cofre cheio de dinheiro, perdido nos corredores do hotel e esquecido. Sem contar a revelação previsível da motivação do assassino e o desfecho convencional, que contribuem para fazer de “Noite do Terror” uma diversão apenas discreta, que só vale pela violência e sangue.
O filme foi lançado no mercado brasileiro de DVD e a escolha do nome nacional foi péssima, como de costume, pois o título “Noite do Terror” é óbvio, manjado, comum e totalmente sem criatividade. Sem contar que deve ter vários homônimos por aí, apenas complicando uma tarefa de catalogação dos filmes distribuídos no Brasil.

“Noite do Terror” (See No Evil, Estados Unidos, 2006) # 433 – data: 21/04/07 – avaliação: 5,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 23/04/07)

A Praga (The Plague, 2006)



O cultuado escritor inglês Clive Barker, autor de muitas histórias de horror que foram adaptadas para o cinema em filmes e franquias como “Hellraiser”, “O Mistério de Candyman”, “Nightbreed”, “Rawhead Rex”, “Underworld” e “O Mestre das Ilusões”, ganhou tanta notoriedade com seu talentoso trabalho que quando um filme tem o seu nome envolvido na equipe de produção, é despertado um interesse especial nos fãs do gênero. Tanto que, numa jogada de marketing nitidamente oportunista para a divulgação do filme “A Praga” (The Plague, 2006), que tem Clive Barker apenas como produtor, perdido no meio de vários outros nomes, foi feita uma campanha publicitária com o nome do famoso escritor estando à frente do projeto.

Com direção do desconhecido Hal Masonberg e roteiro dele em parceria com Teal Minton (outro desconhecido), “A Praga” é um filme curto, com apenas 85 minutos de duração, e conta basicamente uma história apocalíptica, com o mundo ensandecido caminhando para a extinção da raça humana.
Certo dia, de forma aleatória, todas as crianças até os nove anos de idade repentinamente entram num estado de coma, gerando pânico entre os pais e confusão nos hospitais. Não encontrando explicações para o ocorrido nem formas de reverter o processo, o mundo fica perplexo diante de um fenômeno que faz com que todas as crianças nascidas nesse período misterioso permaneçam em estado de catatonia. O governo reage criando resoluções para um controle da natalidade, gerando com isso revoltas e tumultos na população. Até que repentinamente também, após longos dez anos de silêncio, todas as antigas crianças (e agora adolescentes) acordam de seus sonos profundos. Porém, seus olhares são sinistros e carregados de um ódio vingativo que os guia para atacar e matar violentamente todos os adultos.
David Russell (Arne MacPherson) e seu filho Eric (Jordan Dock, aos seis anos, e Chad Panting, aos dezesseis), estão entre as vítimas da fúria da inexplicável “praga” que assolou a humanidade. Seu irmão mais novo, Tom (James Van Der Beek, astro principal da série de TV “Dawson´s Creek”), está voltando para casa após cumprir pena na prisão por matar um homem numa briga de bar. Ele pede abrigo na casa de David, uma vez que está tentando se readaptar na sociedade e se reaproximar da magoada ex-esposa, a enfermeira Jean Raynor (Ivana Milicevic). Mas ele não imaginaria que a volta à liberdade traria a surpresa de ter que enfrentar uma legião de adolescentes enfurecidos prontos para aniquilar os adultos.
Quando despertam do sono e iniciam o massacre, Tom parte em busca de Jean no hospital. Lá, eles formam um grupo de sobreviventes que tenta combater a ameaça dos jovens assassinos. O grupo é ainda formado pelo cunhado Sam (Brad Hunt), o xerife Cal Stewart (John P. Connolly), sua esposa Nora (Dee Wallace-Stone, de “ET” e “Cujo”), o policial assistente Nathan (Bradley Sawatzky), e um jovem casal de namorados, Kip (Josh Close) e Claire (Brittany Scobie).

“A Praga” foi lançado em DVD no Brasil pela “Sony” em Dezembro de 2006, trazendo entre os materiais extras a opção de ver o filme com comentários do elenco e a apresentação de interessantes cenas excluídas e com diálogos adicionais.
Sempre apreciei filmes com temáticas apocalípticas, ou seja, a idéia de repentinamente o mundo tornar-se um caos exerce um fascínio mórbido justamente por imaginarmos como reagir numa situação dessas. Cidades vazias, desoladas, e com uma praga misteriosa transformando os jovens em assassinos que querem infringir dor e espalhar seu sangue pelo chão. De uma hora para outra, você precisa se adaptar ao horror instaurado em sua volta e se defender contra o ataque violento de pessoas que querem matá-lo sem uma razão lógica aparente. Você é obrigado a reagir, resgatando um instinto selvagem interior para tentar permanecer vivo num ambiente caótico. Imagine a atmosfera perturbadora que se forma ao seu redor se o mundo que você conhece e está acostumado a interagir transforma-se num inferno de morte e destruição.
“A Praga” é um filme dentro dessa temática, e que mesmo evidenciando várias falhas no roteiro e poucas explicações (principalmente na apresentação dos personagens como o padre e o casal de namorados), ainda consegue transmitir alguma sensação de desconforto com a idéia de um exército de jovens despertados de um estado catatônico, decididos a eliminar a humanidade do planeta, como um tipo de punição.
Apesar de faltar um pouco mais de ousadia aos realizadores em explorar os efeitos do caos resultante da praga, e por uma certa discrição nas cenas de mortes que poderiam ser mais intensas e sangrentas, além do oportunismo na exploração do nome de Clive Barker exclusivamente para chamar a atenção do filme, “A Praga” ainda assim é recomendável e vale a pena uma conferida sem compromisso.

Na noite passada eu sonhei que fui levado ao sono pelas mãos de crianças. Elas sussurraram no meu ouvido e as palavras familiares. O reino do céu está próximo e se alguém oferecer sua alma a uma dessas crianças, esse alguém libertará os que através do medo são vítimas da escravidão por toda vida.

“A Praga” (The Plague, Estados Unidos, 2006) # 431 – data: 08/04/07 – avaliação: 6 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 09/04/07)

Pumpkin Karver - A Nova Face do Terror (The Pumpkin Karver, EUA, 2006)


Existem filmes de horror que parecem que são produzidos especialmente para servir de deboche para o gênero, ou seja, para denegrir a imagem de um estilo de cinema que merece ser respeitado. É difícil acreditar que existem profissionais (diretores, roteiristas, produtores, atores, etc.) que se empenham para fazer um filme de horror (e acham que estão fazendo algo sério e contribuindo de alguma forma para o gênero, além de ganhar dinheiro também), e que conseguem como resultado final uma grande porcaria totalmente dispensável. Existem filmes muito ruins que por essas características até conseguem criar um efeito contrário e divertir o espectador. Mas também existem aqueles filmes extremamente ruins, com histórias tão banais que não conseguem divertir nem pela ruindade. É o caso do slasher “Pumpkin Karver - A Nova Face do Terror” (The Pumpkin Karver, 2006), lançado no Brasil em DVD pela “Visual Filmes”, em Março de 2007.

A história é superficial, óbvia e já explorada numa infinidade de outros filmes. Um jovem adolescente, Jonathan Starks (Michael Zara), mata acidentalmente o namorado idiota Alec (David J. Wright) da sua irmã Lynn (Amy Weber). Ele estava usando uma máscara típica da festa de “Halloween” e tentava assustar a garota. Jonathan fica perturbado com a fatalidade e assombrado pelo ato que cometeu. Passado um ano desse incidente trágico, o casal de irmãos se muda para uma pequena cidade do interior chamada Karver, e vão participar de uma festa com fantasias numa fazenda abandonada. Lá, eles encontram um velho sinistro e maluco, Ben Wickets (Terrence Evans), que é um entalhador de abóboras para a época do “Halloween”. Ele gosta de assustar os jovens falando um monte de bobagem e histórias banais. Seus novos amigos na cidade são completamente descartáveis, gente desinteressante que só fala futilidades e que estão no roteiro apenas para servirem de vítimas para as atividades de um assassino mascarado (a máscara é uma abóbora entalhada), que surge no local e quer rasgar suas carnes. Entre eles estão as garotas Tammy (Minka Kelly), que se interessa por Jonathan, além de Rachel (Clarity Shea) e Yolanda (Misty Adams). E tem também vários babacas como Lance (David Austin), que é o ex-namorado de Tammy, A.J. (Jonathan Conrad), Grazer (Jared Show), e outros que não merecem nem ter os nomes citados.

Os responsáveis por essa tranqueira são os desconhecidos Robert Mann (direção e roteiro) e Sheldon Silverstein (produção e roteiro). Eles conseguiram a façanha de gastar energia e dinheiro fazendo um filme de horror em pleno ano de 2006 utilizando-se de uma história tão mergulhada em clichês e situações ridículas que eles deveriam se envergonhar do lixo que fizeram. A única coisa que eles conseguiram como resultado (em vez de entretenimento) é fazer o espectador torcer pelas mortes dos personagens fúteis que eles criaram, e de preferência das formas mais violentas possíveis (o que nem isso acontece, pois as cenas de mortes são patéticas). Apenas uma delas merece ser citada, quando um personagem escroto e idiota morre com uma broca perfurando suas tripas. “Pumpkin Karver” tem 83 minutos de pura bobagem, num bom exemplo de filme dispensável e que prejudica a imagem do cinema de horror como um gênero artístico interessante e digno de respeito.

“Pumpkin Karver - A Nova Face do Terror” (The Pumpkin Karver, Estados Unidos, 2006) # 430 – data: 05/04/07 – avaliação: 2 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com.br / blog: www.juvenatrix.blogspot.com.br (postado em 09/04/07)

Batalha Real (Battle Royale, Japão, 2000)


No início do milênio a nação entra em colapso. Os adultos perderam a confiança e temem os jovens. Por isso, eles aprovaram o ato de reforma educacional do milênio.

O cinema de horror japonês está entre os melhores do mundo, e uma prova disso é o aclamado e cultuado “Batalha Real” (Battle Royale / Batoru Rowaiaru, 2000), lançado em DVD no Brasil pela “Visual Filmes” em Fevereiro de 2007. Dirigido por Kinji Fukasaku, a partir de roteiro de Kenta Fukasaku (baseado em livro de Koushun Takami), o filme mostra a sangrenta batalha travada por quarenta e dois jovens estudantes comuns, obrigados pelo governo japonês a lutarem entre si até a morte, isolados numa ilha de dez quilômetros de extensão durante três dias, vigiados pelo exército, e com regras que possibilitassem apenas um único sobrevivente que seria o ganhador do jogo mortal.

Com um fascinante e inusitado argumento básico como esse, totalmente insano e diferenciado, fica fácil prever e imaginar o resultado final: um filme que prende a atenção durante as quase duas horas de projeção, interagindo com o espectador para acompanhar o destino dos adolescentes. “Batalha Real” tem mortes sangrentas, cenas tensas de perseguição, e o mais importante e significativo que é uma crítica social ao comportamento humano. Desde a incrível decisão do governo em eliminar a rebeldia dos jovens obrigando-os a se aniquilarem violentamente uns aos outros (eles não tem escolha, uma vez que receberam um colar preso ao pescoço que pode explodir e dilacerar suas gargantas caso se neguem a participar do jogo), até a evidência de como é possível mudar rapidamente a conduta de amigos para inimigos mortais, descartando totalmente uma antiga confiança existente, em função de interesses pessoais e da defesa da própria vida a qualquer custo, mesmo se for com as mãos sujas de sangue dos colegas de classe.
Esse é o verdadeiro comportamento da raça humana, que abandona a hipocrisia e falsidade do cotidiano e resgata a mais profunda selvageria interior se for para defender seus próprios interesses. Nesse sentido, “Batalha Real” é brilhante. Mas, além disso, o filme também tem méritos e qualidades em outros quesitos muito procurados pelos apreciadores do cinema de horror, pois não faltam cenas de mortes violentas, repletas de tiroteios, facadas, ataques com todo tipo de armas (machados, foices, revólveres, metralhadoras) e muito sangue de adolescentes espalhado para todos os lados, manchando o chão da ilha de vermelho.

Duas cenas em particular valem um registro especial. (Atenção, pois dependendo do ponto de vista do leitor, o que vem a seguir poderá ser um “spoiler”). Um garoto está à procura de uma menina que sempre admirou, mas por causa da timidez nunca se declarou. Após finalmente encontrá-la para tentar protegê-la, ela sente-se ameaçada e dispara sua arma contra ele. Mas o jovem está agora feliz por se declarar (já que a morte é praticamente certa, que seja então pelas mãos da amada). Seria hilário se não fosse trágico... Em outro momento, um grupo de amigas se reúne no alto de um farol. Elas unem forças para tentar se defenderem das ameaças dos outros competidores, num inteligente exercício de cooperação. Porém, um acidente com uma delas elimina repentinamente a aparente confiança mútua, culminando numa carnificina digna da estupidez humana.
“Batalha Real” é altamente recomendável como um dos ótimos exemplos do cinema de horror japonês, e que para nossa sorte chegou ao Brasil em DVD. Teve uma continuação em 2003.

“Batalha Real” (Battle Royale / Batoru Rowaiaru, Japão, 2000) # 429 – data: 02/04/07 – avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 03/04/07)